Unidades adotam cuidados especiais por causa do risco de contágio


Longe de treinamentos e jogos há meses, as escolinhas de futebol tentam encaminhar um lento retorno às atividades normais. No início da pandemia, a Escola Oficial Operário Ferroviário, em Ponta Grossa, determinou treinamentos online, com exercícios físicos individuais para cada atleta. Após diversas pausas por conta de decretos municipais e estaduais, os treinos retornaram ao presencial.
De acordo com o professor e treinador da Escola Operário, Alisson Patrick Silva dos Santos, o número de alunos caiu, o que já era esperado pela equipe de funcionários. “Com o tempo e as semanas passando, os alunos vão voltando, os pais liberando, e aos poucos o ritmo também volta ao normal como já nos programávamos”, afirma. Na parte financeira, a Escola do Operário sofreu baixa com a saída de alunos, entretanto, segundo o professor, a organização da empresa foi fundamental para a sobrevivência.
Para Alisson, o período longe dos campos pode interferir em um possível futuro profissional dos atletas, principalmente entre as categorias de base. “Quanto mais novo, a parte técnica é afetada. Quanto mais velho, a parte física e tática. Então, cabe a nós profissionais da área tentar diminuir esse buraco na formação do atleta”, completa.
O professor acredita que os treinamentos e o convívio social entre os alunos geram resultados visíveis no dia-a-dia, como por exemplo no desenvolvimento do respeito e do caráter. Ele ainda conta que no retorno presencial os funcionários identificaram dificuldades de sociabilização, principalmente entre os atletas mais novos. “Há um ano e meio os atletas participavam de viagens e jogos, o que beneficiava a parte social e também mental. Com a pausa, alunos entre 9 e 11 anos apresentam alguns bloqueios, então estamos tentando buscar a melhora nesta questão para que eles se sintam acolhidos”, explica.
A Escola Oficial Operário Ferroviário é administrada pela PG Soccer e pelos Diretores William Borges e Cristiano Gonzaga. A instituição conta com cerca de 200 alunos, entre meninos e meninas, além de quatro professores.

Outras cidades
Em São Paulo, cidade polo de escolas e clubes profissionais, a Escola de Futebol SPFC retornou às atividades nas quatro unidades em outubro do ano passado, depois de seis meses de treinos online, lives pelas redes sociais e exercícios em casa. Desde o retorno, contam apenas com 30% dos alunos ativos e 12 funcionários distribuídos nas unidades, sempre utilizando máscaras, respeitando o distanciamento e desinfetando todo o material durante os intervalos das aulas.
Segundo a psicóloga e diretora da Escola SPFC, Vivian Mathias Sparapani, esse período longe das atividades pode trazer problemas no desenvolvimento dos alunos, desde habilidades motoras e até na sociabilização, pois a Escola assume o papel de colaboração na formação de todos os aspectos sociais, não apenas esportivos. “Devemos ter muita atenção com cada criança em todos os sentidos. Hoje trabalhamos com alunos que possuem sintomas de depressão e também síndrome do pânico, em virtude desta parada causada pela pandemia. Elas têm medo de contrair o vírus”, relata a psicóloga.
Outra dificuldade enfrentada, além da questão técnica e mental dos atletas, foi a situação financeira. De acordo com Vivian, na Escola SPFC nenhum funcionário foi demitido, mas foi necessário o uso de programas governamentais de redução e suspensão de salários.

Jovens atletas
O atleta Pedro Henrique Paes, de 15 anos, atua desde 2014 como volante e também meia no Fut Escola de Craques em Itapeva, interior de São Paulo. Pedro relata que o número de pessoas durante os treinamentos está bem reduzido. Antes de cada atividade, a temperatura é medida, utilizam álcool gel e máscaras o tempo todo. Ele conta que mesmo realizando algumas atividades físicas durante a pausa do treinos, ainda sentiu dificuldades após o retorno. “O físico não estava totalmente ruim, mas muito fraco, perto do que era antes. Estava sem tempo de bola, errava domínios fáceis, entre outras coisas. Além disso, eu senti muito a mente e o raciocínio mais preguiçosos”, lamenta Pedro.
O volante Heitor Carvalho Ferreira da Silva, também de 15 anos, foi aprovado em uma peneira do time carioca Resende Futebol Clube no mês de dezembro. “Após meses de treinos online, eu senti dificuldades principalmente na parte física quando as atividades voltaram. Mas por enquanto, o complicado é ainda não poder ir ao Rio de Janeiro por causa da pandemia”, finaliza Heitor.

 

Ficha Técnica
Reportagem: Gabriel Ryden
Edição e Publicação: Larissa Onorio
Supervisão: Jeferson Bertolini, Marcos Zibordi, Maurício Liesen