Pandemia dificulta denúncias de violência contra mulher

Convivência integral de vítimas com parceiros, decorrente do isolamento social, fez aumentar número de agressões

 

Ponta Grossa apresenta aumento de casos de violência contra a mulher durante a pandemia de COVID-19. De março a dezembro de 2020, foram realizados 210 atendimentos de mulheres pelo Núcleo Maria da Penha (NUMAPE). Em 2019, a NUMAPE realizou 190 atendimentos. No mesmo ano, a Patrulha Maria da Penha (PMP) realizou 3.804 atendimentos, prisões e visitas. Já em 2020, esse número subiu para 5.858.

Segundo a psicóloga Camila Maffioleti Cavaler, o aumento da violência no período da pandemia é resultado do confinamento da vítima com seu agressor. Entre os motivos que fazem com que a mulher tenha dificuldades de romper o ciclo de violência estão a dependência financeira, quando o agressor priva a mulher de suaspróprias finanças e a dependência emocional, quando a mulher é levada a acreditar que é dependente de seu agressor, além do medo e vergonha.

 

Mapa da cidade de PG mostra locais onde há mais risco de agressões contra mulher. Foto: Manuela Roque

 

O aumento da violência contra mulher na pandemia de coronavírus foi um problema mundial. Por dia, pelo menos três mulheres foram vítimas de feminicídio no Brasil, segundo o monitoramento de violência feito por mídias independentes, Um vírus e duas guerras. Com a pandemia, o isolamento social e os decretos de paralisação de atividades, muitas mulheres encontraram maior dificuldade em fazer denúncias, o que resultou em uma queda no número de casos de violência registrados. Para a coordenadora da Maria da Penha e assistente social do Conselho Regional de Serviço Social (CRESS), Lilian Chociai, “fatores como fechamento e/ou diminuição de horários dos locais de atendimento especializado para as denúncias das violências sofridas e a presença do(a) autor(a) da violência no espaço doméstico em razão do isolamento criaram empecilhos para que a vítima procurasse ajuda”.

A assistente social da delegacia da mulher Luciana Stocco explica que o período da pandemia é um desafio em relação ao enfrentamento da violência doméstica. Stocco acredita que outro fator para a redução do registro de denúncias, especificamente no mês de março, foi a paralisação da circulação do transporte coletivo com o decreto municipal 18.797/2021, pois mulheres de menor renda e mais fragilizadas são afetadas. “A violência não para, não segue decreto”, afirma a assistente social. Além da paralisação das atividades presenciais da NUMAPE, mulheres sem acesso à internet e telefone ficam impossibilitadas de denunciar.


MEDIDAS DE ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA CONTRA MULHER


Algumas medidas foram tomadas a fim de tentar frear o aumento dos casos de violência contra mulher e feminicídio. Instituições e órgãos privados de combate a violência contra a mulher em Ponta Grossa desenvolveram medidas protetivas de urgência de modo online. No âmbito nacional, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) criaram a Campanha do Sinal Vermelho, que virou lei (n° 6.713/2020) no Distrito Federal. A campanha é uma ferramenta alternativa para mulheres sem acesso à internet, computadores e familiares denunciar sua situação de violência de forma segura, elas podem fazer isso indo a uma farmácia, supermercado, hotel e apresentar um X vermelho desenhado em sua mão, assim o atendendente deve procurar ajuda policial.

A Polícia Civil do Paraná também desenvolveu a possibilidade de registro de boletim de ocorrência referente a crimes contra mulher (Lei Maria da Penha) de forma online e digital. A Patrulha Maria da Penha produziu um vídeo que contou com representantes da rede de proteção e membros do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher explicando que as vítimas de violência doméstica estão ainda mais expostas à ação de seus agressores durante a pandemia e incentivando as vítimas a denunciar casos de violência.

 

Ficha Técnica

Repórter: Yasmin Orlowski
Editor de texto: João Gabriel Vieira
Supervisão: Rafael Kondlatsch, Marcos Zibordi e Kevin Kossar

Foto: Manuela Roque

Publicação: David Candido