Aquela suposta rivalidade entre carteiros e cães, retratado em diversos desenhos animados, é mais verdadeira do que se imagina, é um problema recorrente que afeta o trabalho da categoria. O Paraná é o terceiro estado do Brasil com o maior número de ataques de cães contra profissionais de serviços postais. Entre 2017 e 2021, foram 202 acidentes desta natureza, de acordo com a sede estadual da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT).
Em Ponta Grossa, profissionais registraram formalmente cinco ataques, dois deles em 2018 e três em 2019. A ECT obtém os dados a partir da Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) e destaca que a instalação incorreta das caixas de correspondência é um dos principais motivos dos acidentes com cães.
Foto: Reprodução Períodico
Experiências
Carteiro há 13 anos em Ponta Grossa, Cléber Luiz Lopes explica que os bairros mais afastados, onde não há cercas ou muros, são os mais suscetíveis a acidentes. “A primeira vez que fui mordido estava colocando a carta dentro da caixa de correspondência e um cachorro surgiu e mordeu minha mão, precisei ir ao hospital fazer curativo e tomar vacina antitetânica”, relata o carteiro. Um caso grave, segundo Cléber, envolveu uma colega que foi mordida na barriga e ficou dois meses afastada do trabalho.
Outro carteiro, que prefere não ser identificado, conta que muitos incidentes ocorreram nos seus 21 anos de profissão. Em um deles, um cão de pequeno porte conseguiu passar a cabeça pela grade do portão e furou seu polegar direito. O carteiro precisou de atendimento médico.
Adestrador
De acordo com o adestrador cães, Leandro Stelle, apesar de algumas raças possuírem um instinto natural de ataque, diversos fatores estimulam essa reação. “Os cães reconhecem gatilhos, como os sons das motos, os cheiros, movimentos bruscos. Se alguma vez ele latiu para alguém chegando perto da residência e essa pessoa recuou, ele vai entender que o que está fazendo é correto e repetir”. Leandro salienta que o medo também estimula: o cão se sente ameaçado e, como defesa, ataca.
Prevenção
Para evitar acidentes, os Correios orientam que a caixa de correspondência fique entre 1,20 e 1,50 metro do chão e sempre tenha a abertura direcionada para a rua.
O adestrador Leandro também cita algumas medidas que podem ser tomadas pelos tutores dos animais a fim de evitar os acidentes. “Mostrar para os cães que estes trabalhadores não representam uma ameaça, ao invés de deixar ele ir latir, recompensá-lo com um petisco. O portão de casa é um local estimulante e perigoso, é preciso retirá-los dali”.
Este texto faz parte da edição 220 do Foca Livre, jornal-laboratório produzido por alunos do segundo ano de jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).
Ficha Técnica
Repórter: Valéria Laroca
Edição e Publicação: Yasmin Orlowski
Supervisão de Produção: Vinícius Biazotti
Supervisão de Publicação: Marcos Zibordi, Maurício Liesen