Abandonar o tratamento pode agravar as fragilidade imunológicas dos pacientes
Até 2019, eram 8.355 pessoas em tratamento para Aids em Ponta Grossa. Esse número diminuiu em 2020 para 7.163, 14% a menos. Atualmente, 1.333 pessoas fazem acompanhamento médico para a doença na cidade, 5.830 pacientes a menos comparado ao ano passado
Essa queda se dá junto ao agravamento da segunda onda da pandemia. E o motivo da redução se deve também à pandemia e ao preconceito.
Segundo dados da Prefeitura Municipal de Ponta Grossa, 2018 foi o ano de maior adesão de pessoas que realizaram o acompanhamento médico, foram 10.428. O coordenador do Serviço de Assistência Especializada (SAE)/ Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) e IST/Aids, Fernando Sandesk, explica o objetivo da medicação: “O objetivo do tratamento para a pessoa que vive com HIV é deixar a carga viral indetectável. A pessoa que vive com HIV e fazendo o uso do medicamento de forma regular e com a carga viral indetectável não transmite o vírus mesmo que se relacione com outras pessoas de forma sexual”.
Quando uma pessoa abandona o tratamento fica suscetível a outras doenças. “Quando alguém que abandona o tratamento ou faz o diagnóstico tardiamente a carga viral começa a se elevar no organismo chegando a milhões de cópias por milímetro de sangue e as células de defesa CD4 vão diminuindo e aí a ficam sucessíveis a infecções oportunistas e uma delas é a tuberculose”, esclarece Fernando.
Testes rápidos
Os testes rápidos realizados também tiveram queda durante a pandemia. Em 2020 foram 16.647 testes de HIV realizados, redução de 18% com relação ao ano de 2019. Naquele ano foram realizados 20.185 testes. Em 2017 foram feitos 24.195 exames, ano de maior testagem realizado. Desde então os números apontam queda, 31% a menos até o ano passado. Um dos pontos que mais dificultam a adesão da população em realizar os testes rápido é o preconceito. “Existe uma adesão razoável para a testagem rápida. Em boa parte, isso ocorre devido ao preconceito. Falar de sexualidade é difícil e especialmente quando são abordadas essas questões de saúde pode ser tarde com relação a prevenção. Por isso o objetivo sempre do programa da saúde é fomentar na maioria dos espaços essa discussão que tratem a sexualidade como forma natural porque faz parte do contexto do ser humano”, comenta Fernando.
A queda na testagem impacta na frequência dos diagnósticos por ano. No ano em que mais foram realizados testes, 188 pessoas positivaram para HIV/Aids. Em 2020 foram confirmados 89 casos, redução de 18% se comparado a 2019 que confirmou 108 pessoas com a comorbidade.
Por e-mail,a prefeitura respondeu que o Serviço de Atendimento Especializado (SAE) está operando normalmente desde o início da pandemia sem restrições aos atendimentos. Sobre o atendimento a prefeitura respondeu o seguinte: “O Ministério da Saúde prorrogou as receitas por noventa dias, sendo assim o fluxo dos atendimentos diminuiu por conta de um critério adotado por eles. Casos novos e pacientes que desejavam se consultar, todos foram atendidos. Em relação à testagem a prefeitura manifestou o seguinte: “Os testes rápidos são oferecidos em toda rede de saúde (Unidades Básicas de Saúde - UBS), por este motivo acredita-se que o cidadão ficou mais restrito na sua casa, na sua comunidade, pois os testes são descentralizados”.
Sobre o HIV e Aids
O HIV é um retrovírus que causa a imunodeficiência humana que provocaa Aids, ou seja, soropositivo. Quando tratado, a pessoa vive com condições de saúde normais. A Aids é o vírus ativo no corpo e passa a se manifestar com os chamados “doenças oportunas”. Os sintomas do HIV são parecidos com a de uma gripe vaivém. Já os sintomas da Aids são perda de peso, infecções recorrentes, sudorese noturna e febre. A transmissão ocorre por relações sexuais sem proteção, uso compartilhado de seringas, materiais cortantes, de mãe para filho e transfusão de sangue contaminado. Os meios de prevenção são o uso correto de camisinha e outros preservativos, não compartilhar o uso de seringas e uso acompanhado por orientação médica de PrEP (Profilaxia Pré-Exposição).
Segundo o Ministério da Saúde, o PrEP é um conjunto de dois medicamentos em um único comprimido que impede que o HIV se espalhe pelo corpo. Vale lembrar que o medicamento não é 100% eficaz e o uso de preservativo deve ser realizado.
O coordenador da SAE/CTA explica sobre os grupos que tem acesso a esse medicamento. “A PrEP é uma política pública para alguns públicos específicos. É destinado para homens que fazem sexo com outros homens, pessoas transsexuais, profissionais de sexo e casais soro-diferentes. A pessoa que se encaixa nesses critérios pode procurar o SAE que passa pelo acolhimento e é feito alguns exames para ministrar o medicamento”.Os testes são oferecidos de graça nas UBS, Unidades de Pronto Atendimento, SAE e hospitais e devem ser realizados com periodicidade. O tratamento oferecido pelo Sistema único de Saúde é gratuito. A Serviço de Assistência Especializada está localizado na Rua Joaquim Nabuco, ao lado do antigo Hospital 26 de Outubro. O estabelecimento funciona de segunda a sexta das 7h às 16h.
Ficha Técnica:
Repórter: Leonardo Duarte
Publicação: Maria Fernanda de Lima
Supervisão: Kevin William Kossar