Os caso de alcoolismo aumentaram segundo especialistas na área da saúde

Segundo pesquisa, o consumo de álcool aumentou na faixa etária entre 30 e 39 anos. | Foto: Agência Brasil

Uma pesquisa realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em abril de 2020 aponta para um aumento em 18% no consumo de bebidas alcoólicas durante a pandemia, sendo que a proporção ficou igual entre homens e mulheres. A pesquisa, que entrevistou 44.000 pessoas, confirm que a faixa etária que mais relatou aumento no consumo de álcool foi entre 30 e 39 anos. Já a pesquisa da OPAS (Organização Pan-Americana de Saúde) revelou que o vinho apresentou maiores índices de consumo, de 21,8% em 2019 para 29,3% durante a pandemia em 2020.


A ABEAD (Associação Brasileira de Estudos de Álcool e Outras Drogas) também confirmou aumento nos casos de alcoolismo, que foi percebido principalmente na prática clínica dos profissionais, conforme disse a vice-presidente da ABEAD, Alessandra Diel. O estudo da Fiocruz revelou ainda que o aumento no consumo alcoólico estava relacionado com a frequência com a qual os entrevistados relataram se sentir tristes ou deprimidos. “Muitos recorrem às bebidas alcoólicas como forma de lidar com a ansiedade, depressão e insônia decorrentes da Pandemia e do confinamento. Vale lembrar que uma parte da população perdeu seu emprego durante a pandemia, ou perdeu parte de seu patrimônio e esses foram fatores que contribuíram para o uso do álcool como um alívio da tensão”, afirma Alessandra.
Um levantamento produzido por pesquisadores do Brasil, Canadá, Estados Unidos e África do Sul, e da Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), em março de 2020, mostrou que não é incomum que haja aumento no consumo de álcool em situações de pandemia. Os pesquisadores utilizaram como base resultados de surtos anteriores, como o da SARS na África do Sul. Tendo em vista esse levantamento, a OMS emitiu em abril uma recomendação a todos os países para que limitassem as vendas e o acesso à álcool durante o período de pandemia. Alguns países que acataram a recomendação, proibiram a venda do produto em postos de gasolina. No Brasil o item continuou a ser distribuído normalmente. Segundo dados da ABEAD a venda de álcool durante a pandemia aumentou em 38% nas distribuidoras e em 27% nos mercados.
Segundo a terapeuta ocupacional do Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (Caps AD) de Ponta Grossa, Nachaly Neves, a demanda no CAPS não aumentou, mas o isolamento pode ter agravado alguns casos de alcoolismo: “Cada caso é único. Para aquele paciente que se sente mais isolado socialmente, o consumo aumentou. Mas, para alguns, não poder sair de casa, limita o acesso ao álcool e às drogas”.
A psicóloga Larissa Diniz que trabalha com acolhidos da Associação Coração de Maria, em Itaporanga (SP) que trata de dependentes químicos e alcoolistas, também relatou um aumento nos casos de alcoolismo, que foi percebido através do crescimento na busca pelo tratamento oferecido pela instituição. Conforme Larissa: “Para lidar com esses fatores ansiogênicos, que a pandemia nos trouxe, é necessário estabelecer uma rotina e ocupar-se de atividades que ajudem a desviar o foco do pensamento”.
Além da iniciativa pessoal na busca por tratamento, a psiquiatra Alessandra Diel lembra também que é necessário frisar a necessidade de políticas públicas e gratuitas voltadas para tratamento do alcoolismo. “São necessárias políticas governamentais que estejam restringindo a facilitação do acesso e o consumo de álcool durante esse período. As bebidas alcoólicas não podem ser encaradas como um produto essencial”.
Em anúncio recente, o governo federal comunicou que deve revogar uma série de portarias que dão suporte à saúde mental no país. Entre as medidas discutidas está a possível extinção dos Caps Álcool e Drogas em todo o Brasil. "Nós ainda não sabemos como isso deve afetar o Caps AD, mas qualquer corte na verba destinada a saúde mental a essa altura seria muito prejudicial", afirmou Nachaly, do Caps AD de Ponta Grossa
Para quem deseja buscar auxílio do Caps AD de ponta grossa, basta se dirigir a sede, não é necessário encaminhamento prévio e os atendimentos não foram suspensos durante a pandemia. O Caps está aberto de segunda à sexta das 08 às 17h.
O grupo “Alcoólicos Anônimos” de Ponta Grossa também continua ativo, durante a Pandemia, com grupos no centro e nos bairros e reuniões diárias a partir das 20h.

 

Pesquisa da Fiocruz e da Organização Pan Americana de Sáude apontam aumento no consumo de álcool em 18% entre brasileiros desde o inicio da pandemia de Covid-19 em abril. Confira na reportagem de Maria Fernanda de Lima. 

 

Ficha técnica:

Repórter: Maria Fernanda de Lima

Vídeo: Maria Fernanda de Lima

Edição: Jessica Allana

Supervisão: Angela Aguiar, Cíntia Xavier, Jeferson Bertolini e Vinicius Biazotti.