Foram registrados 49 casos a menos pela diminuição de testes durante a pandemia 


Infográfico: Kauana Neitzel

A queda no número de novos casos de HIV/AIDS registrados em Ponta Grossa no ano de 2020 preocupa os profissionais da saúde. São 49 registros a menos que a média dos anos anteriores, que é de 125 casos. No ano de 2019 Ponta Grossa tinha uma média de 17 infectados para cada 100 mil habitantes.  Números repassados pela Secretaria Municipal de Saúde, através do Setor de Vigilância Epidemiológica e Controle de Doenças do Município mostraram que, em 2019, foram registrados 108 casos de pessoas infectadas pelo vírus na cidade. Em 2020, foram apenas 76 casos confirmados. Se comparar com a média nacional os números são ainda mais assustadores. Em 2019 foram registrados 41.919 casos de infecção por HIV no Brasil, já no ano passado o número caiu para 13.677. Entre outros fatores, a queda foi decorrente da pandemia do coronavírus no país.

            A tendência, com a falta de incentivo à testagem e a prevenção, é que o número de infectados aumente ou se mantenha na média registrada nos anos anteriores, mas os dados não vão apontar esta constância. Assim como em 2020 a propensão é que o número total de casos notificados se mantenha baixo, justamente pela falta de procura pelo exame. Não é que os casos diminuíram, mas sim que eles ainda não foram identificados, o que facilita o aumento de contaminados.

            “Como 2020 foi um ano atípico por conta do cenário epidemiológico, o número de diagnósticos acabou sendo reduzido no comparativo com os outros anos. Mas se for olhar a linha histórica dos últimos seis anos, eles são dados estáveis. Não temos grande oscilação nem para cima e nem para baixo”, diz o enfermeiro Jean Zuber, coordenador do Serviço de Assistência Especializada (Sae) e Centro de Testagem Aconselhamento (CTA) da Fundação Municipal de Saúde Ponta Grossa.

            O público que tem maior contato com o HIV é essencialmente o público masculino, uma aproximação de quase 70% comparado ao feminino, na faixa etária dos 20 aos 39 anos. Entretanto, o público que mais cresce hoje, ou seja, vem apresentando maior índice, são os jovens a partir dos 20 anos até os 29 anos de idade. 

Campanhas de conscientização e prevenção 

            A queda no número de casos é decorrente de uma falta de incentivo da população para realizar a testagem. Os serviços não pararam durante a pandemia da Covid-19 em Ponta Grossa, “mas as campanhas de testagem não podem ser realizadas por conta do aumento de circulação de pessoas e as possíveis aglomerações”, relata Zuber.

            Em outros anos, eram realizadas mobilização com grandes públicos, em virtude do Covid isso fica impossibilitado, segundo o coordenador do Sea. Mas os testes ainda são realizados nas Unidades Básicas de Saúde e no SAI, o serviço não fechou em nenhum momento desde o início das medidas restritivas. 

            Para o ano de 2021 a Prefeitura de PG não tem nada previsto de ações/campanhas devido ao cenário epidemiológico e as medidas restritivas de circulação. É necessário aguardar a liberação para retomar as campanhas. O que foi realizado é o planejamento de educação em saúde.

            O secretário de Vigilância em Saúde do Governo Federal, Arnaldo Medeiros, ressaltou o esforço do Sistema Único de Saúde (SUS) no tratamento e no diagnóstico da doença e destacou que as ações não param mesmo durante a pandemia da Covid-19. “Garantimos tratamento mesmo em época pandêmica. Não faltou medicação, testes rápidos de HIV ou preservativos. Garantimos a contínua dispensação de medicamentos para o tratamento desse paciente”.

                Até outubro do ano passado, o Ministério da Saúde distribuiu 7,3 milhões de testes rápidos de HIV, 332 milhões de preservativos masculinos e 219 milhões femininos. A única campanha de prevenção ao HIV/Aids lançada foi em dezembro, uma celebração ao Dia Mundial de Luta Contra a Aids. Com o slogan “HIV/Aids. Faça o teste. Se der positivo, inicie o tratamento”, a campanha teve filme para TV, peças de mídia, internet e mídias sociais, cartazes e spot para rádio.  

Entenda o que é HIV e Aids e qual a diferença entre elas

            O HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana) é o vírus causador da aids, que ataca células específicas do sistema imunológico, responsáveis por defender o organismo contra doenças. A transmissão se dá principalmente por via sexual, seja ela anal, vaginal ou oral. Outras formas de transmissão são por meio da transfusão de sangue contaminado e seus derivados; através do uso de drogas injetáveis e compartilhamento de instrumentos que furam ou cortam não esterilizados, canudos e cachimbos; ou por meio da transmissão vertical de mãe para filho.

            Vale destacar que, mesmo assintomático, o portador do HIV pode continuar a transmitir o vírus. Uma pessoa, após ter sido infectada pelo vírus HIV, pode permanecer muitos anos sem desenvolver nenhum sintoma. Nesse caso, dizemos que a pessoa está vivendo com HIV, por isso a importância de realizar o teste.

            Já a Aids (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) é o estágio mais avançado da doença causada pelo vírus HIV. Mais vulnerável, o organismo fica mais sujeito a diversos agravos, as chamadas infecções oportunistas, que vão de um simples resfriado a infecções mais graves como tuberculose ou câncer.

Tratamento para infectados com HIV/Aids

            Uma vez que o paciente diagnosticado com HIV vai passar por alguns exames iniciais, então é receitado para ele os antirretrovirais - são os medicamentos que fazem o controle ou a supressão viral no indivíduo. Esse tratamento persiste por toda a vida do paciente.

            O objetivo é reduzir a multiplicação de vírus no corpo para que fiquem em níveis indetectáveis nos exames. Sabemos que pacientes que estão indetectáveis não transmitem o HIV, este é o objetivo da Secretaria de Saúde de PG, reconhecer todas as pessoas que vivem com o HIV, entrar com o uso do retroviral e fazer a supressão viral.

            As pessoas que não têm o diagnóstico ou aqueles pacientes que por ventura acabam tendo um desfecho menos favorável, são mais suscetíveis a infecções oportunistas e ao óbito. Quem não utiliza o retroviral apresenta níveis muito maiores de mortalidade comparado aqueles que estão em tratamento.

            Hoje o tratamento para o HIV/Aids já inicia com o diagnóstico. Não se tem a necessidade de estar doente de Aids, como era até 2013, para poder fazer o tratamento. Qualquer pessoa que tenha o diagnóstico de infecção pelo HIV é garantido o direito de fazer o tratamento pelo SUS.

Quando fazer o teste

            A orientação para fazer o teste é sempre que houver uma exposição de risco. Entende-se uma exposição de risco como qualquer relação sexual, seja oral, vaginal ou anal, sem uso de preservativo, independente se existe uma relação estável ou não. O Centro de Testagem e Aconselhamento considera que relações estáveis não são garantias para impedir infecção por HIV, assim como pessoas que têm múltiplos parceiros estão propícias à infecção. Então, sempre que houver exposição de risco ou uma dúvida em decorrência dessa, é indicado fazer a testagem rápida. 

O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece testes para diagnóstico do HIV/Aids, e também para triagem da sífilis e das hepatites B e C. Existem, no Brasil, dois tipos de testes: os exames laboratoriais e os testes rápidos. Os testes rápidos são práticos e de fácil execução, podem ser realizados com a coleta de uma gota de sangue ou com fluido oral, e fornecem o resultado em, no máximo, 30 minutos. É muito importante que o diagnóstico seja feito em tempo oportuno. 

Estimativa de vida de infectados com HIV/AIDS

            Se a pessoa é diagnosticada de forma precoce, o chamado ‘diagnóstico oportuno’, logo é iniciado o tratamento com o uso do retroviral (este medicamento age impedindo a multiplicação do vírus no organismo. Eles não matam o HIV, vírus causador da aids, mas ajudam a evitar o enfraquecimento do sistema imunológico). Caso não haja nenhum problema em relação a adesão da pessoa nos serviços de acolhimento, a expectativa de vida é comparável com a de qualquer outra pessoa. 

            Atualmente, precisamos compreender que conviver com o HIV, estar com AIDS, é um agravo crônico como qualquer outra doença. O que pesa é o estigma que foi originado desde a década de 80 até os dias de hoje.

            Agora, se a pessoa não faz o uso do retroviral, a estimativa de vida é muito baixa a partir do término do período de latência. Quando contaminado com o HIV é possível passar assintomático em média de 6 a 8 anos, a partir desse período o sistema imunológico tende a declinar tanto que a pessoa fica suscetível a infecções oportunistas e é quando a expectativa de vida tende a baixar.

Preconceito enfrentado por positivados com HIV/Aids

            De acordo com Jean Zuber, coordenador do Serviço de Assistência Especializada (Sae) e Centro de Testagem Aconselhamento (CTA) como em qualquer outra cidade do Brasil existe o preconceito atrelado, falar sobre sexo ou sobre sexualidade é um tabu. Em grandes centros, essa informação fica um pouco mais diluída, ou seja, a pessoa que é portadora do HIV vai constar em um ambiente mais distante da sua casa. Quando você vai trazendo para territórios pequenos, ou cidades menores como é o caso de Ponta Grossa, onde as pessoas se conhecem, existe o medo de quem tem o diagnóstico positivo para o HIV, justamente pelo estigma.

            Quando a gente não fala sobre sexo acaba alimentando ainda mais o preconceito, essa educação em saúde precisa começar em casa, com os pais, antes dos adolescentes iniciarem a vida sexual. Não podemos incumbir a escola de fazer todo esse papel, porque muitas vezes já é tarde, visto que nós temos adolescentes de 15/16 anos já vivendo com HIV, muitos com Aids. Ponta Grossa tem um cenário bem especial, por ser uma cidade tradicional onde existe uma dificuldade de falar sobre temas aonde estão inclusos o sexo e o HIV.

 

Ficha Técnica:

Repórter: Kauana Neitzel

Publicação: Kauana Neitzel

Supervisão: Textos III, Vinicius Biazotti.