O número de psiquiatras da rede pública de saúde Ponta Grossa está abaixo do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que são nove profissionais para cada 100 mil habitantes. O município, que tem uma população de 348.043 pessoas, disponibiliza apenas dez médicos dessa especialidade em serviços públicos. Apesar de a quantidade ter aumentado desde 2009, quando eram apenas quatro servidores no quadro de profissionais da área, ainda se verifica uma carência.

 

 

Segundo a diretora de Saúde Mental da Secretaria Municipal de Saúde, Ana Paula Almeida Rocha Ohata, mais de 7.153 pacientes foram atendidos pelo SUS de janeiro de 2017 a maio deste ano. No setor de atenção primária do serviço de saúde mental, a cidade tem o registro de 5.452 pessoas com diagnóstico de problemas ligados à saúde mental. “A procura por atendimento na área de saúde mental tem aumentado no Brasil e na cidade em virtude, principalmente, dos casos de transtornos de ansiedade”, descreve Ohata.

 

 

Os atendimentos são alocados na rede pública de saúde mental de Ponta Grossa de acordo com a classificação como casos graves, leves e moderados. Os atendimentos graves são encaminhados para o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). Os leves e os moderados são atendidos no Ambulatório de Saúde Mental, contando com apoio da equipe de atenção primária em saúde, como o Ambulatório.

 

 

Na cidade, existem três CAPS: o CAPS II, que atende pacientes com transtornos mentais graves e persistentes, o CAPS Álcool e Drogas (CAPS AD), que atende pessoas com vícios, e o CAPS Infanto-juvenil, que atende crianças com problemas de uso de drogas e transtornos mentais.

 

 

Segundo a coordenadora do CAPS AD, Patrícia Mundrey, os CAPS funcionam de portas abertas. Dessa forma, não é necessário o encaminhamento da rede de saúde e qualquer pessoa pode procurar o serviço. Mas as unidades básicas, os serviços de assistência social e os hospitais também podem fazer o encaminhamento. Mundrey explica, no entanto, que permanecem no serviço somente as pessoas com demandas mais graves.

 

 

O tempo médio de espera, para os casos graves, é de uma semana. Já para os casos leves e moderados o tempo de espera é de 5 a 6 meses pois depende da oferta de serviços e das consultas oferecidas pelo Hospital Universitário Regional e pelo Consórcio Intermunicipal de Saúde.

 

 

O CAPS II, que conta com a atuação de médico e de psicológico, estimula a integração social e familiar dos pacientes com transtornos mentais. Nele, o atendimento acontece em quatro etapas: a avaliação, o acolhimento, o Projeto Terapêutico Singular (PTS) e as atividades em grupo. A avaliação é a primeira etapa quando os profissionais tentam diagnosticar o paciente.

 

 

No acolhimento a equipe de atendimento explica como funcionam o Caps e as atividades em grupo e também são apresentados os três territórios - divisão de atendimento pela geografia da cidade - que são Centro, Oficinas e Santa Paula.

 

 

Cada território conta com uma equipe de enfermagem, psiquiatra e psicólogo, que atende as pessoas de acordo com a região em que elas moram. O Projeto Terapêutico Singular (PTS) que diagnostica o que acontece com cada paciente para poder encaminhar para outras atividades, como as realizadas em grupo.

 

 

Universitária destaca rapidez no atendimento de casos graves

 

A universitária D.C. (o uso das iniciais visa preservar sua identidade) foi diagnosticada em 2017 com depressão moderada para grave a partir de consulta com profissional da rede privada. Neste ano, após participar de palestra com profissional da rede saúde mental, ela decidiu buscar o atendimento no serviço público. “O que me chamou atenção é que, no CAPS, você pode fazer avaliação a qualquer momento. Quando liguei, não fui bem atendida, mas me disseram que eu poderia ir até lá de terça à quinta, das 9 horas às 17 horas para fazer a avaliação. E eu fui”, relata.

 

 

Atualmente, paciente do CAPS II, a estudante conta que quando chegou ao local pela primeira vez uma atendente pegou seus dados para preencher uma ficha. Após o tempo de espera de 15 minutos foi chamada por um psicólogo que realizou uma sessão de terapia para entender o que a tinha levado ao serviço de saúde mental.

 

 

Logo depois “ele me disse que eu estava no grupo de risco e que eu deveria voltar na semana seguinte para acolhimento”, relembra D.C que julga ter sido curto o tempo de espera pelo atendimento.

 

 

Como a paciente foi incluída no grupo grave, houve a indicação de que ela procurasse o atendimento individual. “Eu posso fazer isso pelo postinho ou no Santana, que disponibiliza esse serviço”, acrescenta. A consulta leva um mês para acontecer, pois cada semana é uma coisa, mas a ideia é manter a rede conjunta, com o postinho e o CAPS.”

 

 

Saúde mental exige atenção do poder público

 

O Brasil é o país com a maior taxa de pessoas com transtornos de ansiedade no mundo e o quinto em casos de depressão. Segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), 9,3% dos brasileiros têm algum transtorno de ansiedade e a depressão afeta 5,8% da população.

 

 

A OMS alerta que uma em cada 10 pessoas no mundo, o que equivale a 10% da população global, sofre de algum distúrbio de saúde mental. Isso representa aproximadamente 700 milhões de pessoas.

 

 

De janeiro 2017 a maio de 2018, foram realizados, pelos serviços de saúde mental de Ponta Grossa, mais de 30 mil ações de reabilitação psicossocial. O dado inclui todos os serviços e ações desenvolvidas pelos CAPS, como os realizados com grupos e com familiares de pacientes, bem como as atividades externas e reabilitação no CAPS AD.

 

 

Os principais diagnósticos dos atendimentos no município são transtorno de ansiedade, transtorno bipolar, esquizofrenia, depressão e os transtornos relacionados ao uso de álcool e de outras drogas, como destaca a diretora de Saúde Mental da Secretaria Municipal de Saúde, Ana Paula Almeida Rocha Ohata.

 

 

A psicóloga Danyela Braganhol descreve a diferença entre o trabalho desenvolvido por um médico psiquiatra e um psicólogo. “O atendimento psiquiátrico tem como objetivo principal diagnosticar o transtorno ou doença mental do paciente e iniciar um tratamento com medicamentos”, destaca.

 

 

Braganhol explica que o psicólogo, que não pode prescrever medicação, não tem a pretensão de diagnosticar o paciente, mas o que levou o paciente a buscar o tratamento. “Muitas vezes, os dois profissionais trabalham em conjunto para um melhor resultado”, avalia.

 

 

A psicóloga alerta para a importância do trabalho de prevenção pelo poder público. “O trabalho de prevenção e de identificação das doenças mentais é de suma importância para melhorar a qualidade de vida da população, além disso penso que todos deveriam ter acesso a um tratamento digno e de qualidade”, aponta.

 

 

Para a Ana Paula, as políticas de saúde mental na atenção primária são extremamente importantes. A diretora de Saúde Mental acredita que a saúde mental não está dissociada à saúde geral.

 

 

Danyela Braganhol também ressalta a necessidade de conscientização de que a saúde mental faz parte da saúde básica. “Quando a população se conscientizar de que as doenças mentais fazem parte do nosso cotidiano e que todos estão sujeitos a ter, o preconceito em relação a elas vai diminuir”, avalia.

 

 

“A população precisa compreender que a saúde mental é tão importante quanto a saúde do corpo, entretanto, vejo que este assunto ganhou muita ênfase nos últimos anos e tivemos algumas melhorias, cada vez mais pessoas estão compreendendo a importância de cuidar da mente”, conclui.

 

 

Em resposta à reportagem, a Prefeitura declarou que hoje existem 800 pessoas cadastradas nas unidades dos CAPS, todas estão em tratamento e que não há fila de espera.

 

 

A Prefeitura ainda informou que são 7 (sete) psquiatras que atendem nas unidades dos CAPS e que esse número é suficiente para a demanda de pacientes. E também que no último concurso não foram abertas vagas para psquiatras, apenas para psicólogos e outras modalidades.