De 2007 até junho de 2017, foram notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) 194.217 casos de infecção pelo HIV no Brasil, sendo 40.275 (20,7%) no Sul. O dado coloca a região como segunda colocada no país, ficando atrás apenas do Sudeste, com 96.439 (49,7%). O dado se torna preocupante quando se verifica, a nível nacional, um aumento médio anual de 40 mil casos nos últimos cinco anos.
Em Ponta Grossa, a Secretaria Municipal da Saúde registrou, de janeiro a julho deste ano, que 34 pessoas foram detectadas com o vírus. É quase a metade do total número do ano passado, que chegou a 66 casos. Os dados do município ainda indicam que o número de adultos que desenvolveram a doença, de janeiro até julho deste ano, foram 16. Desde 2010 até julho deste ano, foram detectadas sete crianças com a aids.
A professora e médica infectologista do curso de Medicina da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Paula Toledo, afirma que o aumento do número de casos possivelmente está relacionado a um maior descuido por parte da população. Com tratamentos modernos, muitas pessoas conseguem, atualmente, manter boas condições de saúde mesmo sendo portadoras do HIV, como ressalta a médica. Toledo destaca que, em função dessas melhorias, “as pessoas se tornaram menos cautelosas quanto à sua prevenção”.
Pesquisa realizada pela DKT International, ONG que promove o planejamento familiar e a prevenção do HIV, mostrou que cerca de 47% dos entrevistados, entre 14 e 24 anos, não costumam utilizar preservativos nas relações sexuais. O levantamento ouviu mais de 1.500 pessoas em todo o Brasil e revelou ainda que 74,8% dos participantes nunca fizeram o teste para saber se possuem ou não o vírus do HIV.
Para o professor de História Cláudio Dias, também pesquisador da história das doenças, com foco na aids, contribui para o aumento dos casos da doença a Emenda Constitucional (EC) 95. Aprovada em 2016 pelo Congresso Nacional, a emenda congela, por 20 anos, os gastos nas áreas da saúde e de educação. “É preciso investir em propagandas, em medicamentos e em atenção à saúde. Sem propagandas aumentam os casos, pois as pessoas, sem conhecimento da doença, só criam redes do vírus”, completa Dias para quem o corte de gastos também provoca a falta de medicamentos.
Para o professor, é importante falar do vírus e que, mesmo a doença sendo incurável, ela pode ser controlada, o que para ele não está sendo feito de forma suficiente e adequada. “Sem conhecer os mecanismos causais e os problemas que acarretam, gera o descuido da população. O sujeito não sabe que tem uma doença sexualmente transmissível e não usa preservativo”, ressalta. Dias também alerta para o desconhecimento, por parte da população, de que existe uma medicação específica para a pós-exposição a uma situação de risco. “Tem que ter investimento público para atender essas demandas”, ressalta.
Questionado sobre a evolução do HIV, o professor afirma que após a descoberta da epidemia da doença, nos anos 90, houve um empenho do público com campanhas e tratamentos, que levaram ao controle da aids. O problema, ressalta Dias, é que o resultado positivo da ação levou a uma regressão no comportamento das pessoas.
A médica Paula Toledo alerta para o fato de que isso fez com que os números voltassem a crescer, principalmente entre os jovens e a população idosa. “É fundamental que sejam feitas campanhas e ações públicas reforçando a importância do sexo seguro, não apenas pelo risco do HIV, mas também de várias outras DST’s cuja incidência vem crescendo absurdamente, como é o caso da sífilis”, completa Toledo.
A médica também afirma que outro problema é que a população acaba abandonando o tratamento e, mesmo com a oferta de testes e atendimento psicológico, há quem acabe se negando ao tratamento.
Tratamento em Ponta Grossa
Segundo o Ministério da Saúde, a aids é causada pela infecção do vírus da imunodeficiência humana, o HIV (sigla em inglês). O vírus ataca o sistema imunológico, responsável por defender o organismo de doenças. Ter o HIV não é a mesma coisa que ter aids. Há muitos soropositivos que vivem anos sem apresentar sintomas e sem desenvolver a doença, mas, mesmo assim, eles podem transmitir, quando não tomam as medidas de prevenção. É o caso das relações sexuais sem o uso de preservativos e do compartilhamento de seringas contaminadas. A contaminação também pode ser dar da mãe para o filho, durante a gravidez e a amamentação.
O diagnóstico precoce é um forte aliado. Muitas das pessoas que transmitem o vírus nem sabem que estão doentes. Hoje é possível fazer testes rápidos disponíveis na rede pública de saúde. É fundamental que as pessoas que tiveram relações desprotegidas procurem os serviços de saúde para fazer o teste. “Se há prevenção, a cadeia de transmissão vai sendo quebrada. Para isso, é essencial tomar medidas de proteção individual, como o uso da camisinha masculina ou feminina, que podem ser encontradas gratuitamente nas Unidades Básicas de Saúde”, explica Toledo.
A enfermeira do Serviço de Assistência Especializada - Centro de Testagem e Aconselhamento (SAE/CTA), Claudia Castilhos, explica como é feito o acompanhamento assim que detectada a presença do vírus. “O paciente vem com o resultado da Unidade de Saúde ou é diagnosticado no SAE/CTA. Assim que a pessoa é diagnosticada como soropositivo para HIV, é iniciado o tratamento, aqui, no SAE/CTA”, descreve. Após ter a exposição, é importante procurar o Pronto Socorro até 72 horas para iniciar com a medicação. “A Profilaxia Pós-Exposição (PEP) é ministrada por 28 dias”, destaca a enfermeira. “A maioria desconhece, mas a prevenção chega a 100% se tomada a tempo”, alerta.
Em Ponta Grossa, os testes são feitos, gratuitamente, para a população e estão disponíveis em todas as Unidades de Saúde e no SAE/CTA, com resultados em até 20 minutos. A UEPG também possui testes rápidos para detecção do vírus, com resultados entregue no mesmo prazo. Os ambulatórios dos Campi Uvaranas e Central realizam o serviço para acadêmicos e servidores, bem como a população geral, neste caso, mediante agendamento.