No mesmo período, 13 mulheres no pós-parto morreram vítimas da doença

 

De acordo com dados da Secretaria de Saúde do Paraná (SESA), atualizados em sete de abril de 2021, 34 gestantes e 13 mulheres no puerpério (período pós parto) morreram em decorrência da covid-19 no estado do Paraná desde o início da pandemia. Já na questão desses fatores de risco em casos confirmados e hospitalizados pelo vírus, 313 dos pacientes foram gestantes e 97 mulheres no puerpério. Desde janeiro até o fim de março, o número no estado cresceu de 12 para 34. Entramos em contato com a 3ª Regional de Saúde de Ponta Grossa para esclarecimentos referentes aos dados de mortes de grávidas especificamente na cidade, mas até o momento não houve retorno.

 

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Infográfico:Mirella Mello

 

Gestantes e recém-nascidos fazem parte do grupo de risco da doença em decorrência da imunidade de uma gestante ser menor do que a população em geral. Grávidas são mais propícias a se contaminarem. Além disso, uma vez que a gestante contrai covid ela tem mais chance de que o quadro clínico se agrave, pois a capacidade respiratória é diminuída devido a gestação.

A situação é alarmante no país todo. E, em setembro de 2020, o Brasil somou 75% das mortes de grávidas em todo o mundo. Dados do Ministério da Saúde, apontam que, até novembro de 2020, o Brasil registrou um total de 223 mortes entre 12.104 gestantes que tiveram covid-19.

Médica Ginecologista e Obstetra, Cientista e Pesquisadora de temas relacionados às mulheres, Melania Amorim, integra o Grupo Brasileiro de Estudos da Covid-19 e Gravidez que se formou em março de 2020, trabalho que inclui pesquisadores de vários centros no Brasil, que documentam as mortes de grávidas desde o início da pandemia a partir do acesso ao Sistema de Vigilância Epidemiológica (SIVEP). As informações são de domínio público e inclui todos os casos no país com diversos dados, incluindo sexo e se a pessoa está grávida ou no puerpério. Assim, monitoram mês a mês e analisam os fatores relacionados a essas mortes, suas características e determinantes. ‘‘Em nossos estudos pudemos documentar falhas graves de assistência. Em um estudo publicado em junho já demonstrávamos que 15% das mulheres que morriam não tiveram acesso a suporte de oxigênio, 28% não tiveram acesso a leito de UTI e 35% não foram colocadas em respiradores. Além disso, em outro estudo, demonstramos maior risco de morte em negras e um risco maior de acordo com a distância dos postos de saúde e dos hospitais de referência.’’, revela a médica.

Melania explica que as mulheres morrem de insuficiência respiratória em condições de extremo sofrimento. As comorbidades como obesidade, doença cardiovascular e diabetes aumentam o risco de morte pela covid mas não se deve banalizar e tentar atribuir a morte à comorbidade, pois se não fosse o vírus essas mulheres poderiam viver muitos anos. ‘‘As consequências são catastróficas, as grávidas morrem com seus bebês dentro da barriga, ou os bebês não sobrevivem depois de nascer, ou elas morrem deixando orfãos, que passam a ser cuidados por suas mães ou companheiros.’’, enfatiza. 

Saúde Mental

Uma questão muito importante nesse período de pandemia também é a saúde mental dos brasileiros. Melania revela que o grupo de pesquisadores ainda não realizou nenhum estudo avaliando especificamente a saúde mental das gestantes neste momento, mas a convivência com elas nas redes sociais permitiu identificar que muitas estão enfrentando a gravidez perturbadas pelo medo, uma vez que têm acesso à informação sobre risco maior de complicações e morte materna pela covid. ‘‘Por outro lado, infelizmente também vemos, até entre algumas mais famosas, um certo negacionismo e superexposição, com fotos de viagens, chás de bebê, ensaios gestante e aglomerações que deveriam ser evitadas. Não é por falta de informação, pois essa questão dos perigos de contaminação vem sendo amplamente divulgada e não se pode arriscar tanto em nome de “melhorar a saúde mental”, diz a médica.

O colapso na saúde pública do país atinge todo o Brasil, com leitos lotados. Para a médica algumas coisas podem e devem ser feitas para minimizar esse impacto terrível da covid sobre a mortalidade materna no Brasil. ‘‘Garantir pré-natal de qualidade, afastamento de todas as gestantes do trabalho presencial, uso de máscaras N95 por todas quando precisarem sair, sair somente para o essencial, consultas e exames e desde já insistir no que venho defendendo há meses: gestantes devem fazer parte do grupo prioritário de vacinas no Brasil. Sem distanciamento, sem isolamento e sem vacinas, a mortandade só fará aumentar.’’, conclui.

Os hospitais seguem desde o início da pandemia os protocolos para evitar a contaminação por parte dos profissionais e pacientes, incluindo mulheres e recém-nascidos que precisam frequentar esses lugares.

 Duas mulheres, que tiveram seus bebês durante a pandemia relataram sua experiência. A professora Juliane Scheiffer conta que tinha álcool em gel em seu quarto e que as enfermeiras e médicos a visitavam usando máscaras, luvas e ainda faziam higienização com álcool. No pré-natal, eram de seis a oito gestantes em cada tarde de consulta. A médica fazia a higienização da maca de exames para cada paciente. Caso apresentasse algum sintoma gripal era encaminhado para o atendimento covid. ‘‘O parto foi na Santa Casa de Ponta Grossa, em novembro de 2020. Não pude receber visitas, somente acompanhante durante todo o tempo. O acompanhante podia trocar a cada 12h. Todos tinham que fazer uso da máscara durante todo o tempo.’’, resume a professora. 

Já a estudante Graziele Guerliger, revela ter se sentido apreensiva com a situação. ‘‘O parto foi dia três de novembro do ano passado. Fiquei em um quarto sozinha sem nenhum outro paciente para não correr o risco de eu ou o bebê sermos contaminados pelo vírus. (acredito que essa medida de ficar no quarto sem outro paciente e os acompanhantes só poderem trocar a cada 24h foi uma medida especial devido a pandemia).’’ Ela ainda revela que a diferença do seu primeiro parto para o segundo, foi que o acompanhante e toda equipe tínham que estar de máscara, foi proibido entrada de visitas, os acompanhantes tinham horário certo para poder trocarem e não podiam sair do quarto e Graziele aponta que a higiene do ambiente visivelmente aumentou. ‘‘Também houve uma preocupação da minha parte com minha filha, sabendo do risco que corríamos de nos contaminarmos com o vírus estando no hospital. Bom, quando descobri a minha gravidez foi na mesma semana que começou a se falar sobre a pandemia fiquei um pouco apreensiva, mas no começo pensávamos que o vírus estava longe e não chegaria em nossa cidade. Os dias foram se passando e o vírus estava cada vez mais perto. Nas consultas, usamos máscara e muito álcool em gel. A parte mais difícil era ter que ir no laboratório para realizar exames, o que me deixava com bastante medo’’, conclui Graziele.

Profissionais da Saúde

Além da preocupação das gestantes, os profissionais da saúde também mostram apreensão sobre a situação atual. 

Veridiana Grasseli, médica no Hospital do Trabalhador em Curitiba, conta que é bastante exaustivo ter que se vigiar o tempo todo pensando em se proteger contra uma possível contaminação e principalmente proteger a família e todos que estão ao seu redor . ‘‘Trabalho na área de ginecologia e obstetrícia e o hospital em que atuo, Hospital do Trabalhador, é referência para atendimento de covid, portanto tem sido mais cansativo tanto no sentido de cansaço físico quanto no quesito de cansaço psicológico’’, revela.

Muitas gestantes têm que ter a gestação interrompida pois a gestação em si pode prejudicar a capacidade respiratória. Consequentemente muitas gestantes quando vão para UTI, devido ao estado grave, acabam sendo submetidas a uma cesárea de emergência e muitas vezes os bebês são prematuros extremos e acabam não resistindo. Além dos riscos de contrair covid existe a questão das doenças psiquiátricas devido isolamento e óbito neonatal por conta da prematuridade extrema.

‘‘Além do trabalho diário, é muito cansativo ter que se paramentar toda vez que você vai atender uma gestante suspeita ou entra em um quarto com quatro positivos para o coronavírus. Além disso, no sentido de ser cansativo no quesito psicológico, é muito triste viver a evolução dos pacientes com a doença. Ultimamente houve um grande aumento do número de casos e, além disso, muitos casos graves. Os desfechos em geral têm sido muito tristes.’’

Na maternidade do Hospital do Trabalhador ocorrem cerca de 300 nascimentos por mês. Veridiana realizou em torno de 30/40 nascimentos entre partos normais e cesáreas. Não foram registradas mortes maternas em decorrência da covid no Hospital do Trabalhador. Porém, infelizmente, houveram alguns óbitos de recém-nascidos devido a prematuridade extrema em decorrência da doença. Logo na triagem, quando a gestante dá entrada no hospital, ela é questionada se está com algum sintoma ou se teve contado com alguém que tenha testado positivo para o vírus. Se a resposta for sim, essa gestante é isolada das outras pacientes e mantida em isolamento. Além disso, a maternidade do Hospital do Trabalhador proibiu as visitas durante o internamento e o acompanhante que entra com a gestante fica com ela até o final (não é permitida a troca de acompanhantes para diminuir a circulação de pessoas).

Ainda não existe previsão de quando gestantes e lactantes entrarão para o grupo prioritário da vacinação contra o coronavírus no Brasil.

Entramos em contato com a 3ª Regional de Saúde de Ponta Grossa para esclarecimentos referentes aos dados de mortes de grávidas especificamente na cidade, mas até o momento não houve retorno.

Ficha Técnica: 

Repórter: Mirella Mello

Publicação: Larissa Hofbauer

Supervisão: Vinicius Biazotti