Profissionais sobre-educados passam de 4 milhões no país

Levantamento baseado em números da Pnad Contínua revela aumento de mais de 400 mil trabalhadores nos dois últimos trimestres

Sobre-educados: é o termo utilizado para se referir a profissionais que possuem qualificação maior que a exigida para o cargo que ocupam. No Brasil, uma pesquisa realizada pela consultoria IDados, publicada no Valor Econômico, baseada em números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad C), revelou que entre janeiro e junho deste ano, a quantidade de trabalhadores e trabalhadoras nessas condições aumentou em 478,9 mil, atingindo a marca de 4,9 milhões de profissionais.

Segundo o professor do curso de Ciências Econômicas da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Temidayo James Aransiola, o desemprego obriga o profissional a não fazer grandes exigências, quanto ao tipo de vaga para ser contratado, ou corre o risco de permanecer desempregado. O professor explica que o mercado exige praticidade, independentemente da existência de diploma. "Essa exigência, principalmente do setor privado, faz com que pessoas com uma elevada escolaridade ocupem vagas que só exigem conhecimentos básicos e técnicos”. 

Aransiola alerta para o risco de exploração que pode resultar desse cenário. "Quem está contratando, em vez de abrir uma vaga de ensino superior, abre duas vagas para técnico, e então há a possibilidade de pagar um pouco menos. O setor privado está aproveitando esse excesso de mão-de-obra", comentou. 

 

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Para saírem do desemprego, trabalhadores com nível superior procuram vagas sem essa exigência  / Foto: Hygor Leonardo

O seguro desemprego de Camila Aparecida Ferreira estava no final quando foi contratada para trabalhar em uma loja. A administradora formada revela que aceitou a vaga porque os horários se encaixam em sua rotina. Antes, Camila só havia trabalhado com carteira assinada, em uma panificadora. Fora isso, realizou diversas atividades informais ao longo da sua caminhada profissional. 

Ela lamenta a baixa quantidade de empresas que dão oportunidade a profissionais inexperientes, e destaca que a demora para atuar na área de formação pode fazer com que o que se aprende na faculdade seja esquecido. "É claro que, quando você chegar a trabalhar na área, vai lembrar de algumas coisas, mas é diferente de terminar [o curso] ou estar estudando e já trabalhar; você acaba unindo os dois: o que está aprendendo com o próprio trabalho", comentou. 

Camila acredita que as empresas deveriam dar mais oportunidades para os recém-formados. Menciona também o excesso de pessoas em determinados setores, como o da administração. "Como há muitas pessoas com essa formação, muitos acabam não conseguindo colocação no mercado. Além disso, em empresas pequenas, geralmente quem administra é o proprietário; ele não vai contratar um administrador", opinou. Mesmo trabalhando fora de sua área de formação, a atendente iniciou uma pós-graduação, e espera poder ampliar suas possibilidades no setor em que se formou.

Quem também está trabalhando fora da área em que se formou é o consultor de vendas Vagner Cordeiro da Silva. Apesar do desvio de função, ele se considera satisfeito com a atual ocupação, por oferecer boa rentabilidade e oportunidade de contato com o público. Vagner explica que o salário inicial para Análise e Desenvolvimento de Sistemas é de R$ 1400,00. "O início é sempre difícil. O salário baixo não supre as necessidades. Eu tenho uma filha pequena, não tem como deixar minha esposa cuidando e trabalhar com uma renda baixa”, finalizou. 

 

Ficha técnica:

Reportagem: Carolina Olegário

Edição e publicação: Gabriel Mendes e Lilian Magalhães 

Supervisão de produção: Ricardo Tesseroli

Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira, Marcelo Bronoski e Ricardo Tesseroli

 

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