Espetáculo aborda transformações da vida, combinando Arte e Ciência 

 

“Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. A frase do químico Antoine Lavoisier permeia A Borboleta da Colina, que tem como tópico principal a transformação. O enredo, que combina Arte e Ciência, conta a história de quatro personagens que preparam um jantar para alguns convidados, e durante esse tempo refletem sobre as transformações humanas e das coisas, comparando-as com as mudanças na vida de uma borboleta azul que o homem avistou na colina. 

 

A Borboleta da Colina

lluminação é parte essencial do espetáculo. | Foto: Yasmin Orlowski/Cultura Plural

“Seremos reduzidos a pó, ou melhor, a átomos, tudo no universo se resume a átomos” é uma das frases que pode demonstrar como a articulação entre Arte e Ciência foi pensada para a peça. Por meio do entendimento de algumas questões da Química, como vibração dos átomos e decomposição da matéria, o público consegue entender de forma poética como as transformações da vida acontecem e como podem ser positivas, assim como é para uma borboleta - que após nascer lagarta e entrar em um casulo, torna-se um animal belo que pode viver intensamente. 

No cenário, jogos de luzes, músicas e sapateado integram cada cena. Além disso, pode-se dizer que a peça é constituída por dois momentos: o do pensamento dos personagens e o da realidade. Durante a transição entre eles, a iluminação é essencial para que o público consiga distinguir cada momento. Nas cenas de reflexão, músicas, luzes baixas e focos com definição tomam conta do palco, elementos que são substituídos por uma luz clara que ilumina todo o cenário quando a realidade volta à tona.

A Borboleta da Colina mostra ao público que não se deve ter medo das transformações  já que são elas as responsáveis por fazer tudo evoluir para algo melhor. 

 

Por Ana Barbato

 

Serviço:

Peça: A Borboleta da Colina - Grupo Flogisto (Ponta Grossa/PR) - Mostra Campos Gerais (12/11/2022, 15h)

Elenco: Leila Freire, Nadhine Rios, Nivaldo Santana, Renan Sota

Direção, figurino e sonoplastia: Viviane Oliveira

Dramaturgia e cenário: Renan Sota

Iluminação: Bia Paixão

Duração: 45 minutos

Local: Auditório da Reitoria UEPG

Violência doméstica é o tema da peça de Michella França

 

“Eu me libertei!”. Assim é a primeira fala da personagem, interpretada por Michella França, no monólogo O que eu deveria saber se não fosse quem eu sou. A peça retrata a história de uma mulher que é vítima de violência doméstica por parte de marido e que, após 15 anos, resolve dar um fim no relacionamento abusivo. Se o tema principal já é de difícil digestão, imagina quando o espectador se depara com relatos de aborto e estupro vividos pela vítima durante as quase duas décadas de casamento. As agressões, segundo a mulher, ocorreram na própria casa. Lugar que deveria ser sinônimo de refúgio, mas que mostrou ser uma prisão.

 

DSC 0050Cenas em que personagem simula agressões físicas são o ápice da história | Foto: Catharina Iavorski 


A personagem não possui nome, visto que ela representa tantas Ana’s, Maria’s, Elza’s, Carla’s, Tatiana’s... enfim, todas as mais de 31 mil mulheres que afirmaram serem vítimas de violência doméstica. Os dados são da Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos, com base em levantamentos do primeiro semestre de 2022. Ainda sobre eles, ao todo, são cinco formas de violência contra as mulheres: física, sexual, psicológica, moral ou patrimonial. Todas abordadas pela protagonista da peça, conforme o relacionamento entre ela e o marido “evoluem” com o passar do tempo.


O cenário minimalista intriga quem está na plateia, pois Michella utiliza somente de uma corda e a representação do que seria uma teia de aranha para o desenrolar da história. As cores são predominantemente quentes, exceto pelo momento em que a personagem se encontra novamente presa ao seu agressor, após mais um episódio de agressões. Nesta cena, a cor muda para tons frios. É possível ver o desespero da vítima conforme a história avança, é um misto de medo, angústia e loucura. Afinal, quem não perderia a cabeça em meio a tanta violência?


Como consequência, a mulher é diagnosticada com depressão. A autoestima e a vontade de viver dão cada vez mais espaço à rotina de agressões. Após uma tentativa de suicídio, a vítima vê na vizinha um porto seguro. Neste momento, entra a corrida como medicamento para a depressão. Tanto as cenas de amizade com a vizinha como as corridas diárias não possuem desenvolvimentos, parecem estar ali somente para facilitar o fim da história. De fato, após tais elementos a história se encaminha para o final. A personagem finalmente denuncia o agressor e se vê livre dele. Se ele foi preso, ou se vai deixá-la em paz, isso ninguém sabe, nem mesmo a protagonista. Mas as amarras não as machucarão novamente.

 

Por Leriany Barbosa

 

Serviço: 

Peça: “O que eu não deveria saber se não fosse quem eu sou” – Mostra Campos Gerais do 50º Fenata (12/11/2022, 22h)

Produção e Realização: Grupo de Arte (Ponta Grossa/PR)

Direção: Michella França

Atuação: Michella França

Classificação: 14 anos

Duração: 40 minutos

Local: Cine Teatro Ópera

Uma peça sobre a arte, a plateia e como elas se conectam em busca da atenção plena

 

Em meio à escuridão do auditório, na plateia, surge Fábio Freitas, ator responsável pelo ato solo Cão chupando manga. No palco, encontram-se espectadores e responsáveis pelo festival, sentados em cadeiras dispostas ao redor de um tapete e de adereços, como cintos feitos de tampas de garrafas de cerveja. A partir daí, Fábio Freitas domina o espaço e a plateia, sempre de maneiras inusitadas. 

Cão chupando manga narra a história de um ator que, envelhecendo, encara sua relação com o público, com a arte e com o cenário do mundo atual, violento e sofrendo as consequências de uma pandemia. Em uma peça que se apresenta como um quase monólogo, Fábio Freitas se compara a um cachorro que observa as coisas ao seu redor e tenta ao máximo chamar a atenção das pessoas que estão o assistindo. O que impede a peça de ser um monólogo é a participação dos membros da plateia que estão em cima do palco com o ator, em movimentos cômicos como flertes e diálogos. 

Fábio Freitas não é somente o ator. Ele também é responsável pelo projeto, pela dramaturgia e pelos figurinos e adereços. Esse envolvimento do artista em todos os processos que tornam a peça realidade é visível no resultado final: um relato íntimo e doloroso de um ator que tenta conquistar pessoas que nem conhece, como um cachorro abanando o rabo. Durante a peça, Fábio fala com a plateia em tons sexuais, dança e tenta, até a exaustão, fazer com que o foco fique nele o tempo inteiro. Seus esforços parecem até desnecessários, tamanho o talento do artista, que já prendia a atenção de seu público antes mesmo de dizer suas primeiras palavras. 

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Fábio Freitas em cena. Foto: Victor Schinato/Lente Quente

 

Um destaque especial vai para o trabalho de iluminação, que ajuda o ator a manter sua narrativa convincente. Em momentos de melancolia, a luz azul se mostra dominante. Em momentos de dança, um vermelho profundo ou várias cores se alternando preenchem o palco. Quando a narrativa se torna ainda mais íntima, o holofote em meio ao palco escuro mostra que, em alguns momentos, artistas se sentem solitários em suas reflexões. 

Cão chupando manga é uma peça do Teatro de Anônimo, da cidade do Rio de Janeiro. Seu objetivo é claro: alcançar um nível de autoconhecimento da arte e fazer com que o público também reconheça a exaustão do trabalho teatral. Fábio Freitas deseja deixar sua plateia sem palavras, sem reação, confusos com tudo que ele faz no palco. Nisso, na 50ª edição do Fenata, ele foi, com toda a certeza, bem sucedido. 

 

Por Maria Helena Denck

 

Serviço:

Peça: Cão chupando manga

Autoria: Fábio Freitas

Grupo: Teatro de Anônimo 

Iluminação: Guiga Ensa

Trilha sonora: Ivam Cruz 

Apresentação no auditório A do Cine Teatro Ópera, no dia 12 de novembro, às 20 horas. 

Peça Números traz várias apresentações

Como é tradição no Fenata, o início da manhã de sábado é sempre marcado com apresentações abertas ao público na Rua Coronel Cláudio, o popular Calçadão de Ponta Grossa. Em 2022 não foi diferente.

A Companhia de Circo Palhaços de Rua, da cidade de Londrina, no norte do Paraná, composta pelos atores Lucas Turino e Adriano Gouvella, se apresentou no meio do Calçadão, com a peça Números, trazendo diversos números circenses ao público, misturados com ação, interpretação e humor. Os dois atores estavam caracterizados nos personagens Palhaço Turini e Batata Doce.

Entre piruetas, saltos, danças, interações com o público e até atividade com fogo, a proposta dos palhaços realiza um espetáculo perfeito, mas acabam fazendo diversas trapalhadas, arrancando risadas e aplausos dos espectadores.

Peça Números

Foto: Catharina Iavorski

Os artistas interagiram tanto com os adultos presentes quanto com as crianças, e atraíram a atenção de quem foi prestigiar o show circense dos palhaços ou de quem apenas passava pela Coronel Cláudio e parou para assistir.

O espetáculo, apesar de simples, é organizado, com diversos números em mais de meia hora, com sincronia entre os dois personagens e sem falhas na atuação. A única interrupção que houve foi por conta da Guarda Municipal, que resolveu passar com a viatura no meio da apresentação, forçando  uma pausa para o público abrir passagem. Houve algumas críticas e vaias por parte do público por conta da interrupção, que durou cerca de 1 minuto.

O espetáculo aberto levou diversão às pessoas não têm acesso ao teatro e valorizam a cultura circense, que é uma das expressões tradicionais do país, que sobrevive e atrai o público, prestigiando a atração desde o início até o fim a apresentação de Turino e Batata Doce no 50º Fenata.

 

Serviço

Peça: Números - Companhia de Circo Palhaços de Rua. Fenata (Rua Coronel Cláudio - Calçadão) 12/11/22, 10h

Direção: Companhia de Circo Palhaços de Rua

Produção: Adriano Gouvella 

Elenco: Lucas Turino e Adriano Gouvella

Classificação: Livre

Produção e Realização: Companhia de Circo Palhaços de Rua (Londrina/PR)

 

A vida do palhaço não é a alegria que transmite ao outros

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Uma tragicomédia. Essa é a definição para o espetáculo “Ânimo Festas”, apresentado ontem no Fenata, o Festival Nacional de Teatro, promovido pela Universidade Estadual de Ponta Grossa. O monólogo narra com tons sarcásticos, o submundo da vida do palhaço Klaus, animador de festas infantis, mas que não se ajusta ao personagem e sofre enquanto tenta fazer a diversão de crianças e adultos.

Klaus, o personagem interpretado pelo ator e palhaço Marcio Douglas, tem uma voz rouca, que quebra a tendência de que palhaços tenham voz infantilizada. E com rouquidão que denota ódio, narra suas cômicas desventuras com as festas infantis. O palco é um pequeno picadeiro, com balões que são estourados pelo personagem a cada elemento que lhe causa desgosto e raiva, seja o contratante ou o aniversariante. A sonoplastia é um primor, misturando rock, música francesa e clássicos infantis da década de 1980.

Diz a sabedoria popular que o palhaço chora enquanto faz rir. Klaus transmite a verdadeira distância entre a necessidade de ser profissional da alegria e o viver essa alegria. Fazer a alegria dos outros nem sempre significa estar alegre. Klaus fez uma escolha errada ao decidir ser animador de festas infantis. Mas as contas precisam ser pagas e a profissão precisa ser encarada, custe o que custar. E a cada desventura fica a pergunta: palhaço, você é feliz?

O espetáculo tem iluminação vibrante e colorida como uma apresentação circense e trilha de ótima qualidade que conduzem o público ao cerne da narrativa. O figurino denota a decadência do palhaço Klaus e chama a atenção para o lado sombrio de sua vida dentro e fora das festas infantis. A montagem é apaixonante e prende a atenção do início ao fim.

Ânimo festas é uma produção de Klaus Empreendimentos Artísticos e La Cascata Companhia Cômica, de São José dos Campos (São Paulo). Em pouco mais de uma hora, misturando um espetáculo de teatro e circo, fez uma boa dosagem entre a tragédia da vida pessoal do palhaço Klaus e a comédia da narração, arrancando gargalhadas do público que superlotou o auditório B do Cine Teatro Ópera.

Serviço:

Criação e atuação: Marcio Douglas

Iluminação: Renato Jr

Sonoplastia: Marcio Douglas e Jessica Zelma

Cenografia e figurino: Marcio Douglas

Texto e Foto: Eder Carlos