Passageiros que dependem do transporte público em Ponta Grossa gastam, em média, 4 horas locomovendo-se com o ônibus durante um dia inteiro, contabilizando ida e volta, segundo dados do aplicativo Moovit de Transporte Público. Outros dados do app estimam que pelo menos 63% dos passageiros trocam de ônibus, ao menos, uma vez e, em média, 25% das pessoas fazem mais de duas trocas em um único trajeto. 

Foto: Arquivo Periódico

 

A Viação Campos Gerais estima que possui cerca de 85 mil usuários que utilizam o transporte coletivo na cidade. Para esse total, o transporte público garante a locomoção para o trabalho, escola, universidade, uma consulta no médico etc, mas, muitos passageiros, além de esperar por um longo tempo para pegar um ônibus, também enfrentam superlotação, assaltos, e situações de risco.
A moradora do bairro Bonsucesso, Zélia de Souza, que já foi assaltada três vezes fazendo o mesmo trajeto de ônibus, trabalha em uma cozinha industrial no Jardim Paraíso e utiliza quatro ônibus para ir até o trabalho e, mais 4, para voltar. Até chegar ao trabalho, Zélia leva uma hora e vinte minutos. Quando perde o coletivo, leva duas horas. Para voltar para casa, o tempo aumenta, para duas horas e trinta minutos.
“A gente chega no Terminal Uvaranas e não tem condição de pegar o ônibus que vem direto para o Terminal Central. Você espera um ou dois ônibus para poder entrar. Aí você chega no Terminal Central para pegar o ônibus do Nova Rússia e está sempre lotado e, quando chega, no outro terminal perde o Bonsucesso, leva mais quarenta minutos esperando. Então, saio do trabalho às cinco e meia e chego em casa às oito horas da noite”, conta.
De acordo com os horários disponibilizados pela Viação Campos Gerais (VCG), o ônibus do bairro Bonsucesso leva, em média, 40 minutos de viagem do bairro para o Terminal Nova Rússia.
Leomair Ferraz, também cozinheira, moradora do bairro Nossa Senhora das Graças, utiliza dois ônibus para chegar até o trabalho em um hotel da cidade no bairro de Oficinas, levando mais de uma hora e meia até o local. “Para chegar no meu horário, 7 horas da manhã, preciso sair de casa ainda à noite, às 5h30. E quando está chovendo é pior ainda, porque o ponto não tem cobertura e o ônibus, geralmente, atrasa”, desabafa.
Geny Wolski, também moradora do bairro Bonsucesso, utiliza o transporte público para trabalhar como diarista na Vila Guaíra, em Oficinas. Sai às sete da manhã, pega três ônibus para o trabalho e leva, em média, uma hora e meia para chegar até o destino. A diarista comenta que nos horários de pico o tempo de espera é ainda maior. “O tempo de espera em pontos de ônibus é muito grande, no terminal também. Do Terminal Nova Rússia para o Terminal Central demora por causa das ruas muito movimentadas e muitos semáforos. Quando você se atrasa com um ônibus você também acaba perdendo o outro que pegaria no terminal”, explica.
De acordo com o aplicativo Moovit, nos terminais e pontos de ônibus da cidade, os passageiros esperam em média 21 minutos para pegar o ônibus, mas 61% desses passageiros esperam mais de 21 minutos. No caso de Geny, a espera é de 40 minutos quando perde o ônibus para o bairro. “Devia ter mais ônibus nos bairros, com horários que as pessoas não fiquem esperando tanto tempo. Nos terminais também não tem muitos bancos para as pessoas sentarem. Pelo valor da passagem, falta comodidade para as pessoas”. Ela também comenta que uma via única para o ônibus poderia diminuir o tempo do trajeto.

O Instituto de Planejamento Urbano (Iplan) da cidade, diz que não há uma proposta de construção de uma canaleta exclusiva para o transporte coletivo. “A proposta do Plano seriam canaletas de prioridade para o ônibus. E nessas canaletas trafegaria o transporte coletivo [junto com outros veículos de transporte]. Não seria exclusiva mas, sim, uma prioridade”, diz a Arquiteta e Urbanista do Iplan, Karla Gonzalez Stamoulis.
Para os estudantes que dependem do transporte coletivo, o tempo que gastam andando de ônibus também prejudica a rotina. A universitária Emely Sloniak, que mora no bairro Itapoá, sai de casa uma hora antes para chegar à Universidade. A estudante desabafa que a volta para casa é o maior problema: “Para ir embora é mais complicado, porque o último ônibus é às dez e meia [da noite] e se eu perder o direto do Terminal Uvaranas para o Terminal Nova Rússia, eu tenho que pedir para alguém me buscar”, relata.
Para Maria Fernanda Rodrigues Soares, também estudante universitária que mora no bairro Boreal, o problema ocorre quando ela perde o ônibus do bairro, correndo o risco de chegar atrasada por conta da espera do próximo ônibus. Quando isso acontece ela se locomove até outro bairro para pegar o ônibus ou gasta mais dinheiro com o aplicativo Uber. Para ela, é necessário que passe mais ônibus no bairro, assim diminuiria o tempo de espera.

Autarquia Municipal de Trânsito diz que os eventuais atrasos do Transporte Público têm múltiplas causas

Em relação a rotina sofrida dos passageiros que utilizam o transporte público, a cidade disponibiliza 195 veículos, embora nos horários entrepico 40% dos ônibus são retirados deixando a população com 60% da frota. Esses dados são da Viação Campos Gerais. A assessoria da Autarquia Municipal de Trânsito e Transporte (AMTT) diz que não tem como dimensionar quantos ônibus passam em cada bairro da cidade, mas afirma que todos os bairros da área urbana da cidade são atendidos pelo sistema de transporte coletivo e que algumas linhas de ônibus podem cruzar outras regiões. O órgão contabiliza que existem 10 linhas com a nomenclatura “Via” que são linhas de ônibus que atendem outros bairros. Para os horários de pico todos os 195 ônibus são disponibilizados.

Sobre um bairro receber mais ônibus para o atendimento da população, a AMTT leva em consideração diversos aspectos de cada região e também a disponibilidade de linhas alternativas e o impacto na planilha de custos da tarifa: “Nos casos em que a população tenha demandas em relação a determinadas linhas, é importante a formalização dos pedidos através dos canais de atendimento da AMTT e da Prefeitura. Com base nas solicitações, a AMTT desenvolve os estudos para verificar a viabilidade de alterações e, em caso afirmativo, proceder com as adequações”.

Ainda sobre a implantação de mais ônibus nos bairros mais afastados da cidade, a Autarquia ressalta a construção de um novo terminal de ônibus no bairro Santa Paula que: “Contribui para uma melhor distribuição do serviço e atendimento da demanda sem, necessariamente, a necessidade de ampliação da frota”, completa.

Em relação a sobrecarga do transporte público na cidade, a AMTT declara que, “Por se tratar de um transporte que compartilha vias com outros veículos, os ônibus podem sofrer atrasos por morosidade no trânsito, acidentes, problemas mecânicos, horários de pico, entre outras tantas possibilidades”.
No entanto, enquanto a construção do novo terminal não fica pronta os passageiros integram-se a rotina de longos horários dentro do ônibus e superlotação. A apuração realizada pelo Portal Periódico identificou que o tempo de espera dos passageiros é maior do que o contabilizado pelo aplicativo Moovit, como relata as fontes entrevistadas.

Arquivo Periódico
20/09/19 - Reajuste da tarifa de ônibus prejudica passageiros de Ponta Grossa
18/06/19 - Serviço precário em linhas de ônibus dificulta locomoção de universitários
18/05/19 - Diminuição de circulação de ônibus prejudica moradores do Cará-Cará

 

Ficha Técnica

Reportagem: Bruna Kosmenko e Rafael Santos
Edição: Francielle Ampolini e Milena Oliveira
Foto: Arquivo Periódico
Supervisão: Professoras Angela Aguiar, Fernanda Cavassana e Helena Maximo