Exigência de vacinação para matrícula em escolas estaduais provoca filas em UBS

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Unidade de Saúde Dra. Zilda Arns, Parque Nossa Senhora das Graças. Foto: Fernanda Wolf

 

A equipe de reportagem do Portal Periódico esteve na quarta-feira 28 de novembro, na Unidade de Saúde Básica (USB) Zilda Arns, no bairro Parque Nossa Senhora das Graças no Boa Vista. O objetivo foi conferir como estava o atendimento em decorrência da Lei Estadual 19.537 de 4 de julho de 2018 que determina a obrigatoriedade da carteira de vacinação estar em dia para a realização da matrícula escolar que, neste ano, acontece de 4 a 8 de dezembro.

 

Às 8h40, a fila já havia alcançado o lado de fora da unidade com crianças, adolescentes e pais. Dentro, a maioria das cadeiras da área de espera estava ocupadas. Às 13h15, também encontramos filas no mesmo local e também estava tão cheio quanto no período da manhã.

 

Todos os dias são liberadas 25 senhas para a população nesta unidade. A enfermeira-chefe, Joice Martins, explica que a senha vale para a família. “Você tem quatro filhos e eu dou uma senha para você. Dentro da sala você tem os quatro filhos, mas cada filho tem que tomar tipo três ou quatro vacinas”, relata. “Isso gera uma demanda maior”, ressalta.

 

Além também da aplicação, há o tempo necessário para o registro das vacinas no sistema e escrever, manualmente, nos documentos, as informações sobre as vacinas aplicadas, como o tipo e a dosagem.

 

Não há falta de vacinas, conta Martins que ressalta, no entanto, que a USB tem tido dificuldade para atender a demanda. Isso se deve ao fato de que, algumas vezes, há cem pessoas na fila esperando uma das 25 senhas diárias e, no máximo, são disponibilizadas 30. Uma das vacinas mais procuradas, neste período, segundo a enfermeira, é a vacina do HPV (Papilomavírus humano), que é um vírus que atinge a pele e as mucosas.

 

Fabiana Aparecida Soares estava na fila com sua filha de dois anos e conta que, às vezes, fica uma semana direto indo na Unidade e não consegue vacina, pois faltam senhas. “Faz um mês que eu estou tentando vacinar minha filha e não consigo”, conta.

 

Embora faça o esforço de manter a carteira de vacinação do filho de 11 anos em dia, Jeni da Silva Andrade reclama da espera para obter a senha. A mãe relata que não conseguiu vacinar, anteriormente, já que antes as unidades de saúde estavam em período de campanha de vacinas específicas.

 

A Assessoria de Imprensa da prefeitura reconhece a alta demanda, mas alega que ela está sendo atendida. Em nome da Secretaria Municipal de Saúde, a enfermeira e apoiadora da Atenção Básica, Caroline Agulham, afirma que já havia uma expectativa do Governo Municipal aumento do número de pacientes em busca de vacina. “Desde que saiu a lei porque a gente acompanha nossos indicadores e sabíamos que nossa cobertura vacinal estava baixa”, reconhece.

 

De acordo com Agulham, a prefeitura organizou, junto às equipes das UBS, uma estratégia verificando a demanda nas escolas. Além disso, foi emitida uma declaração junto aos estabelecimentos escolares a fim de organizar o atendimento e evitar as filas.

 

Agulham alega, no entanto, que os responsáveis não enviaram, para as escolas, as cadernetas de vacina no dia estipulado nas escolas. Com isso, os pais tiveram que se deslocar até as unidades de saúde. “O que ocorreu foi uma negligência por parte dos pais e responsáveis que não se atentaram e mantiveram a caderneta em dia”, contesta.

 

“Agora, estamos tendo que correr atrás deste prejuízo”, esclarece. A estimativa é que 90 mil alunos façam matrícula ou rematrícula no período estabelecido pela Secretaria Estadual de Educação. Portanto, até o dia 8 de dezembro essa é a demanda a ser coberta.

 

A obrigatoriedade da carteira de vacinação em dia para a matrícula escolar

 

Atualmente, as escolas públicas e particulares do país podem pedir a caderneta de vacinação da criança no ato da matrícula. A medida está prevista pela Lei Estadual 19.537 de 4 de julho de 2018 assinada pela governadora Cida Borghetti (PP). Todos os alunos da educação infantil, ensino fundamental e médio até os 18 anos devem se adequar à lei.

 

As vacinas consideradas obrigatórias, neste caso, são as presentes no Calendário de Vacinação da Criança e o Calendário de Vacinação do Adolescente, de acordo com o Ministério da Saúde e a Secretaria de Saúde do Estado.

 

O Calendário de Vacinação da Criança 2018/2019, que abrange aquelas em idade de 0 a 10 anos, determina a aplicação de vacinas gratuitas que são ofertadas pelas UBSs. São elas: BCG ID, Hepatite B, tríplice bacteriana, Haemophilus influenzae B, poliomielite (vírus inativado), rotavírus, pneumocócicas conjugadas, meningocócicas conjugadas, influenza (gripe), poliomielite oral (vírus vivos atenuados), febre amarela, hepatite A, tríplice viral, varicela (catapora) e HPV.

 

As não disponíveis são: meningocócica B, vacina tríplice bacteriana e dengue. Apenas esses casos, é preciso pagar para receber a vacina em uma unidade de saúde de serviço privado.

 

No Calendário de Vacinação do Adolescente 2018/2019 as vacinas obrigatória e oferecida gratuitamente nas Unidades são: tríplice viral, hepatite B, HPV, tríplice bacteriana, influenza (gripe), meningocócicas conjugadas e febre amarela. As não gratuitas são: hepatite A, hepatite C, varicela (catapora), meningocócica B e dengue, todas devem ser obtidas nas redes particulares de vacinação.

 

A idade certa de vacinação e o número de doses a ser tomado deve ser consultados nos calendários.

 

A ausência de declaração da vacina não impossibilita a matrícula ou rematrícula. No entanto, os responsáveis precisam regularizar a situação em um prazo de 30 dias, caso contrário, a escola deve comunicar o descumprimento ao Conselho Tutelar. Só será dispensado da determinação, o aluno que possuir atestado médico de contraindicação da aplicação da vacina.

 

A equipe de reportagem do Portal Periódico entrou em contato com o Conselho Tutelar para verificar o procedimento adotado quando descumprida a determinação da Lei 19.537. Até o fechamento da reportagem não foi obtida resposta.

 

Cenário da vacinação nos últimos anos

 

O Paraná tem vacinado menos pessoas do que deveria, especialmente crianças. Em 2017, a meta era vacinar 95% do público-alvo com a tríplice viral, cujo alvo são o sarampo, a caxumba e a rubéola. Porém, a  cobertura foi de 86,2%.

 

Nos últimos anos, de 2015 a 2017 não foi cumprida a cobertura estimada do número da cobertura de vacinação pela vacina da pentavalente - obrigatória para crianças - em Ponta Grossa. Esta é uma das vacinas mais importantes na carteira de vacinação infantil por abranger 5 vacinas em uma, prevenindo contra difteria, tétano, coqueluche, meningite por haemophilus influenzae tipo B e poliomielite. Em 2014, a cobertura foi de 100%; em 2015, 49%; em 2016, 83%; e, em 2017, 76%.

 

Segundo recomendações da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm)  no Calendário de Vacinação da Criança para o ano de 2018/2019, as vacinas aplicadas até um ano de idade devem ser BCG ID, hepatite B, tríplice bacteriana, haemophilus influenzae tipo B, poliomielite, rotavírus, pneumocócicas conjugadas, meningocócicas conjugadas, meningocócica B, influenza, febre amarela, hepatite A, tríplice viral, varicela e poliomielite oral.

 

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A vacina pentavalente é aplicada, de acordo com a SBIm, em crianças a partir 2 meses de idade até os 7 anos. São reunidas cinco vacinas inativadas, ou seja, que não causam doenças. A pentavalente foi criada para diminuir o número de injeções em um mesmo momento usando o método de combinação de vacinas.

 

Dados do Ministério da Saúde (http://sage.saude.gov.br/), em Ponta Grossa, em 2017, a cobertura da vacina meningocócica C conjugada foi de 76%, 24% a menos se comparado ao ano de 2016. A vacina  Menincocica C Conjugada previne uma bactéria que pode ser a causa de infecções graves, às vezes, até fatais, como a meningite e a sepse.

 

Outra queda foi da vacina pneumocócica que foi incluída, em 2010, no Calendário Básico de Vacinação da Criança do Ministério da Saúde. A queda foi de 7% de 2017 em relação a 2016. De 2014 (99%) para 2015 (49%), foi registrada a maior queda, com redução foi de aproximadamente 50%.

 

A vacina da pneumocócica é obrigatória e protege as crianças de bactérias tipo pneumococo, que causam doenças graves como meningite, pneumonia, otite média aguda, sinusite e bacteremia.

 

Em 2017, em Ponta Grossa, o número de crianças menores de 1 ano de idade era de 5.563. A cobertura da vacina pentavalente foi de 76%. Ou seja, 24% deixaram de ser vacinadas na rede pública. Uma diminuição de 6% de cobertura em relação ao ano anterior, 2016. No Brasil, a cobertura foi de 77%. Já em relação ao Estado do Paraná, a cobertura vacinal ponta-grossense foi 8% menor que a cobertura estadual, de 84%, no ano de 2017.

 

Para a enfermeira-chefe da Unidade de Saúde Dra. Zilda Arns, Joice Martins, a menor vacinação da pentavalente acontece por negligência e irresponsabilidade dos responsáveis legais. “As pessoas estão vindo aqui e sabe-se lá desde quanto tempo elas estão sem tomar [as vacinas]. A gente encontra carteirinhas [desatualizadas] desde 2010, 2014, 2016”, comenta.

 

Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a Lei 8.069 de 1990, estabelece que é dever da família assegurar efetivação dos direitos referentes à saúde da criança. A legislação prevê punições aos responsáveis que não vacinarem seus filhos.  Pelo artigo 249 do ECA, o descumprimento do calendário de vacinação pode levar à multa de três a 20 salários mínimos, aplicando-se o dobro em casos de reincidência.

 

As vacinas consideradas obrigatórias são as que devem ser aplicadas em crianças de 2 e 12 meses. É o caso da vacina penta, da pneumocócica 10 valente, da vacina oral rotavírus humano (VORH), da vacina inativada de poliomielite (VIP), da vacina oral poliomielite (VOP), a vacina meningocócica C, a vacina contra febre amarela e a tríplice viral (sarampo, rubéola, caxumba). Aos 15 meses, são obrigatórias mais três vacinas: a tetraviral (sarampo, rubéola, caxumba, varicela), a vacina contra hepatite A e DTP (tríplice bacteriana).

 

Aos 4 anos, os pais devem levar os filhos para vacinar contra varicela e, além disso, receber uma dose de reforço da vacina DTP e uma da VOP. Entre os 10 e 19 anos, são obrigatórias as vacinas dupla adulto (com reforço a cada 10 anos); uma dose de reforço da meningocócica C; e duas doses da vacina contra o HPV (para meninas, as doses devem ser aplicadas entre os 9 e 14 anos; para meninos, devem ser aplicadas entre os 11 e 14 anos).

Prevenção e tratamento ainda são essenciais nos casos de HIV

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De 2007 até junho de 2017, foram notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) 194.217 casos de infecção pelo HIV no Brasil, sendo 40.275 (20,7%) no Sul. O dado coloca a região como segunda colocada no país, ficando atrás apenas do Sudeste, com 96.439 (49,7%). O dado se torna preocupante quando se verifica, a nível nacional, um aumento médio anual de 40 mil casos nos últimos cinco anos.
Em Ponta Grossa, a Secretaria Municipal da Saúde registrou, de janeiro a julho deste ano, que 34 pessoas foram detectadas com o vírus. É quase a metade do total número do ano passado, que chegou a 66 casos. Os dados do município ainda indicam que o número de adultos que desenvolveram a doença, de janeiro até julho deste ano, foram 16. Desde 2010 até julho deste ano, foram detectadas sete crianças com a aids.
A professora e médica infectologista do curso de Medicina da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Paula Toledo,  afirma que o aumento do número de casos possivelmente está relacionado a um maior descuido por parte da população. Com tratamentos modernos, muitas pessoas conseguem, atualmente, manter boas condições de saúde mesmo sendo portadoras do HIV, como ressalta a médica. Toledo destaca que, em função dessas melhorias, “as pessoas se tornaram menos cautelosas quanto à sua prevenção”.
Pesquisa realizada pela DKT International, ONG que promove o planejamento familiar e a prevenção do HIV, mostrou que cerca de 47% dos entrevistados, entre 14 e 24 anos, não costumam utilizar preservativos nas relações sexuais. O levantamento ouviu mais de 1.500 pessoas em todo o Brasil e revelou ainda que 74,8% dos participantes nunca fizeram o teste para saber se possuem ou não o vírus do HIV.
Para o professor de História Cláudio Dias, também pesquisador da história das doenças, com foco na aids, contribui para o aumento dos casos da doença a Emenda Constitucional (EC) 95. Aprovada em 2016 pelo Congresso Nacional, a emenda congela, por 20 anos, os gastos nas áreas da saúde e de educação. “É preciso investir em propagandas, em medicamentos e em atenção à saúde. Sem propagandas aumentam os casos, pois as pessoas, sem conhecimento da doença, só criam redes do vírus”, completa Dias para quem o corte de gastos também provoca a falta de medicamentos.
Para o professor, é importante falar do vírus e que, mesmo a doença sendo incurável, ela pode ser controlada, o que para ele não está sendo feito de forma suficiente e adequada. “Sem conhecer os mecanismos causais e os problemas que acarretam, gera o descuido da população. O sujeito não sabe que tem uma doença sexualmente transmissível e não usa preservativo”, ressalta. Dias também alerta para o desconhecimento, por parte da população, de que existe uma medicação específica para a pós-exposição a uma situação de risco. “Tem que ter investimento público para atender essas demandas”, ressalta.
Questionado sobre a evolução do HIV, o professor afirma que após a descoberta da epidemia da doença, nos anos 90, houve um empenho do público com campanhas e tratamentos, que levaram ao controle da aids. O problema, ressalta Dias, é que o resultado positivo da ação levou a uma regressão no comportamento das pessoas.
A médica Paula Toledo alerta para o fato de que isso fez com que os números voltassem a crescer, principalmente entre os jovens e a população idosa. “É fundamental que sejam feitas campanhas e ações públicas reforçando a importância do sexo seguro, não apenas pelo risco do HIV, mas também de várias outras DST’s cuja incidência vem crescendo absurdamente, como é o caso da sífilis”, completa Toledo.
A médica também afirma que outro problema é que a população acaba abandonando o tratamento e, mesmo com a oferta de testes e atendimento psicológico, há quem acabe se negando ao tratamento.


Tratamento em Ponta Grossa
Segundo o Ministério da Saúde, a aids é causada pela infecção do vírus da imunodeficiência humana, o HIV (sigla em inglês). O vírus ataca o sistema imunológico, responsável por defender o organismo de doenças. Ter o HIV não é a mesma coisa que ter aids.  Há muitos soropositivos que vivem anos sem apresentar sintomas e sem desenvolver a doença, mas, mesmo assim, eles podem transmitir, quando não tomam as medidas de prevenção. É o caso das relações sexuais sem o uso de preservativos e do compartilhamento de seringas contaminadas. A contaminação também pode ser dar da mãe para o filho, durante a gravidez e a amamentação.
O diagnóstico precoce é um forte aliado. Muitas das pessoas que transmitem o vírus nem sabem que estão doentes. Hoje é possível fazer testes rápidos disponíveis na rede pública de saúde. É fundamental que as pessoas que tiveram relações desprotegidas procurem os serviços de saúde para fazer o teste. “Se há prevenção, a cadeia de transmissão vai sendo quebrada. Para isso, é essencial tomar medidas de proteção individual, como o uso da camisinha masculina ou feminina, que podem ser encontradas gratuitamente nas Unidades Básicas de Saúde”, explica Toledo.
A enfermeira do Serviço de Assistência Especializada - Centro de Testagem e Aconselhamento (SAE/CTA), Claudia Castilhos, explica como é feito o acompanhamento assim que detectada a presença do vírus. “O paciente vem com o resultado da Unidade de Saúde ou é diagnosticado no SAE/CTA. Assim que a pessoa é diagnosticada como soropositivo para HIV, é iniciado o tratamento, aqui, no SAE/CTA”, descreve. Após ter a exposição, é importante procurar o Pronto Socorro até 72 horas para iniciar com a medicação. “A Profilaxia Pós-Exposição (PEP) é ministrada por 28 dias”, destaca a enfermeira. “A maioria desconhece, mas a prevenção chega a 100% se tomada a tempo”, alerta.
Em Ponta Grossa, os testes são feitos, gratuitamente, para a população e estão disponíveis em todas as Unidades de Saúde e no SAE/CTA, com resultados em até 20 minutos. A UEPG também possui testes rápidos para detecção do vírus, com resultados entregue no mesmo prazo. Os ambulatórios dos Campi Uvaranas e Central realizam o serviço para acadêmicos e servidores, bem como a população geral, neste caso, mediante agendamento.

Pacientes reclamam da demora no atendimento médico especializado

atendimento 14 11 2018
Falta e atraso de médicos, associados à baixa remuneração, são apontados como as causas das filas de espera que podem durar anos

 

Muitos pacientes, que vêm à Ponta Grossa em busca do serviço médico especializado do Sistema Único de Saúde (SUS), enfrentam problemas como a demora no atendimento e a falta de médicos. Segundo o secretário da Terceira Regional de Saúde de Ponta Grossa, Isaías Cantoia, o tempo para obter por uma consulta, para as pessoas que já se cadastraram na fila de espera, pode durar de meses a alguns anos.

 


O Governo do Estado oferece transporte para levar pacientes de cidades onde não há o atendimento especializado pelo SUS para os municípios que disponibilizam o serviço,  como é o caso de Ponta Grossa. As consultas são realizadas no Consórcio Intermunicipal de Saúde (Cimsaúde), no Hospital Santa Casa e no Hospital Universitário Regional dos Campos Gerais.

 


Alguns pacientes estão há mais de cinco anos esperando por atendimento. Outros optam pelo atendimento particular por causa da demora. É o caso de Irani Oliveira, professora aposentada de 69 anos da cidade de Castro.“Tive uma situação em que eu precisei de um médico cardiologista. Fui atendida no posto e encaminhada para a fila de espera, mas demorou muito tempo para eles agendarem”, relembra Irani. A aposentada queixa-se ainda de que “a fila de espera é enorme”. Apesar de ser um caso de urgência, Irani ainda aguardou por dois meses.  A professora afirma que, após esse tempo, foi obrigada a buscar atendimento na rede privada, uma vez que ela não havia conseguido agendamento pelo Consórcio Intermunicipal de Saúde (Cimsaúde).

 


Dona Elaine Santos Rieger, de 72 anos, residente em Castro, ficou por quase três anos na fila de espera para o atendimento em Ponta Grossa. Desde o final de 2015, ela aguardava para se consultar com um oftalmologista. “Somente agora [em agosto deste ano] eles me chamaram. É ruim a gente ser refém desse tipo de atendimento”, reclama. “Mas tô aqui, hoje, pra ver se vão me chamar ou se eu volto pra casa de novo sem ser atendida”, afirma.

 


 Para Gilmar Santos, aposentado de 68 anos e residente de Telêmaco Borba, além das filas, o deslocamento é outro grande empecilho enfrentado. Santos, que buscava atendimento endocrinológico, também queixa-se da demora e de que os pacientes, às vezes, voltam pra casa sem o atendimento, tendo que retornar no dia seguinte.

 


“Em Telêmaco, desde que eu fui à especialidade até me chamarem para ser atendido, demorou quase um mês. E, na minha cidade, só tem um médico endocrinologista e ele não atende pelo SUS. Então, ficamos refém do atendimento em outras cidades”, reclama.

 


Problema pode estar na baixa remuneração e no atraso dos médicos

 


De segunda a sexta-feira, chega a Ponta Grossa pelo menos um ônibus vindo de Ortigueira, Castro, Telêmaco Borba e Reserva. Em média, cada veículo traz de 20 a 30 pacientes para atendimento no Hospital Santa Casa, na Terceira Regional de Saúde, no Hospital Regional e no Cimsaúde. Quando os ônibus estão com lotação máxima, as prefeituras disponibilizam veículos menores para o transporte. O administrador do Consórcio, Luciano Camargo, explica que embora o número de pacientes varie, diariamente, a demanda é sempre alta. O número de atendimentos, segundo Camargo, gira em torno de 30 pessoas por dia.

 


 Há 8 anos, o motorista Valdecir dos Santos Gouveia faz o transporte de Ortigueira a Ponta Grossa. “Tem vezes que vem uns 15 passageiros, mas há dias em que pode vir dois ônibus e mais carro pequeno, porque só os ônibus não são suficientes para levar as pessoas. Porém, a quantidade varia”, conta Valdecir. Além da fila de espera, que pode durar anos, Gouveia ainda explica qu e problema enfrentado pelos pacientes enfrentam é a demora para serem atendidos no dia em que a consulta foi agendada. O motorista alega que isso é provocado pelo fato de que há médicos que vêm de Curitiba para atender as especialidades de Ponta Grossa e o deslocamento sempre acaba atrasando as consultas.“O horário que saímos das cidades é às 5 horas da manhã, mas não existe horário de retorno definitivo”, explica alegando que o atendimento é demorado e que, muitas vezes, o paciente mesmo tendo horário agendado não consegue a consulta por causa da demora.

 


O motorista faz a viagem todos os dias, de segunda a sexta, deixando pacientes nos diversos pontos de atendimento em Ponta Grossa. E, no sábado, ele leva os pacientes apenas para o Consórcio Intermunicipal de Saúde. “Nós levamos em todos os hospitais, até no Regional, onde o problema de demora é o maior de todos. Os pacientes esperam. Nunca são atendidos na hora e, muitas vezes, voltam pra casa sem a consulta. No outro dia, tentam de novo”, descreve.“Essas especialidades são de difícil acesso porque são poucos os serviços que oferecem pelo SUS essas consultas e esses exames, por ser pouco serviço, as filas são grandes por ser filas do estado todo.” Na Santa Casa, a média é de 923 pacientes atendidos, mensalmente, pelo SUS. O hospital conta apenas com 20 médicos das seguintes especialidades: Oncologia, Cardiologia, neurologia, vascular, cirurgia em geral e gestação de alto risco.

 

Já no Hospital Regional conta com especialistas de oito áreas: cirurgia geral, pediátrica, plástica, endocrinologia, ginecologia, neurologia, obstetrícia de alto risco e ortopedia. Os at endimentos no Cimsaúde contemplam oito áreas cardiologia, otorrino, dermatologista, endocrinologia, obstetrícia, psiquiatria, neurologia e oftalmologia.  De acordo com o secretário da Terceira Regional de Saúde, especialidades como  cardiologia e oftalmologia, que são as mais procuradas, demoram mais devido ao baixo número de médicos. Cantoia alega que há uma recusa, por parte dos médicos, em atender pelo SUS, pela baixa remuneração. Para o diretor, o problema se encontra na falta de médicos que aceitem atender pelo Sistema Único de Saúde. O Sindicato dos Médicos do Paraná (Simepar) não quis se manifestar a respeito.

Encerra o mês de conscientização do câncer de mama

Segundo o Instituto Nacional do Câncer, o câncer de mama é o pricipal motivo de morte entre as mulheres brasileiras. Normalmente o risco aumenta depois dos 50 anos de idade.

 

Confira na reportagem de Luiza Sampaio e Gabriella Vasco como prevenir e diagnosticar a doença.

Novo quadro da Alep mantém perfil elitista

Embora a radialista Mabel Canto (PSC) seja a primeira mulher de Ponta Grossa a se eleger deputada estadual, os políticos ponta-grossenses que conquistaram uma vaga na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) tendem a repetir o padrão elitista. O novo quadro de políticos que irá ocupar, a partir de janeiro de 2019, o legislativo estadual mantém um perfil hegemônico que não contempla, de modo geral, as minorias.

 

Dos 54 deputados estaduais do Paraná que passaram a integrar a Alep na legislatura teve início 2014 e se encerra neste ano, nenhum é negro, possui patrimônio inferior a R$ 50 mil e representa a comunidade LGBTI+. Além disso, todos já tiveram acesso ao ensino superior.

 

Tendo em vista que mais da metade (61%) dos deputados estaduais foram reeleitos em 2014, observa-se que o perfil hegemônico já vem de legislaturas anteriores. Se considerado o quadro que irá compor a Alep a partir de janeiro de 2019, o desenho elitista se perpetua, sendo que 55,5% dos deputados eleitos em 2014 conseguiram se reeleger novamente.

 

A composição atual da Alep possui apenas três cadeiras ocupadas por mulheres. Com a eleição de 2018, o número cresceu para quatro: Maria Victoria (PP), reeleita, e assume o cargo Cristina Silvestri (PPS), Mabel Canto (PSC) e Luciana Rafagnin (PT). Neste ano, foi eleito apenas um candidato, Galo (Pode), que se identifica como negro. A comunidade LGBTI+ não conseguiu eleger nenhum representante para a nova composição da Assembleia.

 

Com o resultado das eleições de 2018, cai de três para duas vagas a participação de políticos ponta-grossenses no legislativo estadual a partir do próximo ano. Além de Mabel Canto, que recebeu 35.036 votos, foi reeleito o deputado Plauto Miró Guimarães, com 36.332 votos. Houve redução do número de cadeiras e ainda é possível perceber que não somente os políticos eleitos, mas também todos os demais candidatos com residência fixa em Ponta Grossa se enquadram no perfil elitista.

 

 

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Se considerados os candidatos a deputado estadual na eleição deste ano, temos que cerca de 76% dos 13 se enquadram no perfil hegemônico das últimas eleições, exceto pelo fato de que há três mulheres (aproximadamente 23%).

 

Fator econômico mantém elite no poder

 

Para o professor da rede pública de ensino Rodrigo Guidini Sonni, graduado em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), historicamente no Paraná, o fator econômico mantém, no poder, pessoas que se enquadram no perfil elitista identificado nas últimas eleições para deputado estadual.

 

“Os candidatos com o perfil hegemônico costumam concentrar as arrecadações. Os financiamentos de campanha fazem com que eles se mantenham [no poder]”, critica destacando ainda o conservadorismo da cultura local. “Existe um racismo estrutural e um machismo estrutural que colaboram para a manutenção desse perfil”, reforça.

 

Na perspectiva dos movimentos sociais, o administrador e integrante da comunidade LGBTI+ e do movimento negro de Ponta Grossa, Cleyton Reis, acredita que o município não lança candidatos que representam as minorias na questão de políticas públicas.

 

Reis foi candidato, pela primeira vez em 2018, a deputado federal pelo partido PSol. Com 556 votos, não conseguiu se eleger.  “Desde que cheguei aqui, em Ponta Grossa, em 2014, percebi a falta de condições e de interesses, em especial, nas condições que promovem a política pública, sua acessibilidade e aceitabilidade por parte dos diversos segmentos que atuam na gestão pública”, critica ressaltando que a candidatura visou contribuir para mudar esse cenário.

 

Para Reis, “valorizar e criar ações conjuntas de interação com as camadas de base, ou seja, de regiões periféricas, possibilitam o acesso à democratização frente ao seu valor e garantia de direitos”.

 

Em relação à formação histórica do perfil hegemônico não inclusivo dos candidatos em Ponta Grossa, o professor de História, Cláudio Dias, afirma: “creio que seja a formação social. Temos uma formação europeia, branca e de ethos empresarial liberal e meritocrático. De alguma forma, isso se enraizou em nossa região e se reproduz perante a população”.

 

Segundo Dias, esta formação influencia no perfil representativo dos candidatos da região que não contempla as minorias, ou seja, pessoas negras, indígenas, alijadas da terra e da moradia e LGBTI+. “Fica fácil entender porque só elegemos perfis hegemônicos”, reitera.

 

 

ENTENDA O QUE SO AS MINORIAS SOCIAIS

O papel da população em relação à manutenção do perfil hegemônico em Ponta Grossa não pode ser desconsiderado, segundo Cleyton Reis. “A participação popular acaba sendo fruto dessa falta de boas ações da gestão pública que as impossibilitam de avançar”, ressalta.

 

O fator crucial de mudança do quadro político em Ponta Grossa, de acordo com o militante de movimentos sociais, seria criar mecanismos e incentivar a economia que favoreça as minorias. Para Reis, isso traria resultados financeiros que permitiriam o equilíbrio nas relações sociais.

 

Os dados utilizados para a análise apresentada nesta reportagem sobre o perfil dos candidatos a deputado estadual no Paraná, foram obtidos através do site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) (http://divulgacandcontas.tse.jus.br/divulga/#/).

 

Venda de veículos aumenta 29% em Ponta Grossa

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) 9 em cada 10 pessoas respiram ar poluído, sendo assim o aumento da venda de veículos contribui com a expansão das doenças respiratórias. Confira na Reportagem de Bruna Kosmenko e Rafael Santos.

Consulta pelo SUS de pacientes com câncer cai de 1200 para 850

Em setembro, foram oferecidos apenas 350 atendimentos por causa do impasse na renovação de contrato entre Hospital Santa Casa e Governo Estadual

Com a finalização do prazo de vigência do antigo contrato de prestação de serviço do Hospital Santa Casa de Misericórdia de Ponta Grossa, o número de consultas mensais pelo Sistema Único de Saúde (SUS) baixou de 1.200 para 350. A mudança provocou o cancelamento de vários atendimentos no último mês e, após o fechamento de novo acordo em 27 de setembro, o limite de consulta foi fixado em apenas 850, o que representa uma queda de 30%.
Pacientes que tiveram a consulta desmarcada, sem previsão de nova data, ficaram apreensivos. É o caso da paciente Leonil Aparecida Correa Lima, que recebeu o diagnóstico da doença em 2015. O câncer no útero progrediu para uma metástase que, atualmente, se encontra em estágio 5.
Leonil teve a consulta desmarcada um dia antes do atendimento previsto para o dia 20 de setembro, pelo Hospital Santa Casa. A explicação recebida para o cancelamento foi o fato de que o hospital não estava recebendo a verba para pagar os médicos.A paciente explica que a última consulta pelo SUS se deu em janeiro e, na ocasião, o médico pediu uma tomografia. Indignada, ela destaca que fez o exame em julho para ser entregue na consulta cancelada de setembro. “É preocupante, pois está demorando demais. Eu não sei quando vou entregar para o médico ver como está a minha situação”, queixa-se.
A situação de espera e demora gera angústia diante da gravidade da doença. “Será que eu aguento esperar todo esse tempo? É um câncer bem grave. É uma metástase. Eu fico muito preocupada com tudo isso, mas não tenho o que fazer. Tenho que aguardar, pois é pelo SUS”, lamenta.A entrevista ao Portal Periódico foi realizada em final de setembro. No início deste mês, a paciente conseguiu reagendar a consulta para o dia 24 de outubro. No entanto, foram várias tentativas de contato por telefone, seguindo procedimento orientado pelo próprio Hospital, no momento de cancelamento.
Depois de várias tentativas frustradas, Leonil foi, pessoalmente, ao Hospital, no dia 5 de outubro, e conseguiu o agendamento para mais de um mês após a data inicialmente prevista. E, portanto, cerca de três meses após a realização da tomografia.

 

Negociações duraram quatro meses


O contrato entre o Hospital Santa Casa de Misericórdia e a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) do Paraná expirou em junho passado. Os impasses e a demora para a aceitação de um novo contrato foram as causas do cancelamento das consultas.Segundo o técnico administrativo da Sesa, André Luiz Albuquerque Lisboa, em maio deste ano havia sido solicitada, pela Terceira Regional de Saúde de Ponta Grossa, uma nova proposta de contrato, mas não houve retorno da Santa Casa de Misericórdia. O retorno, segundo Lisboa, só aconteceu em agosto.
“A proposta enviada pelo Hospital Santa Casa, em agosto, estava muito fora daquilo que o Estado tem de recursos financeiros. Então, foi enviada [nova proposta] para avaliação e o Hospital não concordou com um dos itens propostos no contrato e não assinou o contrato até hoje”, afirma André.
A equipe de reportagem do Portal Periódico solicitou dados sobre o contrato, o que inclui os valores propostos. No entanto, a Sesa disse que teria dificuldade em fornecer a informação uma vez que os valores variam de acordo com o tratamento.No antigo contrato, que acabou em junho, estavam previstas 1.200 consultas mensais. Até que novo acordo fosse fechado, o Hospital Santa Casa voltou a atender 350 consultas, como previsto no contrato anterior ao que perdeu vigência em meados de 2018.
Somente no dia 27 de setembro, um novo contrato foi aceito pelo Hospital. Contudo, ele não prevê o mesmo número de atendimentos do anterior. “Não vão voltar às 1200, no momento. A Santa Casa irá atender 850 consultas mensais, mas [somente] após um trâmite burocrático de contrato, provavelmente voltarão a ser atendidas as 1200 consultas”, afirma André.A administração da Santa Casa foi contatada por email, por telefone e pessoalmente, mas em nenhuma das situações a equipe de reportagem obteve um posicionamento da instituição sobre o cancelamento das consultas, o retorno ao antigo contrato e a negociação do novo acordo.
Segundo a Sesa, em média, 300 pacientes iniciam, mensalmente, tratamento de tumores e investigação de câncer, no Hospital Santa Casa, que é responsável por cirurgias e quimioterapias. Já o Instituto Sul Paranaense de Radioterapia (Ispar) disponibiliza o tratamento de radioterapia pelo SUS. Contudo, nesses dois hospitais de Ponta Grossa, são tratados apenas tumores sólidos de adultos. Os pacientes com tumores não sólidos, bem como as crianças e os adolescentes, são enviados para os hospitais Erasto Gaertner, em Curitiba, e Angelina Caron, em Campina Grande do Sul.     

 

Lei dos 60 dias não é cumprida


O paciente que é diagnosticado com câncer é amparado pela Lei nº 12.732 de 22 de novembro de 2012 que prevê o prazo de 60 dias para o início do tratamento de quem é identificado com neoplasia maligna.
A assistente social da Rede Feminina de Combate ao Câncer, Fernanda Schoemberger, comenta os impasses no cumprimento da lei. “Dentro do encaminhamento, demora duas ou três semanas para o paciente entrar no hospital e ter uma consulta com o especialista. A partir disso, são feitos exames e biópsias”, explica. Fernanda também afirma que esse prazo não é seguido por diversos fatores, como a precarização do SUS resultante da falta de investimento na área da saúde.O técnico administrativo da Sesa, André Albuquerque, reconhece que há o descumprimento da Lei. “Esse prazo, às vezes, extrapola não necessariamente por negligência do serviço.” André explica, no entanto, que algumas vezes o paciente já chega debilitado ou é idoso e não consegue fazer as quimioterapias. Nesses casos, os pacientes precisam esperar a melhoraria da condição clínica para poder iniciar o tratamento, completa o assistente administrativo.A Rede Feminina de Combate ao Câncer é uma alternativa para suprir as faltas que surgem no atendimento pelo SUS na cidade. A Rede, que existe há 60 anos, atende 200 pacientes. A Instituição oferece próteses, exames, cânulas, medicamentos e bolsas de colostomia e urostomia. Além disso, são realizados trabalhos sociais de distribuição de fraldas, roupas, agasalhos, cestas básicas, suplementos alimentares e perucas.

Fernanda explica que, nos casos em que o paciente está debilitado, ele inicia o tratamento paliativo, que é somente a prescrição de medicamentos para dor. Schoemberger afirma ter registrado casos de pacientes que vieram até ela relatando dificuldades até para conseguir esse tipo de medicamento pelo SUS.
“Pense como é isso. O paciente, com dores em todas as partes do corpo, não consegue dormir e nem se alimentar. Vivencia dores todos os dias até a morte. Às vezes, demora um ano ainda para falecer. Isso é desumano”, relata.“Nós temos um sistema precário, com pessoas não capacitadas, que não entendem de legislação e que acabam atendendo como é imposto dentro do serviço”, descreve Schoemberger criticando ainda a falta de uma gestão participativa.
De acordo com Fernanda, os pacientes, em tratamento pela Rede e pelo SUS, apresentam outras queixas. Entres os problemas, destaca a assistente social, está o relato de que o tratamento é iniciado apenas três meses após a realização da biópsia, ultrapassando o prazo de 60 dias previsto em lei.
O Instituto Sul Paranaense de Radioterapia foi consultado, pessoalmente e por e-mail, para saber como estão os atendimentos pelo SUS, mas se recusou a dar entrevista.

Gestantes optam por parto domiciliar para evitar violência obstétrica

Embora o Hospital Regional seja o único a realizar parto humanizado em Ponta Grossa, nem todos os direitos da mãe são garantidos


“Começaram a me sugerir, faz assim, faz assado e não me deixaram fazer aquilo que meu corpo estava pedindo. Eu queria voltar para a água, mas não deixaram. Depois, o obstetra chegou e foi toque atrás de toque, muitos toques vaginais e isso me incomodou muito. Mas a questão principal foi com o recém-nascido, quando o Miguel nasceu”, declara a professora Aline Fevereiro lembrando-se que o filho foi submetido ao “kit terror”.

  Mãe de quatro filhos, Aline descreve que a contratação de um pediatra humanizado teria impedido que o bebê fosse submetido ao “kit terror”. Aline relata que o filho foi submetido ao procedimento que, embora não seja recomendado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), é padrão nas maternidades brasileiras. Segundo a mãe, o “kit terror” é aspirar as vias aéreas do bebê, causando desconforto, e separar a mãe da criança, que é colocada em berçário.

 O relato da professora reflete problemas enfrentados por muitas gestantes brasileiras. Segundo um estudo da Fundação Perseu Abramo realizado em parceria com o Serviço Social do Comércio (SESC), em 2010, uma a cada quatro mulheres sofreu algum tipo de violência obstétrica no Brasil.

 O parto humanizado, realizado na residência da gestante, é uma saída para evitar o problema. É o caso de Aline que, após a experiência traumática no nascimento do primeiro filho, optou pelo procedimento nas três gestações posteriores. Queixando-se da privação dos direitos negados no hospital, Aline afirma que, se tivesse optado pelo parto domiciliar na primeira gravidez, teria tido liberdade para realizar o parto em seu tempo.

 Em Ponta Grossa, o parto domiciliar é uma alternativa à falta de estrutura adequada para a realização do parto humanizado na rede hospitalar. A médica obstetra Valdineia Xavier aponta que o problema afeta tanto a rede pública como a privada.

 Xavier destaca que o Hospital Universitário Regional dos Campos Gerais, que possui a maior maternidade da cidade, já realiza mais partos humanizados, mas nem todos os direitos e procedimentos são respeitados. Segundo a médica, por não terem seus direitos preservados nos hospitais, as gestantes estão buscando maneiras alternativas para o nascimento dos filhos. Uma dessas alternativas é a realização do parto domiciliar, feito na própria residência das gestantes.

 

Violência obstétrica desrespeita direitos da mãe e da criança

Valdineia Xavier descreve que a violência obstétrica é toda intervenção sofrida pela mulher, que, muitas vezes, não é necessária, como a tricotomia e episiotomia de rotina. Na avaliação da médica, esses procedimentos não afetam o andamento do parto e não oferecem riscos à saúde da mulher e da criança.

 A médica complementa que a violência obstétrica pode ocorrer através de agressão verbal, da negação do direito de acompanhante e de atendimento no hospital, além da restrição do leito à mulher ou do impedimento da gestante de escolher a posição do parto.

 Embora a gestante tenha o direito de montar um plano de parto, o documento muitas vezes é desrespeitado pelas maternidades. O plano “é uma lista, feita pela mulher ou por um profissional junto com a gestante, onde estará tudo descrito, o que ela gostaria que acontecesse no parto e aquilo que ela não gostaria”, descreve a médica.

 Segundo a enfermeira do Hospital Universitário Regional e professora do curso de Enfermagem do Colégio Elzira, Ana Cláudia da Silva Olenik, para evitar a violência obstétrica, é necessário diminuir os processos invasivos, desconfortáveis e desnecessários realizados nas gestantes. Embora sejam rotineiras, essas condutas, na avaliação de Ana Cláudia, “não vão melhorar ou minimizar riscos durante o trabalho de parto”.

 No Paraná, a orientação para a mudança de conduta já está prevista na Lei 184/2015 que trata da humanização de partos. A mudança, com a incorporação das práticas humanizadas, implica em um preparo e conscientização da equipe médica e das mães. “O que nós vemos são prescrições médicas que são cumpridas sem perguntar para a paciente se ela realmente deseja passar pelos procedimentos”, critica a enfermeira. “Falta esclarecimento da mulher, da equipe em relação à palavra humanização em qualquer situação”, avalia.

Violência Obstétrica OUT 2018

 

Parto humanizado permite protagonismo da gestante

A humanização do parto não consiste apenas na escolha do tipo de parto que será realizado, se natural ou cesárea, mas sim por um cuidado maior com a mulher e com a família da gestante. Ana Cláudia explica que a humanização se dá na forma de acolhimento.

 A enfermeira afirma que isso significa colocar a mulher “a par de situações que vão se apresentando durante o trabalho de parto, para que ela, como a principal protagonista da ação possa estar ciente da situação que está acontecendo e também tenha o direito de opinar, se ela está favorável ou não a determinado procedimento”.

 Segundo a cartilha “Humanização do parto. nasce o respeito. Informações práticas sobre seus direitos”, publicada em 2015 pelo Ministério Público de Pernambuco, a humanização “está focada no respeito às escolhas das mulheres, no direito de atendimento digno, respeitoso e sem qualquer tipo de violência”. Ainda segundo o material educativo, os direitos de parto humanizado devem ser respeitados em qualquer local, seja em um hospital público, privado ou na residência da mulher. Parto domiciliar não é sinônimo de falta de rigor técnico.

 Embora realizado na casa da gestante, o parto domiciliar conta com um grupo de profissionais - uma doula, uma parteira, um médico obstetra e um pediatra - especializados em partos humanizados. A equipe acompanha todas as etapas da gravidez junto à mulher. Aline Fevereiro conta que, nos três partos domiciliares, pôde ter a presença da família. A mãe avalia que, nesse tipo de procedimento, é respeitado o tempo do corpo da mulher, ou seja, não há a interferência ou antecipação da equipe profissional para acelerar o processo de trabalho de parto.

 A professora, que vivenciou o parto hospitalar e o parto domiciliar, relata as principais as vantagens da experiência vivência na própria residência. “[No parto humanizado], a gente chama a equipe quando a gente acha que deve”, aponta destacando que é, a partir daí, que começa uma comunicação entre a mãe e a equipe. “Quando eles acham que devem vir, eles vêm e é outro esquema. O toque vaginal é um durante todo o trabalho de parto”, afirma.

 Outra diferença está no respeito à forma de ausculta fetal tal como recomendada da Organização Mundial da Saúde (OMS). “A ausculta fetal em trabalho de parto ativo deve ser feita a cada meia hora e, no hospital, eles não fazem isso”, critica.

 Em relação à escolha do parto domiciliar, Aline Fevereiro comenta que a decisão não foi influenciada somente pelas características do parto em si, mas também pelo momento imediato ao parto. “O bebê fica perto o tempo todo e o exame feito no recém-nascido, logo após o nascimento, é realizado no colo da mãe”.

 A liberdade é outro diferencial. “Você tem liberdade total para fazer o que você quiser e ter seu filho no lugar e do jeito que você desejar. É liberdade total e absoluta”, declara. Segundo a professora, apesar da grande liberdade, não faltam preparação e rigor técnico. “Você tem prontuário e tudo mais, tudo muito certinho”, ressalta.

120 pessoas recebem cesta de alimentos sem glútem

A fundação de Assistência Social de Ponta Grossa oferece alimentos especiais para aqueles que possuem Intolerância ao glútem, mediante a apresentação do laudo médico.

Confira a reportagem de Francielle Ampolini e Mariana Santos: