Reportagem acompanha jovem ponta-grossense tentando usar a ferramenta
É madrugada e um jovem ponta-grossense acompanhado pela reportagem não consegue dormir preocupado em tomar a vacina contra a Covid-19. Às 7h30, ele tenta atualizar o cadastro do cartão SUS, que permite utilizar o aplicativo da vacinação - o Vacina PG - lançado pela prefeitura de Ponta Grossa com ampla divulgação. Feita a atualização, tentou usar o aplicativo, porém fica irado com a mensagem “Cartão Nacional de Saúde Inválido”. Sua preocupação é a chegada de algum lote de vacinas que permita sua convocação.
O jovem então caminha por vinte minutos até a UBS Júlio Azevedo, que está lotada de pessoas com o mesmo problema: não conseguem se cadastrar no aplicativo Vacina PG. Às 8h45 ele percebe que a manhã não será tranquila, pois a funcionária avisa que apenas uma servidora está atualizando o cartão SUS, motivo da demora. O jovem recebe a senha número 25. Na porta, o aviso indica 30 senhas disponíveis pela manhã, igual número à tarde. Muitas pessoas desistem, outras decidem esperar até depois do almoço.
Ele observa a expressão de sono, raiva e frustração no rosto das pessoas. O aplicativo, ao invés de evitar aglomerações, facilitando o agendamento, exige atualização presencial do Cartão SUS nas unidades básicas de saúde. No mesmo dia, Ponta Grossa atinge 48.299 casos de Covid-19 e ultrapassa 1.200 mortes.
O jovem escuta duas moças conversando Elas relatam que é o segundo dia consecutivo de tentativa de atualizar o Cartão SUS. Uma delas comenta que procurou outra unidade antes, também lotada.
A fila avança aos poucos. Às 11h00, a senha do jovem é chamada. Pedem documentos de identificação e comprovante de residência, que ele levou por acaso. Depois de alguns minutos, informaram que a atualização está feita, seu nome estaria no sistema da prefeitura. Porém, alertam que ele deve esperar por duas horas para tentar o cadastro no aplicativo.
O jovem volta para casa e prepara o almoço. Duas horas depois, tenta se cadastrar no Vacina PG. Aparentemente, dá certo. Porém, ele nunca recebeu aviso para realizar o agendamento, nem por e-mail, nem pelo aplicativo. Por isso, teve que agendar a vacinação da forma como a população de Ponta Grossa vinha fazendo, pelo site da prefeitura.
Após três meses, o aplicativo não serve para o que foi proposto. Procurado para esclarecimentos, o secretário municipal da Saúde de Ponta Grossa, Rodrigo Manjabosco, informa que o Vacina PG está em fase de melhoria. O secretário menciona o acúmulo de pessoas e um conflito em relação ao cadastramento pelo aplicativo.
Criação do Vacina PG
Desenvolvido pelo curso de Ciências da Computação da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), campus de Ponta Grossa, em parceria com o Supermercado Condor, o aplicativo prometia agilizar o agendamento das vacinas contra a covid-19 no município, na faixa etária dos 18 a 35 anos.
Segundo a professora do curso de Ciência da Computação da UTFPR e coordenadora do desenvolvimento do Vacina PG, Mauren Louise Sguario, o aplicativo poderia ser feito de diferentes maneiras, acessando diversos bancos de dados, o que evitaria problemas. Porém, “a Fundação de Saúde optou por usar o banco de dados próprio, que tinha algumas inconsistências, além do público não usuário de posto de saúde não constar no sistema usado, o que acabou gerando os problemas”.
Para Sguario, faltou informar melhor a população sobre o aplicativo. “Se fosse feito um chamamento por idade, não teria ocorrido a procura pelos postos de saúde ao mesmo tempo”.
Ficha técnica
Reportagem: Alexsander Marques
Supervisão de produção de texto: Marcos Zibordi
Supervisão da disciplina de NRI III: Marcelo Bronosky e Muriel Amaral