Falta de incentivo financeiro impede Operário de formar equipe feminina de futebol

A formação de um time de mulheres deve acontecer apenas em 2027, quando for obrigatório

A falta de investimento e de incentivo financeiro são alguns dos obstáculos que impedem a inclusão de mulheres no Operário Ferroviário Esporte Clube. O time completou 111 anos em maio de 2023, porém ainda não tem perspectiva para a formação de equipes femininas. Enquanto isso, a equipe masculina do alvinegro disputa competições nacionais, como a Copa do Brasil e o Campeonato Brasileiro da Série C. 

Desde 2019, os clubes que disputam a primeira divisão do Campeonato Brasileiro cumprem a exigência da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) em manter equipes femininas. Durante um evento da Copa do Brasil, o presidente da instituição, Ednaldo Pereira, afirmou que até 2027 todos os clubes das quatro divisões do Brasileirão devem formar times de mulheres.

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Enquanto não são formados time femininos, mulheres ocupam as arquibancadas do Germano Krüger. Foto: Ana Beatriz de Paiva

 

A inexistência de equipes femininas impossibilita que as atletas locais tenham oportunidades e representem o clube em competições locais e nacionais. Eloah Spinelli, de 15 anos, é atleta pontagrossense da Escola de Futsal Independente E.C. e participou de testes em São Paulo. Mesmo aprovada, ela não tem condições financeiras para se estabelecer em outra cidade. A atleta acredita que o pouco incentivo pelo Operário prejudica a formação profissional de novas atletas. “Hoje eu treino em uma equipe amadora, mas seria importante um time com reconhecimento, como o Operário, para que pudéssemos jogar. Mesmo tendo pessoas com interesse, o futebol feminino não é incentivado”, explica Spinelli.

O Campeonato Paranaense Feminino de 2022 contou com a participação de apenas seis equipes (Rio Branco S.C., Foz do Iguaçu F.C., Athletico PR, Coritiba, Sobi São Braz e Toledo E.C.). Dessas, somente o Athletico e o Coritiba disputam competições nacionais, apesar de todas as seis equipes manterem times femininos.

Ao ser questionado se o cenário do futebol feminino no Paraná não instiga o Operário, Paulo Balansin, diretor de futebol da base do clube, afirmou que há necessidade de investidores próprios para essas equipes. De acordo com ele, equipes femininas serão formadas assim que o time possuir estrutura, verba e investidores para isso.

 

 

Ficha técnica:

Produção:  Laura Urbano

Edição de texto: Mariana Borba

Publicação: Rafaela Colman

Supervisão de produção: Muriel Amaral

Supervisão de Publicação: Luiza Carolina dos Santos e Marizandra Rutili 

PERFIL: Premiada, atleta de PG com baixa visão só olha para o futuro

Além de paratleta, Pâmela Aires é árbitra, estudante e palestrante

Campeã nacional universitária de atletismo, vice-campeã do Campeonato Brasileiro, recordista estadual e no top 3 do ranking de atletas do país. Além da vida de esportista, também é estudante de Educação Física, palestrante e árbitra de atletismo. Aos 26 anos, a ponta-grossense Pâmela Aires é uma mulher guerreira, persistente em seus sonhos e otimista. “Correria”, expressão popular para quem luta na vida, tem também sentido direto no caso de Pâmela.

“A Pâmela é uma pessoa persistente e que luta pelos seus sonhos”. Convicta no que diz, ela prova que seu relato é real dia a dia. Cabelo preso, relógio no pulso, sempre usa roupas de tecidos para a prática esportiva, além, é claro, do inevitável tênis de corrida. Ou seja, logo de cara a reconhecemos como atleta. Olhando mais de perto seus gestos, percebemos o peito estufado, queixo erguido e, sobretudo, a convicção na fala e nas expressões que definem bem o que procura dizer. Pâmela prende a atenção por esse aspecto particular: o gestual que explica didaticamente o próprio relato.

O boné, item essencial para os treinos de qualquer atleta, no caso de Pâmela se deve ao problema de visão que carrega desde nascença, agravado ao se posicionar contrária à luminosidade solar. “Uma vez eu estava treinando no Lago de Olarias e o sol batia contrário ao meu rosto. Acabei trombando de frente com uma moça e quase derrubei ela”. Como prevenção, além do boné, Pamela procura treinar acompanhada, sobretudo em ambientes abertos.

A baixa visão de Pâmela surgiu durante a gestação. A mãe teve toxoplasmose, doença infecciosa que pode causar, além de lesões oculares, dano cerebral - este último problema não a atingiu. Como não poderia deixar de ser, nossa atleta teve uma infância diferente da maioria das crianças, porém isso não diminuiu o tamanho de seus sonhos. Na verdade, ela relata que a baixa visão aumentou a dimensão de seus objetivos, sua noção de mundo e sua vontade de vencer.

Da quadra às pistas

Pâmela entrou no esporte através do meio mais comum à maioria esmagadora dos brasileiros, o futebol, por influência paterna. Coração verde, ela é palmeirense desde que se entende por gente. Além do time, a construção de sua personalidade como torcedora deve muito aos locutores esportivos que contaram a história de seu time. Seus ouvidos sempre estiveram muito atentos às narrações de profissionais do microfone como José Silvério e, atualmente, de Ulisses Costa.

Envolvida pelo futebol, começou a treinar futsal ainda na infância. Um dos motivos que a fez escolher o esporte da bola pesada foi o fato de ser praticado em locais cobertos, evitando o sol nos olhos. Após alguns anos no futsal, um dos professores perguntou se não tinha o desejo de conhecer um novo esporte: o atletismo. Ela fez pouco caso do convite. “Eu não tinha muita vontade de ir. Mas um dia, de tanto o professor insistir, eu fui. Aí, na semana seguinte, fui de novo, e de novo”.

Amor à primeira vista, ou melhor, à primeira corrida. Dando as primeiras passadas com 12 anos, logo sentiu que alcançaria grandes feitos nas pistas. Entre as novidades, conheceu várias cidades pelo Paraná durante as competições, que terminavam corriqueiramente com ela no pódio. Ao perceber que, em pouco tempo, os resultados começavam a ser muito relevantes, e sabendo do próprio potencial, um ano depois de iniciar carreira no atletismo, começou a treinar em alto nível.

No começo da carreira, Pâmela Aires integrava a categoria T12, para atletas com baixíssima visão, mas logo foi transferida para a T13, para atletas com baixa visão. A decisão pela mudança foi da arbitragem da Federação Paranaense de Atletismo (FAP) com base nos resultados dela, muito superiores aos demais da mesma categoria. Por muito tempo disputou provas de estilos diferentes: além das corridas de 400 e 1.500 metros rasos, Pâmela também participava do salto em altura, também obtendo destaque estadual. Com o tempo, teve que focar e se aperfeiçoar em um estilo. A escolha foi pela corrida.

Essência

Pâmela é a segunda filha entre quatro irmãos, dois deles são homens, e, desde pequena, teve a família apoiando a sua vida no esporte. Para a realização de uma das entrevistas, Pâmela foi acompanhada do irmão mais novo, Júnior, um rapaz magro, alto, de cabelo ruivo e que usava acessórios como pulseiras e óculos. A confiança que Pâmela deposita em seu irmão é perceptível na forma como se porta junto dele, ambos mantêm grande parceria.  “Tenho uma relação muito forte com minha família, com meus irmãos. Eu amo meus irmãos”.

Antes de começar a entrevista, parei e observei o comportamento de Pâmela junto ao irmão. Eles estavam em pé me aguardando no exato local onde havíamos combinado e ela demonstrava certa preocupação porque achava que eu estava com dificuldade para a encontrar. Percebi que ela pediu para seu irmão olhar ao redor para me procurar. Noto que Pâmela é uma pessoa extremamente atenciosa.

Quando decidi me aproximar, ela foi cumprimentada por uma mulher que passava e iniciou uma breve conversa. Algo semelhante aconteceu em nosso segundo encontro, quando conversamos por alguns instantes antes de começar seu treino matutino de corrida no Parque Ambiental. Naquela ocasião, Pâmela foi cumprimentada por algumas pessoas e demonstrou simpatia e reciprocidade ao responder e fazer breves comentários como “hoje está bom para treinar, né?”, ou “e aí, como você está, tudo bem?”. Pequenas palavras que demonstram muito da essência da atleta.

Além disso, em nosso segundo encontro, Pâmela aguardava um amigo para treinar junto. Enquanto ele não chegava, conversei com ela. Pâmela o avisou da nossa localização por meio de mensagem e que estava dando uma entrevista. Me pediu para olhar ao entorno a fim de ver se Douglas não chegava, pois caso o encontrasse, poderia lhe chamar, evitando que o atleta tivesse dificuldade para nos achar. Quando chegou, fiquei perplexo. A descrição que Pâmela fez dele para mim era perfeita, visto que consegui encontrá-lo. O perfil que eu havia imaginado era exatamente o perfil de Douglas. Naquele momento me espantei, pois Pâmela, que tem baixa visão, conseguiu descrever exatamente seu amigo. O que também comprova sua capacidade descritiva.

Correria atual

Pâmela compete pelo município de Paranaguá. Ela escolheu a cidade do litoral paranaense pela estrutura física e de profissionais. Além da questão financeira. A bolsa que recebe de Paranaguá é 18 vezes maior do que a de Ponta Grossa. Este é também um dos motivos que fez ela deixar de competir pelo município dos Campos Gerais. “A falta de apoio, o descaso com nós atletas é o que me deixa indignada. Para minha carreira, continuar a competir por Ponta Grossa é inconcebível, não há incentivo”.

A atleta realiza treinos diários, em dois períodos. Durante as manhãs, faz trabalhos a céu aberto, normalmente aqueles que envolvem corridas. À tarde, realiza exercícios na academia, onde vai três vezes por semana. Sua cartilha de treinos se altera a cada mês.

Entre as manhãs e tardes de treinos, tem as noites de muito estudo, ela faz graduação em Educação Física. Pâmela ganhou uma bolsa integral pelo seu desempenho dentro das pistas. E um de seus objetivos, ao se formar, é trabalhar com o esporte de base, formando e descobrindo atletas.

Atualmente, Pamela se prepara para participar de uma competição organizada pela Confederação Brasileira de Atletismo (CBA) em Minas Gerais no mês de setembro. A competição tem o objetivo de qualificar os atletas para participar de campeonatos nacionais. É necessário cumprir as metas para poder se credenciar. Este tipo de competição acontece anualmente. Caso o atleta não alcance as marcas estabelecidas, fica limitado aos estaduais.

Além de atleta e estudante, desde 2019 Pâmela é árbitra, atuando pela Federação de Atletismo do Paraná (FAP). Para isso, realizou o mesmo procedimento de admissão na área daqueles que não apresentam nenhuma dificuldade visual, obtendo o mesmo nível de conhecimentos técnicos, sem restrições.

Em meio a tantas outras tarefas e obrigações, Pâmela continua levando conhecimento e perspectiva de vida por meio das suas palavras. Dentre tantas paixões, mais uma delas é ministrar palestras que tratem do paradesporto e palestras motivacionais, uma vez que toda sua trajetória inspira e estimula para que continuemos a persistir. “A mensagem que eu quero passar para as pessoas é que elas não desistam, que persistam e lutem pelos objetivos. Minha luta dura anos e sei que no final vai me dar alegria.”

 

Ficha técnica:

Reportagem: Ana Luiza Bertelli Dimbarre e Kadu Mendes

Edição e publicação: Victória Sellares

Edição de vídeo: Kadu Mendes

Supervisão de publicação: Marcos Zibordi e Maurício Liesen

Moda: Projeto criado em PG ensina a montar looks com camisetas de times de futebol

O Vá de Camisa nasceu em 2020; já atingiu 30 mil pessoas no país

 

Um projeto criado em Ponta Grossa procura ensinar mulheres a montar looks com camisetas de times de futebol. O Vá de Camisa foi criado pela advogada Kamila Padilha, 33 anos, no começo do ano passado. O objetivo é mostrar combinações possíveis dos uniformes das equipes com peças casuais, como saias e salto alto. A ação já alcançou 30 mil pessoas.

Kamila é torcedora do Operário e do Corinthians. Ela tem uma coleção de mais de 70 camisetas, incluindo times internacionais. Para ela, o universo do futebol ainda é muito masculino. “As primeiras camisetas com cortes femininos foram lançadas em 2005. Eu comprava as P masculinas, ou os maiores tamanhos infantis. É um público que foi esquecido por muito tempo, então temos que incentivar sempre.”

Para a advogada e criadora da página, a camisa de time não é incluída na moda e a intenção do projeto é introduzi-las neste cenário. “Elas sempre foram vistas como algo avesso, mas devem ser introduzidas porque tem todo um estudo, um desenho e uma história, mas ainda é algo muito polêmico, a maioria do pessoal da moda não aceita.”

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Foto: Divulgação/Vá de Camisa

Seguidoras

A advogada, radialista e deputada estadual Mabel Canto (PSC) apoia o Vá de Camisa. “Acho válido nós mulheres, que também amamos o esporte, vistam a camisa, não só nos estádios, quando estamos torcendo pelo nosso time, mas sempre, porque é uma maneira de exaltar nosso clube e também mostrar que nós podemos torcer e estar em todos os lugares com a nossa camisa.”

Jéssica Garcia, 19 anos, é estudante e seguidora da página. A corinthiana acredita que projetos como o “Vá de Camisa” servem para normalizar algo que deveria ser natural. “Uma mulher andando de camiseta de time é algo que as pessoas estranham, como se fosse algo de outro mundo. A nossa sociedade, por ser muito machista, causa uma perspectiva de que a mulher esteja querendo chamar atenção, mas é só porque ela gosta e torce para o time.”

A estudante pontua ainda que as camisetas geralmente são muito caras para usar em poucas ocasiões. “É uma vestimenta como qualquer outra, é uma camiseta como qualquer outra e é muito mais cara. Eu as uso em quase todas as ocasiões. Uso no cursinho, para sair. Só não uso para ir à missa.”

Milena Almeida, 23 anos, é torcedora do Atlético Mineiro. Ela tem uma coleção que passa das 90 camisetas. Para ela, as camisetas de time são uma identificação. “Apesar de eu achar que a camiseta de time e o futebol estão muito ligados ao sexo masculino, eu uso porque ela expressa uma parte superimportante do que eu sou e da minha identidade. Garante uma conexão imediata com as pessoas que se identificam com o esporte ou com o seu time.”

Thanile Ratti, 24 anos, jornalista e empresária é Corinthiana. Ela acha bacana o projeto “Vá de Camisa”. Ela enxerga como uma forma de quebrar o paradigma de que camisetas de time são relacionadas aos homens e de que só se enquadram em momentos de jogo. “Ainda é uma forma até para me ajudar a perder essa percepção comigo mesma, pois não me sinto confortável em usar as minhas camisetas em outros contextos, além de torcer.”

A jornalista acompanha o movimento dos clubes de fazer camisetas destinadas ao público feminino, a partir de ajustes como o próprio tamanho e modelos que agradam mais as mulheres. “É uma forma que os times estão conseguindo romper essa barreira de que só homens gostam de futebol. Cada vez mais estamos vendo mulheres praticando o esporte, assistindo e gostando de futebol tanto quanto os homens. É um tema que precisamos conversar, porque o Brasil é o país do futebol e cada vez mais vai ser o esporte também das mulheres.” 

O olhar da moda

Felipe Zanin, 20 anos, formado em moda na UEM, afirma que a moda é o reflexo do comportamento das pessoas diante da sociedade e do tempo que está situado. “Quem faz a moda somos todos nós, a partir do momento que estamos inseridos em uma sociedade, isso já se reflete como moda, tanto no nosso vestuário, no nosso estilo de vida e no que a gente consome.”

Zanin acredita que a camiseta de futebol, usada dentro da moda para compor looks, é algo complicado, visto que ela segue um segmento de público muito específico, o que restringe apenas às pessoas que consomem o esporte. “Justamente por esse motivo, ela não é vista para ser usada como um vestuário do dia a dia, algo mais casual ou em ocasiões mais formais.”

Outro ponto que Zanin coloca é a maior visibilidade do futebol masculino, comparado ao feminino, o que faz com que ele tenha mais regalias, por afetar muito mais a sociedade e a economia, mas que isso está em processo de mudança. “Precisamos que o futebol feminino seja mais reconhecido, para que tenha um reflexo também dentro da moda. A partir do momento que eles forem vistos de maneira igual e o mesmo valor agregado, a camiseta de time também terá outro significado.”

 

Ficha técnica
Reportagem: Tayná Feliciano
Edição: Eduardo Machado
Publicação: Eduardo Machado
Supervisão de produção: Muriel Amaral, Cândida de Oliveira e Jeferson Bertolini
Supervisão de publicação: Marcos Zibordi e Maurício Liesen

Aumento da mensalidade para sócios pode diminuir torcida do Operário

Setor prata passou de R$ 55 para R$ 100 reais; outros setores aumentaram R$ 10

Resumo

  • Reportagem mostra reajuste excessivo no valor da categoria prata do Operário, com aumento de 80%;
  • Torcedores não consideram justo o aumento por conta da crise financeira que a pandemia causou;
  • Presidente do time diz estudar proposta para quem perdeu emprego na pandemia.

 

O avanço da vacinação em Ponta Grossa possibilitou a flexibilização de algumas medidas de restrição, como a volta da torcida aos estádios. Porém, pelo menos para parte dos torcedores do Operário, a volta ao Germano Krueger tem sido indigesta: eles estão tendo de encarar o aumento no valor dos sócios torcedores, que aconteceu no começo deste ano.
O reajuste seria aplicado apenas para os torcedores que não renovassem o contrato - mas, com a pandemia, a maioria dos sócios não renovou. Além de não usufruir dos benefícios que a filiação proporciona, isto também ocorreu por falta de condições financeiras.
As mudanças de valor aconteceram nas três categorias do estádio: prata, ouro e diamante. Contudo, o que mais causa dúvidas entre os torcedores é que o maior aumento foi para o sócio prata, que é a categoria que reúne mais pessoas. O aumento foi de mais de 80%, passando de R$55 para R$100; enquanto na área ouro e diamante (a mais luxuosa), o aumento não passou de R$10.
O torcedor Marcos Otávio, 47, manifesta injustiça, visto que os setores não oferecem a mesma qualidade. “O prata não tem nem cadeira, a gente se senta no cimentado e agora está quase o preço dos que oferecem assentos ou até cobertura. Isso é um absurdo, sabemos que é uma classe que tem menos condições financeiras. O correto seria acréscimo justo, visando as pessoas que frequentam cada área, ou então que fosse igual para todos os setores”.
Alguns torcedores lamentam não poder voltar à arquibancada. O operador de produção Eduardo Rodrigues, 39, conta que a pandemia o impediu de manter o título de sócio em dia. “Tive suspensão no contrato de trabalho, não tinha como pagar e atrasou. Agora para eu voltar, teria de entrar no valor reajustado, ou seja, infelizmente, sem chances para mim”. Edson Luis, 40, pagava duas carteirinhas: “Se uma só já fica difícil de pagar, imagine duas? Desde piá indo ao GK e agora não poderei mais ir”, lamenta.

Pauta Tay Foto Tayna Lyra

Foto: Tayna Lyra

Desistências


Sabendo da grande quantidade de desistências, o administrador da página Imortal Operário, Igor Mansini, se preocupa com a diminuição da capacidade dentro do estádio e acredita que a decisão deve ser revista. “O Operário precisa do público. A força da torcida sempre foi um dos nossos diferenciais. É um time de todos. É a hora de ceder para voltar aos 10 mil torcedores no estádio”.
São comuns as histórias que passam de pais para filhos nas arquibancadas, mas, devido aos reajustes, a tradição pode perder a continuidade. É o caso de Cleiton Farias, 31, que começou a acompanhar o pai nos jogos. “Não renovei no período de isolamento e agora com R$100, eu e meu filho, não consigo pagar os dois, vai me faltar em outras coisas dentro de casa. Me dói não poder fazer isso por ele, como meu pai fez comigo”, diz.
Rogério Gravieski, 47, motorista rodoviário, questiona o porquê da diretoria ter exigido que os torcedores continuassem pagando, sendo que as atividades estavam paralisadas. “O que você não usou, não há lei que te faça pagar. Não lembro quando assinei contrato que estava escrito que seria vitalício, eu tenho o direito de deixar de pagar se não estou usufruindo”.

 

O Operário


O presidente do Operário Ferroviário, Álvaro Góes, 60, diz estar ciente das reclamações da torcida que dispõe da área prata do estádio. “O que posso fazer é estudar uma proposta para aqueles que foram mandados embora ou tiveram suspensão no contrato de trabalho e acabaram ficando sem pagar o valor do sócio na pandemia, desde que isso conste na carteira de trabalho”.
Álvaro sugere uma bonificação ou redução de valor para estes trabalhadores, mas questiona os demais torcedores. “O que eles precisam entender é que as contas do OFEC não param, elas continuam dia a dia. Eu gostaria que todos entendessem que as despesas do time não pararam durante a pandemia. São mais de 4 milhões de prejuízo com os desfalques dos torcedores. Quem paga isso?”.
Vendo o lado da diretoria, Diego Arruda, 32, técnico rodoviário, afirma que suas mensalidades estão em dia e que quanto mais pessoas fizerem um esforço, mais o Operário cresce. “Não quer ser sócio? Então paga ingresso a 150 reais, até porque o OFEC não é público, é particular. Nós temos que ajudar no que podemos, só seremos fortes se todos fizerem o seu máximo para ajudar”. Diego acredita que a culpa dos reajustes foi por falta de compromisso dos demais sócios. “O Operário tinha 9 mil sócios, muitos ficaram desempregados, mas a maioria não pagou só porque não tinha jogo. Se isso não tivesse acontecido, nossas contas estariam em dia e com certeza a diretoria iria aliviar os reajustes”, afirma.
Bruno Schnerzoski, 45, mecânico, opina que torcedor que não apoia financeiramente, não pode cobrar no dia do jogo. “Nós temos que fazer a nossa parte, porque daí não adianta chegar no dia do jogo, ficar ‘cornetando’ e cobrando, mas não ajudar com um centavo. Querem elenco, subir de divisão, G4, queremos e queremos, porém se não ajudam com nada, fica incoerente querer cobrar”, critica.

 

Ficha Técnica
Repórter: Tayna Lyra
Edição: Ana Paula Almeida e Larissa Onorio
Publicação: Larissa Onorio
Supervisão de Produção: Jeferson Bertolini
Supervisão de Publicação: Marcos Zibordi e Maurício Liesen

Escolinhas de futebol retomam atividades após fechamento por conta da pandemia

Unidades adotam cuidados especiais por causa do risco de contágio


Longe de treinamentos e jogos há meses, as escolinhas de futebol tentam encaminhar um lento retorno às atividades normais. No início da pandemia, a Escola Oficial Operário Ferroviário, em Ponta Grossa, determinou treinamentos online, com exercícios físicos individuais para cada atleta. Após diversas pausas por conta de decretos municipais e estaduais, os treinos retornaram ao presencial.
De acordo com o professor e treinador da Escola Operário, Alisson Patrick Silva dos Santos, o número de alunos caiu, o que já era esperado pela equipe de funcionários. “Com o tempo e as semanas passando, os alunos vão voltando, os pais liberando, e aos poucos o ritmo também volta ao normal como já nos programávamos”, afirma. Na parte financeira, a Escola do Operário sofreu baixa com a saída de alunos, entretanto, segundo o professor, a organização da empresa foi fundamental para a sobrevivência.
Para Alisson, o período longe dos campos pode interferir em um possível futuro profissional dos atletas, principalmente entre as categorias de base. “Quanto mais novo, a parte técnica é afetada. Quanto mais velho, a parte física e tática. Então, cabe a nós profissionais da área tentar diminuir esse buraco na formação do atleta”, completa.
O professor acredita que os treinamentos e o convívio social entre os alunos geram resultados visíveis no dia-a-dia, como por exemplo no desenvolvimento do respeito e do caráter. Ele ainda conta que no retorno presencial os funcionários identificaram dificuldades de sociabilização, principalmente entre os atletas mais novos. “Há um ano e meio os atletas participavam de viagens e jogos, o que beneficiava a parte social e também mental. Com a pausa, alunos entre 9 e 11 anos apresentam alguns bloqueios, então estamos tentando buscar a melhora nesta questão para que eles se sintam acolhidos”, explica.
A Escola Oficial Operário Ferroviário é administrada pela PG Soccer e pelos Diretores William Borges e Cristiano Gonzaga. A instituição conta com cerca de 200 alunos, entre meninos e meninas, além de quatro professores.

Outras cidades
Em São Paulo, cidade polo de escolas e clubes profissionais, a Escola de Futebol SPFC retornou às atividades nas quatro unidades em outubro do ano passado, depois de seis meses de treinos online, lives pelas redes sociais e exercícios em casa. Desde o retorno, contam apenas com 30% dos alunos ativos e 12 funcionários distribuídos nas unidades, sempre utilizando máscaras, respeitando o distanciamento e desinfetando todo o material durante os intervalos das aulas.
Segundo a psicóloga e diretora da Escola SPFC, Vivian Mathias Sparapani, esse período longe das atividades pode trazer problemas no desenvolvimento dos alunos, desde habilidades motoras e até na sociabilização, pois a Escola assume o papel de colaboração na formação de todos os aspectos sociais, não apenas esportivos. “Devemos ter muita atenção com cada criança em todos os sentidos. Hoje trabalhamos com alunos que possuem sintomas de depressão e também síndrome do pânico, em virtude desta parada causada pela pandemia. Elas têm medo de contrair o vírus”, relata a psicóloga.
Outra dificuldade enfrentada, além da questão técnica e mental dos atletas, foi a situação financeira. De acordo com Vivian, na Escola SPFC nenhum funcionário foi demitido, mas foi necessário o uso de programas governamentais de redução e suspensão de salários.

Jovens atletas
O atleta Pedro Henrique Paes, de 15 anos, atua desde 2014 como volante e também meia no Fut Escola de Craques em Itapeva, interior de São Paulo. Pedro relata que o número de pessoas durante os treinamentos está bem reduzido. Antes de cada atividade, a temperatura é medida, utilizam álcool gel e máscaras o tempo todo. Ele conta que mesmo realizando algumas atividades físicas durante a pausa do treinos, ainda sentiu dificuldades após o retorno. “O físico não estava totalmente ruim, mas muito fraco, perto do que era antes. Estava sem tempo de bola, errava domínios fáceis, entre outras coisas. Além disso, eu senti muito a mente e o raciocínio mais preguiçosos”, lamenta Pedro.
O volante Heitor Carvalho Ferreira da Silva, também de 15 anos, foi aprovado em uma peneira do time carioca Resende Futebol Clube no mês de dezembro. “Após meses de treinos online, eu senti dificuldades principalmente na parte física quando as atividades voltaram. Mas por enquanto, o complicado é ainda não poder ir ao Rio de Janeiro por causa da pandemia”, finaliza Heitor.

 

Ficha Técnica
Reportagem: Gabriel Ryden
Edição e Publicação: Larissa Onorio
Supervisão: Jeferson Bertolini, Marcos Zibordi, Maurício Liesen