Carnavalescos criticam proibição parcial e se preocupam com os próximos anos
A Prefeitura Municipal de Ponta Grossa cancelou o Carnaval de rua em 15 de fevereiro, pouco antes da data tradicional de realização da festa, mas a manteve emespaços privados da cidade, com o intuito, segundo a administração, de seguir as medidas de controle e prevenção da Covid-19.
Foto: Lente Quente
Na cidade, clubes como a Associação Recreativa dos Homens do Trabalho (ARHT) realizaram seu Carnaval. Na ARHT, a comemoração aconteceu entre os dias 26 de fevereiro e 1 de março. Nenhum representante do clube retornou o contato da reportagem para informar, por exemplo, quantas pessoas participaram da festa. Casas noturnas da cidade também realizaram festas no feriado de carnaval.
O carnavalesco Claudinei Alves Pereira não concorda com o decreto municipal. ‘‘Acho contraditório a proibição do carnaval de rua, que seria feito em um ambiente a céu aberto, ao mesmo tempo em que acontece nos clubes com pouca ventilação e muita aglomeração’’, critica.
Foto: Claudinei Pereira/ Acervo Pessoal
O costureiro Anderson Pedroso participava dos desfiles de carnaval em Ponta Grossa pela escola Cidade de Olarias. ‘‘Na minha concepção, nenhum evento dessa magnitude deveria acontecer na cidade por conta da pandemia’’, diz.
Anderson vem de uma família tradicional do carnaval na cidade. Segundo ele, a festa de rua começou em sua casa, promovida pelo seu falecido pai. “Eu tenho uma tradição e ela deve ser mantida. A cultura do carnaval de rua jamais será perdida, pois enquanto existirem pessoas como eu, que amam e brigam pelo carnaval, ele ainda vai continuar.”
Outro carnavalesco, Ulisses Massinhan, acredita que entender o desfile de rua como um show para o público seria importante para que, no futuro, a tradição fosse retomada. “Sinto que muitas pessoas ligadas ao Carnaval tenham desistido, venderam ou doaram seus instrumentos e acervos. Eu guardava muita coisa, mas durante a pandemia tive que me desfazer de grande parte das fantasias premiadas. Acho que uma manifestação cultural tão importante como o carnaval precisa se reestruturar e se profissionalizar; só recursos não resolvem, precisa ter organização”, declara Ulisses.
Para evitar aglomerações, carnavalescos da cidade se reuniram e realizaram uma feijoada para comemorar a festividade.
A realização do Carnaval em clubes inverte uma tendência histórica: de acordo com a pesquisa ‘Tempos de Folia’, realizada por Elisângela Ferreira, o carnaval em Ponta Grossa primeiramente era comemorado nos teatros e nas ruas, chegando depois aos clubes. Em 2021, ele também não ocorreu, devido à pandemia.
A reportagem entrou em contato com a Prefeitura de Ponta Grossa e com o secretário municipal de Cultura para conversar sobre o decreto municipal que proibiu festas públicas na cidade, mas liberou em locais fechados. Até o fechamento desta matéria, não obtivemos retorno.