Na pandemia, doenças cardiovasculares matam 40 pessoas por dia em Ponta Grossa

Em 2020 foram 455 mortes; em 2021, até o início de agosto, 310

 

 

Em Ponta Grossa, segundo a Fundação Municipal de Saúde, 455 pessoas morreram por problemas do coração em 2020. Até o início de agosto de 2021 foram 310. Em 2019, último ano com dados fechados pelo Ministério da Saúde, 343,1 mil pessoas morreram no Brasil por problemas cardiovasculares.

As doenças do coração são a principal causa de morte no Brasil, segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). São mais de 1,1 mil mortes por dia, ou 46 por hora. De acordo com a SBC, doenças cardiovasculares causam o dobro das mortes provocadas por todos os tipos de câncer juntos, o triplo das doenças respiratórias e 6,5 vezes mais que todas as infecções, incluindo a AIDS.

O cardiologista e professor Miguel Morita da Silva, diretor-científico da Sociedade Paranaense de Cardiologia, diz que as doenças do coração também são a principal causa de anos perdidos de vida com qualidade.

Ele acrescenta que as doenças cardiovasculares e cerebrovasculares são as de maior incidência na população geral. Até os 60 anos de idade, as que mais causam morte são o infarto e a doença coronariana, que afeta o fluxo sanguíneo nas artérias coronárias. Nos maiores de 60, as doenças cerebrovasculares, como os acidentes vasculares cerebrais, são as que mais matam.

Morita acredita que, durante a pandemia de covid-19, houve uma menor preocupação com as doenças cardiovasculares. Entretanto, elas não só continuaram gerando número elevado de mortes, como afetaram pacientes infectados pelo novo coronavírus. Isso porque aumentam o risco de morte e deixam o tratamento de pacientes com doenças crônicas mais complexo. 

Segundo Morita, pessoas que tiveram problemas cardíacos como infarto e insuficiência cardíaca e que buscaram internação tiveram o risco de morte aumentado em duas a três vezes. Os motivos, diz ele, são a mudança do sistema de atendimento, que acabou focando totalmente em casos de covid-19 e deslocou funcionários que deveriam atender os pacientes com problemas cardíacos para áreas de tratamento de covid; a queda dos cuidados crônicos, com a redução dos atendimentos ambulatoriais; e o receio em buscar tratamento e acabar se expondo ao risco de contrair o novo coronavírus. 

De modo geral, o médico acredita que muitas pessoas estavam com medo de ir ao hospital por causa da covid e acabavam descobrindo tarde demais problemas no coração. “Com a pandemia, a gente tinha de pesar muito. Não só o paciente estava com medo. Esse receio era geral porque existia o risco real de pegar covid-19 no hospital”, completa.

Em Ponta Grossa, pacientes também deixaram de tratar os males do coração na pandemia. Na Santa Casa, por exemplo, no início de 2020 houve redução no tratamento de casos de infarto e de derrames cerebrais, diz o cardiologista Leandro Zardo. A situação voltou ao normal no início de 2021.

 

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Hospital Santa Casa | Foto: Roseli Stepurski Arquivo Lente Quente

OMS

Pesquisa da Organização Mundial de Saúde (OMS) de abril de 2021 aponta que 71% das mortes pelo mundo anualmente são em decorrência de doenças crônicas, também conhecidas como doenças não transmissíveis. Diabetes, problemas do aparelho cardiovascular e respiratório são as complicações mais comuns.

Segundo o estudo, as doenças não transmissíveis matam 41 milhões de pessoas a cada ano, o equivalente a 71% das mortes globais. Dentro desse grupo de doenças, os problemas cardiovasculares são responsáveis pela maioria das mortes, com 17,9 milhões de óbitos anualmente, seguidos pelo câncer, 9,3 milhões, doenças respiratórias, 4,1 milhão, e diabetes, 1,5 milhão.

 

Ficha técnica

Reportagem: João Gabriel Vieira

Edição: Malu Bueno

Publicação: Malu Bueno

Supervisão: Profs. Jeferson Bertolini, Marcos Zibordi e Maurício Liesen

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