Na última década, a produção orgânica aumentou em até 20% por ano

A região de Ponta Grossa tem 431 produtores de orgânicos. Foto: arquivo do pré-assentamento Emiliano Zapata

Diante da alta dos preços dos alimentos convencionais encontrados nos supermercados, os produtos orgânicos podem ser uma opção para quem precisa controlar gastos. Comumente encontrados em feiras, a procura por esses alimentos têm aumentado durante a pandemia, não somente pelo preço, mas também porque são mais saudáveis e livres de agrotóxicos. Em Ponta Grossa, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), pré-assentamento Emiliano Zapata, é um dos principais produtores de orgânicos no município.

 Segundo o Núcleo de Economia Regional e Políticas Públicas (Nerepp) da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), a inflação da cesta básica no município no mês de fevereiro fechou em R$663,67, sendo o salário mínimo nacional de R$ $1.045,00. Com isso, famílias dependentes de um único salário mínimo, gastariam cerca de 63,51% de sua renda para a aquisição da cesta básica. O Nerepp leva em consideração as compras feitas nos supermercados no sistema delivery - modelo de compra muito utilizado durante a pandemia - e tem como base famílias com renda entre 1 e 5 salários mínimos, com média de até três pessoas.

 

A Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos, realizada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socieconômicos (DIEESE) apresentou dados do mês de dezembro de 2020 - última pesquisa disponível - que mostram que alimentos básicos como a carne bovina de primeira, o leite UHT, a manteiga, o arroz, o óleo de soja, o açúcar, a farinha de trigo, o pão e o tomate, foram os que mais apresentaram variações altas na média de preço. O arroz, por exemplo, foi considerado o "vilão de 2020". A pesquisa leva em consideração as variações de preços nas capitais. Em dezembro, a variação do arroz em Curitiba girou em média 65,49.

 

A produção agroecológica

A produção agroecológica - ou produção orgânica - tem como princípio fundamental a produção de alimentos livre de agrotóxicos, respeitando os processos naturais do ecossistema. Com a alta dos preços dos alimentos oriundos do agronegócio, a média de preço dos produtos orgânicos tem sido mais acessível ao consumidor.


Com a pandemia, as pessoas têm se preocupado mais com a saúde e, a busca por alimentos de maior qualidade também aumentou. Isso fica evidente nos números da produção orgânica. Segundo o Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná - Emater (IDR-PR), a produção de orgânicos gerou em 2019 pouco mais de 4 bilhões de reais. Em 2020, no primeiro ano da pandemia, esse número foi de 5,8 bilhões. Esse aumento corresponde a cerca de 30% da produção.

Junto do Rio Grande do Sul, o Paraná é um dos maiores produtores de orgânicos do país. Temos hoje no Brasil, 24.023 produtores de orgânicos. Desse número, 2.680 estão no Paraná e 431 na região de Ponta Grossa. Em termos de área, no Brasil, são aproximadamente 2 milhões de hectares certificados como áreas de produção orgânica, sendo 250 mil hectares no Paraná.


Dados do Censo Agro 2017 - último realizado pelo Ministério da Agricultura, mostram que, no Brasil, cerca 76,8% dos chamados 'estabelecimentos' são caracterizados pela agricultura familiar - responsável pela maior parcela da produção orgânica no país - enquanto que 23,2% não é agricultura familiar. Em relação à área ocupada, por outro lado, a agricultura familiar corresponde apenas 23% do território, enquanto que 77,0% corresponde a agricultura não familiar.


André Luis Alves Miguel, coordenador estadual agrônomo do Projeto Agroecologia do IDR-PR, comenta sobre o cenário da produção agroecológica. "As pessoas realmente têm procurado por mais alimentos orgânicos durante a pandemia, tendo em vista que foi e é preciso maior atenção para com a saúde humana diante da contaminação do vírus. Mas além do período pandêmico, na última década, houve um aumento na produção orgânica, cerca de 15 a 20% por ano, então isso explica o crescimento no número de produtores nesse formato e das demandas", diz o coordenador.


No que diz respeito à precificação dos alimentos orgânicos, o coordenador explica que a produção orgânica garante maior estabilidade durante o ano, em comparação com a convencional, uma vez que os preços são estabelecidos pelo produtor. Já a produção convencional trabalha com os chamados "atravessadores" na distribuição, por isso é que os preços oscilam. Quanto mais o produtor se aproxima do consumidor, menor o preço.


André também explica as principais dificuldades enfrentadas por esse formato de produção. "As principais dificuldades da agroecologia estão limitadas a alguns usos de equipamentos e alguns tipos de plantas que não se desenvolvem sem o auxílio de alguns mecanismos – geralmente utilizados na produção convencional para forçar a produção".


Apesar do IDR-PR apresentar dados a respeito do número de produtores orgânicos no Paraná e em Ponta Grossa, esse número é aproximado, tendo em vista que muitos produtores não procuram pela certificação da produção, mantendo a comercialização direta com os consumidores.

 

Produção orgânica do MST

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) é um dos maiores produtores de alimentos orgânicos no país. Caracterizado pela agricultura familiar, o movimento produz alimentos para consumo próprio, mas também comercializa alimentos em feiras, através de entregas combinadas com os consumidores, e nos próprios assentamentos.


Em Ponta Grossa, o pré-assentamento Emiliano Zapata, localizado no Distrito de Itaiacoca, é um dos principais responsáveis pela comercialização de produtos orgânicos no município. A comunidade, inclusive, é quem abastece parte da merenda escolar distribuída nas instituições públicas de ensino, através do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). O pré-assentamento foi formado há 17 anos e, atualmente, a comunidade ainda luta pela conquista das terras por completo - parte da área já foi regularizada. Para melhor atender às demandas, a comunidade criou a Cooperativa Camponesa de Produção Agroecológica da Economia Solidária (COOPERAS).


A produção em geral é olerícola - caracterizada pelo cultivo de verduras, legumes e frutas - mas algumas famílias comercializam grãos não transgênicos, animais e derivados do leite. A comunidade possui cerca de 70 famílias e, algumas chegam a ter renda entre 40 e 50 mil reais no ano.

 

O pré-assentamento Emiliano Zapata, localizado no Distrito de Itaiacoca, é um dos principais responsáveis pela comercialização de produtos orgânicos em Ponta Grossa. Foto: arquivo do pré-assentamento Emiliano Zapata


Com relação ao preço dos alimentos, é possível encontrar, por exemplo: feijão a R$5,00 reais o kg; alface R$ 1,50 a unidade; laranja a R$3,00 reais o kg; abóbora a R$ 1,50 reais o kg e o pão a R$5,00 reais a unidade. A comunidade ainda costuma comercializar uma cesta com sete a oito produtos da época, pelo valor de R$30,00 reais, que é capaz de alimentar uma família de até duas pessoas durante uma semana.


Para a precificação dos produtos, é levado em consideração a tabela de preços desenvolvida pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), o Painel de Preços do PNAE. O painel de preço é acessível para qualquer cidadão, no site do FNDE.


Por conta da pandemia, a comunidade não tem participado de feiras livres no município. Os produtores têm comercializado os produtos diretamente com os consumidores, no formato delivery. As entregas são combinadas via WhatsApp. Anteriormente, a comunidade mantinha uma parceria com a Incubadora de Empreendimentos Solidários (IESOL), projeto de extensão da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), que comercializa produtos orgânicos e artesanatos todas às quintas-feiras no campus Central da Universidade. Porém, com a Instituição fechada devido às medidas de isolamento contra a Covid-19, a comercialização dos produtos, na feira, foi suspensa.

 

Ficha Técnica:

Repórter: Laísa Braga

Supervisão: Professor da Disciplina de Textos III, Vinícius Biazotti. 

Publicação: Manu Benicio

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