Contada pelo ponto de vista dos leões, a peça discute importantes temas sociais como fome e exploração

Uma banda, um circo e um batalhão de policiais, tudo interpretado por quatro leões que contam a história de suas vidas, ou melhor, de suas mortes. “Leões, vodka e um sapato 23” é a mostra apresentada pelo grupo de teatro Cia de 2, de São José dos Campos. O espetáculo recorda, através de uma ótica diferente, a tragédia que aconteceu no Circo Vostok nos anos 2000, quando quatro leões foram mortos pela polícia após atacarem uma criança. Com drama, humor e sátira, os artistas fazem o público refletir sobre exploração do trabalho, fome e liberdade.

WhatsApp_Image_2022-11-12_at_11.25.47.jpegFoto: Heryvelton Martins

Misturando atuação teatral, bufonaria e performance de palhaço, a peça arrancou risadas de todos os lados do auditório principal do Cine Teatro Ópera, que estava lotado. O enredo, que tem a duração de cerca de 90 minutos, narra de forma atemporal o motivo que levou a morte dos leões de um circo russo, contando desde a captura na savana até o julgamento do caso após as mortes. 

Apesar de trazer a história dos leões como ponto de partida, em meio a gargalhadas e reflexões, a mostra nos faz pensar sobre temas pertinentes. Quando analisamos os fatos que antecedem a tragédia, percebemos que os verdadeiros vilões são os donos, os envolvidos no maltrato e exploração, que transferem a culpa para quem sofre e escapam da acusação com seus recursos e privilégios. Como afirmado em uma das falas, acaba que “a culpa é de quem tem fome”. 

Com a forte crítica no final, os artistas fazem o público repensar sobre o caso e outras situações na sociedade que possuem um cenário particularmente similar, onde aqueles que são oprimidos e explorados recorrem a atos de sobrevivência e são culpados, sem considerar as situações que os colocaram naquela realidade. A mensagem final que o espetáculo propõe é a de sempre considerar os contextos por detrás antes de julgar o culpado, algo que precisa ser mais praticado na sociedade. 

 

Por Victória Sellares

Serviço:

Peça: Leões, vodka e um sapato 23

Local/horário: Cine Teatro Ópera A - 20h

Duração: 90 minutos

Direção: Daniela Biancardi

Elenco: Adriano Laureano, Jean de Oliveira, Jonas di Paula e Márcio Douglas

Classificação: Acima de 14 anos

Produção e Realização: Cia de 2

Peça do quarto dia do Fenata usa como estratégia a imaginação para discutir conceito de liberdade 

 

Na sexta-feira da 50ª edição do Festival Nacional de Teatro, Fenata, o grupo Desembargadores do Furgão, de São Paulo, apresenta O Ovo da Cuca no evento PG Memória. A peça tem como base uma caixa de madeira, de onde emergem seres simbólicos e tem como objetivo fazer o público refletir sobre o conceito de liberdade. Percebe-se possibilidades e limitações da humanidade a partir do aspecto de espaço-tempo que uma caixa, e o tempo cronológico da peça, trazem. 

 

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Seres simbólicos surgem da caixa para fazer o público refletir sobre o conceito de liberdade | Foto: Divulgação/Facebook Desembargadores do Furgão

Trata-se de um espetáculo solo autoral de Ana Pessoa, e vem de um grupo teatral focado na pesquisa de teatro de rua com máscaras. O uso das máscaras como elemento cênico surge no teatro grego, e um de seus propósitos é criar uma nova personalidade, disfarçando a identidade real de quem está atuando. Em O Ovo da Cuca, o método auxilia que o público se desconecte do real, dos seres humanos e do concreto, para se deixar levar ao abstrato, à imaginação e pensar na liberdade como um conceito. 

Neste contexto, a caixa também é uma personagem importante para realizar a passagem da platéia do real ao imaginário. Em um dos lados, que surge logo no começo da peça, ela está cortada de forma que parece ter uma porta no centro e janelas nas laterais. Uma plaquinha de “abra aqui” ao centro faz referência a entrada no outro mundo que a caixa proporciona. Um elemento clássico da fantasia, e de fácil interpretação pela platéia infantil que estava presente no evento, pois é semelhante às obras Alice no País das Maravilhas e Coraline. Apesar de ser uma peça, em geral, sem apelativos infantis a nível interpretativo, as crianças se atraíam aos seres mascarados e participavam da relação consciente-inconsciente. 

A importância de elementos que fazem referência à busca pelo imaginário é interessante para o objetivo da peça, de reflexão sobre liberdade. Em um mundo globalizado, com uma variedade de discursos e opiniões, de origens também diversas, o conceito de liberdade pode se perder. Considerando que o entendimento de um pensamento próprio, e não imposto, faz parte das possibilidades do conceito de liberdade, é essencial incitar o afastamento do que é concreto e atual, para pensar no que é original, inconsciente, emocional e psicológico.

 

Por Cassiana Tozati

Serviço

Peça: O Ovo da Cuca 

Autoria: Ana Pessoa

Grupo: Desembargadores do Furgão

Trilha sonora: Rafael Gandolfo

 

Peça apresenta releitura da tragédia de Macbeth e discute violência de padrões culturais

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Peça utiliza a palhaçaria para abordar temáticas sérias, com tom descontraído. Foto: Nilton Russo

A peça Deslady conta a história de uma palhaça chamada Tinoca, que é apaixonada por dramas e resolve montar o espetáculo de William Shakespeare, 'Macbeth', sozinha. Mas ela conhece apenas a personagem Lady, companheira do sanguinário protagonista.

A trama apresentada pela atriz Nathalia Luiz, em palhaçaria, tenta envolver o público o tempo todo, com uma descontração que cativa,  capaz de interagir como a palhaça e a Lady Macbeth, com risos ao longo da apresentação.

A protagonista Tinoca, durante toda a peça,  mostra formas de não tratar a mulher como um objeto por um homem.  Na crítica ao machismo, a adaptação de Shakespeare destaca o feminismo em Lady Macbeth.

O espetáculo discute  o papel das mulheres na sociedade, buscando maneiras de demonstrar o avesso às  situações de dominação, alterando  práticas de poder baseadas em atos de opressão. A mostra também critica a desvalorização de artistas e como a falta de incentivo impacta o setor cultural. 

No final da apresentação, Nathália Luiz  agradece  a  Companhia dos Palhaços, que colabora com o  espetáculo solo Deslady. A peça diverte enquanto aborda temas importantes. A atriz,  durante as pausas do espetáculo, busca interagir de maneira  descontraída com a plateia, deixando o ambiente  confortável e amigável.

Apesar da peça retomar  circulação pós pandemia, o espetáculo foi apresentado - no auditório principal do Cine Teatro Ópera pois, o espaço, que  lotou os lugares e deixou algumas pessoas nas escadas,  não contribuiu  com a peça.

Por Amanda Martins

Serviço:

Peça: Deslady( Cine Teatro Ópera,  sala B do, no dia 10 de novembro, às 22 horas.)

Direção: Andréa Macera

Elenco: Nathalia Luiz

Classificação: 12 anos

Produção e Realização: Cia dos Palhaços (Curitiba/PR)

Grupo de Itajaí (SC) apresenta narrativa lúdica a partir do papel e diversos personagens

 

Papel, risadas e imaginação: assim pode-se resumir a peça teatral PaPeLê - Uma Aventura de Papel, apresentada no Teatro Marista no terceiro dia do Fenata 2022. A obra é de autoria do grupo Téspis Cia de Teatro, de Itajaí (SC), e foi desenvolvida há cerca de dois anos. Ela traz enredo que brinca com o imaginário do público e o convida a ser criança novamente. Por se tratar de uma obra infantil, a peça tem classificação indicativa para público acima de 3 anos.

O enredo conta com quatro personagens que interpretam diferentes situações do cotidiano e incorporam variados intérpretes ao longo da apresentação. A história  tem como princípio o papel, material em que se pode desenhar e explorar o lado imaginativo das pessoas. PaPeLê apresenta cenas variadas: desde um diálogo entre duas pessoas interpretando emoções de emojis, até uma batalha heróica entre personagens de um jogo de video-game. 

PaPeLê Foto max reinert

A tecnologia esteve presente na peça teatral PaPeLê - Foto: Max Reinert

E para reforçar o caráter especial da peça teatral, as cenas pouco continham o recurso da fala. A  apresentação é marcada por outros elementos, como a linguagem corporal dos atores, trilha sonora na maior parte da peça, e a presença da tecnologia, onde o grupo uniu as animações em tela com a dramaturgia. Além da tecnologia, o grupo também  usa onomatopeias, que são imitações de sons geralmente presentes nas histórias em quadrinhos. A união dos  elementos garante  uma apresentação teatral com diversão e interatividade com o público.

PaPeLê é uma obra teatral com cerca de 50 minutos, que consegue mesclar a atuação e a animação, trazendo dinamismo à peça e entretenimento à plateia. A variação de cenas, sons, cores e movimentos corporais são os principais elementos que mantêm o público ligado na peça. Enfim, a apresentação do grupo catarinense transmite uma mensagem sobre o poder da imaginação com leveza e diversão, mantendo uma  linguagem atrativa para todas as idades.

Por Vinicius Sampaio

 

Serviço:

Peça: PaPeLê - Uma Aventura de Papel (Teatro Marista - 14h - 50 min)

Direção: Max Reinert 

Elenco: Mathý Groszewica, Sabrina Francez e Denise da Luz 

Classificação: Acima de 3 anos

Produção e Realização: Téspis Cia de Teatro (Itajaí/SC)

Peça infantil discute problemas do individualismo com graça e interação com o público

 

O espetáculo “Eu, Migo e Meu Umbigo”, que em 2022 completou 10 anos, lotou a sala de teatro do Sesc no terceiro dia de apresentações do 50° Festival Nacional de Teatro Amador (FENATA). Voltada ao público infantil, a peça é um solo de Daniel Meireles, que interpreta o Palhaço Suspiro. O ator faz uso da mímica para retratar o individualismo do mundo atual.

Palhaço Suspiro com mala que carrega crítica à sociedade | Foto: Kadu Mendes

Antes do início da apresentação, Daniel conversou com os espectadores e explicou o intuito da peça. Nesse momento, ele aproveitou para convencionar formas de interação com o público. Música, toque de sanfona e manipulação de bonecos oferecem a tônica da interpretação de Daniel. A peça deixa como recado que a sociedade está cada vez mais fechada nas suas particularidades e nos seus aparelhos tecnológicos. A consequência disso é uma sucessão de contradições nas relações sociais, pois as pessoas não veem mais umas às outras.

O estilo do palco é o proscênio, onde as cadeiras ficam enfileiradas de frente para o palco. As luzes na maior parte do tempo iluminavam todo o palco, porém em momentos mais emotivos, se concentravam no ator. Com simplicidade nas vestimentas e nos acessórios utilizados, a peça flui e passa a mensagem.

“Eu, Migo e meu Umbigo” é uma excelente apresentação. A peça entrega exagero, repressão, silêncio, raiva, individualismo, vaidade e a chance do amor, que estão nos gestos e dentro da mala do palhaço.

Por Kadu Mendes

 

Ficha técnica:

Peça: “Eu, Migo e Meu Umbigo” – Mostra do 50º Fenata (10/11/22, 15h)

Produção e Realização: O Bando Pero no Mucho - Santos/SP

Direção: Daniel Meireles

Atuação: Daniel Meireles

Classificação: Livre para todos os públicos

Duração: 32 minutos

Local: Estação Saudade/Sesc