A Secretaria Municipal de Saúde registrou, até setembro, quatro casos de suicídio em Ponta Grossa. Entre eles, de uma criança de 11 anos. A saúde mental infantil é tema pouco abordado na sociedade. Muito se fala sobre saúde mental em adultos, mas deixam de lado a depressão infantil. “Tivemos um caso recentemente na cidade em que uma criança de 11 anos tirou a própria vida. Isso nos faz pensar em que nós, enquanto sociedade, estamos errando com as nossas crianças”, relata o secretário da Saúde, Rodrigo Manjabosco.
Dados da Secretaria Municipal de Saúde apontam, entre 2011 a 2019, cerca de 136 tentativas de suicídio, entre crianças de 10 a 14 anos. O ano com menor incidência de tentativas de suicídio foi 2016, com quatro casos registrados. Enquanto a maior incidência foi registrada em 2018, com 38 casos. Até setembro deste ano, o número de tentativas nessa faixa etária foi de 32 casos.
Entre as causas de depressão infantil, estão os conflitos familiares, ambiente escolar e abusos físicos, verbal ou sexual. “A família, como promotora direta do cuidado da criança, quando é disfuncional, pode desorganizar a saúde emocional de uma criança”, informa a Secretaria de Saúde.
A depressão infantil se manifesta de maneira diferente do que em adultos, pois muitas crianças ainda não sabem externar suas emoções e sentimentos. Porém, há sinais que podem ser percebidos, como a mudança brusca de comportamento, alterações na rotina e em atividades. Fatores como isolamento, irritabilidade, falta de interesse em atividades que antes costumava praticar e insônia devem ser observados com mais atenção pelos pais e a escola.
“É preciso ter atenção com o comportamento da criança e conversar para que se entenda as causas dessa tristeza, para então começar uma abordagem terapêutica com ela”, afirma a psicóloga Adriana Gomes. Segundo a psicóloga, a família é um fator importante para tratar a doença, que pode estar envolvida com distúrbios mentais e transtornos psiquiátricos, como esquizofrenia e distúrbios de personalidade e bipolaridade.
A escola também tem um papel importante na vida da criança, sendo um ambiente de aprendizado e de relações sociais. O bullying sofrido nas escolas pode deixar uma criança deprimida, isolando-se do convívio social, e tornando o ambiente escolar um território hostil. A Secretaria Municipal de Educação relata que as escolas são orientadas a atuar de maneira preventiva em relação ao bullying. “O componente curricular formação humana, por exemplo, serve de espaço para serem trabalhados sentimentos, afetividades, respeito e outros temas que fortalecem o convívio saudável entre os alunos”.
Para tratar a saúde mental da população, os municípios contam com o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). Em Ponta Grossa, há o CAPS exclusivamente voltado à infância e juventude, o CAPS IJ. Localizado na Rua Coronel Dulcídio, no Centro, o CAPS IJ atende 150 pacientes, sendo 17 deles crianças. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) classifica a infância a idade até os 12 anos.
As crianças que chegam ao CAPS IJ apresentam transtornos mentais como esquizofrenia, transtornos afetivos, como bipolaridade, depressão, ansiedade e usos abusivos de substâncias psicoativas. O acompanhamento psicológico dessas crianças é feito sob a perspectiva do processo de reabilitação psicossocial, com terapias em grupos. “Quando não há possibilidade de abordar determinados problemas no coletivo, então é feita sessões individuais com a criança”, informa o setor de Saúde Mental da Secretaria de Saúde do município. Em alguns casos o tratamento também é feito com o auxílio de medicamentos controlados. “O acompanhamento medicamentoso é um dos recursos requeridos em muitos dos projetos terapêuticos”, completa.
Arquivo Portal Periódico
18/09/2017 - Psicanalista acusa despreparo das escolas para tratar de saúde mental
08/10/2019 - Ponta Grossa não exige psicólogos no ambiente escolar para estudantes com ansiedade e depressão
FIcha técnica:
Repórter: Renata Oliveira
Edição: Alunos do 2º ano / Luiza Sampaio
Supervisão: Angela Aguiar, Ben-Hur Demeneck, Fernanda Cavassana, Hebe Gonçalves e Rafael Kondlatsch