Média de imunização cresceu 108,5% de fevereiro para março, enquanto aumentou somente 27% em abril,  aponta “Vacinômetro” 

 

Ponta Grossa completou três meses de vacinação contra a Covid-19 em abril. De acordo com os dados do “Vacinômetro”, disponível no site da prefeitura, até o último dia do mês foram aplicadas 75.134 vacinas, 65,8% corresponde à primeira dose. A média de imunização teve aumento de 108,5% no mês de março em relação a fevereiro. Também subiu o número de pessoas vacinadas com a primeira dose: 123,4% a mais. Já a segunda dose teve aumento de 57,6% de aplicação entre os dois meses. Entretanto, de março para abril ocorreu uma desaceleração da média de aplicação. O número total cresceu somente 27%. No caso da primeira dose, houve um decréscimo de 26% de doses aplicadas em abril comparado a março. A respeito da segunda dose, o aumento foi de 285% de aplicação.

 Infográfico: Manuela Roque

 

Segundo o gestor em saúde Isaias Cantoia, o ritmo de vacinação em Ponta Grossa está lento. Ele explica que o principal empecilho para o aumento de doses aplicadas no município foi o despreparo do governo federal em relação à elaboração de um plano de imunização contra a Covid-19 para o país. “Em Ponta Grossa nós temos pessoas capacitadas e nós temos estrutura física para vacinação, mas por conta da pressão política, do meio empresarial e da sociedade, o governo federal começou somente agora a se mexer atrás de vacina, coisa que ele deveria ter pensado em julho do ano passado”, afirma. 

Isaias também destaca que não existe uma previsão de reposição das doses. O gestor ressalta que, ao passo que cheguem mais vacinas, o município tem total capacidade de aplicá-las com agilidade. “Ponta Grossa tem mais de 30 salas de vacina. Portanto, a gente teria condições de estar vacinando algo em torno de oito mil pessoas por dia, visto que em um único drive-in de vacinação na cidade foram vacinadas mais de duas mil pessoas.” explica.

Calendário de Vacinação

Outro ponto relembrado pelo gestor em saúde é que o calendário de vacinação dos municípios depende também do Instituto Butantã e da Fiocruz, os dois produtores de vacinas no Brasil. Isaias comenta que, mesmo com uma linha de produção diária, os esforços dos institutos não são suficientes para abastecer os mais de 5.000 municípios brasileiros de forma que a vacinação ocorra mais rapidamente, visto que a Fiocruz depende de insumos vindos de fora do país. Ele cita também a falta de transparência do governo federal a respeito dos contratos com outras fabricantes de vacinas no mundo como outro agravante: “A gente vê todos os dias autoridades nacionais dizendo que já tem contratos firmados com laboratórios que produzem vacinas, mas em sua maioria são contratos que ainda não foram efetivamente realizados”. 

Como divulgado na edição 216 do jornal Foca Livre, Ponta Grossa precisa vacinar cerca de 248 mil habitantes contra a Covid-19. A cidade recebeu 84.041 doses até o momento. Durante os três meses de vacinação, a média de imunização foi de 864 ponta-grossenses por dia. O gestor evidencia que a vacinação é a única saída para desafogar o colapso que se encontra o sistema de saúde da cidade. “Nós estamos vendo diariamente a saturação dos leitos hospitalares, o extremo cansaço dos profissionais de saúde e a falta de insumos. E embora o governo estadual consiga abrir novos leitos e compre mais respiradores, ainda sim não vai ter gente para atender a população.” 

Hospital Universitário Regional (HU)

A situação atual do Hospital Universitário é um exemplo. Segundo Teresinha Pelinski, a equipe de enfermagem que trabalha na ala destinada a pacientes com Covid-19 possui aproximadamente 50 profissionais, e seria necessário mais para atender a demanda diária. “Estamos há um ano sem formar um técnico em enfermagem na cidade, tendo em vista que esses profissionais precisam fazer estágios para sua capacitação e isto está suspenso devido à situação atual da doença”, relata. 

Isaias observa que o momento atual é pior do que o imaginado, devido à internação de uma parcela da mais jovem da população, a qual tem mais resistência física e permanece por um longo tempo no hospital. Além disso, as novas variantes do vírus encontradas no país são transmitidas com mais facilidade e tem um comportamento mais infeccioso no organismo humano. Ele também comenta que, mesmo recuperados da Covid-19, as pessoas que se contaminaram com vírus devem depender cada vez mais dos profissionais da saúde devido às sequelas em seus organismos, visto que a doença afeta a saúde de maneiras que ainda são desconhecidas pela ciência. 

O gestor ressalta que o colapso no sistema de saúde atual é um reflexo da despreocupação da sociedade no final do ano de 2020 e nos meses de férias: “Em janeiro e fevereiro, o pessoal achou que poderia viajar, festejar e se aglomerar, e hoje nós estamos pagando um preço muito caro em termos de vidas perdidas.” Ele frisa que os desentendimentos políticos no Brasil a respeito de como lidar com a pandemia também agravaram a situação da Covid-19 no país. “A gente percebe que tem uma boa parcela de políticos que defendem o isolamento social e a implantação de medidas mais restritivas, mas ainda tem uma outra parcela de líderes, encabeçados pelo próprio presidente da República, que nega tudo que está acontecendo.”

Desinformação

Devido ao perigo do processo de desinformação para a sociedade, Isaias entende que medidas mais drásticas precisam ser adotadas para que a população compreenda a gravidade do vírus. O isolamento social, o lockdown, e as medidas restritivas impostas em decretos são alguns exemplos citados pelo especialista. “O custo econômico se recupera ao longo do tempo. O custo sanitário não. Pessoas que morrem não voltarão”. 

Em janeiro, a prefeitura informou que a expectativa de término da vacinação dos grupos prioritários é até o mês de maio. Contudo, o Plano de Imunização Municipal contra a Covid-19 não esclarece quais são os grupos englobados nesta fase. O restante da população que pode receber a vacina deve levar, no mínimo, oito meses para ser vacinada. Até então, menores de 18 anos não estão sendo considerados nos grupos de vacinação. A reportagem entrou em contato com a Coordenadoria do Programa Municipal de Imunização a respeito de atualizações de datas para os grupos entre 18 e 50 anos no calendário vacinal contra a Covid-19, mas não obteve retorno.

 

Ficha Técnica

Repórter: Manuela Roque

Edição: Larissa Onorio

Publicação: Jessica Allana

Supervisão: Prof NRI I Marcos Zibordi e Rafael Kondlatsch e Textos II Kevin Kossar