A construção de ciclofaixas voltou ao debate público, em 2018, com as audiências públicas do Plano Diretor. Apesar da destinação de mais de R$ 1 milhão para a construção do sistema cicloviário em Ponta Grossa, impasse político e falta de planejamento são apontados como as principais causas para a paralisação do projeto.

O tema de ciclomobilidade vem sendo discutido em Ponta Grossa desde 2012. Na cidade, os locais que apresentam ciclofaixas são as regiões de Oficinas e de Uvaranas.

Em 2012, a organização não governamental ProCiclovias elaborou, junto ao Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Ponta Grossa (Iplan), projeto que visava mapear todas as regiões de Ponta Grossa. O objetivo foi identificar aquelas onde seria possível a implantação de ciclofaixas.

Legenda: ONG ProCiclovias mapeou regiões que podem receber ciclofaixas em Ponta Grossa. Fonte: Projeto ProCiclovias

 ONG ProCiclovias mapeou regiões que podem receber ciclofaixas em Ponta Grossa. Fonte: Projeto ProCiclovias

Em 2013, foi publicada a Lei nº 11.211 que regulamentou o sistema cicloviário de Ponta Grossa. Na ocasião, foram iniciados projetos nessa área. Em 2015, segundo a reportagem publicada pelo Portal Comunitário, representantes do ProCiclovias foram novamente chamados para discutir as questões de mobilidade no contexto do Plano Diretor da cidade.

Em setembro do mesmo ano, a prefeitura aprovou a construção de ciclofaixas nos trajetos, Terminal Central a Olarias e do Chafariz de Uvaranas à BRF Foods, que segue pela Avenida Dom Geraldo Pellanda, onde a indústria está localizada.

O projeto teve o investimento de R$ 1.130.682,41 destinado ao total de obras das ciclofaixas. Os trajetos que ligariam o Centro ao bairro de Uvaranas e o Terminal Central a Olarias não foram concluídos em sua totalidade, apenas as ciclofaixas em Uvaranas e Oficinas foram finalizadas.

O arquiteto e urbanista, Renato Dombrowski, que trabalhou no Iplan de 2014 à 2016, descarta que a geografia da cidade seja imprópria. “O tema da ciclomobilidade é fundamental para qualquer cidade. Há pessoas que discutem, dizendo que Ponta Grossa tem um relevo que não é interessante, mas isso não é verdade”, refuta.

Dombrowski também alerta para o resultado de pesquisa acerca da utilização das bicicletas em Ponta Grossa. “A maior parte dos ciclistas de Ponta Grossa usam a bicicleta para o trabalho e não para o lazer”, adverte. O estudo citado foi coordenado pelo engenheiro civil e professor do departamento de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Ponta Grossa, Joel Larocca.

O professor Joel Larocca descreve a metodologia empregada. Foram feitas 400 entrevistas, sendo que ciclistas afirmaram usar bicicletas para ir ao trabalho. O engenheiro explica que o trabalho mapeou questões importante acerca da declividade e a ciclomobilidade em Ponta Grossa.

“Os lugares onde havia mais pessoas usando bicicleta para ir ao trabalho eram a Vila Cristina e a Vila Hilgemberg”, destaca. O professor ressalta que, contraditoriamente, as regiões “apresentam um relevo com muita declividade e os moradores trabalhavam na região das indústrias”.

O ciclista e integrante do ProCiclovias, Cloter Filho, ressalta que uma cidade que implementa medidas de “acalmamento do trânsito” e de segurança para ciclistas - como ciclovias, ciclofaixas e paraciclos - obtém um retorno de 24 vezes o valor do investimento.

Para Cloter, isso alerta que os ganhos não se reduzem à prevenção de “acidentes, mortes, danos pessoais e perda de produtividade gerada pelos acidentes”. O ciclista ressalta “a melhoria geral da saúde daqueles que passam a utilizar, diariamente, a bicicleta para a locomoção”.

A importância de se investir na imagem da cidade como amiga da bicicleta, complementa, também ajudaria no posicionamento de Ponta Grossa como um polo turístico.

Projetos criados pelo Iplan não foram concluídos

Durante o ano de 2015, houve diversos pronunciamentos da prefeitura, divulgados pela imprensa local, e também de representantes do Iplan acerca dos novos projetos de implantação de ciclofaixas. Contudo, os projetos foram cancelados.

O ciclista Cloter declara que, durante o ano de 2013, o ProCiclovias trabalhou junto à arquiteta que trabalhava na época no Iplan, Nisiane Madalozzo, e transformou propostas em um projeto que, mais tarde, foi integrado ao Plano de Mobilidade Municipal. Este por sua vez é parte do Plano Diretor municipal.

“Em um processo complicado e cheio de atrasos, alterações e modificações, não por questões técnicas mas, sim, por motivação política, o plano não está sendo implementado na prática”, adverte. Cloter alega que o programa é a base da mobilidade urbana de Ponta Grossa. “O plano sugerido pelo ProCiclovias PG continua sendo a base do plano de mobilidade por bicicletas municipal. Porém não foi implementado”, alega.

O arquiteto e urbanista Renato Dombrowski, ex-integrante do Iplan e da equipe responsável pelo Plano de Ciclomobilidade do município, afirma que diversos problemas impediram a implementação dos projetos. “No Iplan, nós trabalhávamos em cinco pessoas e tinha que ser no mínimo 30. Nós concentramos esforços no Parque Central (Parque Ambiental) e no Plano Diretor”, relembra.

Conforme a Assessoria de Imprensa e a equipe do Iplan, para o planejamento e desenvolvimento de projetos para uma cidade do tamanho de Ponta Grossa esse número é reduzido. Atualmente, a Prefeitura vem buscando diminuição de seu gasto com pessoal, para redução do índice que, na prestação de contas do último quadrimestre, em setembro, estava acima do limite prudencial, em 53.41%.

A licitação, como ressalta Dombrowski, chegou, entretanto, a ser feita. “Em ambos os projetos [Ciclofaixas no Parque Central e o Plano Diretor] tivemos problemas na contratação. Foi feita a licitação para empresas que tínhamos algum conhecimento de quem eram, mas por problemas em ambos, houve a rescisão de contrato”, destaca.

Renato explica que os projetos foram descontinuados e houve a proposta de tratar a ciclomobilidade a partir de dois projetos. O objetivo, observa o arquiteto, era que o Plano Diretor e o Plano de Mobilidade fossem contratados conjuntamente, tendo um termo de referência. Dombrowski afirma que o órgão financiador, o Paraná Cidade, não aceitou e, dessa forma, o foco foi mantido no Plano Diretor.

A principal ideia do projeto era implantar uma ciclofaixa central, mas a equipe teve problemas de impasses políticos. Apesar disso, Renato afirma ainda que houve a tentativa de convencimento do poder público acerca da necessidade de se realizar “um trabalho de forma planejada e não desordenada”.

“O poder público, muitas vezes, não tem um setor como o Iplan”, critica o arquiteto destacando a necessidade de se reforçar a atuação de órgãos dessa natureza para a implementação de projetos como o da ciclomobilidade. Dombrowski adverte, no entanto, que o maior entrave encontrado aconteceu por “uma questão de incompreensão política”.

Nessa perspectiva, a gestão dos projetos ligados à ciclomobilidade enfrentou, como descreve o arquiteto, os impasses gerados pela duração que ultrapassa o período de quatro anos dos governos. O resultado, avalia, é que os projetos acabam sendo feitos sem o planejamento necessário, uma vez que, a cada eleição, há a possibilidade mudança no cenário político e das equipes gestoras.

O projeto do Parque Central foi definido em quatro fases. A primeira fase seria criar ciclofaixas nos fundos do Muffato, onde há uma infraestrutura de parque.  A  segunda fase seria onde está o Parque Ambiental, para ter um espaço com infraestrutura para população. E, em seguida, seria fechado o espaço do Parque Ambiental e iniciar as obras lá. A terceira e a quarta fases seriam onde há a Feira do Agricultor e o ginásio de deficientes.

“Foi feito o projeto da primeira fase e o contrato foi rescindido. A prefeitura atrasou o pagamento da empresa e a empresa atrasou as entregas. Aí, chegou a um ponto em que ambas se acusavam até que rescindimos o contrato”, afirma. A coordenadora do escritório regional de Ponta Grossa do Paraná Cidade, Bianca Camargo Martins, explica o motivo pelo qual o projeto não foi finalizado. “Na época, foi solicitada verba, mas o prefeito [Marcelo Rangel] acabou optando por usar em outras obras e, por isso, o projeto não foi concluído. Essa verba não foi destinada apenas para o projeto”, alega.

A Assessoria de Imprensa da Prefeitura Municipal de Ponta Grossa explica que o projeto de ciclomobilidade, segundo a Secretaria de Infraestrutura e Planejamento, o órgão que financiaria o projeto (Paranacidade, ligado à Secretaria de Desenvolvimento Urbano do Governo do Estado) não aprovou a liberação do recurso por, na época, não dispor de verbas com destinação específica a ciclovias.

O engenheiro civil, Joel Larocca, cita várias localizações onde é possível encontrar ciclofaixas antigas de Ponta Grossa feitas sem planejamento. “Nos fundos do centro de eventos, as ciclofaixas foram feitas improvisadas, sem projeto nenhum. A mesma coisa próximo da OAB, em Oficinas”, cita.

Em 2018, a ciclomobilidade voltou a ser discutida novamente. Durante a 4ª Audiência Pública do Plano Diretor, em 12 de novembro passado, um dos focos foi o Plano de Mobilidade.

Durante o evento, a arquiteta e urbanista do Iplan, Karla Volaco, ressaltou que os planos não implementados de 2014 e 2015 estão sendo avaliados. O objetivo é criar novas diretrizes no contexto de discussão do Plano Diretor que possibilitem a implantação de novas ciclofaixas, incluindo a região central da cidade. Além disso, a arquiteta afirmou que a participação da sociedade está sendo levada em consideração e que o Iplan discute os projetos junto com a ONG ProCiclovias.