Mesmo com o alto número de casos da pandemia da COVID-19, alguns postos de serviços continuam em atividade. Os entregadores por aplicativos, por exemplo, continuam ativos e expostos à contaminação do coronavírus. Em Ponta Grossa o número de casos passa dos 10.000. Apesar desse aumento no número de casos, os entregadores não possuem apoio necessário das empresas de delivery para a sua prevenção.
O perfil dos entregadores por aplicativo é bem delimitado, sendo 94% homens, brancos com uma média de idade entre 25 à 44 anos, segundo uma pesquisa realizada em abril pela Cesit (Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho). Ainda de acordo com a pesquisa, cerca de 5,7% dos entregadores trabalham de maneira independente, sem estar vinculados a nenhuma plataforma de delivery, cerca de 23,8% estão vinculados a pelo menos uma das grandes empresas, e 70,5% trabalham em mais de uma empresa de delivery. Algumas das mais famosas no ramo são: Ifood; Uber Eats e Rappi. Ainda de acordo com esses dados, em algum momento deste período pandêmico, cerca de 15% desses trabalhadores já tiveram sintomas do Coronavirus.
Leonardo Geraldo Quadros Faria de 32 anos, relata que teve momentos em que suspeitou estar com a Covid-19, mas não passaram de suspeitas. “Tive algum sintoma, e isso fez eu achar que estava com o vírus, mas felizmente não era nada demais”. Leonardo Faria trabalha com duas empresas que prestam serviços de entrega. O trabalhador relata que uma das empresas o auxilia com máscaras e álcool em gel, mas a outra somente disponibiliza as formas de prevenção e cuidados com a Covid-19 em seu site. “O Ifood disponibiliza um kit de prevenção para os entregadores, com máscara e álcool em gel. Depositam na minha conta uma quantia em dinheiro para cobrir as despesas do trajeto para buscar o kit. O depósito do dinheiro, que era cerca de $30, foi feito cerca de quatro vezes, desde o início da pandemia. Mas até o momento não mais”, completa Leonardo.
Em julho deste ano, já em período de pandemia, os entregadores por aplicativo decidiram protestar realizando uma paralisação nacional no dia 25 de julho, visando melhores condições de trabalho, além de solicitar amparo com relação a pandemia do Covid-19. Nessa exposição contínua ao vírus, muitos ainda se deparam com a rispidez da própria população que está sendo servida pela prestação de serviços do entregador, onde nem ao menos pode entregar o pedido em mãos, sendo vetado pelo próprio cliente, como relata o entregador Michael Schultz de 28 anos. “O que mais atrapalha são os próprios clientes, que não queriam contato com nós entregadores. Solicitavam que a gente deixasse seus pedidos em cima de algum carro, muro ou até mesmo no chão, tudo isso para evitar contato”, complementa o entregador. Ele ainda completa que já houve casos que animais de rua tomaram posse da entrega, e a culpa recaiu sobre ele, mesmo que o ato de deixar o pedido no chão tivesse sido solicitado pela própria cliente em questão.
A pesquisa da CESIT ainda aponta que durante a pandemia, 43,3% dos entregadores relataram trabalhar até oito horas por dia; e 56,7% afirmaram trabalhar mais de nove horas diárias. Leonardo relata que quando trabalhava em um emprego fixo, fazia cerca de 8 horas de trabalho, mas agora como entregador ele faz seus horários. “Antes da pandemia tinha trabalho fixo, e trabalhava cerca de oito horas por dia. Agora não, faço meus horários. Normalmente foco nos horários de pico, faço das 11:30 da manhã às 14 horas e das 19:00 da noite às 22:30, mas quando necessito trabalho até a meia noite, mas em casos muito necessários, no quesito financeiro”, relata.
Reflexos da Covid-19
Esses trabalhadores entrevistados foram demitidos de seus empregos fixos e enxergaram na entrega de alimentos uma forma de fugir do desemprego causado pela pandemia. Para esses trabalhadores terceirizados não há garantias caso necessitem parar de trabalhar por causa de contaminação. A remuneração salarial de acordo com a pesquisa de esfera nacional realizada em abril pelo Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho, CESIT, 58,9% dos entregadores sentiram uma queda na remuneração no período da pandemia de Coronavirus; e 29,6% dos entregadores não sentiram mudanças salariais nesse mesmo período.
Em abril de 2020 o Sindicato dos Motoristas, o Sintramotos, sediado na capital do Estado do Paraná, Curitiba, realizou solicitações para a Secretaria de Saúde de Curitiba e também para o Governo do Estado do Paraná, pedidos para testagem de Covid-19 e a vacina de gripe comum, para a categoria dos entregadores e motofretistas, visando evitar problemas com a imunidade, deixando-os propensos à uma maior contaminação ao vírus, mas essas solicitações não foram correspondidas. “Solicitamos aos sindicatos patronais a viabilização de formas de segurança e de prevenção, tais como disponibilização de álcool em gel, máscaras, além do protocolo de distanciamento nos locais de coletas e entregas dos produtos/lanches”, completa Cacá Pereira, presidente do sindicato Sintramotos.
Segundo Cacá, foi solicitado ao Ministério Público do Trabalho do Estado do Paraná, o MPT-PR para promover audiências com as empresas de aplicativos que contratam motofretistas para o atendimento aos seus clientes que solicitam os serviços de entrega por meio dos aplicativos de delivery. “O objetivo dessa audiência foi pedir para que distribuíssem e promovessem formas de segurança preventivas e distribuição de EPIs( Equipamentos de Proteção Individuais).