A Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2017, publicou um documento com estatísticas dos distúrbios psiquiátricos ao redor do globo. Os transtornos de ansiedade atingem um total de 264 milhões de indivíduos – desses, 18 milhões são brasileiros. Nosso país, aliás, é campeão nos números desse distúrbio, com 9,3% da população afetada. A porcentagem fica bem à frente de outras nações: nas Américas, quem chega mais perto da gente é o Paraguai, com uma taxa de 7,6%. Na Europa, a dianteira fica com a Noruega (7,4%) e a Holanda (6,4%). Essa disfunção engloba várias outras, como ataques de pânico, transtorno obsessivo-compulsivo, fobias e estresse pós-traumático.

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Para o psicólogo Derek Kupski Gomes, os adultos começam a apresentar sintomas de ansiedade porque estão fragmentando sua atenção. Assim como os jovens, pessoas adultas dividem sua atenção para diferentes tarefas, acreditando que isso pode aumentar a produtividade. Apesar da diferença da geração, todos estão consumindo informação em excesso e diminuindo, por exemplo, o tempo de sono. “O sono tem uma relação muito forte com a saúde mental, então, uma hora a menos de sono já piora as suas funções cognitivas, por exemplo, atenção, memória”. esclarece Gomes.

A estudante Fernanda Santos compartilhou suas experiências quanto às crises de ansiedade. A acadêmica relata que, geralmente, as pessoas que convivem com quem tem ansiedade sempre perguntam por que as crises acontecem. Ela explica que essa situação é complicada porque, às vezes, a crise de ansiedade simplesmente ataca e não necessariamente existe algum fato específico que a desencadeie. Para o psicólogo, o que liga todos os casos e transtornos que a ansiedade apresenta é a preocupação excessiva, um medo por coisas que podem nem vir a acontecer. Ele pondera que apenas se fala em transtorno quando há um impacto real e profundo na vida da pessoa. “O transtorno de ansiedade generalizada e de estresse pós-traumático são os mais comuns, a partir disso, a pessoa vai ter dificuldade para dormir, para trabalhar, para ter uma vida acadêmica, uma série de dificuldades. Para que se faça o diagnóstico, precisa estar afetando a vida da pessoa em mais de uma área”, acrescenta Derek.

“A sensação de uma crise de ansiedade é uma coisa tão abstrata, que você não consegue explicar de uma maneira concreta para as pessoas. Às vezes [a crise] começa com uma taquicardia ou com a falta de ar. E parece que você não consegue sair daquela situação, você não vê escapatória no momento da crise, você acha que aquilo não vai melhorar nunca”, aponta Santos. Nos dias atuais, as pessoas têm procurado tratamentos alternativos na internet para a cura de doenças como a ansiedade. Esses tratamentos, por vezes, não contam com diagnósticos realizados profissionalmente, sendo apenas baseados em suposições do próprio paciente. Dentre os tratamentos disponíveis estão acupuntura, yoga, ervas medicinais, nutrição holística, massagem. Dereck afirma que os tratamentos alternativos são apenas um auxílio para o bem-estar do paciente, podem até trazer uma melhora, mas não excluem o tratamento psicológico e psiquiátrico que, por vezes, utilizam medicamentos.

A estudante de psicologia Rúbia Graziela de Paula do Nascimento afirma que os tratamentos alternativos como yoga e pilates não são acessíveis, pois se tratam de técnicas muito caras e nem todo mundo tem dinheiro e conhecimento para aderir a tais métodos. “É muito subjetivo. Tem casos em que a ansiedade tem uma proporção muito grande e precisa se fazer uso de medicamentos sim, mas aliados a exercícios e terapia. Para cada abordagem, tem um exercício e uma visão diferente, como a [abordagem] comportamental, que vai insistir e ensinar o paciente a trabalhar sua respiração”, comenta a acadêmica Nascimento.

Já o psicólogo e professor da UEPG Marcos V. Barszsz explica que as pessoas buscam estratégias alternativas para minimizar os sofrimentos, tendo em vista que se vive num contexto de amplo desejo por prazer e em meio a uma realidade cada vez mais difícil. Segundo Barszsz, há uma percepção brutal de desigualdades, uma certa incerteza. A partir disso, ele esclarece que, de um lado há muitos campos que percebem que há um desejo por minimizar o sofrimento e transformam isso em produto, operacionalizando um tipo de comercialização de vida, de bem-estar. “É preciso tomar cuidado para não incorrermos num charlatanismo, para não incentivarmos o uso de coisas que fazem do sofrimento um produto vendável, transformando-o em mercadoria. Essas práticas cultivam mais uma relação de dependência do que promovem cura”, ressalta Barszsz.

Por outro lado, técnicas como yoga e práticas relacionadas à respiração podem trazer um benefício importante na consciência corporal, num controle maior da frequência cardíaca, constituindo formas de promover um certo de tipo de relaxamento e de bem-estar a partir de uma relação com o corpo. “Essas técnicas podem ser sim, de fato, importantes, contributivas, vindo a somar no sentido de auto percepção corporal. Pode ser significativo para que o indivíduo consiga manejar um episódio de crise de ansiedade exagerada, como um princípio de uma crise de pânico. Ele pode se beneficiar através da respiração controlada e da auto percepção corporal”, pontua Barszsz.

O psicólogo ainda alerta que os tratamentos dependem do que você procura. “O sofrimento é da ordem dos desejos, das culpas, das experiências, dos saberes. Se a gente esperar que o yoga e que práticas semelhantes venham a resolver essas partes subjetivas, acho que aí nós estamos esperando que uma coisa nos dê aquilo que ela não tem a oferecer”, explica.
Segundo Derek, um dos principais problemas ligados ao diagnóstico e ao tratamento para saúde mental é que muitos não são baseados em evidências e não passam por uma validação empírica. “As pessoas oferecem para quem está sofrendo, para quem está mais vulnerável a acreditar no tratamento oferecido, e isso pode piorar o estado do paciente, porque esses tratamentos tendem a não ter nenhum resultado”, previne.

Em Ponta Grossa, o atendimento público para casos de ansiedade acontece nas Unidades Básicas de Saúde - para casos mais leves - e no Centro de Atenção Psicossocial (Caps). O Caps II, que é voltado para casos de transtorno mental grave, atende, em média, 520 pessoas mensalmente. O Caps Infanto Juvenil, para casos de transtornos mentais graves até 18 anos, atende 205 pessoas por mês.

 

Ficha Técnica

Reportagem: Gabriella de Barros e Nadine Bianca Sansana
Edição: Maria Fernanda Laravia
Supervisão: Angela Aguiar, Fernanda Cavassana e Helena Maximo