Há pouco mais de um ano, na altura do número 830 da Rua do Rosário, metade de uma casa veio abaixo em poucos segundos. Ninguém se importou, nem deveria, afinal, era mais um conjunto de paredes velhas que caia no centro de Ponta Grossa. Algo bem comum na nossa velha paisagem nova. Os olhos se acostumam antes de a poeira baixar e a memória se apaga de forma instantânea. O que é que tinha ali mesmo?
Por mais de uma década foi ali que funcionou o Big Night, um pesadelo disfarçado de casa noturna. Um terror para a vizinhança do logradouro mais sujo do centro. Um bom lugar para quem procurava diversão com preço acessível. Era muito comum ver brigas rolando no lado de fora. Numa madrugada vi um homem morto na esquina da casa noturna - os jornais do dia seguinte confirmaram minha suspeita.
Visitei a casa algumas vezes e guardo boas recordações. Queria dividir algumas. Na primeira vez foi meu amigo Cláudio quem me levou, era noite de natal de 2005 e ele ganhou o sorteio de uma TV usada, enorme, daquelas de tubo de imagem. Mal cabia no carro, um Fiat 147 que saiu carregado das imediações do Big Night com Cláudio, eu, duas companhias e uma tela de 29 polegadas.
Voltei ao Big Night dois anos depois, com o Luiz e o Samuel. Era a primeira vez do Sam. Chegamos cambaleantes depois de uma garrafa de Natasha seguida por um baseado criminoso. Estávamos prontos para o crime e aprontamos. Conhecemos umas “garotas”, dançamos feito molambos na pista pouco movimentada e, embebidos naquela madrugada de domingo para segunda-feira, nos despimos na pista. Ninguém se importou e logo estávamos habituados ao ar frio que subia pelas pernas e beliscava nossas bundas. Essa história não termina por aqui, somente a parte do Big Night. Depois eu te conto como tudo acabou.
Em outra vez, enchemos a paciência do DJ, localizado numa cabine com boa visão da pista, para tocar Modern Talking, Pet Shop Boys e outros hits de tecnopop que ouvíamos indiretamente em todas as manhãs de sábado quando nossos vizinhos noventistas lavavam seus fuscas, escortes e gols. Inebriados de cachaça e nostalgia da lembrança das nossas vizinhas com camisetas do Posto Contorno, com aquele nó dado na altura da cintura e algum tecido jeans sob as pernas.
Na última visita, fomos forçados a entrar, afinal estávamos quase sendo assaltados no lado de fora, numa indefinição entre ir no Big Night ou procurar outro lugar.
O Big Fight fechou e, para muitos, já foi tarde. Outros guardam boas memórias, mas não o suficiente para lamentar. Era um lugar tenso, ali não se podia vacilar e os seguranças trabalhavam mesmo. Qualquer princípio de treta e os envolvidos eram lançados sem dó pela porta. Briga? Só do lado de fora. Pensando bem, o Big Night era um lugar de paz.