Torcida organizada feminina incentiva a presença das mulheres no esporte

A Torcida Trem Fantasma foi criada no dia  21 de fevereiro de 2009, resultado da fusão das Torcidas Revolução Operariana, Garra Operariana, Jovem Independente e torcedores independentes. Desde então, a TTF se reúne para os jogos do Operário Ferroviário em frente ao portão 3 do Estádio Germano Krüger, localizado no bairro de Oficinas. Além disso, a sede oficial da Torcida Trem Fantasma, situada na Avenida Visconde de Mauá, transmite as partidas e é ponto de encontro para aqueles que desejam acompanhar os jogos e fazer amizades. 

Junto com o surgimento da torcida organizada, nasceu a Expresso Feminino, o segmento feminino da Torcida Trem Fantasma. Composta, em maior parte, por esposas de torcedores, o grupo durou pouco tempo. Após o primeiro lugar no Campeonato Paranaense em 2015, a cidade passou a abraçar mais o time. Com isso, mulheres e crianças começaram a frequentar as partidas e a vontade de voltar a ter um movimento feminino dentro do Operário fez com que a Expresso ressurgisse em 2018.

 

A Expresso Feminino procura chamar mais mulheres para fazer parte da torcida

A Expresso Feminino procura chamar mais mulheres para fazer parte da torcida. Foto: Danilo Schleder/Arquivo Torcida Trem Fantasma.

Fernanda Dimbarre dos Santos, uma das participantes da Expresso Feminino, acompanha o Operário Ferroviário desde 2011, motivada pela paixão por futebol e pela proximidade do Germano Krüger da sua casa. O primeiro jogo que assistiu ao vivo foi uma vitória de 2x1 contra o Athlético Paranaense. Nesse dia, por conhecer algumas pessoas da torcida organizada, Fernanda passou a ter interesse em fazer parte dela. A torcedora conta que se sentiu representada ao ver uma torcida feminina, mesmo em meio a tantos homens. “Quando eu frequentei, eu vi mulheres. Eu achava o máximo ver aquelas mulheres representando a Expresso Feminino. Eu falava: ‘eu quero participar daquilo, futuramente, quando eu crescer’, porque até então eu era menor. Você ver outras mulheres, uma torcida organizada, a faixa que a gente tem, estendida lá no estádio, isso dá um ar de ‘eu não estou sozinha’”, relata.

A torcedora explica que, quando começou a acompanhar o time, sofreu preconceitos de outras mulheres por estar presente em um ambiente majoritariamente maculino. Além disso, os homens também a assediavam verbalmente. Fernanda, no entanto, nunca se deixou levar por esses comentários. “Minha defesa era ignorar, porque eu estava ali para curtir o ambiente. Acho que foi o que me fez permanecer”, conta. Apesar de mais famílias frequentarem os jogos do Operário, a torcedora percebe que as mulheres que acompanham o time continuam passando por essas situações. “É difícil, depende muito de como você liga para aquilo. Se você começa a ignorar, não te afeta tanto, mas tem momentos em que pode te prejudicar e, às vezes, até te afastar. Acho que isso leva algumas mulheres a desistirem de frequentar o estádio”.

Kamila Rodrigues Padilha é uma dessas mulheres que se ressente pelo ambiente misógino. A torcedora não faz parte da Expresso Feminino, mas acompanha o Operário Ferroviário desde 2004. “Eu sofri bastante no começo, não tinha muitas mulheres. Antes do título em 2015 era bem pior. Você passava na frente das torcidas e todos os homens mexiam com você. Eu tentava entrar sempre por trás, pra não passar na frente, não usava shorts de jeito nenhum”, relata.

Apesar de reconhecer o trabalho da Expresso Feminino na torcida e nas ações sociais, Kamila afirma sentir falta da organizada na luta pelos direitos das mulheres dentro do estádio. Até 2022, o Operário contava com o plano de sócio torcedor “sócio feminino”, no qual as mulheres pagavam mais barato que os homens para assistir aos jogos, como uma tentativa de maior inclusão feminina na torcida. Kamila conta que quando o sócio feminino deixou de ser uma realidade, algumas mulheres foram questionar a diretoria do clube, mas a Expresso não estava lá.

Samantha Kuller Chaves acompanha o time fielmente desde 2021, quando começou a frequentar o estádio. A torcedora relata que também já sofreu misoginia nesse ambiente e passou por situações de assédio. “Fui ao banheiro durante o jogo e, passando perto de um senhor, ele me agarrou por trás, me puxando para perto dele. Eu me senti muito mal, com medo e enojada”. Depois disso, Samantha passou a frequentar os jogos apenas com a presença de seu namorado, por medo de situações como essa acontecerem novamente.

As três torcedoras percebem que, apesar do machismo, a torcida do Operário está mudando e, atualmente, as mulheres têm mais espaço. No ano passado, devido a  brigas  entre torcidas, o time recebeu uma punição do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) que determinou, durante dois jogos, que homens não poderiam frequentar as partidas e que seus ingressos fossem destinados à mulheres e crianças, que lotaram o estádio. Fernanda conta que “foi um momento em que a gente conseguiu chamar muitas mulheres e mostrar que temos voz e participação. Eu não estava lá, mas eu chorei horrores, porque eu me senti lá”.

Durante as duas partidas, a Expresso Feminino montou uma bateria exclusivamente com mulheres. Samantha, mesmo sem participar da Expresso, se sente representada pela união feminina. “Temos voz e representamos tanto quanto os homens. Um exemplo foi o jogo em que o público foi somente de mulheres e crianças. Cantamos o jogo inteiro e apoiamos o time. Não faço parte da organizada, mas tenho certeza que nossas dores são as mesmas, e que caso uma precise de algo, todas estão ali para apoiar”, salienta.

 

Ficha Técnica

Produção: Mariana Borba

Edição e publicação: Ana Beatriz de Paiva, Luisa de Andrade, Mariana Real

Supervisão de produção: Carlos Alberto de Souza

Supervisão de publicação: Aline Rosso e Kevin Furtado