Embora a radialista Mabel Canto (PSC) seja a primeira mulher de Ponta Grossa a se eleger deputada estadual, os políticos ponta-grossenses que conquistaram uma vaga na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) tendem a repetir o padrão elitista. O novo quadro de políticos que irá ocupar, a partir de janeiro de 2019, o legislativo estadual mantém um perfil hegemônico que não contempla, de modo geral, as minorias.

 

Dos 54 deputados estaduais do Paraná que passaram a integrar a Alep na legislatura teve início 2014 e se encerra neste ano, nenhum é negro, possui patrimônio inferior a R$ 50 mil e representa a comunidade LGBTI+. Além disso, todos já tiveram acesso ao ensino superior.

 

Tendo em vista que mais da metade (61%) dos deputados estaduais foram reeleitos em 2014, observa-se que o perfil hegemônico já vem de legislaturas anteriores. Se considerado o quadro que irá compor a Alep a partir de janeiro de 2019, o desenho elitista se perpetua, sendo que 55,5% dos deputados eleitos em 2014 conseguiram se reeleger novamente.

 

A composição atual da Alep possui apenas três cadeiras ocupadas por mulheres. Com a eleição de 2018, o número cresceu para quatro: Maria Victoria (PP), reeleita, e assume o cargo Cristina Silvestri (PPS), Mabel Canto (PSC) e Luciana Rafagnin (PT). Neste ano, foi eleito apenas um candidato, Galo (Pode), que se identifica como negro. A comunidade LGBTI+ não conseguiu eleger nenhum representante para a nova composição da Assembleia.

 

Com o resultado das eleições de 2018, cai de três para duas vagas a participação de políticos ponta-grossenses no legislativo estadual a partir do próximo ano. Além de Mabel Canto, que recebeu 35.036 votos, foi reeleito o deputado Plauto Miró Guimarães, com 36.332 votos. Houve redução do número de cadeiras e ainda é possível perceber que não somente os políticos eleitos, mas também todos os demais candidatos com residência fixa em Ponta Grossa se enquadram no perfil elitista.

 

 

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Se considerados os candidatos a deputado estadual na eleição deste ano, temos que cerca de 76% dos 13 se enquadram no perfil hegemônico das últimas eleições, exceto pelo fato de que há três mulheres (aproximadamente 23%).

 

Fator econômico mantém elite no poder

 

Para o professor da rede pública de ensino Rodrigo Guidini Sonni, graduado em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), historicamente no Paraná, o fator econômico mantém, no poder, pessoas que se enquadram no perfil elitista identificado nas últimas eleições para deputado estadual.

 

“Os candidatos com o perfil hegemônico costumam concentrar as arrecadações. Os financiamentos de campanha fazem com que eles se mantenham [no poder]”, critica destacando ainda o conservadorismo da cultura local. “Existe um racismo estrutural e um machismo estrutural que colaboram para a manutenção desse perfil”, reforça.

 

Na perspectiva dos movimentos sociais, o administrador e integrante da comunidade LGBTI+ e do movimento negro de Ponta Grossa, Cleyton Reis, acredita que o município não lança candidatos que representam as minorias na questão de políticas públicas.

 

Reis foi candidato, pela primeira vez em 2018, a deputado federal pelo partido PSol. Com 556 votos, não conseguiu se eleger.  “Desde que cheguei aqui, em Ponta Grossa, em 2014, percebi a falta de condições e de interesses, em especial, nas condições que promovem a política pública, sua acessibilidade e aceitabilidade por parte dos diversos segmentos que atuam na gestão pública”, critica ressaltando que a candidatura visou contribuir para mudar esse cenário.

 

Para Reis, “valorizar e criar ações conjuntas de interação com as camadas de base, ou seja, de regiões periféricas, possibilitam o acesso à democratização frente ao seu valor e garantia de direitos”.

 

Em relação à formação histórica do perfil hegemônico não inclusivo dos candidatos em Ponta Grossa, o professor de História, Cláudio Dias, afirma: “creio que seja a formação social. Temos uma formação europeia, branca e de ethos empresarial liberal e meritocrático. De alguma forma, isso se enraizou em nossa região e se reproduz perante a população”.

 

Segundo Dias, esta formação influencia no perfil representativo dos candidatos da região que não contempla as minorias, ou seja, pessoas negras, indígenas, alijadas da terra e da moradia e LGBTI+. “Fica fácil entender porque só elegemos perfis hegemônicos”, reitera.

 

 

ENTENDA O QUE SO AS MINORIAS SOCIAIS

O papel da população em relação à manutenção do perfil hegemônico em Ponta Grossa não pode ser desconsiderado, segundo Cleyton Reis. “A participação popular acaba sendo fruto dessa falta de boas ações da gestão pública que as impossibilitam de avançar”, ressalta.

 

O fator crucial de mudança do quadro político em Ponta Grossa, de acordo com o militante de movimentos sociais, seria criar mecanismos e incentivar a economia que favoreça as minorias. Para Reis, isso traria resultados financeiros que permitiriam o equilíbrio nas relações sociais.

 

Os dados utilizados para a análise apresentada nesta reportagem sobre o perfil dos candidatos a deputado estadual no Paraná, foram obtidos através do site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) (http://divulgacandcontas.tse.jus.br/divulga/#/).

 

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