Falta de ciclovias aumenta riscos de acidentes em Ponta Grossa

Ciclistas utilizavam as principais rotas de tráfego da cidade em 53% dos casos registrados nos primeiros cinco meses do ano

 

O número de acidentes de trânsito envolvendo ciclistas em Ponta Grossa revela falta de segurança aos usuários de bicicleta por insuficiência de ciclofaixas e orientações de trânsito na cidade. Foram 59 ocorrências de janeiro a maio deste ano. Os registros mostram maior incidência nos bairros Uvaranas, com 11 acidentes, Oficinas e Contorno, ambos com  sete casos registrados, e Neves, com seis. Os dados levantados pelo Sistema de Estatísticas de Ocorrências do Corpo de Bombeiros do Paraná especificam os tipos de ocorrência, entre elas atropelamento, colisão e queda de veículo.

A infraestrutura de ciclovias existentes nas cidades não atende a demanda do aumento de ciclistas durante a pandemia de coronavírus. Muitas pessoas aderiram à bicicleta como meio de transporte para trabalho, estudo ou lazer e devido à alta nos preços dos combustíveis desde dezembro de 2020. Segundo dados da plataforma Strava Metro, principal aplicativo sobre deslocamento em transporte não motorizado no mundo, o número de cidadãos que utilizam regularmente a bicicleta aumentou no país entre 2019 e 2021. Além disso, de acordo com informações da Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustível (ANP), o preço dos combustíveis derivados do petróleo aumentou em 22,6% de janeiro deste ano até a primeira semana de maio.

Cópia de LÍVIA HASMAN CICLOVIAS

59 acidentes envolvendo ciclistas ocorreram entre janeiro e maio em PG. Foto: Lívia Hasman

O aumento de ciclistas também ocorre em Ponta Grossa. Segundo o ciclista José Augusto “Gugu” da Silva, proprietário de uma loja de bicicletas, o número de pessoas que utilizam a bicicleta como meio de transporte cresceu muito na cidade. Para ele, a divulgação de grupos de ciclismo nas redes sociais é uma das razões do crescimento. Gugu cita o grupo “Pedal Noturno”, de que faz parte, voltado para ciclistas iniciantes. Atualmente, cerca de 50 pessoas participam das pedaladas que ocorrem em dias de clima agradável.

José Augusto afirma, no entanto, que falta segurança para os ciclistas em diversas vias da cidade por conta da insuficiência ou até falta de ciclovias e ciclofaixas. “Eu não pedalo na Doutor Paula Xavier, é muito perigosa. Você precisa andar pela extrema direita da via e não tem espaço ali”, explica. O ciclista expõe outros lugares de risco.  “Tem várias vias perigosas. A Avenida Carlos Cavalcanti, onde a ciclovia foi feita em só um pedaço, a Avenida Doutor Vicente Machado, a Balduíno Taques…”.

Ação do Poder Público

A Câmara Municipal de Ponta Grossa aprovou, no dia 18 de maio, o Projeto de Lei 160/2021, que institui o programa “Vou de Bike” com a instalação de bicicletários na cidade. Segundo o autor do PL, vereador Felipe Passos (PSDB), o programa busca incentivar o uso de bicicletas como meio de transporte e a melhoria da qualidade da mobilidade urbana no município, por meio da promoção de meio de transporte não poluente. Somente a instalação de bicicletários públicos, porém, não é suficiente para solucionar os problemas da ciclomobilidade de Ponta Grossa, que necessita de rota cicloviária estruturada.

Na opinião de José Augusto, as ciclovias e ciclofaixas existentes no município não são suficientes. “A cidade não foi estruturada para receber o ciclista, então a gente se vira com o que tem, né? É pouco”, afirma. O ciclista acrescenta que também é necessária a orientação e o respeito no trânsito, tanto de motoristas quanto de usuários de bicicleta: “Depende do Poder Público fazer uma campanha ou talvez uma blitz educativa para todos: para o ciclista, o bicicleteiro e o pessoal que dirige”.

Uma bike, uma vida

A criadora do projeto “Proteja o Ciclista”, Iara Solange Panzarini, também professora de inglês, afirma que quanto mais pessoas se unirem em prol da causa de proteção aos ciclistas, melhor. Mãe de Henrique Isaac Panzarini Silva, vítima de um acidente de trânsito em 2020 enquanto andava de bicicleta, ela e a família iniciaram o projeto após a tragédia com o intuito de alertar ciclistas, motoristas e responsáveis sobre os cuidados que se deve ter no tráfego. “A ciclofaixa dá mais segurança aos ciclistas, assim como os componentes de segurança, como o capacete. Só que ciclofaixas não existem em todos os lugares”, observa.

O projeto já realizou passeatas, distribuição de capacetes e adesivos refletores e também blitz educativas em parceria com o Departamento de Trânsito do Paraná (DETRAN/PR), a Guarda Municipal de Ponta Grossa e a Autarquia Municipal de Trânsito e Transporte (AMTT). Apesar do foco de atuação do projeto ser campanhas de conscientização e prevenção de acidentes, a professora comenta a necessidade de uma rota cicloviária no município. “O ideal seria ter ciclofaixas em praticamente todas as ruas, para que os carros pudessem respeitar mais, dando lugar para o ciclista”, diz.

Para Iara, quanto mais políticos e cidadãos comuns se envolverem na causa da segurança ao ciclista, melhor. “Acho que tem muito mais gente andando de bicicleta, com o preço da gasolina aumentando. Quanto mais ciclofaixas, ciclovias e bicicletários existirem na cidade, mais pessoas vão estar se beneficiando”, conclui.

 

Este texto é parte do conteúdo da edição recém-publicada do jornal-laboratório Foca Livre, produzido pelo 2º ano de Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Clique aqui e acesse a edição completa.

 

Ficha técnica:

Reportagem: Lívia Hasman

Edição e publicação: Maria Helena Denck

Supervisão de produção: Cândida de Oliveira, Maurício Liesen e Ricardo Tesseroli 

Supervisão de publicação: Marcos Zibordi e Maurício Liesen

 

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