Apesar das tentativas, a cidade não conseguiu conter a doença e mais de mil pessoas morreram em um ano
No dia 30 de junho de 2021 Ponta Grossa chegou à marca dos 1.115 óbitos em decorrência da Covid-19. De acordo com os dados do Boletim Epidemiológico divulgados pela Prefeitura, a cidade encerrou o primeiro semestre deste ano com quase 46 mil casos confirmados da doença desde o início da pandemia. Uma das formas de tentar frear o avanço do vírus, foram as medidas de restrição impostas pelos decretos municipais.
Ao todo, o Executivo publicou 93 decretos desde o dia 16 de março de 2020. A maioria limita a circulação e permanência de pessoas em espaços coletivos, como igrejas e praças, e também reduz os horários de funcionamento dos serviços considerados não essenciais como academias, shoppings, bares, lanchonetes, clubes, entre outros.
Essas medidas são tomadas pelo Comitê Emergencial da Covid-19 de Ponta Grossa, composto por nove integrantes da gestão municipal correspondentes às áreas econômica, jurídica, educacional, saúde/sanitária, da segurança pública e do gabinete da prefeita. O Comitê de 2021 foi instituído em 05 de janeiro, por meio do decreto 18.240, e atualizado no dia 19 do mesmo mês, segundo o decreto 18.324.
As determinações restritivas em combate à pandemia são feitas a partir do consenso e da avaliação técnica entre o Comitê, que se reúne semanalmente ou em frequência maior, conforme o aumento do número de casos e da ocupação dos leitos na cidade. Na sequência, a prefeita Elizabeth Schmidt é quem avalia e determina a publicação como ato do Executivo. Caso não haja a aprovação por parte da Prefeitura, o grupo responsável pode reavaliar segundo as solicitações feitas.
A farmacêutica Bárbara Luiza Mendes Schuinski, especialista em Saúde Coletiva, defende a ideia de um fechamento mais rigoroso para frear a pandemia enquanto toda a população não recebe a vacina. Para ela, as medidas tomadas pela Prefeitura foram ineficazes, visto que os pontos de referência do atendimento a Covid-19 no município permanecem lotados. “Até hoje o cenário é crítico e não tivemos um lockdown de verdade. Se teve, foi quando a cidade contava com um número de casos irrisórios perto do que temos hoje. Depois que houve um surto de casos diários, entende-se que eles largaram a mão”, relata.
No primeiro mês da pandemia, a Prefeitura chegou a determinar um fechamento mais rigoroso durante 15 dias corridos, de 23 de março a 06 de abril de 2020. O decreto 17.144 previa a suspensão das atividades comerciais e não essenciais que, posteriormente, retornaram de forma escalonada. Após estas primeiras medidas, ao longo de 2020, as demais tratam da restrição de circulação, da capacidade de permanência de pessoas em um mesmo espaço, do toque de recolher e a variação dos horários de funcionamento das atividades não essenciais. Ao todo foram 71 decretos impostos em 2020 e nenhum determinou o fechamento total na cidade.
Apenas em 2021, devido à elevada taxa de contaminação e lotação das alas covid-19, a Prefeitura voltaria a suspender as atividades não essenciais entre os dias 18 de março e 11 de abril por meio dos decretos 18.765 e 18.797. Na sequência, ações restritivas com menor rigor foram adotadas. Segundo dados divulgados pelo Hospital Universitário de Ponta Grossa (HU), referência ao enfrentamento da pandemia na região dos Campos Gerais, no dia 18 de março deste ano completou-se um mês consecutivo com a lotação máxima das UTIs Covid. Em abril iniciou com 100% de ocupação dos leitos clínicos, de pronto atendimento e, novamente, das UTIs.
De acordo com o Comitê Emergencial da Covid-19, o que se esperava com essas e outras medidas seria a diminuição da necessidade de atendimentos e ocupação hospitalar por conta da contaminação do vírus, o que não houve. Um mês após a vigência das medidas mais rigorosas, em 11 de maio, o HU continuava com 100% de ocupação dos leitos clínicos e de UTI da Covid. Já o pronto atendimento apresentava 125% de ocupação.
Mariele de Fátima Leandro, moradora do bairro de Uvaranas, aponta que não se sente segura com os decretos por não serem rigorosos. Além disso, ela afirma que não percebeu fiscalizações constantes nos locais que frequenta. “As pessoas deixaram de respeitar as medidas sanitárias e de distanciamento social quando observaram que não estava havendo fiscalizações frequentes em toda a cidade por parte da Prefeitura”.
Segundo o Comitê, até o dia 30 de julho deste ano 115 pessoas foram penalizadas em mil reais e 28 mil estabelecimentos foram vistoriados, sendo que 138 receberam multas por não cumprirem as determinações impostas. Dentre as irregularidades estão a ocupação dos estabelecimentos e locais privados acima do permitido, descumprimento do toque de recolher e aglomerações.
No dia 12 de junho deste ano, quando a cidade chegou aos mil óbitos, a Prefeitura decretou luto oficial por três dias em memória e solidariedade às vítimas da Covid-19. Porém, até agora, nenhuma ação mais rigorosa foi tomada para evitar que a cidade ampliasse os números. Em pouco mais de um mês, segundo o boletim do dia 30 de julho, mais de 170 pessoas morreram da doença. Se a estatística se mantiver, em menos de um ano a cidade contará com mais mil mortos.
A infectologista Gabriela Margraf Gehring aponta que não há nenhuma perspectiva de melhora no cenário pandêmico de Ponta Grossa para os próximos meses. “Enquanto houver aglomerações, sejam em estabelecimentos públicos ou familiares, a falta de orientações por parte da Prefeitura, em conjunto com a não conscientização da população, não iremos avançar até toda a cidade ser vacinada”, conclui.
Este texto é parte do conteúdo da edição recém-publicada do jornal-laboratório Foca Livre, produzido pelo 2º ano de Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Acesse a edição completa em https://periodico.sites.uepg.br/index.php/foca-livre
Ficha técnica
Repórter: Ana Luiza Bertelli Dimbarre
Editor de texto: Cristiane de Melo
Publicação: Maria Eduarda Eurich
Supervisão Foca Livre: Jeferson Bertolini, Rafael Kondlatsch e Muriel Emídio Amaral.
Supervisão de Publicação: Marcos Zibordi e Maurício Liesen