Média mensal passou de 124 por mês em 2020 para 138 em 2021
O número de pedidos por medidas protetivas urgentes, concedidas a mulheres em situação de violência doméstica, aumentou 12% em Ponta Grossa em relação ao ano passado. Em 2020, segundo dados do Tribunal de Justiça do Paraná (TJPR), foram 1.490 (média de 124 por mês). Em 2021, até o dia 31 de julho, foram 971 (média de 138,7 por mês).
Maria Cristina Baranovsky, coordenadora do Núcleo Maria da Penha (Numape) e professora da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), diz que esse aumento no número de pedidos se deve ao fato da Secretaria Estadual de Segurança ter possibilitado o registro de boletim de ocorrências de forma virtual. Tal medida demanda que a mulher vítima de violência doméstica saia apenas uma vez de casa para ir à uma delegacia e emitir um pedido de medida protetiva urgente.
No entanto, a professora salienta que, mesmo com a praticidade de se fazer o boletim de casa, o cenário de pandemia trouxe mais dificuldades à vida das vítimas de violência doméstica. “Com a instauração de medidas de contenção de aglomerações em mercados, farmácias, escolas e afins, muitas mulheres vigiadas em casa pelos agressores perderam o motivo de sair de casa para, disfarçadamente, irem a uma delegacia efetivar as denúncias.”
Segundo a coordenadora do Numape, tal contexto também obrigou delegacias a funcionar em expediente reduzido e causou o fechamento de locais de conscientização e apoio às vítimas. “Mesmo com esse alento da Secretaria Estadual de Segurança, a pandemia interferiu de forma extremamente negativa na vida dessas mulheres e na busca delas por seus direitos.”
Fotografia Eder Carlos
Psicologia
A psicóloga Franciane Martinazzo, especializada em pessoas em situação de vulnerabilidade, afirma que a violência doméstica perpassa tanto o aspecto físico quanto o psicológico. “Os indicativos da violência doméstica são fobias, estresse pós-traumático, depressão grave e até sintomas físicos como hipertensão, distúrbios de sono, assim como comprometimento da sexualidade e de relacionamentos futuros da vítima”, explica.
A psicóloga comenta que o cenário de pandemia acaba por intensificar e repetir os ciclos de violência contra a vítima. “O agressor estando mais em casa intervém mais na rotina da vítima e com isso causa mais stress e tensão.”
Com a vítima exposta à possibilidade de violência, ela acumula essa tensão e acaba se desgastando. “A tensão diária aumenta já que a vítima está sempre, como costumo dizer a meus pacientes, pisando em ovos. Esse estresse pode afetar também os filhos que por vezes acabam tendo a violência da casa sendo descontada neles.”
Martinazzo fala que a solução para evitar essa perpetuação da violência passa pela conscientização. “A vítima só vai se entender em uma relação abusiva a partir do momento que ela tem um tempo livre do agressor para refletir e se informar. Essas informações podem ser a divulgação de exemplos, relatos ou frases ditas por agressores, para que a vítima comece a se identificar assim e procure por ajuda e medidas legais“.
No caso daquelas que optam por perdoar o companheiro quando este promete mudar seu comportamento, Fraciane aconselha que estas prestem atenção se a mudança se concretiza. “O parceiro que se arrepende de verdade é o que efetuará um movimento em prol da mudança. Se ele é alcoólatra, vai buscar o AA (Alcoólicos Anônimos) ou ajuda especializada. Se a mudança ficar só nas palavras, muito provavelmente o ciclo e perpetuação da violência continuarão" conclui a psicóloga.
Portal Elos
Ajuda
O Numepai disponibilizou a cartilha on-line “Violência contra mulher: Informações e Dúvidas Frequentes” gratuitamente sobre os ciclos da violência doméstica.
A psicóloga Franciane também possui um e-book gratuito que está disponível na internet. Chamado “Será que ele é Abusivo?”, a obra ensina mulheres a reconhecerem e se precaverem contra relacionamentos abusivos.
Ficha técnica
Reportagem: Yuri Marcinik
Edição: Leonardo Duarte
Publicação: Leonardo Duarte
Supervisão: Profs. Jeferson Bertolini, Marcos Zibordi e Maurício Liesen