Aumento da mensalidade para sócios pode diminuir torcida do Operário

Setor prata passou de R$ 55 para R$ 100 reais; outros setores aumentaram R$ 10

Resumo

  • Reportagem mostra reajuste excessivo no valor da categoria prata do Operário, com aumento de 80%;
  • Torcedores não consideram justo o aumento por conta da crise financeira que a pandemia causou;
  • Presidente do time diz estudar proposta para quem perdeu emprego na pandemia.

 

O avanço da vacinação em Ponta Grossa possibilitou a flexibilização de algumas medidas de restrição, como a volta da torcida aos estádios. Porém, pelo menos para parte dos torcedores do Operário, a volta ao Germano Krueger tem sido indigesta: eles estão tendo de encarar o aumento no valor dos sócios torcedores, que aconteceu no começo deste ano.
O reajuste seria aplicado apenas para os torcedores que não renovassem o contrato - mas, com a pandemia, a maioria dos sócios não renovou. Além de não usufruir dos benefícios que a filiação proporciona, isto também ocorreu por falta de condições financeiras.
As mudanças de valor aconteceram nas três categorias do estádio: prata, ouro e diamante. Contudo, o que mais causa dúvidas entre os torcedores é que o maior aumento foi para o sócio prata, que é a categoria que reúne mais pessoas. O aumento foi de mais de 80%, passando de R$55 para R$100; enquanto na área ouro e diamante (a mais luxuosa), o aumento não passou de R$10.
O torcedor Marcos Otávio, 47, manifesta injustiça, visto que os setores não oferecem a mesma qualidade. “O prata não tem nem cadeira, a gente se senta no cimentado e agora está quase o preço dos que oferecem assentos ou até cobertura. Isso é um absurdo, sabemos que é uma classe que tem menos condições financeiras. O correto seria acréscimo justo, visando as pessoas que frequentam cada área, ou então que fosse igual para todos os setores”.
Alguns torcedores lamentam não poder voltar à arquibancada. O operador de produção Eduardo Rodrigues, 39, conta que a pandemia o impediu de manter o título de sócio em dia. “Tive suspensão no contrato de trabalho, não tinha como pagar e atrasou. Agora para eu voltar, teria de entrar no valor reajustado, ou seja, infelizmente, sem chances para mim”. Edson Luis, 40, pagava duas carteirinhas: “Se uma só já fica difícil de pagar, imagine duas? Desde piá indo ao GK e agora não poderei mais ir”, lamenta.

Pauta Tay Foto Tayna Lyra

Foto: Tayna Lyra

Desistências


Sabendo da grande quantidade de desistências, o administrador da página Imortal Operário, Igor Mansini, se preocupa com a diminuição da capacidade dentro do estádio e acredita que a decisão deve ser revista. “O Operário precisa do público. A força da torcida sempre foi um dos nossos diferenciais. É um time de todos. É a hora de ceder para voltar aos 10 mil torcedores no estádio”.
São comuns as histórias que passam de pais para filhos nas arquibancadas, mas, devido aos reajustes, a tradição pode perder a continuidade. É o caso de Cleiton Farias, 31, que começou a acompanhar o pai nos jogos. “Não renovei no período de isolamento e agora com R$100, eu e meu filho, não consigo pagar os dois, vai me faltar em outras coisas dentro de casa. Me dói não poder fazer isso por ele, como meu pai fez comigo”, diz.
Rogério Gravieski, 47, motorista rodoviário, questiona o porquê da diretoria ter exigido que os torcedores continuassem pagando, sendo que as atividades estavam paralisadas. “O que você não usou, não há lei que te faça pagar. Não lembro quando assinei contrato que estava escrito que seria vitalício, eu tenho o direito de deixar de pagar se não estou usufruindo”.

 

O Operário


O presidente do Operário Ferroviário, Álvaro Góes, 60, diz estar ciente das reclamações da torcida que dispõe da área prata do estádio. “O que posso fazer é estudar uma proposta para aqueles que foram mandados embora ou tiveram suspensão no contrato de trabalho e acabaram ficando sem pagar o valor do sócio na pandemia, desde que isso conste na carteira de trabalho”.
Álvaro sugere uma bonificação ou redução de valor para estes trabalhadores, mas questiona os demais torcedores. “O que eles precisam entender é que as contas do OFEC não param, elas continuam dia a dia. Eu gostaria que todos entendessem que as despesas do time não pararam durante a pandemia. São mais de 4 milhões de prejuízo com os desfalques dos torcedores. Quem paga isso?”.
Vendo o lado da diretoria, Diego Arruda, 32, técnico rodoviário, afirma que suas mensalidades estão em dia e que quanto mais pessoas fizerem um esforço, mais o Operário cresce. “Não quer ser sócio? Então paga ingresso a 150 reais, até porque o OFEC não é público, é particular. Nós temos que ajudar no que podemos, só seremos fortes se todos fizerem o seu máximo para ajudar”. Diego acredita que a culpa dos reajustes foi por falta de compromisso dos demais sócios. “O Operário tinha 9 mil sócios, muitos ficaram desempregados, mas a maioria não pagou só porque não tinha jogo. Se isso não tivesse acontecido, nossas contas estariam em dia e com certeza a diretoria iria aliviar os reajustes”, afirma.
Bruno Schnerzoski, 45, mecânico, opina que torcedor que não apoia financeiramente, não pode cobrar no dia do jogo. “Nós temos que fazer a nossa parte, porque daí não adianta chegar no dia do jogo, ficar ‘cornetando’ e cobrando, mas não ajudar com um centavo. Querem elenco, subir de divisão, G4, queremos e queremos, porém se não ajudam com nada, fica incoerente querer cobrar”, critica.

 

Ficha Técnica
Repórter: Tayna Lyra
Edição: Ana Paula Almeida e Larissa Onorio
Publicação: Larissa Onorio
Supervisão de Produção: Jeferson Bertolini
Supervisão de Publicação: Marcos Zibordi e Maurício Liesen