Estudo da Fiocruz mostra que, no Brasil, covid prejudicou a atividade de 95% desses profissionais
Ponta Grossa confirmou o primeiro caso de covid-19 há um ano e quatro meses. Desde então, profissionais da saúde trabalham com cargas horárias estendidas e com poucos dias de folga. Rotina intensa, pressão no trabalho, hospitais superlotados e mortes constantes dos pacientes levaram profissionais da saúde à exaustão física e mental.
O enfermeiro Anderson Grzibekucka trabalha no Hospital Universitário Regional de Ponta Grossa e na Santa Casa de Misericórdia. Desde o início da pandemia, atende infectados que desenvolvem a forma grave da doença, internados nos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Anderson sente que as muitas mortes dos pacientes mexeram com seu psicológico.”A gente fica muito abalado com tudo isso. Pensamos cada dia que, a qualquer momento, podemos ser nós em um leito de UTI lutando pela vida”, desabafa.
A recorrente morte pela doença nos hospitais contribui para pensamentos de impotência dos trabalhadores da área da saúde. Anderson relata ainda que as mortes contínuas o deixaram exausto e “mesmo que nós da enfermagem demos o nosso melhor, há momentos em que não é suficiente”.
Mesmo com a vacina como forma de escudo para a doença, o enfermeiro lembra que não podemos estar totalmente livres da doença. “Os sintomas podem ser menores com a vacina, mas não evita pegar novamente. Há casos de pacientes com as duas doses da vacina aplicada ser intubado por causa da doença ter sido grave”, explica.
Morte
Trabalhar com doenças e mortes é algo comum dentro dos hospitais. Mas o avanço da covid-19 agravou o problema.
De acordo com a psicóloga Juliana de Godoy, a exaustão física e mental pode se tornar permanente. “Com a alta exposição dessa categoria de trabalhadores a fatores altamente estressores e aversivos, a longo prazo poderemos ter afastamentos definitivos pelo adoecimento físico ou mental, e até mesmo o abandono da profissão”.
A rotina constante com a morte de pacientes causa a falta de contato com os próprios sentimentos desses trabalhadores. Muitos recusam atendimento à saúde mental. A psicóloga Juliana comenta que o ambiente hospitalar é de constante sofrimento, o que impede de processar a perda dos pacientes. “A morte de um paciente nos faz questionar nossas habilidades profissionais e mexe também com nossos medos mais profundos enquanto seres humanos que somos”, relata a psicóloga.
Fiocruz
O relatório Condições de Trabalho dos Profissionais de Saúde no Contexto da Covid-19 da Fiocruz mostra que 95% desses trabalhadores tiveram modificações no trabalho e na vida pessoal. A saúde mental se torna uma das principais afetadas: 15% relataram dificuldades em dormir e outros 13%, distúrbios em geral.
Entre médicos e enfermeiros, que têm maior contato com pacientes de covid-19, 85% sentiram implicações na saúde mental. Desses profissionais, médicos são os que tiveram maior apoio à saúde mental, com 28% dos entrevistados
O relatório da Fiocruz aponta que 43% dos profissionais da saúde entrevistados sentem insegurança nos locais de trabalho e que 64% improvisam equipamentos para trabalharem.
Ficha técnica
Reportagem: Leonardo Duarte
Edição e Revisão: Malu Bueno
Publicação: Rafael Piotto
Supervisão: Jeferson Bertolini, Marcos Zibordi, Maurício Liesen