Hotéis, restaurantes e pontos turísticos registraram queda de público

Parque Vila Velha, um dos atrativos da cidade, teve menos visitação em 2020. Foto: Ângelo Rocha.

 

No último dia 26 de fevereiro completou um ano que a pandemia do coronavírus chegou ao Brasil. Em Ponta Grossa, o fato ocorreu dia 21 de março de 2020. De lá para cá muita coisa mudou e a população teve que se adaptar aos novos hábitos para se proteger da doença do covid-19. No setor do turismo não foi diferente. Hotéis, restaurantes, parques e atrações turísticas tiveram que se contentar com o baixo número de clientes e a pouca demanda devido aos decretos que proibiam aglomerações nesses locais.

 Com o passar dos meses de pandemia, os hotéis da cidade tiveram quedas significativas no número de clientes. Um exemplo, o Hotel Vila Velha, um dos mais tradicionais de Ponta Grossa, contém 94 apartamentos. Porém, desses 94 apenas 20% estão sendo utilizados para receber os hóspedes. ‘’No dia 16 de março foi quando começamos a receber os primeiros cancelamentos de reservas, onde tivemos uma queda de ocupação de 60% logo no início da pandemia’’, revela Alecsandra Hipólyto, 45 anos, gerente do Hotel Vila Velha há oito.

Para ela já era uma preocupação, pois os eventos esportivos, sociais, corporativos e shows foram adiados aos poucos e posteriormente cancelados. A percepção do quão grande era o problema foi quando a Agroleite que seria realizada em Castro foi cancelada e todos os participantes do evento seriam hospedados no hotel. ‘’Nós não sabíamos o que fazer, pois não era algo esperado. Não foi como nos anos 90 quando a gente conseguia lidar com a inflação em um momento difícil como aquele. A pandemia foi diferente’’.

Hypólito também faz parte do Conselho de Turismo de Ponta Grossa. A gerente pôde acompanhar de perto como as outras empresas da cidade trataram a pandemia e as diferentes estratégias utilizadas por elas. ‘‘Cada uma acabou seguindo uma linha que era melhor para ela, não foi uma resolução unanime. Alguns reduziram salários, carga horária, adiantaram férias e promoveram demissões’’.

No setor financeiro, a rede hoteleira da cidade também saiu prejudicada. Nos dois primeiros meses de pandemia, a estimativa é que cada hotel perdeu 500 mil reais, inclusive os menores que tiveram prejuízos com a pouca procura de quartos para hospedagem. ‘‘Por ter esse contato também os concorrentes, os colegas mostram que a maior dificuldade era de conseguir financiamentos. A maioria dos hotéis fez financiamentos para conseguir segurar a barra na parte financeira. Mesmo com o apoio do governo, na questão de salários, auxílio e pagamento de impostos que foram prorrogados, ficou muito difícil. Tivemos que recorrer ao PRONAMP, que teve um juro muito baixinho’’, explica Hypólito.

Em alguns desses hotéis, não suportaram a pressão e tiveram que fechar as portas, não tendo recursos para arrecadação. O que não foi o caso do Vila Velha, que seguiu na ativa. ‘‘A recuperação da parte financeira será estabilizada no mínimo em dois anos, para voltarmos a mesma linha que tivemos em 2019’’, relata.
Mediante a queda de faturamento, a direção do estabelecimento decidiu fazer um corte de funcionários, um logo no início da pandemia e outro mais ao final do ano, Foram 15 funcionários demitidos e apenas dois contratados para a cozinha e a recepção, devido a baixa taxa de ocupação. ‘‘Não deixamos nossos colaboradores na mão, eles receberam a rescisão do contrato, o FGTS e o auxílio desemprego. Para quem continuou empregado, fizemos o adiantamento das férias’’, afirma Hypólito.

Ministério lança protocolo para atendimento

O Ministério do Turismo lançou o ‘Selo do Turismo Responsável’ onde cada empresa deveria cumprir uma série de protocolos e treinamentos para que pudessem continuar atendendo. Alecsandra também comentou a respeito das medidas restritivas obrigatórias que o hotel teve que adotar, devido à pandemia. Segundo a gerente, além do prejuízo tomado com a falta de clientes, também houveram gastos com equipamentos como luvas, máscaras, óculos de segurança, botas, roupas de proteção e álcool em gel. ‘‘É um gasto que foi preciso. Não estou reclamando, mas temos que pensar no bem dos nossos colaboradores e nossos clientes’’, relata a gerente.

O secretário de turismo do município, Paulo Stachowiak, avaliou os impactos da pandemia no setor da cidade. ‘‘O turismo de forma geral foi muito afetado, com o passar do tempo tivemos que se adaptar, principalmente no setor das áreas naturais onde somos muito fortes. As áreas de hotelaria, gastronomia, agencias de viagens e eventos com toda certeza foram as mais afetadas’’, relata.
No Parque Vila Velha, por exemplo, houve redução no número de visitantes do parque. Segundo dados da assessoria de imprensa, nos últimos três meses o parque recebeu menos turistas do que no ano de 2019. Em dezembro foram 1800 pessoas a menos que no ano passado, em janeiro á diferença aumentou para mais de 900 pessoas e em fevereiro diminuiu para trezentas pessoas em média.

Não só os parques e hotéis sentiram a redução de faturamento, as agências de turismo também foram afetadas. Stachowiak também é proprietário da Evidencia Turismo, empresa conhecida na cidade. Ele afirma que para quem tem característica de turismo emissivo, a pandemia praticamente zerou as viagens. ‘‘Praticamente todas as fronteiras do mundo estão fechadas, poucas são as que estão abertas. Outro fator fundamental é a ascendência do dólar e a desvalorização do real, isso faz com que as viagens nacionais ficassem mais caras também devido a alta demanda.’’

Stachowiak tem um futuro otimista a respeito da normalidade no setor do turismo. Segundo o secretário, alguns projetos já estão planejados, como a retomada da Munchen Fest. ‘‘Não só os eventos, mas já estamos negociando para a volta da Azul e da VoePass nos voos diários do nosso aeroporto. A tendência é alavancar o marketing, a produção, gestão e a infraestrutura’’, completa Stachowiak.

Para o professor de Turismo e Doutor em Geografia pela UEPG, Leandro Baptista, o impacto do covid-19 afeta não só o turismo, mas também outras áreas da sociedade. ‘’A arrecadação fiscal, aumento de desemprego e principalmente em relação a transportes, hotéis e viagens. Parece um cenário pós-guerra em Ponta Grossa, terra arrasada mesmo’’, revela.

Baptista diz que um dos principais fatores que atrapalha é a instabilidade. ‘‘Você vai para Foz e não sabe se vai entrar no Parque ou não, se vai conseguir chegar até lá, se vai ter hotel disponível etc’’. Na visão do turismólogo, os setores mais afetados foram os de viagens aéreas e de hospedagem, incluindo também os do ramo alimentício, pois disponibiliza mais empregos. Um setor que foi na contra mão da pandemia, foram as locadoras de carros, tendo aumento significativo de 47% durante o período de temporada, devido as viagens curtas feitas pela população.

No cenário municipal, Baptista destaca que a secretaria de turismo não teve êxito em suas divulgações durante o período de pandemia. ‘‘Na gestão anterior teve uma mobilização que se chamava ‘Fique na Nossa Casa’ que não teve grande repercussão e nem mudança de cenário, mas ainda assim não era como hoje por causa da pandemia. Na universidade mesmo não vieram procurar nosso Departamento para perguntar o que poderia ser feito’’, relata.

Na percepção do professor houve uma demora a perceberem o que estava acontecendo, pois já se falava de coronavírus muito antes dele chegar ao Brasil. Inclusive, Baptista escreveu um capítulo do livro ‘A Covid-19 em múltiplas perspectivas’, quando abordou a gestão de crise durante a pandemia. O capítulo tem como objetivo contribuir para que empresas do mercado turístico se preparem para eventos negativos que impactam sua administração, exatamente o que aconteceu com a chegada do covid-19. ‘‘Para as empresas não tem outra saída, senão cortar o máximo possível, buscar linhas de crédito, diversificar estratégias de trabalho. É o que tem para fazer no momento e nós tentamos mostrar isso para os empresários no estudo’’.

Na área de eventos, por exemplo, o que foi bastante explorado principalmente no início da pandemia eram as lives que os cantores faziam via Youtube, a fim de arrecadar fundos e manter a economia ativa. Para Baptista a área do turismo que vai mais crescer quando tudo normalizar será o turismo virtual, pois é mais viável financeiramente e foi provado que deu certo essa nova forma durante a pandemia.

Ficha técnica:

Repórter: Eduardo Machado

Supervisão: Vinícius Biazotti

Publicação: André Ribeiro

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