Durante períodos de competição atletas escolhem métodos contraceptivos para não menstruar
A pesquisa “A influência do ciclo menstrual no rendimento de atletas” foi desenvolvida no ano passado pelos profissionais de educação física Lucas Willian Darif, Mauricio Padilha da Luz e João Paulo Crensiglova da Silva da Universidade UniDomBosco. Segundo Mauricio, o que os motivou a desenvolver este trabalho foi a escassez de pesquisas que estudam o tema. “Percebemos a importância de se desenvolver essa pesquisa por ainda não se ter uma resposta concreta do que realmente o ciclo menstrual influencia no rendimento das atletas, na verdade verificamos uma série de fatores”, destaca.
Maurício conta que a questão hormonal é um dos principais fatores que influencia no rendimento do atleta. Ele explica que durante os 28 dias do ciclo menstrual ocorrem flutuações de hormônios como estrogênio, progesterona, hormônio folículo estimulante e hormônio luteinizante. Porém, de acordo com Padilha, as duas principais variantes são o estrogênio e o progesterona, pois, durante o período em que a mulher menstrua, ocorre queda significativa desses hormônios, tanto que muitas mulheres não gostam de treinar nesses dias. “Há alguns estudos que apontam que a mulher pode ter algumas vantagens durante este período, por exemplo a questão de inibidores, ou seja o aumento de energia de ativação, mas que como consequência diminuem a velocidade da reação química”, explica.
O profissional comenta que durante o período em que a atleta menstrua há oscilação hormonal que afeta seu desempenho, nesta situação o preparador físico tenta adaptar o treino e diminuir a intensidade. “A atleta vai ter mais aproveitamento após a semana da menstruação, quando ocorre a elevação do estrogênio e, assim, ela terá uma melhora no rendimento”, analisa.
Para obter dados da pesquisa, Lucas Willian Darif desenvolveu um questionário que tinha o objetivo de compreender como era o ciclo menstrual das atletas que participaram da pesquisa e se durante o período elas sentiam que esse fator influenciava no seu rendimento. “No questionário muitas mulheres relataram que não sentiam nenhum sintoma no período pré-menstrual (TPM), porém outras relataram ter vários sintomas, então conseguimos perceber que se trata da individualidade de cada atleta”, avalia. Darif explica que a TPM afeta tanto a parte física quanto a parte emocional da atleta.
De acordo com o profissional, a melhor forma do preparador físico evitar que o ciclo menstrual influencie o rendimento da atleta é, primeiramente, conhecer a mulher como indivíduo singular. “A partir deste conhecimento, tanto do desempenho físico quanto do emocional da atleta, é importante que o preparador físico trace um plano para acompanhar o ciclo dela”, explica.
Para o especialista, outro fator que deve ser levado em consideração é que determinadas modalidades esportivas exigem maior resistência física, nesta situação, um componente muito importante é o calendário de competições. Um exemplo utilizado por Darif é que o esporte coletivo tem a predominância do indivíduo fazer parte de um grupo, mesmo que a pessoa não esteja bem, o preparador físico consegue trabalhar atendendo às peculiaridades de cada atleta durante o ciclo menstrual de forma que seja melhor para a equipe e de modo a não interferir no rendimento da mulher. No caso do esporte individual, é mais complexo, porque, além da atleta depender do calendário, ela não tem a opção de não competir ou de até mesmo revezar com alguém. Além do fator da pressão psicológica do esporte individual também ser maior.
Darif diz que durante a pesquisa ele percebeu a idade como outro fator que influencia o rendimento de atletas durante o ciclo menstrual.Por exemplo, enquanto a mulher mais jovem que faz uso de anticoncepcional para controlar o ciclo não demonstra ter sintomas que influenciam o seu rendimento, a mulher a partir dos trinta anos, que também faz uso de medicamento, apresenta.
Atletas precisam adaptar sua rotina de treinos em período de ciclo menstrual | Foto: Arquivo Pessoal
Métodos contraceptivos
A jogadora de futsal do time Leoas da Serra, Mariana Afinovicz, de 19 anos, conta que o treinamento do time em que participa é realizado em dois períodos do dia que podem variar entre academia, quadra, treino tático, treino técnico e análise de vídeo. De acordo com a jogadora, o calendário das competições influencia diretamente na semana de treinamento. “Nosso dia a dia é voltado para o time desde nossa alimentação até nossos cuidados com o bem estar. O time banca nutricionista, psicólogo, dentista e ginecologista”, conta. Mariana diz que em determinadas circunstâncias, por conta do ciclo menstrual das atletas, os preparadores alteram a carga dos treinos.
A atleta relata que menstruou pela primeira vez quando tinha quatorze anos e durante o ciclo menstrual sempre sente muita fadiga, dificuldade cardiorespiratória e irritabilidade. “Eu e as meninas percebemos que nessa semana o ritmo do treino cai muito, porque cansamos com mais facilidade”, comenta.
A jogadora de vôlei da seleção brasileira sub-20 e jogadora pela University at Buffalo, Manoela Forlin Gonçalves, de 18 anos, conta que menstruou pela primeira vez aos 11 anos de idade. A atleta diz que na semana em que menstruava ela ficava muito mal e sentia muita cólica. Manoela relata que o maior incômodo era o fluxo intenso do ciclo e isso interferia no seu rendimento. Em dezembro do ano passado, a atleta colocou o implante hormonal no braço para não menstruar. “Fiquei sabendo do chip através de uma amiga que tinha colocado e ela me falou que foi muito bom para ela, o único efeito colateral que nós duas tivemos foi menstruar muito nos quatorze primeiros dias após colocar o chip”, destaca. Ainda segundo Manoela, com base em informações médicas que recebeu, os efeitos deste recurso podem variar de acordo com o organismo de cada mulher.
Os métodos contraceptivos são adotados pelas atletas tanto no período de treino, quanto no das competições, e trata-se de um processo de conhecimento do treinador ou treinadora para que elas tenham o melhor desempenho de acordo com o que é possível.
Em épocas de competição. muitas atletas adotam os métodos contraceptivos para não menstruar e buscar melhor desempenho | Foto: Arquivo Pessoal
Ficha Técnica
Produção: Tayná Landarin
Edição e Publicação: Joyce Clara, Iolanda Lima, Annelise dos Santos e Betania Ramos da Silva
Supervisão de produção: Muriel Amaral
Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira e Kevin Furtado