Cresce o número de veículos por habitantes em Ponta Grossa

Falta de infraestrutura no transporte público acarretou crescimento do número de carros nas ruas de Ponta Grossa

A busca desenfreada por comodidade e rapidez levou a população a compras de automóveis, provocando uma série de problemas ambientais. Comparado a 2017, o número de carros em Ponta Grossa aumentou em 7% até julho deste ano. A precariedade do transporte público é apontada pelo advogado e doutorando em Geografia pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), João Luiz Stefaniak, membro do Conselho da Cidade, como principal causa desse crescimento.

Levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estimou em 348 mil pessoas a população de Ponta Grossa, quarta maior cidade do Estado do Paraná. Com o crescimento da população em 36.432 habitantes nos últimos 8 anos, houve também um aumento de 61.105 veículos nas ruas da cidade, dificultando assim o trânsito ao aumentar o tempo médio em horários de pico.

“O sistema joga para fora os usuários. A classe média compra um carrinho e entope as ruas de carros. Se vocês pegarem a evolução, já temos dois veículos por habitantes, o que é um alto índice por habitante, enquanto há 10 anos eram três habitantes por um carro, e a população aumentou”, aponta Stefaniak.

Plano Diretor 08122018

Design: Lorena Panassolo / Fonte: Detran

Atualmente, segundo dados divulgados pelo Departamento Estadual de Trânsito (Detran) do Paraná, em junho deste ano, foram registrados 201.436 carros em circulação nas ruas de Ponta Grossa. Desse total, 122.181 eram automóveis pequenos.

Em 2018, foram mais de mil carros vendidos em apenas uma das lojas de veículos da cidade. Numa das maiores concessionárias de Ponta Grossa, são vendidos aproximadamente três carros por dia. Comparado à média nacional, esse número ainda é pequeno, apenas em dezembro de 2017 foram vendidos mais de 170 mil carros em todo o Brasil.

De acordo com o vendedor da concessionária, Felipe Piasson, a principal escolha do comprador é pelo veículo seminovo. “Na cidade, a venda média [de seminovos] é de 1000 carros por ano”, destaca acerca das transações realizadas pela concessionária. Isso representa mais do que o dobro das vendas de veículos zero quilômetro realizadas pelo estabelecimento comercial, que não chega a 500.

Muitas vezes, a escolha por um veículo visa contornar os transtornos provocados pela deficiência do transporte pública. E, além de pensar, no preço, o motorista busca conforto, segurança e qualidade, como destaca o atendente de vidraçaria, Cezar Colesel Junior.

“Depois de passar uma semana escolhendo, optei por um carro 1.6 por saber que tem um motor bom, apesar de não ser tão econômico”, relata o atendente que comprou o carro em fevereiro passado. “Pensei em comprar um veículo mais barato, mas queria um mais potente que fosse bom tanto para a cidade quanto para a rodovia”.

Cezar completa explicando qual o motivo de comprar um carro. “Moro com o meu pai e sempre usei o carro dele. Mas chegou um momento que não era mais viável para nós dois, pois às vezes eu queria sair e ele também”, relembra. “Decidimos que mais um carro em casa seria melhor. Compramos juntos e ele está me ajudando”, ressalta.

GRANDE NÚMERO DE CARROS NAS RUAS SE DÁ PELA PRECARIEDADE NO TRANSPORTE PÚBLICO

O aumento de carros nas ruas se deu por conta do serviço do transporte público considerado ruim para muitos cidadãos. É o que afirma o advogado João Luiz Stefaniak, para quem o uso privado do automóvel beneficia poucos e acaba por gerar um problema para a cidade. “A classe média se livra porque, como o serviço de transporte público é muito ruim, quem tem um automóvel vai entupir as vias com carros para uso individual, o que é a pior forma de solucionar o problema”, alerta.

Para isso, são necessárias políticas públicas para melhorar a circulação de veículos. O estudante de Direito da Universidade Norte do Paraná (Unopar), Luiz Gorchinski, que integrou o eixo de acessibilidade e mobilidade urbana da Conferência da Cidade, destaca as propostas levantadas durante o evento, cuja etapa municipal foi realizada em 2016.

Gorchinski destaca que a proposta do eixo de acessibilidade e mobilidade urbana tiveram maior votação no plenário final. “Levamos para a [Conferência] Estadual onde também foi aprovada”, relembra. Entre as medidas sugeridas, estão a “implantação de perimetrais para maior fluxo de mobilidade na cidade e implantação de ciclovias. Embora tenham obtido maior votação, a implementação depende, agora, do Plano Diretor.

O transporte público é deixado de lado, enquanto as obras, que favorecem os automóveis particulares, aumentam, mesmo que isso não priorize a coletividade, “Não há um planejamento quando falamos de redução de engarrafamento e poluição”, destacam os doutorandos Fabio Angeoletto e Patricia Pinheiro, autores do artigo “Os automóveis e o meio ambiente”,  que tratam da falta de planejamento e abandono do transporte coletivo no contexto urbano.

A pesquisa sustenta: "É preciso que modos alternativos de transporte sejam priorizados no planejamento e gestão desses sistemas. Boa parte dos orçamentos municipais brasileiros dedicados ao transporte são utilizados para facilitar o trânsito de veículos particulares, enquanto que modos de transporte mais corretos são negligenciados".

BICICLETA PODE SER ALTERNATIVA NA SOLUÇÃO DE PROBLEMAS AMBIENTAIS CAUSADOS POR AUTOMÓVEIS

    A falta de incentivo a transportes alternativos e menos poluentes gera ainda mais o aumento de carros nas ruas. Segundo o estudo dos doutorandos Fabio Angeoletto e Patricia Pinheiro, na Holanda, há mais bicicletas do que carros e o Governo Holandês incentiva essa prática no país, fazendo com que cerca de 30% das viagens urbanas sejam feitas de bicicleta.

Na Bélgica, os trabalhadores são incentivados a usar esse meio para ir ao serviço e muitos empresários fornecem bicicletas para os empregados, uma vez que isso contribui para o rendimento do trabalho e melhora as condições de saúde dos mesmos.

    No Brasil, o uso de bicicleta também vem sendo promovido pelo governo. Em agosto, foi aprovado, pela Comissão de Serviços de Infraestrutura (CI), um relatório favorável ao Projeto de Lei da Câmara 83/2017, proposta do deputado federal Jaime Martins (PSD-MG), propondo a criação do Programa Bicicleta Brasil (PBB), que incentiva a população a usar esse meio para melhorar a vida urbana.

    Em Ponta Grossa o uso de bicicleta é mais comum e recentemente foi inaugurada uma ciclovia no bairro Uvaranas, possibilitando aos moradores a alternativa de lazer e também de meio de transporte barato e não poluente.

    Com incentivo do governo investindo no projeto ciclomobilidade, aposta é na promoção do aumento o uso de bicicletas nas ruas e na baixa do número de automóveis. Isso é importante já que o fluxo dos automóveis alteram questões.

“Outra interferência é a mudança do vento. Quando os carros estão se movimentando por uma rua em uma determinada direção, eles forçam o vento nessa direção”, explica o professor de Climatologia da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Gilson Cruz. “Muitas vezes, esse vento tenderia a ir pra outro lado, mas em função do fluxo de carros ele é forçado a mudar de direção. A movimentação dos carros mexe com toda a dinâmica”, completa.

Apesar de grande parte dos efeitos prejudiciais ao meio ambiente ser efeito de ações da população, que com o descarte de lixo nas ruas e nos rios e pelo desmatamento, os gases lançados no ar, pelos automóveis, também têm grande contribuição quando falamos em efeito estufa.

“A questão da poluição é outro aspecto, a queima de combustíveis fósseis acaba poluindo a cidade. Parte da poluição negra, que vemos nos muros e nas casas, é resultante disso, da queima de combustíveis fósseis, de dióxido de carbono (gás do efeito estufa)”, relata.

O geógrafo conclui que, além do efeito de poluição de partículas de sólidos da combustão, “há também a poluição dos gases e parte deles é de efeito estufa e vai colaborar para aumentar a temperatura da cidade”.