O Hotel Santa Cruz localizado na esquina das ruas Tenente Hinon Silva e Tenente Pinto Duarte, no Centro, foi o mais recente a ser incendiado na cidade

 

O incêndio que atingiu o Hotel Santa Cruz aconteceu na madrugada do dia três de maio deste ano. O imóvel foi construído na década de 1960 e, neste ano, foi interditado pelos bombeiros antes do incêndio. Mesmo assim, vizinhos relataram que o local continuava sendo usado por moradores de rua. As causas do fogo e o número de pessoas envolvidas ainda não foram  esclarecidos.

Embora não se saiba exatamente o que originou o incêndio que destruiu o imóvel, há muitas divergências nas informações que circularam sobre o assunto. O Corpo de Bombeiros afirmou que não houve vítimas socorridas no local, já relatos  de vizinhos do prédio contam que uma pessoa teria sido resgatada das chamas. De acordo com os bombeiros, nenhum inquérito será aberto para investigar as causas do incêndio no hotel. 

O imóvel estava na lista do Departamento de Patrimônio Cultural da Secretaria Municipal de Cultura entre imóveis inventariados para tombamento. Em 2023 o processo de reconhecimento do valor histórico do prédio, que foi iniciado em outubro de 2003, completaria duas décadas. Neste ano, em comemoração aos 200 anos de Ponta Grossa, o Conselho Municipal de Patrimônio Cultural (COMPAC) retornou a discussão de tombamento desses imóveis. Depois do incêndio, o prédio do hotel Santa Cruz foi parcialmente demolido pela Defesa Civil por risco de desabamento.

 

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Hotel Santa Cruz após a destruição causada pelo fogo | Foto: Vitória Testa

 

Incêndios recorrentes

Não é incomum que imóveis indicados para tombamento sejam incendiados. Em Ponta Grossa já ocorreram casos parecidos com o do Hotel Santa Cruz, como o caso do prédio histórico do Clube Sírio-libanês, construído na década de 1930 por imigrantes, que pegou fogo em 2007 na Rua XV de Novembro. O Clube estava listado entre os imóveis inventariados para tombamento fazia 8 anos, mas o processo não havia sido concluído ainda.

Em caso semelhante no início dos anos 2000, o prédio histórico do antigo Hotel Dallas, localizado próximo à Estação Saudade, também pegou fogo. Já em janeiro deste ano outro imóvel histórico foi incendiado e depois demolido, localizado na avenida Carlos Cavalcanti, esquina com a rua Pereira Passos, ao lado do Colégio Estadual General Osório. A história se repete: um prédio antigo que apresenta deterioração é sondado para tombamento, acontece um incêndio e demolido por risco de tombamento.

O artigo nº 43 da Lei Municipal nº 6.183/2001 prevê uma multa de R$ 1.760,00 a R$ 176.000,00 em casos de demolição, destruição ou mutilação da propriedade tombada. No entanto, como o processo de tombamento dos imóveis incendiados citados não foi finalizado, a multa não se aplica.

Nas redes sociais o internauta André Rosa lamenta: “Outra vez a conveniência de uma demolição estupra o que resta da memória daquela que já foi chamada ‘Princesinha dos Campos Gerais’. Sua antiga beleza, que unia o natural ao arquitetônico, foi pervertida, deformada e prostituída pela elite nefasta, estúpida e ignorante, que contou com a conivência de um povo submisso, para realizar seu intento”.

 

Por que não querem tombar?

Nem sempre o reconhecimento do valor histórico de um imóvel é comemorado pelos proprietários. Isso ocorre porque as normas de preservação, segundo a  Lei Municipal nº 6.183/2001, preveem que a proteção e conservação de um bem tombado é responsabilidade dos proprietários, sem permitir reformas que descaracterizem o local. 

De acordo com a lei, os casos de reformas devem ser encaminhados ao COMPAC, para que o Conselho  determine os procedimentos a serem seguidos pelos donos das propriedades. Porém, a burocracia para realizar qualquer tipo de reforma em imóveis tombados faz com que os proprietários sejam contrários ao tombamento.

A casa de Tereza Chemin (83), comprada pela família Chemin por volta da década de 1940, foi tombada como patrimônio cultural de Ponta Grossa no ano passado. Esse foi o primeiro tombamento de um imóvel de madeira na cidade. A casa fica localizada na Rua Theodoro Rosas, 64, e é conhecida pelo seu tom amarelado e pelos ornatos em madeira conhecidos como lambrequim. 

Mas a casa nem sempre foi dessa maneira. Tereza afirma que quando seus pais compraram a casa ela tinha “cor de pinhão” e durante os anos foram feitas diversas reformas em decorrência das marcas do tempo. Agora, com o tombamento, os moradores da casa lamentam não poder reformar a residência, que apresenta deteriorações devido ao tempo de uso. Mesmo com lambrequins quebrados e problemas no telhado eles não podem manter os reparos em dia.

 

Ficha técnica:

Reportagem: Vitória Testa

Edição: João Iansen

Publicação: João Iansen

Supervisão de produção: Manoel Moabis Pereira dos Anjos

Supervisão de publicação:  Marizandra Rutilli e Luiza Carolina dos Santos

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