Mortes por gripe no Paraná aumentam em dobro com relação a 2018


Em Ponta Grossa, foram registrados quatro casos do vírus Influenza
    Paraná já registra o dobro de casos de óbitos pelo vírus da gripe em comparação ao ano passado. Segundo Boletim publicado pela Secretaria Estadual de Saúde, somente nos primeiros cinco meses deste ano, foram registradas 51 mortes em todo Estado. O número é considerado o dobro dos casos registrados no mesmo período no ano passado, quando foram registradas 24 mortes.
    Em Ponta Grossa, os números também preocupam a saúde pública. Segundo a Prefeitura Municipal, na cidade já foram registrados quatro casos do vírus Influenza, em menos duas semanas. Dentre os infectados, estão uma criança de seis anos e uma mulher em gestação.
    A campanha da vacinação de Ponta Grossa seguiu, até o último dia 31, com trabalho nos postos de saúde, ônibus da vacina e no Parque Ambiental. Segundo a Fundação Municipal de Saúde (FMS), foram vacinadas cerca de 72 mil pessoas, sendo este número equivalente a 78% do público geral.  De acordo com a FMS, 20 mil pessoas não foram vacinadas. A presidente da FMS, Angela Pompeu, considera baixo o índice de imunização na cidade. “Estamos com baixa porcentagem de vacinação. As pessoas não estão se imunizando mesmo com os serviços trabalhando em horário estendido e com abertura de salas nos finais de semana”.
    O número de casos do vírus Influenza (H1N1) no Paraná foi de um total de 212 registros. Mesmo em meio a campanhas de vacinação, o Estado apresenta números maiores da doença. O médico do Serviço de Atendimento Especializado (SAE) de Epidemiologia de Ponta Grossa, Rangel Olsen de Carvalho, relata que as mutações anuais que o vírus apresenta é um fator preocupante. “Os surtos de influenza estão relacionados a mutações anuais. Por isso, a necessidade de reformulações na vacina. Porém, quando tais mutações são mais profundas, podem fazer com que as vacinas não funcionem, motivo das pandemias devastadoras do passado”. Olsen aponta que o Influenza tem poder de transmissão alto. Em grupos com imunização menor, como idosos e crianças, a doença pode ser fatal. 
     Segundo a coordenadora do curso de Enfermagem da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), professora Jacy Aurelia Vieira de Souza, a chegada do inverno é um fator considerável no aumento dos casos do vírus. “Por ser provocada por um vírus de comportamento sazonal, há uma predileção maior por períodos mais frios do ano, com aumento do número de casos devido a maior circulação do microrganismo”. Souza ressalta que a diminuição da umidade do ar, ambientes com pouca circulação e queda bruscas de temperatura contribuem para a contaminação da doença. A coordenadora reforça que crianças e idosos são de maior preocupação no controle da doença, pois possuem maior risco de complicações por infecções secundárias.

Público-alvo engloba crianças, idosos, professores, gestantes e membros das Forças Armadas
O público-alvo da campanha de vacinação engloba crianças maiores de seis meses de vida e menores de seis anos; pessoas acima dos 60 anos de idade; trabalhadores da área da saúde; mulheres gestantes e no período pós-parto; membros ativos das forças armadas; policiais civis; policiais militares, bombeiros e professores da rede pública ou privada, com declaração da instituição de ensino, de modelo em formato PDF para preenchimento disponível no site da Fundação Municipal da Saúde. O Ministério da Saúde e a 3º Regional de Saúde ainda não sinalizaram sobre uma possível prorrogação da campanha, que vacinou num total de 72 mil pessoas em Ponta Grossa.
Ficha Técnica: 
Reportagem: Germano Busato 
Edição: Bruna Kosmenko
Supervisão: Angela Aguiar, Ben-Hur Demeneck, Fernanda Cavassana, Hebe Gonçalves e Renata Caleffi

UBSs apresentam falta de vacinação

Nem todas as Unidades Básicas de Saúde de Ponta Grossa contam com a vacinação contra a gripe. Em determinadas situações, os pacientes precisam se deslocar alguns quilômetros até chegar à Unidade mais próxima que disponibilize a vacina. A reportagem completa você confere no áudio a seguir

Programa de Saúde Bucal diminui 57% de abrangência em Ponta Grossa desde 2009

 

O Programa Brasil Sorridente é um programa de saúde bucal criado em 2004 pelo Governo Federal. Segundo dados da Sala de Apoio à Gestão Estratégica do Ministério da Saúde, de 2009 (maior número de pessoas atendidas) até 2017 (menor número de pessoas atendidas), houve uma diminuição de 56,67% nos atendimentos em Ponta Grossa. O número de pessoas beneficiadas, entre 2015 e 2017 permaneceu estável.

 


Se for contar pela população do município que consta no site para esses dados, de 334.535 habitantes, apenas 13% de pessoas são atendidas pelo "Brasil Sorridente" na cidade. Em 2009, 33% dos ponta-grossenses eram atendidos. Vale ressaltar que o dado está desatualizado, já que, desde 2010, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população ponta-grossense aumentou em 11,69%.

 


Comparando com outras cidades de médio porte do Paraná, a abrangência é maior do que em Ponta Grossa. Maringá, em 2017, atendeu 27% da população. Cascavel, 17%, e Londrina, 19%. Nacionalmente, a média de cobertura foi de 37%.

 

Programa ‘Brasil Sorridente’


A iniciativa funciona através do Sistema Único de Saúde (SUS) e pode atender todos os brasileiros sem distinção de renda. As ações do programa têm como objetivo a promoção, prevenção e recuperação com implantação de equipes de saúde bucal na estratégia “Saúde da Família” e implantação de Centros de Especialidades Odontológicas (CEO) e Laboratórios Regionais de Próteses Dentárias (LRPD).

 


Todas as ações estão dentro da Estratégia Saúde da Família (ESF) que, por sua vez, está dentro das Política Nacional de Atenção Básica (PNAB). A ESF entende que essa é uma iniciativa primordial para o fortalecimento da atenção básica. Além do atendimento e prevenção de doenças, também realizam-se estudos sobre as características da população atendida por aquela equipe naquela região.

 


Em uma região geográfica, há a disponibilização de uma equipe multiprofissional para um grupo de famílias. Cada equipe deve ser formada por um médico, um enfermeiro, auxiliares de enfermagem, agentes comunitários de saúde, cirurgião-dentista, auxiliar de consultório dentário ou técnico de higiene dental.

 


Segundo o Passo a Passo das Ações da Política Nacional de Saúde Bucal do Ministério da Saúde, os CEOs atendem a toda população oferecendo serviço de clínica e ambulatório especializado. Já os LRPD são responsáveis pelo desenvolvimento de próteses dentárias.

 


O repasse para esses sistemas ocorrem pelo Governo Federal conforme a classificação de cada Centro de Especialidades Odontológicas, CEO, (em tipo 1, 2 e 3) e quantidades de próteses realizadas no caso das Laboratórios Regionais de Prótese Dentária, LRPD.  Os tipos de CEO é a indicação que o município faz se o pleito é para o tipo 1 (destina três cadeiras), tipo 2 (com quatro a seis cadeiras) e tipo 3 (com sete ou mais cadeiras). Também há repasse municipal ou estadual para o programa. No caso de Ponta Grossa, o repasse é municipal e pelo Governo.

 

‘Brasil Sorridente’ em Ponta Grossa e região

 


Em Ponta Grossa, há tanto o Centro de Especialidades Odontológicas, quanto o Laboratório Regional de Próteses Dentárias. O CEO é localizado na Rua Engenheiro Schamber, 666, na região central da cidade, que funciona de segunda à sexta das 7h às 16h. CEO é classificado como tipo 3, contando com nove consultórios.

 


De acordo com o DataSUS, com dados de outubro deste ano, há 24 cirurgiões dentistas no CEO III nas especialidades de odontopediatria, endodontia, radiologia, periodontia, clínica geral, patologia bucal, próteses e odontologia para pacientes com deficiência.

 


Porém, a Secretaria Municipal de Saúde diz que, atualmente, há apenas 21 dentistas no CEO III e dois no Hospital Municipal Amadeu Puppi. A cidade não possui Unidades Móveis Odontológicas (UOM) que, atualmente, estão presentes em nove cidades paranaenses, nenhuma na região dos Campos Gerais.

 


Segundo o coordenador de odontologia da Secretaria Municipal de Saúde, Edson Alves, a diminuição de 57% da cobertura populacional do programa em Ponta Grossa, nos últimos anos, se dá por conta de falta de recursos humanos. Alves destaca não ter tido concurso público para cobrir a demanda de pessoal.

 


Além disso, o coordenador aponta que profissionais foram desligados, seja por aposentadoria ou afastamento voluntário. Alves enfatiza que Ponta Grossa conta com outros programas de atendimento odontológico. “Diferentemente de outras cidades, Ponta Grossa não conta apenas com o Projeto Brasil Sorridente, tendo assim 37 profissionais mantidos apenas com recursos municipais e sendo referência no atendimento odontológico da população”, pondera.
   

 

Em setembro deste ano, foi realizado um concurso público para novas contratações que estão em fase de homologação.

 


De 24 cidades que integram os Campos Gerais, apenas três, Arapoti, Castro e Ponta Grossa, possuem CEOs e LRPDs. Jaguariaíva possui apenas LRPD e Palmeira, apenas CEO. Todos são de gestão municipal.
As pessoas que residirem em cidades onde não há o atendimento têm que se deslocar para as cidades mais próximas contempladas pelo programa. Por exemplo, alguém que more em Tibagi tem que se deslocar até Castro ou Ponta Grossa. Isso implica em percursos de 62 quilômetros e 97 quilômetros, respectivamente, resultando em aproximadamente um hora de deslocamento entre cidades. Vale ressaltar que o Brasil Sorridente não é a única possibilidade de atendimento odontológico nas cidades.

 

Por: Fernanda Wolf


Atendimentos odontológicos na cidade, fora do Programa Brasil Sorridente

 


A Secretaria Municipal de Saúde afirma que a cobertura odontológica na cidade de Ponta Grossa contando com todas as iniciativas na cidade - tanto quanto o ‘Brasil Sorridente’ no CEO e nas Estratégias Saúde da Família das Unidades de Saúde, e também nas Unidades de Saúde com profissionais de carga horária de 4 horas - atende 53% da população. Segundo a SMS, são 37 profissionais com carga horária de 20 horas semanais (4 horas diárias) e 12 profissionais de carga horária de 40 horas semanais (8 horas diárias).

 


Recentemente em premiação do Conselho Regional de Odontologia do Paraná (CRO-PR), Prêmio Regional CRO-PR em Saúde Bucal, que reconhece cidades que mais investiram em saúde bucal no último ano, Ponta Grossa ficou em segundo lugar em cidade com mais de 300 habitantes, perdendo para Curitiba.

 


A paciente Debora Chacarski quando precisou de atendimento foi até a unidade de saúde no Parque Tarobá. Ela classifica o atendimento como “bom”. Quanto à questão de espera de atendimento, ela não reclama. “O trabalho não é tanto de espera em uma fila ou algo assim, é mais o esforço de acordar cedo e chegar antes do posto abrir”, conta.  Complementa dizendo que nesta unidade são entregues 5 senhas para o atendimento durante a manhã e 5 senhas para o atendimento no período da tarde.

 

Serviço: alternativas odontológicas gratuitas


As alternativas gratuitas de serviço são encontradas nas clínicas dos cursos de Odontologia das universidades da cidade onde os acadêmicos fazem atendimentos. O curso na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) oferece atendimento no Bloco M do Campus Uvaranas, atendendo crianças e adultos. Na faculdade Faculdades Integradas dos Campos Gerais (Cescage), o curso oferece atendimento na Unidade Olarias.

Tabu persiste embora justiça autorize cultivo da maconha para uso medicinal

Plantio doméstico é uma alternativa para baratear o tratamento de doenças neurológicas com o cannabidiol

Para o cultivo caseiro da cannabis, o paciente precisa de autorização judicial Foto: Free Images

Em junho de 2018, uma curitibana (cuja identidade será preservada) conseguiu, na Justiça Estadual do Paraná, a autorização para plantar maconha e manuseá-la no tratamento de sintomas causados pelo tumor benigno que possui no cérebro. O advogado Aknaton Toczek Souza explica que, embora a substância seja proibida pelo artigo 16 da Lei Federal nº 6.368 de 1976, a própria lei estabelece a possibilidade de uso para fins medicinais e científicos.

Em maio de 2017, a cannabis entrou para lista das plantas medicinais da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). No mesmo ano, o órgão do Governo Federal lançou uma nota técnica explicando não ser contra o uso da cannabis para fins medicinais e citando ainda a possibilidade de uso para pesquisa.
Mesmo a cannabis integrando o roll de plantas medicinais reconhecidas pela Anvisa, para um paciente conseguir cultivá-la com a finalidade de consumo próprio e com fins medicamentosos, há a necessidade de um habeas corpus preventivo.

O uso medicinal da maconha ainda não é legalizado e não há uma legislação que atenda de modo coletivo a população. Dessa forma, a liberação para o tratamento, como descreve Aknaton, apenas acontece quando a doença tem um grau muito severo, representando risco à vida do paciente. Caso contrário, o indivíduo mantém o tratamento convencional à base de químicos. Há ainda quem opte pela ilegalidade, assim como fez a curitibana, até conseguir o habeas corpus.

Segundo Aknaton, a exigência é “para que o indivíduo não seja preso por ter as plantas em casa, uma vez que é ilícito” cultivá-la na própria residência. O advogado ainda explica que cada caso deve ser tratado em sua individualidade com uma justificativa muito própria a respeito do tratamento.

A engenheira Maria Aline Gonçalves, militante da causa da legalização da maconha, é mãe de Victor. O filho, um adolescente de 12 anos, é autista e tem epilepsia. Em função disso, há dois anos e meio, ele está em tratamento com o uso do óleo de canabidiol, substância extraída da maconha. Segundo Maria Aline, após o início do uso da substância, as convulsões estão mais controladas e acontecem com menos frequência.

No caso de Victor, a família conseguiu a liberação para utilizar o óleo através da Associação Brasileira de Apoio Cannabis Esperança (Abrace). Maria Aline explica que outorgou uma procuração, em nome do filho, para a entidade, que é licenciada para produzir o canabidiol.

A Abrace é uma das organizações que auxilia as famílias no tratamento com o óleo da maconha. A atuação da entidade começou há quatro anos e, desde então, ela oferece assessoria e orientação médica para famílias que ainda não tomaram conhecimento do uso terapêutico da cannabis. A associação extrai o óleo e produz o remédio e, em seguida, encaminha para as famílias associadas a dose recomendada e orientada pelo médico.

A engenheira Maria Aline ressalta que, embora o processo de liberação junto à Associação tenha sido demorado e difícil, na ocasião, com “o primeiro aval [decisão] do juiz, foram 150 famílias beneficiadas no Brasil todo”.

Embora mais barata, produção caseira pode gerar riscos

A doutora em farmácia e professora da UEPG, Stella de Bortoli, explica que o canabidiol é uma substância agonista. Portanto, seu estímulo é provocado por uma resposta. Para explicar o funcionamento do canabidiol no corpo, a farmacêutica descreve que ele funciona como a chave na fechadura.

“Temos várias fechaduras nas nossas células que são os receptores e, às vezes, existem moléculas que entrarão ali e servirão como uma chave, provocando um efeito dentro da célula”, descreve. Stella de Bortoli esclarece que o que trata as enfermidades não é a maconha em si, mas as substâncias que são encontradas na flor dela, o canabidiol.

A curitibana, mencionada no início desta reportagem, foi submetida, por quatro anos, a tratamento em modo convencional à base de químicos. Isso implicava na ingestão, diária, de oito medicamentos. Em função dos vários efeitos colaterais, ela decidiu buscar tratamentos alternativos e, com o consentimento do médico, encontrou, na maconha, aquele que considera ideal, por ser natural e não trazer os mesmos efeitos colaterais dos demais medicamentos.

Antes de conseguir o habeas corpus preventivo, a curitibana obteve a autorização da Anvisa para importar o óleo da maconha. Porém, o custo mensal do medicamento era de R$ 2 mil, tornando-se inviável economicamente. Sendo assim, ela optou por produzir em casa, pois seria mais viável.

A equipe de reportagem do Portal Periódico tentou, junto à fonte, obter informações sobre os custos da produção independente, mas, em função da repercussão do tema, após a divulgação pela mídia, a entrevistada preferiu manter a privacidade e não expor detalhes do processo de produção e uso do medicamento.

O uso medicinal da maconha ainda é um assunto muito delicado no Brasil e, por isso, apesar de não ser possível quantificar o número de pessoas que utilizam efetivamente a cannabis para tratamento terapêutico, justamente porque não querem ser identificadas, o advogado Aknaton Toczek Souza confirma que em Ponta Grossa existem muitos casos. Mas por segurança, muitos pacientes preferem não revelar que fazem uso medicinal da maconha.

Para a farmacêutica, Stella de Bortoli há riscos em produzir o óleo da maconha porque, ao realizar o processo artesanal, pode ser extraído mais THC, que é o principal componente ativo da maconha e afeta a maneira como funciona o cérebro, e o sistema nervoso de um modo geral. E, por outro lado, pode ser retirado menos canabidiol, que é a substância que trata as patologias.

Stella destaca que isso pode acontecer “por causa da falta de controle da concentração dos compostos”. Ainda segundo a farmacêutica, nem todas as substâncias da planta são interessantes para o tratamento das enfermidades neurológicas, psicológicas, entre outras. Cada uma delas, destaca Bortoli, possui uma ação diferente no corpo humano.

Serviços particulares e emergenciais de saúde podem ser afetados com saída de cubanos do Mais Médicos

Em Ponta Grossa, a falta de planejamento para contratação de substitutos reflete no caos no atendimento em hospitais e prontos atendimentos

 

Sandra Mare dos Santos foi diagnosticada com câncer de pulmão e garganta por um dos médicos cubanos que saíram de Ponta Grossa no dia 21 de novembro. Moradora do bairro Colônia Dona Luzia, ela teria que pegar ônibus ou andar por quase uma hora para chegar ao Centro de Atenção à Saúde (CAS) Central, caso não conseguisse se consultar uma das Unidades Básicas de Saúde localizadas próximo a sua casa.

Com a saída dos médicos, as consultas, na Unidade frequentada por Sandra, que aconteciam diariamente passaram a atrasar e a acontecer apenas em três dias por semana. O tratamento de um paciente com câncer, dependendo do tipo da enfermidade, custa ao Estado um valor que pode ultrapassar R$ 70 mil se for diagnosticado em estágios mais avançados.

Os dados foram divulgados no artigo “Quanto custa tratar um paciente com câncer no SUS”, de Tiago Cepas Lobo, publicado em 2016, pelo Observatório do Oncologia. O tratamento particular do câncer é caro e inacessível para a paciente.

A situação de Sandra é mesma de cerca de 75% da população paranaense que não possui plano de saúde, de acordo com dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar. Casos como esse mostram a importância do sistema público de saúde, como o Sistema Único de Saúde (SUS) em um país com desigualdades como o Brasil.

A saída dos médicos cubanos, que representavam cerca de 75% dos médicos da atenção básica ponta-grossense, demonstra a afobação e a irresponsabilidade por parte do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL). O presidente, que assume em 2019, também defendeu, em seu plano de governo, que o Sistema Único de Saúde (SUS) não precisa de mais recursos.

Após o Governo Cubano encerrar a participação no Programa Mais Médicos (PMM) do Governo Federal, a gestão municipal de Ponta Grossa se colocou em alerta.

Em números, 56 profissionais que atendiam em postos de saúde nos bairros do município, em atividades de atenção primária, deixam os cargos. Estas compreendem ações básicas desenvolvidas na saúde pública, como vacinação, realização de exames, medicina familiar, acompanhamento de gestantes, auxílio na prevenção de doenças e a divulgação de informações referentes à área da saúde.  

Ponta Grossa se tornou dependente do PMM pelo déficit que tinha de profissionais para atuar em questões de saúde básica, de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde. Há cinco anos, apenas 37% das Unidades Básicas de Saúde estavam contempladas com serviço médico, além de que muitas delas necessitavam ser reformadas.

Segundo o Ministério da Saúde de Cuba, o país decidiu deixar o programa depois de Jair Bolsonaro, após eleito, reafirmar modificações no termo de¨contribuição entre os governos, o que já estava proposto em seu plano de governo.

Em alguns dos pronunciamentos realizados durante a campanha, Jair Bolsonaro chegou a fazer uma ameaça contra o médicos de Cuba: “vamos expulsar com o Revalida os cubanos do Brasil". A proposta de aplicar o Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos Expedidos por Instituições de Educação Superior Estrangeira (Revalida) estava presente no plano de governo do candidato do PSL.

Após o anúncio de Cuba, Bolsonaro declarou que o país não aceitou os novos critérios estabelecidos por ele para a participação no programa. Contudo, no dia 26 de novembro, a diretora de Comunicação do Ministério de Relações Exteriores de Cuba, Yaira Jiménez Roig, afirmou, em uma transmissão ao vivo no YouTube, que o país não foi procurado pela equipe de transição do novo governo brasileiro.

“Asseguro que nenhum membro da equipe de transição informou ao Ministério de Saúde Pública de Cuba o interesse de ter uma troca de ideias sobre o termo de cooperação vigente, o que indica que o propósito do presidente eleito não é de manter o programa, mas de eliminá-lo”, anunciou a diretora.

 

HISTÓRICO DO MAIS MÉDICOS

Em 2013, assim que o Programa foi criado pela ex-presidenta Dilma Rousseff (PT), Ponta Grossa passou a receber os cubanos. Em 2014, foi sancionada a Lei n° 11.723, que concedia o auxílio de moradia, alimentação e transporte aos médicos estrangeiros.

O contrato com os médicos cubanos, publicado no portal (http://maismedicos.gov.br), previa a finalização dos serviços dos médicos no prazo de três anos.

Podem se candidatar às vagas médicos brasileiros formados no Brasil, que têm preferência para assumir os cargos, médicos brasileiros formados no exterior com revalidação de diploma (Revalida) e médicos intercambistas, que devem ter habilitação para o exercício da medicina e  conhecer a língua portuguesa.

    A média nacional de distribuição de médicos pela Organização Mundial da Saúde é a proporção de 1,8 médicos para cada mil habitantes. Nos países vizinhos, como Argentina e Uruguai, esse número quase dobra, com 3,2 e 3,7, respectivamente. Em 2011, dois anos antes do projeto ser implantado, 22 estados estavam abaixo da determinação, segundo o  Sistema de Indicadores de Percepção Social do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Sips/Ipea).

Os únicos acima da média eram os do Sudeste (Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo e Minas Gerais), do Mato Grosso do Sul, do Rio Grande do Sul e do Distrito Federal. Nesse levantamento, o Paraná se encontrava na décima posição, com 1,17 médicos para mil habitantes.

Entretanto, devido à forte demanda do setor básico de saúde e a falta de médicos para atender essa demanda, o PMM se estendeu por mais dois anos. Ainda em 2013, paralelamente, foi feito um concurso municipal para médicos, em que apenas 11 candidatos foram aprovados e poucos assumiram os postos.

 

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Unidade de saúde em Ponta Grossa, no bairro Órfãs. | Foto: William Clarindo

O PROGRAMA MAIS MÉDICOS

 

O PMM, criado pela Medida Provisória nº 621, é composto por uma série de atribuições. Entre elas, estão suprir a inexistência ou o baixo número de atendimentos em saúde básica; combater problemas específicos que afetem a saúde pública de determinadas áreas e a formação e capacitação de novos profissionais.   

No caso de Ponta Grossa, o Programa teve como função prestar atendimento médico em áreas e em unidades onde serviços de saúde básica sequer eram prestados.

Jefferson Leandro Palhão é integrante do Conselho Municipal de Saúde e morador do bairro Jardim Paraíso. Segundo ele, os mais de 10 mil moradores do bairro podem ficar sem atendimento, visto que os médicos que trabalhavam na Unidade de Saúde Básica Cleon Francisco de Macedo eram todos cubanos.

Para a secretária municipal de Saúde, Angela Conceição Oliveira, o município será impactado. “Com a falta de médicos no quadro, haverá uma rotatividade nas unidades básicas entre os médicos do município que estão registrados pela Secretaria”, explica. Com isso, os pacientes desses postos não contarão com médicos diariamente, como afirma Angela.

Segundo Oliveira, no último concurso público realizado pela prefeitura, em 2018, houve a inscrição de apenas 37 médicos. Desse total, 26 estão capacitados para trabalhar na rede pública, vinculados ao PMM.

Todas as 56 vagas, deixadas em aberto com a saída dos médicos cubanos, estão sendo preenchidas, provisoriamente, com a ajuda desse concurso. A gestão municipal não aplicou nenhuma preparação e logo colocou os profissionais para trabalhar. Os aprovados têm até dia 14 de dezembro para se apresentarem no local de trabalho.

 

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De acordo com Jeferson Palhão, uma das reivindicações apresentadas ao Governo Municipal pelo Conselho Municipal de Saúde (CMS), enquanto os cubanos ainda estavam trabalhando na cidade, era formular uma estratégia de contratação de outros profissionais para evitar a falta de médicos.

“Foi um erro não fazer reposição. Era um programa de saúde do Governo Federal. Todo programa tem um começo e fim, não dá pra prever quando acaba”, critica o conselheiro Jefferson Leandro Palhão. “Acredito ter sido um descuido sem tamanho do Governo Municipal”, enfatiza.

 

VISÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS

 

A conselheira nacional de Saúde, Heliana Hemetério, defende que “o SUS é o maior e melhor sistema de saúde do mundo e tem como base a equidade, a universalidade e a integralidade”. Porém, “se o SUS não funciona é porque existe um projeto político de capital ligado à saúde privada que não quer e não deseja que o SUS funcione”, afirma Hemetério. A defesa do sistema público de saúde brasileiro esteve muito presente em discussões sobre a reforma do Plano Nacional de Atenção Básica, em 2017.

Na perspectiva das políticas públicas, Jefferson, que há mais de 10 anos atua como conselheiro de saúde, relata ter participado, no dia 29 de novembro, de uma pré-conferência. O evento, promovido pelo Conselho Municipal de Saúde de Ponta Grossa, encaminhou discussões que antecedem a 11ª Conferência de Saúde na cidade, que acontece nos dias 7 e 8 de dezembro. Esta conferência faz parte de um processo do município de definir, em conjunto com a comunidade, as próximas diretrizes para o Plano Municipal de Saúde.

Entre os tópicos levantados nesse debate que serão levados para a Conferência Municipal, está a questão dos médicos cubanos. No entanto, nesta pré-conferência, os conselheiros não se aprofundaram no tema pela questão de funcionamento da reunião, que era para decidir delegados que irão participar de uma conferência de âmbito regional.

O município de Ponta Grossa é a cidade brasileira que recebeu mais médicos cubanos. Com a retirada desses profissionais das unidades básicas, a demanda pelo atendimento a pessoas que necessitam de cuidados não emergenciais cresce em outros locais, como explica Jeferson.

“Quando a população começar a procurar atendimentos particulares e, isso vai acontecer muito rápido, o custo para o serviço básico particular vai aumentar devido à demanda. O Governo Federal precisa resolver o quanto antes estas contratações de médicos”, alerta.

O conselheiro ainda ressalta: “Quando não tem médico na unidade de saúde, as pessoas tendem a migrar para o atendimento de outras unidades, que já eram sobrecarregadas, ou para o pronto socorro e Unidade de Pronto Atendimento (UPA), que não são serviços feitos para atender demandas que chegam no postinho de saúde”.

O Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR) foi indagado pela equipe de reportagem do Portal Periódico sobre a posição do órgão diante do Programa Mais Médicos. Em conjunto com o Conselho Federal de Medicina (CFM), o Conselho acreditam que o programa foi criado por motivos políticos e financeiros. “Sobretudo pelo fato de que, em cinco anos, não foram implementados os ajustes para que o Programa deixasse de ser um paliativo para atender as necessidades reais da população”, avalia.

Exigência de vacinação para matrícula em escolas estaduais provoca filas em UBS

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Unidade de Saúde Dra. Zilda Arns, Parque Nossa Senhora das Graças. Foto: Fernanda Wolf

 

A equipe de reportagem do Portal Periódico esteve na quarta-feira 28 de novembro, na Unidade de Saúde Básica (USB) Zilda Arns, no bairro Parque Nossa Senhora das Graças no Boa Vista. O objetivo foi conferir como estava o atendimento em decorrência da Lei Estadual 19.537 de 4 de julho de 2018 que determina a obrigatoriedade da carteira de vacinação estar em dia para a realização da matrícula escolar que, neste ano, acontece de 4 a 8 de dezembro.

 

Às 8h40, a fila já havia alcançado o lado de fora da unidade com crianças, adolescentes e pais. Dentro, a maioria das cadeiras da área de espera estava ocupadas. Às 13h15, também encontramos filas no mesmo local e também estava tão cheio quanto no período da manhã.

 

Todos os dias são liberadas 25 senhas para a população nesta unidade. A enfermeira-chefe, Joice Martins, explica que a senha vale para a família. “Você tem quatro filhos e eu dou uma senha para você. Dentro da sala você tem os quatro filhos, mas cada filho tem que tomar tipo três ou quatro vacinas”, relata. “Isso gera uma demanda maior”, ressalta.

 

Além também da aplicação, há o tempo necessário para o registro das vacinas no sistema e escrever, manualmente, nos documentos, as informações sobre as vacinas aplicadas, como o tipo e a dosagem.

 

Não há falta de vacinas, conta Martins que ressalta, no entanto, que a USB tem tido dificuldade para atender a demanda. Isso se deve ao fato de que, algumas vezes, há cem pessoas na fila esperando uma das 25 senhas diárias e, no máximo, são disponibilizadas 30. Uma das vacinas mais procuradas, neste período, segundo a enfermeira, é a vacina do HPV (Papilomavírus humano), que é um vírus que atinge a pele e as mucosas.

 

Fabiana Aparecida Soares estava na fila com sua filha de dois anos e conta que, às vezes, fica uma semana direto indo na Unidade e não consegue vacina, pois faltam senhas. “Faz um mês que eu estou tentando vacinar minha filha e não consigo”, conta.

 

Embora faça o esforço de manter a carteira de vacinação do filho de 11 anos em dia, Jeni da Silva Andrade reclama da espera para obter a senha. A mãe relata que não conseguiu vacinar, anteriormente, já que antes as unidades de saúde estavam em período de campanha de vacinas específicas.

 

A Assessoria de Imprensa da prefeitura reconhece a alta demanda, mas alega que ela está sendo atendida. Em nome da Secretaria Municipal de Saúde, a enfermeira e apoiadora da Atenção Básica, Caroline Agulham, afirma que já havia uma expectativa do Governo Municipal aumento do número de pacientes em busca de vacina. “Desde que saiu a lei porque a gente acompanha nossos indicadores e sabíamos que nossa cobertura vacinal estava baixa”, reconhece.

 

De acordo com Agulham, a prefeitura organizou, junto às equipes das UBS, uma estratégia verificando a demanda nas escolas. Além disso, foi emitida uma declaração junto aos estabelecimentos escolares a fim de organizar o atendimento e evitar as filas.

 

Agulham alega, no entanto, que os responsáveis não enviaram, para as escolas, as cadernetas de vacina no dia estipulado nas escolas. Com isso, os pais tiveram que se deslocar até as unidades de saúde. “O que ocorreu foi uma negligência por parte dos pais e responsáveis que não se atentaram e mantiveram a caderneta em dia”, contesta.

 

“Agora, estamos tendo que correr atrás deste prejuízo”, esclarece. A estimativa é que 90 mil alunos façam matrícula ou rematrícula no período estabelecido pela Secretaria Estadual de Educação. Portanto, até o dia 8 de dezembro essa é a demanda a ser coberta.

 

A obrigatoriedade da carteira de vacinação em dia para a matrícula escolar

 

Atualmente, as escolas públicas e particulares do país podem pedir a caderneta de vacinação da criança no ato da matrícula. A medida está prevista pela Lei Estadual 19.537 de 4 de julho de 2018 assinada pela governadora Cida Borghetti (PP). Todos os alunos da educação infantil, ensino fundamental e médio até os 18 anos devem se adequar à lei.

 

As vacinas consideradas obrigatórias, neste caso, são as presentes no Calendário de Vacinação da Criança e o Calendário de Vacinação do Adolescente, de acordo com o Ministério da Saúde e a Secretaria de Saúde do Estado.

 

O Calendário de Vacinação da Criança 2018/2019, que abrange aquelas em idade de 0 a 10 anos, determina a aplicação de vacinas gratuitas que são ofertadas pelas UBSs. São elas: BCG ID, Hepatite B, tríplice bacteriana, Haemophilus influenzae B, poliomielite (vírus inativado), rotavírus, pneumocócicas conjugadas, meningocócicas conjugadas, influenza (gripe), poliomielite oral (vírus vivos atenuados), febre amarela, hepatite A, tríplice viral, varicela (catapora) e HPV.

 

As não disponíveis são: meningocócica B, vacina tríplice bacteriana e dengue. Apenas esses casos, é preciso pagar para receber a vacina em uma unidade de saúde de serviço privado.

 

No Calendário de Vacinação do Adolescente 2018/2019 as vacinas obrigatória e oferecida gratuitamente nas Unidades são: tríplice viral, hepatite B, HPV, tríplice bacteriana, influenza (gripe), meningocócicas conjugadas e febre amarela. As não gratuitas são: hepatite A, hepatite C, varicela (catapora), meningocócica B e dengue, todas devem ser obtidas nas redes particulares de vacinação.

 

A idade certa de vacinação e o número de doses a ser tomado deve ser consultados nos calendários.

 

A ausência de declaração da vacina não impossibilita a matrícula ou rematrícula. No entanto, os responsáveis precisam regularizar a situação em um prazo de 30 dias, caso contrário, a escola deve comunicar o descumprimento ao Conselho Tutelar. Só será dispensado da determinação, o aluno que possuir atestado médico de contraindicação da aplicação da vacina.

 

A equipe de reportagem do Portal Periódico entrou em contato com o Conselho Tutelar para verificar o procedimento adotado quando descumprida a determinação da Lei 19.537. Até o fechamento da reportagem não foi obtida resposta.

 

Cenário da vacinação nos últimos anos

 

O Paraná tem vacinado menos pessoas do que deveria, especialmente crianças. Em 2017, a meta era vacinar 95% do público-alvo com a tríplice viral, cujo alvo são o sarampo, a caxumba e a rubéola. Porém, a  cobertura foi de 86,2%.

 

Nos últimos anos, de 2015 a 2017 não foi cumprida a cobertura estimada do número da cobertura de vacinação pela vacina da pentavalente - obrigatória para crianças - em Ponta Grossa. Esta é uma das vacinas mais importantes na carteira de vacinação infantil por abranger 5 vacinas em uma, prevenindo contra difteria, tétano, coqueluche, meningite por haemophilus influenzae tipo B e poliomielite. Em 2014, a cobertura foi de 100%; em 2015, 49%; em 2016, 83%; e, em 2017, 76%.

 

Segundo recomendações da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm)  no Calendário de Vacinação da Criança para o ano de 2018/2019, as vacinas aplicadas até um ano de idade devem ser BCG ID, hepatite B, tríplice bacteriana, haemophilus influenzae tipo B, poliomielite, rotavírus, pneumocócicas conjugadas, meningocócicas conjugadas, meningocócica B, influenza, febre amarela, hepatite A, tríplice viral, varicela e poliomielite oral.

 

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A vacina pentavalente é aplicada, de acordo com a SBIm, em crianças a partir 2 meses de idade até os 7 anos. São reunidas cinco vacinas inativadas, ou seja, que não causam doenças. A pentavalente foi criada para diminuir o número de injeções em um mesmo momento usando o método de combinação de vacinas.

 

Dados do Ministério da Saúde (http://sage.saude.gov.br/), em Ponta Grossa, em 2017, a cobertura da vacina meningocócica C conjugada foi de 76%, 24% a menos se comparado ao ano de 2016. A vacina  Menincocica C Conjugada previne uma bactéria que pode ser a causa de infecções graves, às vezes, até fatais, como a meningite e a sepse.

 

Outra queda foi da vacina pneumocócica que foi incluída, em 2010, no Calendário Básico de Vacinação da Criança do Ministério da Saúde. A queda foi de 7% de 2017 em relação a 2016. De 2014 (99%) para 2015 (49%), foi registrada a maior queda, com redução foi de aproximadamente 50%.

 

A vacina da pneumocócica é obrigatória e protege as crianças de bactérias tipo pneumococo, que causam doenças graves como meningite, pneumonia, otite média aguda, sinusite e bacteremia.

 

Em 2017, em Ponta Grossa, o número de crianças menores de 1 ano de idade era de 5.563. A cobertura da vacina pentavalente foi de 76%. Ou seja, 24% deixaram de ser vacinadas na rede pública. Uma diminuição de 6% de cobertura em relação ao ano anterior, 2016. No Brasil, a cobertura foi de 77%. Já em relação ao Estado do Paraná, a cobertura vacinal ponta-grossense foi 8% menor que a cobertura estadual, de 84%, no ano de 2017.

 

Para a enfermeira-chefe da Unidade de Saúde Dra. Zilda Arns, Joice Martins, a menor vacinação da pentavalente acontece por negligência e irresponsabilidade dos responsáveis legais. “As pessoas estão vindo aqui e sabe-se lá desde quanto tempo elas estão sem tomar [as vacinas]. A gente encontra carteirinhas [desatualizadas] desde 2010, 2014, 2016”, comenta.

 

Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a Lei 8.069 de 1990, estabelece que é dever da família assegurar efetivação dos direitos referentes à saúde da criança. A legislação prevê punições aos responsáveis que não vacinarem seus filhos.  Pelo artigo 249 do ECA, o descumprimento do calendário de vacinação pode levar à multa de três a 20 salários mínimos, aplicando-se o dobro em casos de reincidência.

 

As vacinas consideradas obrigatórias são as que devem ser aplicadas em crianças de 2 e 12 meses. É o caso da vacina penta, da pneumocócica 10 valente, da vacina oral rotavírus humano (VORH), da vacina inativada de poliomielite (VIP), da vacina oral poliomielite (VOP), a vacina meningocócica C, a vacina contra febre amarela e a tríplice viral (sarampo, rubéola, caxumba). Aos 15 meses, são obrigatórias mais três vacinas: a tetraviral (sarampo, rubéola, caxumba, varicela), a vacina contra hepatite A e DTP (tríplice bacteriana).

 

Aos 4 anos, os pais devem levar os filhos para vacinar contra varicela e, além disso, receber uma dose de reforço da vacina DTP e uma da VOP. Entre os 10 e 19 anos, são obrigatórias as vacinas dupla adulto (com reforço a cada 10 anos); uma dose de reforço da meningocócica C; e duas doses da vacina contra o HPV (para meninas, as doses devem ser aplicadas entre os 9 e 14 anos; para meninos, devem ser aplicadas entre os 11 e 14 anos).

Prevenção e tratamento ainda são essenciais nos casos de HIV

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De 2007 até junho de 2017, foram notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) 194.217 casos de infecção pelo HIV no Brasil, sendo 40.275 (20,7%) no Sul. O dado coloca a região como segunda colocada no país, ficando atrás apenas do Sudeste, com 96.439 (49,7%). O dado se torna preocupante quando se verifica, a nível nacional, um aumento médio anual de 40 mil casos nos últimos cinco anos.
Em Ponta Grossa, a Secretaria Municipal da Saúde registrou, de janeiro a julho deste ano, que 34 pessoas foram detectadas com o vírus. É quase a metade do total número do ano passado, que chegou a 66 casos. Os dados do município ainda indicam que o número de adultos que desenvolveram a doença, de janeiro até julho deste ano, foram 16. Desde 2010 até julho deste ano, foram detectadas sete crianças com a aids.
A professora e médica infectologista do curso de Medicina da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Paula Toledo,  afirma que o aumento do número de casos possivelmente está relacionado a um maior descuido por parte da população. Com tratamentos modernos, muitas pessoas conseguem, atualmente, manter boas condições de saúde mesmo sendo portadoras do HIV, como ressalta a médica. Toledo destaca que, em função dessas melhorias, “as pessoas se tornaram menos cautelosas quanto à sua prevenção”.
Pesquisa realizada pela DKT International, ONG que promove o planejamento familiar e a prevenção do HIV, mostrou que cerca de 47% dos entrevistados, entre 14 e 24 anos, não costumam utilizar preservativos nas relações sexuais. O levantamento ouviu mais de 1.500 pessoas em todo o Brasil e revelou ainda que 74,8% dos participantes nunca fizeram o teste para saber se possuem ou não o vírus do HIV.
Para o professor de História Cláudio Dias, também pesquisador da história das doenças, com foco na aids, contribui para o aumento dos casos da doença a Emenda Constitucional (EC) 95. Aprovada em 2016 pelo Congresso Nacional, a emenda congela, por 20 anos, os gastos nas áreas da saúde e de educação. “É preciso investir em propagandas, em medicamentos e em atenção à saúde. Sem propagandas aumentam os casos, pois as pessoas, sem conhecimento da doença, só criam redes do vírus”, completa Dias para quem o corte de gastos também provoca a falta de medicamentos.
Para o professor, é importante falar do vírus e que, mesmo a doença sendo incurável, ela pode ser controlada, o que para ele não está sendo feito de forma suficiente e adequada. “Sem conhecer os mecanismos causais e os problemas que acarretam, gera o descuido da população. O sujeito não sabe que tem uma doença sexualmente transmissível e não usa preservativo”, ressalta. Dias também alerta para o desconhecimento, por parte da população, de que existe uma medicação específica para a pós-exposição a uma situação de risco. “Tem que ter investimento público para atender essas demandas”, ressalta.
Questionado sobre a evolução do HIV, o professor afirma que após a descoberta da epidemia da doença, nos anos 90, houve um empenho do público com campanhas e tratamentos, que levaram ao controle da aids. O problema, ressalta Dias, é que o resultado positivo da ação levou a uma regressão no comportamento das pessoas.
A médica Paula Toledo alerta para o fato de que isso fez com que os números voltassem a crescer, principalmente entre os jovens e a população idosa. “É fundamental que sejam feitas campanhas e ações públicas reforçando a importância do sexo seguro, não apenas pelo risco do HIV, mas também de várias outras DST’s cuja incidência vem crescendo absurdamente, como é o caso da sífilis”, completa Toledo.
A médica também afirma que outro problema é que a população acaba abandonando o tratamento e, mesmo com a oferta de testes e atendimento psicológico, há quem acabe se negando ao tratamento.


Tratamento em Ponta Grossa
Segundo o Ministério da Saúde, a aids é causada pela infecção do vírus da imunodeficiência humana, o HIV (sigla em inglês). O vírus ataca o sistema imunológico, responsável por defender o organismo de doenças. Ter o HIV não é a mesma coisa que ter aids.  Há muitos soropositivos que vivem anos sem apresentar sintomas e sem desenvolver a doença, mas, mesmo assim, eles podem transmitir, quando não tomam as medidas de prevenção. É o caso das relações sexuais sem o uso de preservativos e do compartilhamento de seringas contaminadas. A contaminação também pode ser dar da mãe para o filho, durante a gravidez e a amamentação.
O diagnóstico precoce é um forte aliado. Muitas das pessoas que transmitem o vírus nem sabem que estão doentes. Hoje é possível fazer testes rápidos disponíveis na rede pública de saúde. É fundamental que as pessoas que tiveram relações desprotegidas procurem os serviços de saúde para fazer o teste. “Se há prevenção, a cadeia de transmissão vai sendo quebrada. Para isso, é essencial tomar medidas de proteção individual, como o uso da camisinha masculina ou feminina, que podem ser encontradas gratuitamente nas Unidades Básicas de Saúde”, explica Toledo.
A enfermeira do Serviço de Assistência Especializada - Centro de Testagem e Aconselhamento (SAE/CTA), Claudia Castilhos, explica como é feito o acompanhamento assim que detectada a presença do vírus. “O paciente vem com o resultado da Unidade de Saúde ou é diagnosticado no SAE/CTA. Assim que a pessoa é diagnosticada como soropositivo para HIV, é iniciado o tratamento, aqui, no SAE/CTA”, descreve. Após ter a exposição, é importante procurar o Pronto Socorro até 72 horas para iniciar com a medicação. “A Profilaxia Pós-Exposição (PEP) é ministrada por 28 dias”, destaca a enfermeira. “A maioria desconhece, mas a prevenção chega a 100% se tomada a tempo”, alerta.
Em Ponta Grossa, os testes são feitos, gratuitamente, para a população e estão disponíveis em todas as Unidades de Saúde e no SAE/CTA, com resultados em até 20 minutos. A UEPG também possui testes rápidos para detecção do vírus, com resultados entregue no mesmo prazo. Os ambulatórios dos Campi Uvaranas e Central realizam o serviço para acadêmicos e servidores, bem como a população geral, neste caso, mediante agendamento.

Pacientes reclamam da demora no atendimento médico especializado

atendimento 14 11 2018
Falta e atraso de médicos, associados à baixa remuneração, são apontados como as causas das filas de espera que podem durar anos

 

Muitos pacientes, que vêm à Ponta Grossa em busca do serviço médico especializado do Sistema Único de Saúde (SUS), enfrentam problemas como a demora no atendimento e a falta de médicos. Segundo o secretário da Terceira Regional de Saúde de Ponta Grossa, Isaías Cantoia, o tempo para obter por uma consulta, para as pessoas que já se cadastraram na fila de espera, pode durar de meses a alguns anos.

 


O Governo do Estado oferece transporte para levar pacientes de cidades onde não há o atendimento especializado pelo SUS para os municípios que disponibilizam o serviço,  como é o caso de Ponta Grossa. As consultas são realizadas no Consórcio Intermunicipal de Saúde (Cimsaúde), no Hospital Santa Casa e no Hospital Universitário Regional dos Campos Gerais.

 


Alguns pacientes estão há mais de cinco anos esperando por atendimento. Outros optam pelo atendimento particular por causa da demora. É o caso de Irani Oliveira, professora aposentada de 69 anos da cidade de Castro.“Tive uma situação em que eu precisei de um médico cardiologista. Fui atendida no posto e encaminhada para a fila de espera, mas demorou muito tempo para eles agendarem”, relembra Irani. A aposentada queixa-se ainda de que “a fila de espera é enorme”. Apesar de ser um caso de urgência, Irani ainda aguardou por dois meses.  A professora afirma que, após esse tempo, foi obrigada a buscar atendimento na rede privada, uma vez que ela não havia conseguido agendamento pelo Consórcio Intermunicipal de Saúde (Cimsaúde).

 


Dona Elaine Santos Rieger, de 72 anos, residente em Castro, ficou por quase três anos na fila de espera para o atendimento em Ponta Grossa. Desde o final de 2015, ela aguardava para se consultar com um oftalmologista. “Somente agora [em agosto deste ano] eles me chamaram. É ruim a gente ser refém desse tipo de atendimento”, reclama. “Mas tô aqui, hoje, pra ver se vão me chamar ou se eu volto pra casa de novo sem ser atendida”, afirma.

 


 Para Gilmar Santos, aposentado de 68 anos e residente de Telêmaco Borba, além das filas, o deslocamento é outro grande empecilho enfrentado. Santos, que buscava atendimento endocrinológico, também queixa-se da demora e de que os pacientes, às vezes, voltam pra casa sem o atendimento, tendo que retornar no dia seguinte.

 


“Em Telêmaco, desde que eu fui à especialidade até me chamarem para ser atendido, demorou quase um mês. E, na minha cidade, só tem um médico endocrinologista e ele não atende pelo SUS. Então, ficamos refém do atendimento em outras cidades”, reclama.

 


Problema pode estar na baixa remuneração e no atraso dos médicos

 


De segunda a sexta-feira, chega a Ponta Grossa pelo menos um ônibus vindo de Ortigueira, Castro, Telêmaco Borba e Reserva. Em média, cada veículo traz de 20 a 30 pacientes para atendimento no Hospital Santa Casa, na Terceira Regional de Saúde, no Hospital Regional e no Cimsaúde. Quando os ônibus estão com lotação máxima, as prefeituras disponibilizam veículos menores para o transporte. O administrador do Consórcio, Luciano Camargo, explica que embora o número de pacientes varie, diariamente, a demanda é sempre alta. O número de atendimentos, segundo Camargo, gira em torno de 30 pessoas por dia.

 


 Há 8 anos, o motorista Valdecir dos Santos Gouveia faz o transporte de Ortigueira a Ponta Grossa. “Tem vezes que vem uns 15 passageiros, mas há dias em que pode vir dois ônibus e mais carro pequeno, porque só os ônibus não são suficientes para levar as pessoas. Porém, a quantidade varia”, conta Valdecir. Além da fila de espera, que pode durar anos, Gouveia ainda explica qu e problema enfrentado pelos pacientes enfrentam é a demora para serem atendidos no dia em que a consulta foi agendada. O motorista alega que isso é provocado pelo fato de que há médicos que vêm de Curitiba para atender as especialidades de Ponta Grossa e o deslocamento sempre acaba atrasando as consultas.“O horário que saímos das cidades é às 5 horas da manhã, mas não existe horário de retorno definitivo”, explica alegando que o atendimento é demorado e que, muitas vezes, o paciente mesmo tendo horário agendado não consegue a consulta por causa da demora.

 


O motorista faz a viagem todos os dias, de segunda a sexta, deixando pacientes nos diversos pontos de atendimento em Ponta Grossa. E, no sábado, ele leva os pacientes apenas para o Consórcio Intermunicipal de Saúde. “Nós levamos em todos os hospitais, até no Regional, onde o problema de demora é o maior de todos. Os pacientes esperam. Nunca são atendidos na hora e, muitas vezes, voltam pra casa sem a consulta. No outro dia, tentam de novo”, descreve.“Essas especialidades são de difícil acesso porque são poucos os serviços que oferecem pelo SUS essas consultas e esses exames, por ser pouco serviço, as filas são grandes por ser filas do estado todo.” Na Santa Casa, a média é de 923 pacientes atendidos, mensalmente, pelo SUS. O hospital conta apenas com 20 médicos das seguintes especialidades: Oncologia, Cardiologia, neurologia, vascular, cirurgia em geral e gestação de alto risco.

 

Já no Hospital Regional conta com especialistas de oito áreas: cirurgia geral, pediátrica, plástica, endocrinologia, ginecologia, neurologia, obstetrícia de alto risco e ortopedia. Os at endimentos no Cimsaúde contemplam oito áreas cardiologia, otorrino, dermatologista, endocrinologia, obstetrícia, psiquiatria, neurologia e oftalmologia.  De acordo com o secretário da Terceira Regional de Saúde, especialidades como  cardiologia e oftalmologia, que são as mais procuradas, demoram mais devido ao baixo número de médicos. Cantoia alega que há uma recusa, por parte dos médicos, em atender pelo SUS, pela baixa remuneração. Para o diretor, o problema se encontra na falta de médicos que aceitem atender pelo Sistema Único de Saúde. O Sindicato dos Médicos do Paraná (Simepar) não quis se manifestar a respeito.