Pandemia causa evasão de diabéticos em consultórios do Paraná

Redução chegou a 30%, segundo Sociedade de Endocrinologia

 

A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia do Paraná constatou que, desde o início da pandemia, o número de consultas entre os endocrinologistas caiu 30%. Os médicos também afirmam que 44% deles já tiveram ao menos um paciente que morreu em decorrência do coronavírus. A pesquisa também revelou que 90% dos pacientes ficaram mais sedentários e, destes, 82% aumentaram de peso.

Em Ponta Grossa também houve redução. “A gente viu que muitos dos nossos pacientes adiaram suas consultas por conta do isolamento e das dinâmicas de home office. Isso ocorreu principalmente no primeiro ano, poucos imaginavam que a pandemia iria durar por tanto tempo”, afirma o endocrinologista Alexandre Acuña.

Acuña lista outros agravantes para a situação sedentária. “Eles ficaram mais parados e diminuíram as atividades físicas. Também houve abusos alimentares, de bebidas alcoólicas, doces, fast foods. Isso os fez engordar mais, ficaram mais ansiosos, estressados, nervosos  e isso com certeza prejudicou o controle do diabetes”, completa.

Quanto aos diabéticos, o endocrinologista afirma que a pior fase passou. Ele diz ter notado que os pacientes que não haviam se consultado durante o ano de 2020, voltaram a perceber a necessidade de se tratar e atingir novamente o equilíbrio de insulina que foi afetado pelas restrições da pandemia e do medo de sair de casa.

Para o médico, quem ainda não retomou à rotina de cuidados com a diabetes não pode mais esperar a situação voltar a ser exatamente como era antes da pandemia para buscar ajuda. “Eu continuo falando para os pacientes de que o momento é o de voltar a se cuidar, fazer dieta e atividades físicas. Dentro dos cuidados necessários para evitar contágio, logicamente. Mas o imprescindível é voltar à vida ativa para tentar diminuir o malefício que a pandemia trouxe”.

 

Foto: Arquivo Periódico. 

 

Paciente

Mesmo mantendo consultas e medicações regulares e prezando pelo isolamento social, a aposentada Silvana Rodrigues, de 60 anos, que convive com o tipo um da diabetes há cinco anos, acabou sendo infectada pela covid-19. Na época de sua infecção, em maio, ela havia tomado a primeira dose da vacina.

Silvana conta que os efeitos do coronavírus surgiram rápido devido à sua situação de comorbidade e exigiram uma ida ao médico, o que acabou sendo ainda mais desgastante para o seu organismo. “Em três dias meu fôlego e respiração foram ficando cada vez mais curtos. No dia que fui fazer a consulta, eu e meu filho ficamos das 15h até as 22h da noite no hospital aguardando para fazer todos os exames necessários”, relembra.

Durante a espera, ela presenciou o intenso trabalho do médico, transitando entre as alas do hospital para atender diversos pacientes. “Eu senti uma fraqueza muito grande enquanto esperava, sem poder me mexer direito por causa do soro em meu braço. Foi uma experiência difícil. Na saída do hospital, eu estava tremendo e desorientada”.

A aposentada também conta que, mesmo ficando em repouso e isolada, a medicação demorou quatro dias para fazer efeito no organismo. “A situação continuou difícil. Fiquei de cama sentindo minha respiração cada vez mais limitada e com medo de ter de voltar ao hospital e refazer a bateria desgastante de exames.”

Foi inevitável temer pela própria vida. “O tempo todo temi precisar ser entubada ou, pior, vir a falecer.  Felizmente, no sábado seguinte à consulta houve os primeiros sinais de melhora”. 

 

Números

O Brasil ocupa o 4º lugar no ranking de países com o maior número de casos de diabetes, ficando atrás apenas da China, Índia e Estados Unidos. Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), dos 12 milhões de brasileiros que sofrem com a doença, estima-se que 7% seja dependente de insulina; 41% faça uso de medicamentos; 29% apenas cuide da saúde por meio de dieta e que 23% não faça nenhum tipo de tratamento

A Federação Internacional de Diabetes (IDF) estipulou que, até 2045 , haverá um aumento de 62% de casos na América Latina. A marca deve alcançar o patamar de 42 milhões de pessoas acometidas pela diabetes. 

 

Ficha Técnica

Repórter: Yuri A.F. Marcinik

Edição e Publicação do Texto: Manuela Roque 

Supervisão: Jeferson Bertolini, Marcos Zibordi, Maurício Liesen

Adicionar comentário

Registre-se no site, para que seus comentários sejam publicados imediatamente. Sem o registro, seus comentários precisarão ser aprovados pela administração do Periódico.