Falta de aprendizes e interesse dos jovens colocam profissões em risco de extinção

Nas gerações passadas, muitos trabalhadores tinham um trabalho artesanal  que era facilmente passado de pai para filho. Durantes muitas gerações, essas profissões sobreviveram ao tempo, mas, nos dias atuais, elas sofrem o risco de serem extintas. Fotógrafo lambe-lambe, arrumador de pinos de boliche, sapateiro e ferreiro são alguns desses ofícios que estão, cada vez mais, com o espaço diminuído no Brasil. Entre  os motivos para esse fenômeno estão a industrialização e a grande importação de produtos estrangeiros que colocam em xeque profissões mais tradicionais, ao fazer a substituição da mão de obra. Alguns profissionais ainda tentam encontrar um suspiro de vida em um mundo onde os produtos são descartáveis e há um alto consumo.

 


O proprietário, Osmar Soares, tem uma alfaiataria no centro da cidade e faz roupas sob medida e de maneira artesanal. O alfaiate conta que, quando chegou a Ponta Grossa, havia diversos concorrentes no ramo. Agora, resta apenas ele. “Quando vim para Ponta Grossa, em 1977, havia outras 17 alfaiatarias, fora aqueles [costureiros] que trabalhavam por conta”, lamenta Osmar.
Outro exemplo é Domingos Souza, um dos mais antigos fotógrafos da cidade,  que trabalha na área há mais de 60 anos. Em sua trajetória, ele viu a transformação que a fotografia passou. “Quando eu entrei nesse ramo, era completamente diferente. Para ser fotógrafo precisávamos ter nosso próprio laboratório. Hoje, o trabalho duro foi substituído por uma câmera, um computador e só”, queixa-se Domingos.

 


Fundada por Pedro Werner, em 1906, em Brusque, Santa Catarina. Foi em 1936 que a única fábrica de foice se instalou em Ponta Grossa, onde está localizada até hoje no centro da cidade. O atual proprietário, Alfredo Werner Neto, é a quarta geração a cuidar da empresa.
No auge do seu funcionamento, a fábrica produzia cerca de 8 mil peças por mês e empregava 30 funcionários. Atualmente, esse número foi reduzido para menos de um terço do total. “Hoje, nossa produção baixou muito por causa do avanço da modernidade e o surgimento das roçadeiras elétricas ou a gasolina”, afirma Alfredo Werner ao descrever o processo pelo qual a foice foi perdendo uso.

 

 

Mesmo com a automação, a fabricação de foices ainda requer um trabalho manual

 

 

BUROCRACIA É ENTRAVE PARA QUEM DESEJA TER UM APRENDIZ


 
Em todos esses casos em que os ofícios encontram-se em perigo de extinção, existe um problema em comum: a dificuldade de se encontrar um aprendiz uma vez que os jovens se interessam, cada vez menos, pelas profissões tradicionais e manuais. Antigamente, os aprendizes eram os próprios filhos que recebiam os ensinamentos diretamente dos pais. Domingos tem uma filha que chegou a  interessar-se por fotografia, mas ela acabou optando pela carreira de professora em um curso de Jornalismo e, dessa forma, deixando o fotógrafo sem um herdeiro de profissão. “Minha filha até gostava de fotografia, mas resolveu seguir por outro caminho. sem dar continuidade ao nosso trabalho.” A filha de Domingos leciona em uma universidade em Pará. Uns dos planos do fotógrafo é se mudar para o Norte para ficar mais perto da filha e, com isso, ele pretende colocar a loja de fotografias à venda.  

 

 

Domingos Soares se interessou pela fotografia aos 12 anos, quando o processo de revelação era mais complexo

 


Uma das maneiras de se ter um aprendiz é através do programa nacional Menor Aprendiz do Ministério do Trabalho. Porém, as questões burocráticas dificultam que profissões mais antigas possam ter um aprendiz legal, como a obrigatoriedade de formalização por meio da anotação em CTPS  e  no  livro  de  registro/ficha  ou  sistema  eletrônico  de  registro  de  empregado, bem como a necessidade de remuneração. O alfaiate Osmar explica o porquê da dificuldade de conseguir alguém para ensinar a profissão. “Como eu vou ensinar alguém e ter que pagar para isso? Quando eu aprendi, trabalhei dois anos de graça para aprender. Hoje, o pessoal quer vim aqui aprender e já sair ganhando. O Ministério do Trabalho dificulta nessa parte”, afirma.
A Lei 10.097/2000 (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L10097.htm) estabelece que empresas podem contratar maiores de 14 anos como aprendizes. O contrato pode valer por até dois anos e, nesse período, o jovem aprende as qualificações básicas de um primeiro emprego.

 


O programa permite que os empresários tenham a oportunidade de participar da educação profissional dos jovens, o que seria proveitoso para as duas partes. Segundo o Ministério do trabalho, entre os meses de janeiro de junho de 2018, foram admitidos 13.985 aprendizes no Paraná. O Manual da Aprendizagem (http://www.trabalho.gov.br/images/Documentos/Aprendizagem/Manual_da_Aprendizagem2017.pdf ), expedido pelo Governo Federal, diz que existem duas modalidades para desenvolver, legalmente, um programa de Menor Aprendiz legal. Uma delas é a aprendizagem profissional em nível de formação inicial, pela Classificação Brasileira de Ocupações (CBO). A outra é o arco ocupacional, que é entendido como um conjunto de ocupações relacionadas, dotadas de base técnica comum, que podem abranger as esferas da produção, da circulação de bens e da prestação de serviços.

 


Mesmo com o programa do Menor Aprendiz, há quem alegue ser grande a dificuldade de encontrar alguém que dê continuidade ao trabalho. O sapateiro Osmar Martins Junior possui quatro filhos que, mesmo indo ao trabalho do pai desde que eram crianças, optaram por outras carreiras e, segundo ele, para bancar um aprendiz na sua profissão é inviável.
“Algumas profissões mais modestas já estão acabando e, para conseguir um aprendiz, precisamos registrar e bancar todos os custos do aprendizado. Essa é a dificuldade. E talvez, no futuro, teremos essas profissões acabando”, avalia.

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