O Juizado de Violência contra a Mulher registrou 890 solicitações entre 1° de janeiro e 13 de julho de 2021. A média é de 4,6 por dia.

 

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Foto: Maria Fernanda de Lima

 

O isolamento social é uma das medidas mais eficazes para interromper a transmissão da Covid-19, segundo especialistas da área da saúde. Contudo, a quarentena não traz segurança para todos. É o caso de muitas mulheres que são vítimas de violência doméstica. Para elas, o ambiente familiar nem sempre é um espaço de paz e tranquilidade. Há casos onde o lar se torna palco de várias demonstrações de violências, seja ela sexual, simbólica e psicológica.

Segundo o Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher de Ponta Grossa, de 1º de janeiro a  13 de julho de 2021 foram registrados 890 pedidos de medidas protetivas a mulheres que sofreram algum tipo de violência, a média de 4,6 por dia. em todo o ano de 2020 foram 1490, média de quatro pedidos por dia. 

Segundo Bruna Woinorvski de Miranda, assistente social judiciária que estuda a violência contra mulher, a tendência é que o número de denúncias em 2021 supere o do ano passado. “Neste ano houve um aumento no número de pedidos de medidas protetivas em comparação ao mesmo período no ano passado, pois foi gradativamente que recuperamos que as mulheres chegassem até nós trazendo denúncias de violência doméstica”, afirma Bruna.

Na pandemia, diz Bruna, o tipo de agressão mais relatada pelas vítimas é a psicológica. Outros problemas são violência física, moral, sexual e patrimonial.

 

Ciclo

O dano mais grave causado à vítima é a manifestação do ciclo da violência. De acordo com a assistente social, esse ciclo é explicado por Lenore Walker, psicóloga estadunidense. No final dos anos de 1970, Walker criou o conceito “Síndrome da Mulher Agredida” a fim de compreender o padrão de comportamento e emoções vistos em vítimas de violência. A psicóloga descreve o ciclo em três fases: a primeira é do aumento de tensão, quando acontecem conflitos por situações insignificantes, humilhações direcionadas à vítima e quebra de pertences pessoais. A mulher, por sua vez, fica aflita e evita ações que possam provocar o agressor.

A segunda fase refere-se ao momento da violência em si, quando o agente perde o controle e comete a agressão. Caso a vítima não procure ajuda, ela pode vir a se sentir impossibilitada de reagir e, neste caso, apresenta sintomas de estresse pós-traumático como ansiedade, solidão e perda de peso.

Já a terceira e última fase, conhecida como “lua de mel”, se caracteriza pelo comportamento calmo do agressor, em que a vítima acredita no remorso e perdoa o autor da violência. Depois disso, o ciclo reinicia ao voltar para a primeira fase.

 

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 Infográfico: Ana Carolina Barbatos Dias e Carlos Eduardo Mendes

 

Atendimento

Com a pandemia, algumas organizações não-governamentais (ONGs) pararam de receber atendimento presencial. O Núcleo Maria da Penha da Universidade Estadual de Ponta Grossa (NUMAPE/UEPG), que oferece auxílio jurídico e psicológico a mulheres em condição de vulnerabilidade desde 2018, no momento está fisicamente fechado e só realiza atendimentos pelas redes sociais e por plantão telefônico. Mas, por conviver mais tempo com o agressor, algumas mulheres não se sentem seguras e confortáveis em fazer o atendimento via telefone, o que também dificulta a atuação do NUMAPE em muitos casos.


Outras instituições que atendem casos de violência contra mulher também precisaram se adequar ao distanciamento social. É o caso do Juizado de Violência Contra Mulher, que passou a atender via WhatsApp, e da Patrulha Maria da Penha, que possui o aplicativo “Botão Maria da Penha” para fiscalizar a situação de mulheres com medidas protetivas. Além disso, surgiu o Boletim de Ocorrência online, registrado de forma totalmente virtual que pode ser feito no site da Polícia Civil do Paraná.

 

Como denunciar?

Para denunciar situações de violência e solicitar medidas protetivas de urgência, a vítima pode entrar em contato com a Delegacia da Mulher. Também é possível contatar a 13º Subdivisão Policial de Ponta Grossa em horários que a Delegacia da Mulher estiver fora do horário de expediente. Se for um caso de urgência, há a possibilidade de acionar a Polícia Militar ou a Guarda Municipal para que uma viatura seja deslocada até o local da violência para o atendimento.

 

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Infográfico:  Ana Carolina Barbatos Dias e Carlos Eduardo Mendes


Se vizinhos, familiares ou conhecidos presenciarem uma situação de violência contra mulher, é possível fazer uma denúncia anônima a partir da Central de Atendimento à Mulher (detalhes no quadro). O serviço funciona 24 horas por dia, incluindo sábados, domingos e feriados, e a ligação é gratuita. Além das instituições, é válido ressaltar que o apoio dessas pessoas próximas à vítima é de extrema importância, pois dessa forma a vítima inicia o processo de encorajamento para, mais tarde, formalizar a denúncia.

 

Este texto é parte do conteúdo da edição recém-publicada do jornal-laboratório Foca Livre, produzido pelo 2º ano de Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Acesse a edição completa em https://periodico.sites.uepg.br/index.php/foca-livre

 

Ficha Técnica

Repórter: Ana Carolina Barbatos Dias e Carlos Eduardo Mendes

Editor de Texto: Kathleen Schenberger

Publicação: Yuri A.F. Marcinik

Supervisão: Prof. Jeferson Bertolini, Rafael Kondlatsch e Muriel Emídio Amaral



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