De janeiro a abril de 2021, foram registradas 729 ocorrências. Conselheiros tutelares relacionam números ao isolamento social
O número de atendimentos de casos de violência contra crianças e adolescentes cresceu 235% durante a pandemia em Ponta Grossa. Segundo os Conselhos Tutelares Norte, Leste e Oeste, de janeiro a abril de 2021 foram contabilizados 729 atendimentos. No mesmo período de 2020, foram 310.
No caso da violência física, em 2020 inteiro foram atendidos 669 casos. Em 2021, só de janeiro a abril, foram 217, o que representa 32% do total de 2020.
Em relação à violência psicológica, o Conselho Tutelar atendeu 561 casos em 2020. De janeiro a abril de 2021 foram 309 casos ou 55% do total de 2020.
Sobre casos de violência sexual, foram atendidos 452 casos em 2020 e 203 no primeiro quadrimestre de 2021. Estes dados de 2021 chegam a 45% do número total do ano de 2020.
Para a conselheira tutelar Josiane Aparecida Vezine Brabicoski, o aumento no número de atendimentos de casos de violência infanto-juvenil tem relação com o isolamento social e o fechamento de instituições educacionais, de onde partia parte das denúncias de agressão. “A escola era o canal de acionamento para o plantão do Conselho, e agora a gente não tem mais esse contato”, diz.
A conselheira diz que o Conselho Tutelar tem o apoio do Ministério Público, do Núcleo de Proteção à Criança e Adolescente (NUCRIA) e de entidades hospitalares para o atendimento, investigação e penalização nos casos de violência infanto-juvenil.
Família
Cleide Lavoratti, professora do Departamento de Serviço Social da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), analisa o histórico da violência infanto-juvenil. Ela afirma que a família, como instituição, é o retrato da sociedade. “Se você vive numa sociedade violenta, intolerante, discriminatória e opressiva, assim também as famílias vão ter um relacionamento pautado nessa forma com que a sociedade se relaciona entre seus membros”, diz.
A professora relaciona o aumento de casos de violência intrafamiliar com o fechamento dos espaços escolares e de lazer, onde a criança passava parte de seu dia; agora fica integralmente sob cuidados dos pais.
Cleide também destaca que o isolamento familiar gera insegurança, fator que resulta nessas violências domésticas contra crianças e adolescentes. “Muitas famílias vivem a questão da insegurança não só com a questão da contaminação, mas também insegurança da falta de renda, pois muitos pais tiveram perda do seu emprego”, aponta a professora.
Ela entende que a família é um espaço contraditório. “Ao mesmo tempo que é um espaço de afeto, de garantias de direito, o melhor lugar para a criança viver, também pode ser um lugar de violação de direitos e pode ser o pior lugar para a criança ficar”.
Denúncia
No Brasil, existem políticas públicas que visam enfrentar a violência infanto-juvenil. Segundo Cleide Lavoratti, a Constituição Federal de 1988 e o Estatuto da Criança são algumas destas políticas públicas, mas não são o suficiente para reduzir o número de casos de violência contra crianças e adolescentes. “O enfrentamento à violência tem que se dar de maneira articulada. A gente sabe que não é só uma política que tem responsabilidade para enfrentar a violência, mas são necessárias intervenções intersetoriais e interinstitucionais”, afirma Cleide sobre a importância da família e da população nas denúncias contra a violência infanto-juvenil.
Os casos de violência contra crianças e adolescentes podem ser denunciados pelo Disque 100; para o Núcleo de Proteção à Criança e Adolescente (NUCRIA), pelo telefone (42) 3225-3856; e para o Conselho Tutelar de Ponta Grossa, nos números (42) 99155-4110, (42) 99144-6127 e (42) 9144-1343.
Este texto é parte do conteúdo da edição recém-publicada do jornal-laboratório Foca Livre, produzido pelo 2º ano de Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Acesse a edição completa em https://periodico.sites.uepg.br/index.php/foca-livre
Repórter: Felipe Amaro
Editora de texto: Maria Eduarda Ribeiro
Supervisão Foca livre: Professores Jeferson Bertolini, Muriel Emídio e Rafael Kondlatsch
Supervisão Periódico: Marcos Antonio Zibordi e Mauricio Liessen
Publicação: Malu Bueno