O número estimado de pessoas desempregadas neste ano ultrapassa 15 mil.
Em Ponta Grossa, cerca de 8.569 pessoas fizeram o requerimento de seguro-desemprego até novembro de 2020. Segundo os dados da Agência do Trabalhador, o número de requerimentos é menor do que o mesmo período em 2019. No ano passado, cerca de 11.312 pessoas fizeram o pedido de seguro-desemprego até o mesmo mês citado.
Porém, de acordo com a Agência do Trabalhador, em junho houve uma estimativa de que a cidade tinha cerca de 15 mil desempregados, somando com os informais que possuíam registro em carteira. Segundo o ex-Diretor da Agência do Trabalhador de Ponta Grossa, John Elvis Ribas Ramalho, em junho, em entrevista ao Jornal Diário dos Campos, 5.500 foram só o número de trabalhadores que tinham registro em carteira. Somando com os trabalhadores que foram demitidos sem ter direito ao seguro, acredita-se que são mais de 15 mil pessoas desempregadas em 2020.
Este dado reflete um número bastante relativo, já que existem modalidades distintas em relação ao emprego e a taxa de desemprego. Geralmente é realizada em referência aos trabalhadores com carteira assinada. Esses números estão relacionados aos pedidos de seguro-desemprego, através da Agência do Trabalhador. Os dados ajudam a entender apenas um aspecto do desemprego na cidade, que é o de pessoas com carteira assinada.
Desemprego no Paraná
No Paraná, houve um aumento de 11% em um mês, variando a porcentagem entre 9,97% para 11,1% entre os meses de maio e junho deste ano. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o Paraná contabiliza cerca de 648 mil desempregados. Este número reflete efeitos ocasionados devido a pandemia de Covid-19. Principalmente na modificação de jornadas de trabalho e salários dos 574 mil paranaenses empregados de maneira formal. Segundo os dados de uma versão extraordinária da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) que planeja calcular as decorrências da pandemia de Covid-19 no mercado de trabalho, cerca de 441 mil empregados foram afastados pela necessidade do distanciamento social. De acordo com os dados do Instituto Sivis, no Paraná, cerca de 1,7 milhões de pessoas foram afetadas pela redução salarial no período de março até junho deste ano.
Microempresas crescem nos meses de crise da pandemia.
Em contrapartida com o desemprego, o número registrado de novos Microempreededores Individuais (MEIs), cresceu durante o período de março até novembro deste ano em relação a 2019. De acordo com o Portal do Empreendedor, em Ponta Grossa, no ano passado, o número de MEIs no período citado cresceu em 2.482. Já em 2020, neste mesmo período, o número foi maior, em um aumento de 2.931. Com isto, observa-se um crescimento de 18%.
No Paraná, este dado também foi crescente. Neste mesmo período, a porcentagem de MEIs cresceu neste ano 9% em comparação com 2019. Os números mostram 81.373 novas microempresas de março até novembro de 2020 e em 2019, 74.103.
Em relação ao Brasil, o trabalho informal é conceituado de maneira facilitada porque a legislação exige a carteira de trabalho assinada. Na cidade de Ponta Grossa, em 2010, segundo o censo do IBGE, 27.768 pessoas trabalhavam como autônomas no Município e dessas, 18.307 não contribuem para instituto de previdência oficial. O número de trabalhadores sem carteira assinada chegava a 18.820.
Para a jornalista que abordou o trabalho informal e desemprego na defesa do seu Trabalho de Conclusão de Curso, Ingrid Petroski, o número de trabalhadores informais no Brasil aumentou nos últimos anos, mesmo com Reforma Trabalhista do Governo Michel Temer, lei 13.467, aprovada em 2017 pelo Congresso Nacional. A promessa era que, com a aprovação da reforma, aumentariam os postos de trabalhos formais, com carteira assinada, fato que não chegou a ser confirmado.
Além disso, Petroski enfatiza que ‘’ com a criação de novas tecnologias e o aumento do desemprego (12,5 milhões de brasileiros - IBGE, 2019), os trabalhadores buscam alternativas para sobreviver e sustentar a família. Neste contexto, a Economia do Compartilhamento ganha destaque, na qual a partilha dos bens e serviços é mais importante do que a posse dos mesmos’’, avalia a jornalista.
Dentre os desempregados que buscam o trabalho informal como fonte de renda está Saymon Luiz de Azevedo. No início deste ano, o jovem de 28 anos, trabalhava com transporte escolar, mas devido a pandemia, o trabalho precisou ser paralisado. Desde março sem trabalhar, Saymon estava focado em estudar para um concurso, mas as contas fixas começaram a acumular, entre elas, mensalidade da faculdade, combustível e despesas da casa. Em agosto, o novo empreendedor buscou uma alternativa para conseguir uma renda. Mesmo morando com os pais, havia a necessidade da independência financeira:
‘’ A necessidade gerou a oportunidade. Como nós estávamos parados havia dois meses desde que parou o transporte escolar, pensei em como investir em algo, mesmo tendo o receio, sabendo que não é fácil fazer isso’’, relata Azevedo. Após uma conversa com a família, Saymon questionou-se do que sabia fazer quando se reuniam em casa para comer. Neste momento, surgiu a ideia do cachorro quente e o jovem destaca ‘’ nosso diferencial teria que ser o molho, pois no ramo alimentício, precisa-se de algo diferente para atrair o consumidor’’.
Após a ideia de vendas criada, Saymon buscou os materiais para início do empreendimento, além de definir qual seria o esquema ideal para vendas. Com a pandemia, Azevedo apostou na entrega do cachorro-quente para os clientes, conhecido atualmente como delivery. Com o material organizado, Azevedo relata que no início o que ajudou na divulgação dos cachorros-quentes foi a participação em um local com venda física.
‘’ Eu iria inaugurar em frente de casa, mas choveu a semana toda. Neste momento, um padre, amigo meu, me ofereceu uma oportunidade de vendas na Paróquia de São Judas Tadeu. Foi a melhor ajuda, pois estava toda a comunidade do Rio Verde na celebração. Me auxiliou a expandir conhecimento e ainda mais de ter um capital de giro inicial. Talvez se eu tivesse feito o início na frente de casa, não teria acontecido essa divulgação’’.
Para auxiliar na venda e divulgação, o jovem aposta nas redes sociais. Em quatro meses do novo empreendimento, Azevedo relata que as ferramentas utilizadas nas plataformas Instagram e TikTok fazem com que as pessoas relacionem uma música do momento, com os vídeos que posta nas páginas da empresa.
O trabalho informal, durante a pandemia, auxiliou novas pessoas a buscarem uma fonte de renda, seja como no caso de Saymon, por uma necessidade, mas também por um complemento de renda ou na busca de novas atribuições. A estudante de psicologia, Giovanna Roberti, 19, iniciou a venda de cookies em novembro. ‘’ A intenção inicial não era começar a vender. Eu amo cozinhar e resolvi fazer um pacotinho com alguns cookies e um bilhetinho para deixar no portão da casa de cada um dos meus amigos mais próximos para poder ver eles mesmo de longe e deixar um presentinho que eles fossem aproveitar’’, relata a estudante.
A ideia de iniciação das vendas surgiu após a avaliação dos amigos. ‘’ Meus amigos gostaram muito dos cookies e me pediram pra fazer por encomenda e vender para eles. Eu adorei a ideia e já comecei a anunciar no meu Instagram e Twitter. Além de que a minha carga horária de aulas deu uma diminuída com a pandemia, então eu estava muito parada em casa e vender os cookies se tornou uma terapia’’, enfatiza Roberti.
Ficha Técnica:
Repórter: João Paulo Pacheco
Editor: João Paulo Pacheco
Supervisores: Cíntia Xavier e Vinícius Biazotti
Foto: Reprodução Instagram ColdDog