Modelo de ensino prioriza preparo profissional em detrimento da formação humanística dos estudantes

Acúmulo de disciplinas, divergências em relação às novas aulas e exaustão estão entre as principais reclamações de professores e estudantes em relação ao Novo Ensino Médio. O modelo de ensino, aprovado por meio de medida provisória em 2016, começou a valer oficialmente no ano letivo de 2022. Alvo de críticas desde que foi anunciado há seis anos, o Novo Ensino Médio provocou mudanças na rotina de estudantes e professores.

Imagem: Arilson_Schenberger | Arquivo Periódico


O novo modelo de ensino divide o currículo entre a Base Nacional Comum Curricular e Itinerários Formativos. Além disso, há a ampliação de 2400 para três mil horas de formação curricular. Desse total, pelo menos 1200 horas, o que representa 40% do tempo, são voltadas para os Itinerários Formativo.

Andréa Rosane de Souza, professora de história na rede pública e secretaria da APP Ponta Grossa, ilustra como o Novo Ensino Médio afeta a disciplina que ela ministra:

Além dos itinerários formativos, o Novo Ensino Médio adicionou três disciplinas obrigatórias ao currículo dos estudantes: Projeto de Vida, Educação Financeira e Pensamento Computacional. Uma estudante de 15 anos, que está cursando a matriz curricular do novo modelo de ensino, descreve o aumento de disciplinas como exaustivo. “Não entendi a lógica dessas matérias, não é como se estivessem agregando experiências reais na nossa vida”, expressa.

Infográfico: Daniela Valenga


A secretária da APP Sindicato, Andréa Rosane de Souza aponta que, pela diminuição da carga horária de disciplinas como História e Biologia, professores da rede pública complementam a carga horária de trabalho com aulas das novas disciplinas, porém há dúvidas sobre a ementa e como essas aulas devem ocorrer.
“Foi ofertado um curso de poucas horas em relação a disciplina Projeto de Vida, mas para as outras duas não foram ofertadas nenhum tipo de formação continuada para que o professor pudesse ter o mínimo de organização para assumir essas disciplinas”, expõe Souza.


Formação Técnica


Um dos itinerários que o estudante pode optar no Novo Ensino Médio é “Formação técnica e profissional”, focado no preparo para atuar em determinado campo de trabalho, dependendo da oferta do colégio. Porém, o pesquisador sobre ensino, Paulo Melo, indica os riscos de se priorizar uma formação técnica específica em vez de uma formação humanística:


Outra questão envolvendo a oferta dos cursos técnicos é a maneira como irão ocorrer. “As aulas serão transmitidas no formato remoto por profissionais contratados pela Unicesumar, por meio de um contrato milionário, que ainda não é público”, diz Souza. A secretaria da APP afirma que até o momento a Unicesumar não disponibilizou as vídeo com aulas para os colégios.
Com base em uma denúncia do sindicato dos professores, o Ministério Público do Paraná abriu uma investigação sobre a forma como o contrato entre a Unicesumar e o governo do estado ocorreu.

 

Ficha Técnica:
Reportagem: Daniela Valenga
Supervisão de produção de texto: Marcos Zibordi
Supervisão da disciplina de NRI III: Marcelo Bronosky e Muriel Amaral

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