Encerra o mês de conscientização do câncer de mama

Segundo o Instituto Nacional do Câncer, o câncer de mama é o pricipal motivo de morte entre as mulheres brasileiras. Normalmente o risco aumenta depois dos 50 anos de idade.

 

Confira na reportagem de Luiza Sampaio e Gabriella Vasco como prevenir e diagnosticar a doença.

Novo quadro da Alep mantém perfil elitista

Embora a radialista Mabel Canto (PSC) seja a primeira mulher de Ponta Grossa a se eleger deputada estadual, os políticos ponta-grossenses que conquistaram uma vaga na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) tendem a repetir o padrão elitista. O novo quadro de políticos que irá ocupar, a partir de janeiro de 2019, o legislativo estadual mantém um perfil hegemônico que não contempla, de modo geral, as minorias.

 

Dos 54 deputados estaduais do Paraná que passaram a integrar a Alep na legislatura teve início 2014 e se encerra neste ano, nenhum é negro, possui patrimônio inferior a R$ 50 mil e representa a comunidade LGBTI+. Além disso, todos já tiveram acesso ao ensino superior.

 

Tendo em vista que mais da metade (61%) dos deputados estaduais foram reeleitos em 2014, observa-se que o perfil hegemônico já vem de legislaturas anteriores. Se considerado o quadro que irá compor a Alep a partir de janeiro de 2019, o desenho elitista se perpetua, sendo que 55,5% dos deputados eleitos em 2014 conseguiram se reeleger novamente.

 

A composição atual da Alep possui apenas três cadeiras ocupadas por mulheres. Com a eleição de 2018, o número cresceu para quatro: Maria Victoria (PP), reeleita, e assume o cargo Cristina Silvestri (PPS), Mabel Canto (PSC) e Luciana Rafagnin (PT). Neste ano, foi eleito apenas um candidato, Galo (Pode), que se identifica como negro. A comunidade LGBTI+ não conseguiu eleger nenhum representante para a nova composição da Assembleia.

 

Com o resultado das eleições de 2018, cai de três para duas vagas a participação de políticos ponta-grossenses no legislativo estadual a partir do próximo ano. Além de Mabel Canto, que recebeu 35.036 votos, foi reeleito o deputado Plauto Miró Guimarães, com 36.332 votos. Houve redução do número de cadeiras e ainda é possível perceber que não somente os políticos eleitos, mas também todos os demais candidatos com residência fixa em Ponta Grossa se enquadram no perfil elitista.

 

 

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Se considerados os candidatos a deputado estadual na eleição deste ano, temos que cerca de 76% dos 13 se enquadram no perfil hegemônico das últimas eleições, exceto pelo fato de que há três mulheres (aproximadamente 23%).

 

Fator econômico mantém elite no poder

 

Para o professor da rede pública de ensino Rodrigo Guidini Sonni, graduado em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), historicamente no Paraná, o fator econômico mantém, no poder, pessoas que se enquadram no perfil elitista identificado nas últimas eleições para deputado estadual.

 

“Os candidatos com o perfil hegemônico costumam concentrar as arrecadações. Os financiamentos de campanha fazem com que eles se mantenham [no poder]”, critica destacando ainda o conservadorismo da cultura local. “Existe um racismo estrutural e um machismo estrutural que colaboram para a manutenção desse perfil”, reforça.

 

Na perspectiva dos movimentos sociais, o administrador e integrante da comunidade LGBTI+ e do movimento negro de Ponta Grossa, Cleyton Reis, acredita que o município não lança candidatos que representam as minorias na questão de políticas públicas.

 

Reis foi candidato, pela primeira vez em 2018, a deputado federal pelo partido PSol. Com 556 votos, não conseguiu se eleger.  “Desde que cheguei aqui, em Ponta Grossa, em 2014, percebi a falta de condições e de interesses, em especial, nas condições que promovem a política pública, sua acessibilidade e aceitabilidade por parte dos diversos segmentos que atuam na gestão pública”, critica ressaltando que a candidatura visou contribuir para mudar esse cenário.

 

Para Reis, “valorizar e criar ações conjuntas de interação com as camadas de base, ou seja, de regiões periféricas, possibilitam o acesso à democratização frente ao seu valor e garantia de direitos”.

 

Em relação à formação histórica do perfil hegemônico não inclusivo dos candidatos em Ponta Grossa, o professor de História, Cláudio Dias, afirma: “creio que seja a formação social. Temos uma formação europeia, branca e de ethos empresarial liberal e meritocrático. De alguma forma, isso se enraizou em nossa região e se reproduz perante a população”.

 

Segundo Dias, esta formação influencia no perfil representativo dos candidatos da região que não contempla as minorias, ou seja, pessoas negras, indígenas, alijadas da terra e da moradia e LGBTI+. “Fica fácil entender porque só elegemos perfis hegemônicos”, reitera.

 

 

ENTENDA O QUE SO AS MINORIAS SOCIAIS

O papel da população em relação à manutenção do perfil hegemônico em Ponta Grossa não pode ser desconsiderado, segundo Cleyton Reis. “A participação popular acaba sendo fruto dessa falta de boas ações da gestão pública que as impossibilitam de avançar”, ressalta.

 

O fator crucial de mudança do quadro político em Ponta Grossa, de acordo com o militante de movimentos sociais, seria criar mecanismos e incentivar a economia que favoreça as minorias. Para Reis, isso traria resultados financeiros que permitiriam o equilíbrio nas relações sociais.

 

Os dados utilizados para a análise apresentada nesta reportagem sobre o perfil dos candidatos a deputado estadual no Paraná, foram obtidos através do site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) (http://divulgacandcontas.tse.jus.br/divulga/#/).

 

Venda de veículos aumenta 29% em Ponta Grossa

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) 9 em cada 10 pessoas respiram ar poluído, sendo assim o aumento da venda de veículos contribui com a expansão das doenças respiratórias. Confira na Reportagem de Bruna Kosmenko e Rafael Santos.

Consulta pelo SUS de pacientes com câncer cai de 1200 para 850

Em setembro, foram oferecidos apenas 350 atendimentos por causa do impasse na renovação de contrato entre Hospital Santa Casa e Governo Estadual

Com a finalização do prazo de vigência do antigo contrato de prestação de serviço do Hospital Santa Casa de Misericórdia de Ponta Grossa, o número de consultas mensais pelo Sistema Único de Saúde (SUS) baixou de 1.200 para 350. A mudança provocou o cancelamento de vários atendimentos no último mês e, após o fechamento de novo acordo em 27 de setembro, o limite de consulta foi fixado em apenas 850, o que representa uma queda de 30%.
Pacientes que tiveram a consulta desmarcada, sem previsão de nova data, ficaram apreensivos. É o caso da paciente Leonil Aparecida Correa Lima, que recebeu o diagnóstico da doença em 2015. O câncer no útero progrediu para uma metástase que, atualmente, se encontra em estágio 5.
Leonil teve a consulta desmarcada um dia antes do atendimento previsto para o dia 20 de setembro, pelo Hospital Santa Casa. A explicação recebida para o cancelamento foi o fato de que o hospital não estava recebendo a verba para pagar os médicos.A paciente explica que a última consulta pelo SUS se deu em janeiro e, na ocasião, o médico pediu uma tomografia. Indignada, ela destaca que fez o exame em julho para ser entregue na consulta cancelada de setembro. “É preocupante, pois está demorando demais. Eu não sei quando vou entregar para o médico ver como está a minha situação”, queixa-se.
A situação de espera e demora gera angústia diante da gravidade da doença. “Será que eu aguento esperar todo esse tempo? É um câncer bem grave. É uma metástase. Eu fico muito preocupada com tudo isso, mas não tenho o que fazer. Tenho que aguardar, pois é pelo SUS”, lamenta.A entrevista ao Portal Periódico foi realizada em final de setembro. No início deste mês, a paciente conseguiu reagendar a consulta para o dia 24 de outubro. No entanto, foram várias tentativas de contato por telefone, seguindo procedimento orientado pelo próprio Hospital, no momento de cancelamento.
Depois de várias tentativas frustradas, Leonil foi, pessoalmente, ao Hospital, no dia 5 de outubro, e conseguiu o agendamento para mais de um mês após a data inicialmente prevista. E, portanto, cerca de três meses após a realização da tomografia.

 

Negociações duraram quatro meses


O contrato entre o Hospital Santa Casa de Misericórdia e a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) do Paraná expirou em junho passado. Os impasses e a demora para a aceitação de um novo contrato foram as causas do cancelamento das consultas.Segundo o técnico administrativo da Sesa, André Luiz Albuquerque Lisboa, em maio deste ano havia sido solicitada, pela Terceira Regional de Saúde de Ponta Grossa, uma nova proposta de contrato, mas não houve retorno da Santa Casa de Misericórdia. O retorno, segundo Lisboa, só aconteceu em agosto.
“A proposta enviada pelo Hospital Santa Casa, em agosto, estava muito fora daquilo que o Estado tem de recursos financeiros. Então, foi enviada [nova proposta] para avaliação e o Hospital não concordou com um dos itens propostos no contrato e não assinou o contrato até hoje”, afirma André.
A equipe de reportagem do Portal Periódico solicitou dados sobre o contrato, o que inclui os valores propostos. No entanto, a Sesa disse que teria dificuldade em fornecer a informação uma vez que os valores variam de acordo com o tratamento.No antigo contrato, que acabou em junho, estavam previstas 1.200 consultas mensais. Até que novo acordo fosse fechado, o Hospital Santa Casa voltou a atender 350 consultas, como previsto no contrato anterior ao que perdeu vigência em meados de 2018.
Somente no dia 27 de setembro, um novo contrato foi aceito pelo Hospital. Contudo, ele não prevê o mesmo número de atendimentos do anterior. “Não vão voltar às 1200, no momento. A Santa Casa irá atender 850 consultas mensais, mas [somente] após um trâmite burocrático de contrato, provavelmente voltarão a ser atendidas as 1200 consultas”, afirma André.A administração da Santa Casa foi contatada por email, por telefone e pessoalmente, mas em nenhuma das situações a equipe de reportagem obteve um posicionamento da instituição sobre o cancelamento das consultas, o retorno ao antigo contrato e a negociação do novo acordo.
Segundo a Sesa, em média, 300 pacientes iniciam, mensalmente, tratamento de tumores e investigação de câncer, no Hospital Santa Casa, que é responsável por cirurgias e quimioterapias. Já o Instituto Sul Paranaense de Radioterapia (Ispar) disponibiliza o tratamento de radioterapia pelo SUS. Contudo, nesses dois hospitais de Ponta Grossa, são tratados apenas tumores sólidos de adultos. Os pacientes com tumores não sólidos, bem como as crianças e os adolescentes, são enviados para os hospitais Erasto Gaertner, em Curitiba, e Angelina Caron, em Campina Grande do Sul.     

 

Lei dos 60 dias não é cumprida


O paciente que é diagnosticado com câncer é amparado pela Lei nº 12.732 de 22 de novembro de 2012 que prevê o prazo de 60 dias para o início do tratamento de quem é identificado com neoplasia maligna.
A assistente social da Rede Feminina de Combate ao Câncer, Fernanda Schoemberger, comenta os impasses no cumprimento da lei. “Dentro do encaminhamento, demora duas ou três semanas para o paciente entrar no hospital e ter uma consulta com o especialista. A partir disso, são feitos exames e biópsias”, explica. Fernanda também afirma que esse prazo não é seguido por diversos fatores, como a precarização do SUS resultante da falta de investimento na área da saúde.O técnico administrativo da Sesa, André Albuquerque, reconhece que há o descumprimento da Lei. “Esse prazo, às vezes, extrapola não necessariamente por negligência do serviço.” André explica, no entanto, que algumas vezes o paciente já chega debilitado ou é idoso e não consegue fazer as quimioterapias. Nesses casos, os pacientes precisam esperar a melhoraria da condição clínica para poder iniciar o tratamento, completa o assistente administrativo.A Rede Feminina de Combate ao Câncer é uma alternativa para suprir as faltas que surgem no atendimento pelo SUS na cidade. A Rede, que existe há 60 anos, atende 200 pacientes. A Instituição oferece próteses, exames, cânulas, medicamentos e bolsas de colostomia e urostomia. Além disso, são realizados trabalhos sociais de distribuição de fraldas, roupas, agasalhos, cestas básicas, suplementos alimentares e perucas.

Fernanda explica que, nos casos em que o paciente está debilitado, ele inicia o tratamento paliativo, que é somente a prescrição de medicamentos para dor. Schoemberger afirma ter registrado casos de pacientes que vieram até ela relatando dificuldades até para conseguir esse tipo de medicamento pelo SUS.
“Pense como é isso. O paciente, com dores em todas as partes do corpo, não consegue dormir e nem se alimentar. Vivencia dores todos os dias até a morte. Às vezes, demora um ano ainda para falecer. Isso é desumano”, relata.“Nós temos um sistema precário, com pessoas não capacitadas, que não entendem de legislação e que acabam atendendo como é imposto dentro do serviço”, descreve Schoemberger criticando ainda a falta de uma gestão participativa.
De acordo com Fernanda, os pacientes, em tratamento pela Rede e pelo SUS, apresentam outras queixas. Entres os problemas, destaca a assistente social, está o relato de que o tratamento é iniciado apenas três meses após a realização da biópsia, ultrapassando o prazo de 60 dias previsto em lei.
O Instituto Sul Paranaense de Radioterapia foi consultado, pessoalmente e por e-mail, para saber como estão os atendimentos pelo SUS, mas se recusou a dar entrevista.

Gestantes optam por parto domiciliar para evitar violência obstétrica

Embora o Hospital Regional seja o único a realizar parto humanizado em Ponta Grossa, nem todos os direitos da mãe são garantidos


“Começaram a me sugerir, faz assim, faz assado e não me deixaram fazer aquilo que meu corpo estava pedindo. Eu queria voltar para a água, mas não deixaram. Depois, o obstetra chegou e foi toque atrás de toque, muitos toques vaginais e isso me incomodou muito. Mas a questão principal foi com o recém-nascido, quando o Miguel nasceu”, declara a professora Aline Fevereiro lembrando-se que o filho foi submetido ao “kit terror”.

  Mãe de quatro filhos, Aline descreve que a contratação de um pediatra humanizado teria impedido que o bebê fosse submetido ao “kit terror”. Aline relata que o filho foi submetido ao procedimento que, embora não seja recomendado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), é padrão nas maternidades brasileiras. Segundo a mãe, o “kit terror” é aspirar as vias aéreas do bebê, causando desconforto, e separar a mãe da criança, que é colocada em berçário.

 O relato da professora reflete problemas enfrentados por muitas gestantes brasileiras. Segundo um estudo da Fundação Perseu Abramo realizado em parceria com o Serviço Social do Comércio (SESC), em 2010, uma a cada quatro mulheres sofreu algum tipo de violência obstétrica no Brasil.

 O parto humanizado, realizado na residência da gestante, é uma saída para evitar o problema. É o caso de Aline que, após a experiência traumática no nascimento do primeiro filho, optou pelo procedimento nas três gestações posteriores. Queixando-se da privação dos direitos negados no hospital, Aline afirma que, se tivesse optado pelo parto domiciliar na primeira gravidez, teria tido liberdade para realizar o parto em seu tempo.

 Em Ponta Grossa, o parto domiciliar é uma alternativa à falta de estrutura adequada para a realização do parto humanizado na rede hospitalar. A médica obstetra Valdineia Xavier aponta que o problema afeta tanto a rede pública como a privada.

 Xavier destaca que o Hospital Universitário Regional dos Campos Gerais, que possui a maior maternidade da cidade, já realiza mais partos humanizados, mas nem todos os direitos e procedimentos são respeitados. Segundo a médica, por não terem seus direitos preservados nos hospitais, as gestantes estão buscando maneiras alternativas para o nascimento dos filhos. Uma dessas alternativas é a realização do parto domiciliar, feito na própria residência das gestantes.

 

Violência obstétrica desrespeita direitos da mãe e da criança

Valdineia Xavier descreve que a violência obstétrica é toda intervenção sofrida pela mulher, que, muitas vezes, não é necessária, como a tricotomia e episiotomia de rotina. Na avaliação da médica, esses procedimentos não afetam o andamento do parto e não oferecem riscos à saúde da mulher e da criança.

 A médica complementa que a violência obstétrica pode ocorrer através de agressão verbal, da negação do direito de acompanhante e de atendimento no hospital, além da restrição do leito à mulher ou do impedimento da gestante de escolher a posição do parto.

 Embora a gestante tenha o direito de montar um plano de parto, o documento muitas vezes é desrespeitado pelas maternidades. O plano “é uma lista, feita pela mulher ou por um profissional junto com a gestante, onde estará tudo descrito, o que ela gostaria que acontecesse no parto e aquilo que ela não gostaria”, descreve a médica.

 Segundo a enfermeira do Hospital Universitário Regional e professora do curso de Enfermagem do Colégio Elzira, Ana Cláudia da Silva Olenik, para evitar a violência obstétrica, é necessário diminuir os processos invasivos, desconfortáveis e desnecessários realizados nas gestantes. Embora sejam rotineiras, essas condutas, na avaliação de Ana Cláudia, “não vão melhorar ou minimizar riscos durante o trabalho de parto”.

 No Paraná, a orientação para a mudança de conduta já está prevista na Lei 184/2015 que trata da humanização de partos. A mudança, com a incorporação das práticas humanizadas, implica em um preparo e conscientização da equipe médica e das mães. “O que nós vemos são prescrições médicas que são cumpridas sem perguntar para a paciente se ela realmente deseja passar pelos procedimentos”, critica a enfermeira. “Falta esclarecimento da mulher, da equipe em relação à palavra humanização em qualquer situação”, avalia.

Violência Obstétrica OUT 2018

 

Parto humanizado permite protagonismo da gestante

A humanização do parto não consiste apenas na escolha do tipo de parto que será realizado, se natural ou cesárea, mas sim por um cuidado maior com a mulher e com a família da gestante. Ana Cláudia explica que a humanização se dá na forma de acolhimento.

 A enfermeira afirma que isso significa colocar a mulher “a par de situações que vão se apresentando durante o trabalho de parto, para que ela, como a principal protagonista da ação possa estar ciente da situação que está acontecendo e também tenha o direito de opinar, se ela está favorável ou não a determinado procedimento”.

 Segundo a cartilha “Humanização do parto. nasce o respeito. Informações práticas sobre seus direitos”, publicada em 2015 pelo Ministério Público de Pernambuco, a humanização “está focada no respeito às escolhas das mulheres, no direito de atendimento digno, respeitoso e sem qualquer tipo de violência”. Ainda segundo o material educativo, os direitos de parto humanizado devem ser respeitados em qualquer local, seja em um hospital público, privado ou na residência da mulher. Parto domiciliar não é sinônimo de falta de rigor técnico.

 Embora realizado na casa da gestante, o parto domiciliar conta com um grupo de profissionais - uma doula, uma parteira, um médico obstetra e um pediatra - especializados em partos humanizados. A equipe acompanha todas as etapas da gravidez junto à mulher. Aline Fevereiro conta que, nos três partos domiciliares, pôde ter a presença da família. A mãe avalia que, nesse tipo de procedimento, é respeitado o tempo do corpo da mulher, ou seja, não há a interferência ou antecipação da equipe profissional para acelerar o processo de trabalho de parto.

 A professora, que vivenciou o parto hospitalar e o parto domiciliar, relata as principais as vantagens da experiência vivência na própria residência. “[No parto humanizado], a gente chama a equipe quando a gente acha que deve”, aponta destacando que é, a partir daí, que começa uma comunicação entre a mãe e a equipe. “Quando eles acham que devem vir, eles vêm e é outro esquema. O toque vaginal é um durante todo o trabalho de parto”, afirma.

 Outra diferença está no respeito à forma de ausculta fetal tal como recomendada da Organização Mundial da Saúde (OMS). “A ausculta fetal em trabalho de parto ativo deve ser feita a cada meia hora e, no hospital, eles não fazem isso”, critica.

 Em relação à escolha do parto domiciliar, Aline Fevereiro comenta que a decisão não foi influenciada somente pelas características do parto em si, mas também pelo momento imediato ao parto. “O bebê fica perto o tempo todo e o exame feito no recém-nascido, logo após o nascimento, é realizado no colo da mãe”.

 A liberdade é outro diferencial. “Você tem liberdade total para fazer o que você quiser e ter seu filho no lugar e do jeito que você desejar. É liberdade total e absoluta”, declara. Segundo a professora, apesar da grande liberdade, não faltam preparação e rigor técnico. “Você tem prontuário e tudo mais, tudo muito certinho”, ressalta.

120 pessoas recebem cesta de alimentos sem glútem

A fundação de Assistência Social de Ponta Grossa oferece alimentos especiais para aqueles que possuem Intolerância ao glútem, mediante a apresentação do laudo médico.

Confira a reportagem de Francielle Ampolini e Mariana Santos:

 

 

Déficit de psiquiatras na rede pública de saúde preocupa pacientes

O número de psiquiatras da rede pública de saúde Ponta Grossa está abaixo do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que são nove profissionais para cada 100 mil habitantes. O município, que tem uma população de 348.043 pessoas, disponibiliza apenas dez médicos dessa especialidade em serviços públicos. Apesar de a quantidade ter aumentado desde 2009, quando eram apenas quatro servidores no quadro de profissionais da área, ainda se verifica uma carência.

 

 

Segundo a diretora de Saúde Mental da Secretaria Municipal de Saúde, Ana Paula Almeida Rocha Ohata, mais de 7.153 pacientes foram atendidos pelo SUS de janeiro de 2017 a maio deste ano. No setor de atenção primária do serviço de saúde mental, a cidade tem o registro de 5.452 pessoas com diagnóstico de problemas ligados à saúde mental. “A procura por atendimento na área de saúde mental tem aumentado no Brasil e na cidade em virtude, principalmente, dos casos de transtornos de ansiedade”, descreve Ohata.

 

 

Os atendimentos são alocados na rede pública de saúde mental de Ponta Grossa de acordo com a classificação como casos graves, leves e moderados. Os atendimentos graves são encaminhados para o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). Os leves e os moderados são atendidos no Ambulatório de Saúde Mental, contando com apoio da equipe de atenção primária em saúde, como o Ambulatório.

 

 

Na cidade, existem três CAPS: o CAPS II, que atende pacientes com transtornos mentais graves e persistentes, o CAPS Álcool e Drogas (CAPS AD), que atende pessoas com vícios, e o CAPS Infanto-juvenil, que atende crianças com problemas de uso de drogas e transtornos mentais.

 

 

Segundo a coordenadora do CAPS AD, Patrícia Mundrey, os CAPS funcionam de portas abertas. Dessa forma, não é necessário o encaminhamento da rede de saúde e qualquer pessoa pode procurar o serviço. Mas as unidades básicas, os serviços de assistência social e os hospitais também podem fazer o encaminhamento. Mundrey explica, no entanto, que permanecem no serviço somente as pessoas com demandas mais graves.

 

 

O tempo médio de espera, para os casos graves, é de uma semana. Já para os casos leves e moderados o tempo de espera é de 5 a 6 meses pois depende da oferta de serviços e das consultas oferecidas pelo Hospital Universitário Regional e pelo Consórcio Intermunicipal de Saúde.

 

 

O CAPS II, que conta com a atuação de médico e de psicológico, estimula a integração social e familiar dos pacientes com transtornos mentais. Nele, o atendimento acontece em quatro etapas: a avaliação, o acolhimento, o Projeto Terapêutico Singular (PTS) e as atividades em grupo. A avaliação é a primeira etapa quando os profissionais tentam diagnosticar o paciente.

 

 

No acolhimento a equipe de atendimento explica como funcionam o Caps e as atividades em grupo e também são apresentados os três territórios - divisão de atendimento pela geografia da cidade - que são Centro, Oficinas e Santa Paula.

 

 

Cada território conta com uma equipe de enfermagem, psiquiatra e psicólogo, que atende as pessoas de acordo com a região em que elas moram. O Projeto Terapêutico Singular (PTS) que diagnostica o que acontece com cada paciente para poder encaminhar para outras atividades, como as realizadas em grupo.

 

 

Universitária destaca rapidez no atendimento de casos graves

 

A universitária D.C. (o uso das iniciais visa preservar sua identidade) foi diagnosticada em 2017 com depressão moderada para grave a partir de consulta com profissional da rede privada. Neste ano, após participar de palestra com profissional da rede saúde mental, ela decidiu buscar o atendimento no serviço público. “O que me chamou atenção é que, no CAPS, você pode fazer avaliação a qualquer momento. Quando liguei, não fui bem atendida, mas me disseram que eu poderia ir até lá de terça à quinta, das 9 horas às 17 horas para fazer a avaliação. E eu fui”, relata.

 

 

Atualmente, paciente do CAPS II, a estudante conta que quando chegou ao local pela primeira vez uma atendente pegou seus dados para preencher uma ficha. Após o tempo de espera de 15 minutos foi chamada por um psicólogo que realizou uma sessão de terapia para entender o que a tinha levado ao serviço de saúde mental.

 

 

Logo depois “ele me disse que eu estava no grupo de risco e que eu deveria voltar na semana seguinte para acolhimento”, relembra D.C que julga ter sido curto o tempo de espera pelo atendimento.

 

 

Como a paciente foi incluída no grupo grave, houve a indicação de que ela procurasse o atendimento individual. “Eu posso fazer isso pelo postinho ou no Santana, que disponibiliza esse serviço”, acrescenta. A consulta leva um mês para acontecer, pois cada semana é uma coisa, mas a ideia é manter a rede conjunta, com o postinho e o CAPS.”

 

 

Saúde mental exige atenção do poder público

 

O Brasil é o país com a maior taxa de pessoas com transtornos de ansiedade no mundo e o quinto em casos de depressão. Segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), 9,3% dos brasileiros têm algum transtorno de ansiedade e a depressão afeta 5,8% da população.

 

 

A OMS alerta que uma em cada 10 pessoas no mundo, o que equivale a 10% da população global, sofre de algum distúrbio de saúde mental. Isso representa aproximadamente 700 milhões de pessoas.

 

 

De janeiro 2017 a maio de 2018, foram realizados, pelos serviços de saúde mental de Ponta Grossa, mais de 30 mil ações de reabilitação psicossocial. O dado inclui todos os serviços e ações desenvolvidas pelos CAPS, como os realizados com grupos e com familiares de pacientes, bem como as atividades externas e reabilitação no CAPS AD.

 

 

Os principais diagnósticos dos atendimentos no município são transtorno de ansiedade, transtorno bipolar, esquizofrenia, depressão e os transtornos relacionados ao uso de álcool e de outras drogas, como destaca a diretora de Saúde Mental da Secretaria Municipal de Saúde, Ana Paula Almeida Rocha Ohata.

 

 

A psicóloga Danyela Braganhol descreve a diferença entre o trabalho desenvolvido por um médico psiquiatra e um psicólogo. “O atendimento psiquiátrico tem como objetivo principal diagnosticar o transtorno ou doença mental do paciente e iniciar um tratamento com medicamentos”, destaca.

 

 

Braganhol explica que o psicólogo, que não pode prescrever medicação, não tem a pretensão de diagnosticar o paciente, mas o que levou o paciente a buscar o tratamento. “Muitas vezes, os dois profissionais trabalham em conjunto para um melhor resultado”, avalia.

 

 

A psicóloga alerta para a importância do trabalho de prevenção pelo poder público. “O trabalho de prevenção e de identificação das doenças mentais é de suma importância para melhorar a qualidade de vida da população, além disso penso que todos deveriam ter acesso a um tratamento digno e de qualidade”, aponta.

 

 

Para a Ana Paula, as políticas de saúde mental na atenção primária são extremamente importantes. A diretora de Saúde Mental acredita que a saúde mental não está dissociada à saúde geral.

 

 

Danyela Braganhol também ressalta a necessidade de conscientização de que a saúde mental faz parte da saúde básica. “Quando a população se conscientizar de que as doenças mentais fazem parte do nosso cotidiano e que todos estão sujeitos a ter, o preconceito em relação a elas vai diminuir”, avalia.

 

 

“A população precisa compreender que a saúde mental é tão importante quanto a saúde do corpo, entretanto, vejo que este assunto ganhou muita ênfase nos últimos anos e tivemos algumas melhorias, cada vez mais pessoas estão compreendendo a importância de cuidar da mente”, conclui.

 

 

Em resposta à reportagem, a Prefeitura declarou que hoje existem 800 pessoas cadastradas nas unidades dos CAPS, todas estão em tratamento e que não há fila de espera.

 

 

A Prefeitura ainda informou que são 7 (sete) psquiatras que atendem nas unidades dos CAPS e que esse número é suficiente para a demanda de pacientes. E também que no último concurso não foram abertas vagas para psquiatras, apenas para psicólogos e outras modalidades.

As quebras do percurso

 

 

Corredora Roseli Machuca há cerca de um ano da equipe de corrida “Superação”. Foto: João Guilherme Castro

  

Na linguagem dos corredores, a temida "quebra" acontece quando o atleta não consegue manter o ritmo durante toda a prova e precisa reduzir o passo na tentativa de chegar ao final. Funciona basicamente assim: o corpo se sente bem e forte no início da prova, mas com o passar o gasto de energia é tão grande que o corredor tem dificudade de completar a prova. O que acontece na quebra com o organismo, também pode ser comparado aos dramas vividos de quem sofre de depressão.

 

 

No final da tarde de terça-feira, com o café pronto já na mesa, a dona de casa Roseli Machuca calça o tênis, veste o uniforme e se prepara para mais um dia de treino. Então, se despede do cãozinho e do marido e entra no carro. “Tchau, amor, se cuide”. Passa na casa de amigas e, juntas, elas vão ao pátio do Conservatório de Música e da Biblioteca Municipal. Lá estão reunidas, com a mesma camiseta, várias mulheres que conversam animadamente umas com as outras, entre abraços e saudações. Às 19h20, soa o apito. O treino vai começar.

 

 

A equipe de corrida Superação existe há três anos e reúne aproximadamente 120 mulheres de 17 a 65 anos. Os encontros acontecem duas vezes por semana, alternando a semana de corrida com a que as esportistas treinam em circuitos, alongamentos e danças. Para participar, basta entrar em contato com a coordenadora da equipe, Caroline Barchaki. São cobrados R$ 20, mensais, das atletas. Em Ponta Grossa, existem vários grupos de corrida, com diferentes objetivos. Entretanto, a equipe Superação é a única que busca reunir pessoas com depressão, ansiedade e síndrome do pânico.

 

 

A organizadora e policial militar Caroline Barchaki criou o grupo após achar, no esporte, uma saída para enfrentar a depressão. “Foi através da corrida que eu consegui uma segunda chance. Talvez eu nem estivesse aqui se não fosse por ela”, conta Barchaki. “Para mim, correr é vida e eu vejo que correr é vida para elas também, porque não fui só eu que saí do fundo do poço. A gente conseguiu sair junta e a gente sempre ajuda alguém a sair também”, comenta.

 

 

Há dez anos, Roseli Machuca, de 53 anos, luta contra a depressão. Ela estava passando por um momento de manifestação mais grave do transtorno quando, há cerca de um ano e meio, a médica que a acompanhava indicou a realização de uma atividade física. “Na próxima consulta, eu quero ouvir você me contar que está fazendo alguma coisa”. Roseli ficou ansiosa com a situação, pois não estava animada a cumprir a recomendação e cogitou não voltar mais a se consultar com a médica.

 

 

Mas, no intervalo entre as consultas, ela conheceu a equipe de corrida. Informou-se com a organizadora a respeito do funcionamento e disse que iria experimentar participar um dia. No primeiro dia, chegou a pensar em não ir, procurando alguma desculpa para se ausentar. “Era tão forte aquilo que eu sentia de não querer sair que eu queria arrumar alguma desculpa para não ir”. Chegou o horário da aula e meu esposo falou que eu tinha que ir. Quis me esquivar, mas ele insistiu para que eu fosse. “Você falou que iria hoje, vá lá conhecer”. Então, eu fui

 

 

A depressão e o esporte

 

 

No Brasil, segundo a Pesquisa Nacional da Saúde de 2013 realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) junto com o Ministério da Saúde, 11,2 milhões de pessoas foram diagnosticadas com depressão. As definições e critérios médicos sobre a doença não são um consenso entre os profissionais e estudiosos da área. Atualmente, é a quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais que guia o diagnóstico. Segundo o documento, a depressão é caracterizada pela “presença de humor triste, vazio ou irritável, acompanhado de alterações somáticas e cognitivas que afetam significativamente a capacidade de funcionamento do indivíduo”

 

 

.A condição clássica do transtorno depressivo - transtorno depressivo maior - apresenta episódios de pelo menos duas semanas de duração, sendo que, geralmente, a maioria dos casos dura um tempo maior, segundo o manual. Alterações do humor, mantidas por pelo menos dois anos em adultos e um ano em crianças, podem ser características de um quadro crônico do transtorno. É importante ressaltar que é necessária a procura de um profissional adequado para o diagnóstico e tratamento da depressão.

 

 

 

Entenda mais sobre depressão com o áudio do Professor de Psicologia Elvio Maximo

 

“O sujeito [com depressão] vai perdendo reforçadores ao longo da vida”, explica o professor de Psicologia e especialista em Psicologia do Esporte, Elvio Maximo. Um sujeito com depressão, muitas vezes, acaba se isolando, como destaca o professor. “Conviver em grupo, praticando um exercício físico, o motiva e isso vai auxiliar no tratamento dele”, defende Maximo

 

 

.A atividade física libera hormônios no corpo que aumentam a sensação de prazer e bem-estar diminuindo a sensação de desânimo e tristeza causada pela depressão. “O exercício físico libera mais serotonina, mais endorfina. Então, isso vai contribuir para a pessoa de fato melhorar”, explica o especialista.

 

 

Apesar da validação do esporte como uma ferramenta que auxilia no tratamento da depressão, às vezes o paciente não se motiva com a ideia de começar a praticar alguma atividade física. Mas após o início, o praticante percebe os benefícios da atividade e continua a exercitar-se.  “Já tive relatos de pessoas que foram ao treino porque tinham que ir e depois me contaram que estavam felizes por terem ido, pois agora estavam se sentindo bem melhor”, comenta o educador físico Luís Henrique Flaviano.

 

 

A corredora Roseli Machuca foi uma dessas pessoas que, a princípio, relutou em ir ao treino, mas após participar do primeiro dia de aula, não perde nenhuma corrida mais. Quinze dias após o primeiro dia, ela voltou para a consulta com a médica. “Tenho duas novidades”. A primeira era que ela estava fazendo uma atividade física e a segunda era que ela tinha ganhado uma medalha na primeira corrida que participou.

 

 

A paciente, iniciante na prática da corrida, tinha participado de uma prova rústica de cinco quilômetros. “Foi uma emoção muito grande. Eu quase não consegui terminar a prova, mas eu terminei o percurso”. E desde que se tornou membra do grupo, foram sete participações em corridas, tendo ganhado várias medalhas.


 

As medalhas de participação e premiação da corredora Roseli Machuca.

Foto: João Guilherme Castro

 

O desafio de superar o limite físico da corrida - como ocorreu com Roseli Machuca - pode funcionar como um estímulo, tendo consequência no tratamento. “Para a saúde mental a atividade física é excelente, porque você sai da rotina. Você sempre está fazendo coisas diferentes, conhecendo pessoas, tendo qualidade de vida. Então, são desafios, digamos, todos os dias”, argumenta Caroline Barchaki que, na coordenação do grupo Superação, viu os casos de superação se multiplicarem.

 

 

Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2015, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a caminhada e corrida ocupam o segundo lugar na lista dos esportes mais praticados no Brasil, com 9,5 milhões de adeptos. “A corrida é um esporte democrático, barato, dá para praticar em qualquer lugarzinho. Todo mundo pode praticar e também tem bastantes eventos na cidade e fora dela”, justifica Barchaki.

 

 

A expressão de felicidade é nítida em quem encontra, na corrida, uma forma de superar a depressão, cultivando amizades e colecionando medalhas. “Corridas são muito semelhantes ao que a gente passa no dia a dia da nossa vida. É difícil, tem subidas, tem descidas, tem retas, alegrias, realizações, tristezas, agonias, decepções, mas a gente sempre consegue chegar lá. E, agora, eu estou dando tchauzinho para a minha depressão”, relata a corredora Roseli Machuca.

 

Pessoas com diabetes têm direito a kit insulina gratuito

A 3ª Regional de Saúde de Ponta Grossa atende 12 múnicípios da região: Arapoti, Carambeí, Castro, IpirangaIvaí, Jaguariaíva, Palmeira, Piraí do Sul, Ponta Grossa, Porto Amazonas, Sao João do Triunfo e Sengés. Para receber o kit insulina é necessário estar em tratamento com acompanhamento médico da doença, além da apresentação da prescrição médica e demais exames do tratamento.

Partos continuam violentos, apesar das melhorias

Violência Obstétrica acontece por abusos sexuais, físicos, verbais e intitucionais 


Allana esperava, internada, pela sua primeira filha: Julia. Entra no quarto a técnica de enfermagem com o kit para o processo de lavagem intestinal, que já foi muito realizado para evitar evacuação durante o parto vaginal. Hoje o processo está em desuso. 


Naturalmente, Allana já havia usado o banheiro várias vezes durante o dia. Ela pensa que deve ser fisiológico ou que talvez tenha algo a ver com as contrações, mas “não, eu não quero que você faça a lavagem”, a grávida diz. A enfermeira aceita, sem graça, e logo sai do quarto. 


Não leva muito tempo até que ela volte trazendo o mesmo kit e quase como quem implora “por favor, Allana, me ajude. Você sabe que é prescrição médica. Eu falei com a médica e ela disse que tem que fazer a lavagem”, diz a enfermeira. Allana também é enfermeira e professora na área da saúde da mulher na faculdade. Ela sabia que a lavagem não era necessária. Mesmo assim, percebe que precisa aceitar. 


Quem sabe, se ela dissesse alguma coisa e insistisse que não queria e que não faria a enfermeira tivesse desistido. Ela imagina, também, como seria se ela não soubesse de nada disso, como tantas mães. 


Allana estava de 37 semanas, no limite da prematuridade. Algumas contrações aqui e ali, mas nada de trabalho de parto ainda. Mesmo assim, foi internada. Recebeu a já não recomendada ocitocina. Um parto induzido. Agora sim em trabalho de parto ativo, às 37 semanas, com 8 cm de dilatação, ela recebe uma ligação do médico responsável pela assistência. Até então, o médico não havia aparecido. Quem estava acompanhando o processo era a equipe de enfermagem. 

- “Como está a dor?”, o médico pergunta. 
- “Tá doendo muito”, ela responde. 
- “Se tá doendo muito ainda dá tempo de fazer uma cesariana”, indica. 


Oito centímetros de dilatação e todo um pré-natal de insistência no parto vaginal, ainda assim o médico recomenda uma cesárea pelo telefone. Allana insiste no parto normal e, quando chega aos 10cm de dilatação (o ideal para um parto vaginal), é levada para a sala de parto.  Posição ginecológica (deitada com as pernas abertas). Força, força.  “Quer analgesia?” Aceita analgesia. Os batimentos da Julia caem para 80, enquanto o normal fica entre 120 e 160. “Se não melhorar o batimento, a gente precisa fazer cesárea”. 


Dez centímetros de dilatação e todo um pré-natal de insistência no parto vaginal, ainda assim a possibilidade da cesárea aparece durante o parto. 


Agora sem dor. Quase sem sentir a perna. “Força, força”. A força não basta. Uma das funcionárias do centro obstétrico sobe em cima de Allana e empurra com todo seu peso a barriga para baixo - a chamada “Manobra de Kristeler”. Aí vem Julia. Calma, a grávida pediu para que não fosse feito nenhum corte, para que não fosse feita episiotomia. “Vai ter que fazer. Não tem como. Eu sei que você não queria que cortasse, mas eu preciso cortar”. 


Feito o corte, Julia nasce, com 2 quilos e 750 gramas. Pequenina. O parto durou 15 minutos. O bebê não parece tão ativo. Dificuldade respiratória. Corta-se o cordão umbilical sem esperar o tempo de pulsação. Julia é levada diretamente para o pediatra. Allana olha para a menina e não pode segurar no colo. “Não vou erguer muito porque a questão da placenta vai prejudicar ela”. 


O contato pele a pele não acontece. Allana liga pedindo pra ficar com sua filha. “Ordem médica, tem que ficar aquecendo”. “Mas eu aqueço”, Allana pensava. Quase duas horas depois, o bebê pode ficar com sua mãe. Por conta da falta de primeiro contato, recomendado pelo Ministério da Saúde, houve dificuldade na amamentação durante alguns dias. 


Em seu segundo parto, Allana teve Alice. Alice levou 1h40 para nascer, pesou 3 quilos e 450 gramas e o processo, realizado por uma enfermeira obstetra, não envolveu episiotomia.             


“Não foi feita lavagem, não foi colocado soro, e a gente deixou o parto evoluir, sem intervenção, sem nenhum procedimento. E aí ela nasceu de forma respeitosa, natural, eu em quatro apoios e não em posição ginecológica que foi a da minha primeira filha. Ela nasceu sem corte, sem episiotomia. Nasceu e veio direto pro meu colo, imediatamente. Não foi dado banho, veio direto, ficou comigo o tempo inteiro, nunca se afastou de mim desde que eu entrei para ganhar bebê até a hora que eu fui embora, ela ficou comigo o tempo inteiro. E ela mamou lindamente. Eu tenho vídeo dela sugando meu peito 20 minutos depois que tinha nascido. Super bem, de primeira, coisa mais linda de ver. Totalmente diferente, totalmente diferente”, relata a mãe, enfermeira e professora Allana Pietrobelli Trierweiler (33). 


Desde 1996, a Organização Mundial da Saúde contraindica procedimentos considerados rotineiros nos hospitais como a lavagem intestinal (enema), a raspagem de pêlos (tricotomia), posição ginecológica (litotomia), lavagem uterina após o parto, exames vaginais repetidos ou frequentes, especialmente por mais de um prestador de serviço, a episiotomia (corte realizado na área da vagina, caso não ocorra a dilatação por completa da vagina). A episiotomia além de não terem comprovação científica de sua eficiência, são formas de violência contra mães e alguns procedimentos podem deixar marcas e lesões físicas e psicológicas por muito tempo. 


Segundo a pesquisa “Mulheres brasileiras e gênero nos espaços público e privado”, realizada pela Fundação Perseu Abramo e SESC, uma em cada quatro mulheres sofre algum tipo de violência no parto no Brasil. “É comum a gente escutar as mulheres aceitarem essas violências e no final agradecerem aos profissionais que violaram elas. Então precisa mudar essa cultura do que é um parto e nascimento. E eu acho que vai levar ainda algumas gerações pra gente conseguir ter um ambiente diferente, um modelo humanizado vigente”, observa a pesquisadora Ana Maria Bourguignon de Lima. 


A Medicina Baseada em Evidências (MBE) conclui que 90% dos procedimentos obstétricos realizados são procedimentos feitos com base na tradição e não na segurança e efetividade para a mulher e para o bebê. Daí parte o ideal do parto humanizado. “A crítica é proveniente de segmentos alternativos na Medicina, mas, sobretudo, da Enfermagem e da Saúde Coletiva, bem como de movimentos sociais. Esse discurso de contestação ao saber médico obstétrico é comumente denominado no Brasil de movimento pela humanização do parto e nascimento”, afirma Ana Maria Bourguignon Lima em sua tese. 


A base da humanização do parto está nos direitos humanos e nas evidências científicas. “A humanização tem a questão do direito da usuária ser respeitada. É a nossa luta, porque os direitos delas não são respeitados. E é por isso que a gente fala das violações, das violências obstétricas. Cada direito que não é respeitado é uma violação, é uma violência que essa mulher sofre”, defende a pesquisadora. 


“A questão do direito ao acompanhante, a questão do direito de contato pele a pele, isso tudo é regulamentado, isso tudo é legislação brasileira. Então o não cumprimento é ilegal. Mas a gente percebe que não tem uma fiscalização em cima disso, então acaba virando banal”, critica a mãe, enfermeira e professora Allana Pietrobelli Trierweiler.    


Assistência obstétrica de Ponta Grossa             


Ponta Grossa conta, atualmente, com 3 maternidades: Hospital Universitário Regional (HU), Unimed e Santa Casa da Misericórdia. Deles, somente o HU e a Santa Casa que atendem pelo SUS.             


A taxa recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) é de que apenas 15% dos partos sejam cesáreas. A taxa de cesarianas no Brasil está entre as maiores do mundo. De acordo com a Gerência de Epidemiologia da Secretaria Municipal de Saúde, entre 2012 e 2016, o hospital que mais realizou cesáreas em Ponta Grossa foi o da Unimed. Apenas 13,77% dos partos foram vaginais, contra 86,14% que envolveram o procedimento cirúrgico. Enquanto isso, na Santa Casa, 67,09% dos partos foram cesarianas e, no HU, 36,02%.             


Os dados municipais espelham a realidade nacional, onde a taxa de partos cirúrgicos podem chegar a 88% na rede privada contra 52% no geral. Os dados são da pesquisa Nascer no Brasil , realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). A mesma pesquisa mostra que, no início da gravidez, 70% das brasileiras têm o parto normal como primeira opção, no entanto 90% delas acabam dando à luz através de cesárea. “O profissional vai falando tanta coisa para essa mulher que chega uma hora que ela fala ‘gente, eu não vou parir, porque imagina, vou colocar em risco o meu bebê, porque o médico está falando que eu não tenho condições’ e elas vão para a cesariana. Mas se você for conversar [sobre a escolha da cesárea] foi porque ela não teve apoio, ela foi induzida a mudar de opinião. E tem casos extremos”, explica Trierweiler.             


Segundo a enfermeira e professora Allana Pietrobelli Trierweiler, a maioria das assistências de parto em Ponta Grossa são “intervencionistas, medicalizadas e sem respeito à autonomia da mulher”. Ela já trabalhou como enfermeira numa maternidade e acompanhou alunos em estágio nesses locais. “A gente percebe quando se trabalha numa assistência hospitalar em obstetrícia que você vai vivenciar violência obstétrica ali diariamente. A maioria dos profissionais ainda praticam esse ato. E eu uso o termo violento mesmo. É violência obstétrica porque é uma violência, tem que ser tratada como tal. Inclusive incentivo as mulheres a denunciar.” defende Trierweiler.             


A enfermeira nota na prática profissional que os médicos se formam achando que as intervenções são necessárias. “O que eu percebo é que grande parte dos médicos não intervém querendo lesionar aquela mulher. No raciocínio deles, a impressão que dá é que eles desacreditam do potencial da mãe como protagonista no parto. Eles acham que têm que auxiliar, aí eles colocam soro, eles usam fórceps, eles cortam, fazem tudo para ‘ajudar’, mas hoje é mais do que comprovado que atrapalha”, explica a profissional. 


Para a estudiosa Ana Maria Bourguignon de Lima, a construção social do corpo da mulher como um corpo fisiologicamente patológico, doente, é o que estrutura o saber médico tão intervencionista e tão autoritário sobre o corpo da mulher. “Se uma área do saber científica pensa dessa maneira e organiza toda a sua assistência, sua forma de se relacionar com o usuário do serviço dessa forma, então os usuários também vão perceber assim, as mulheres, as famílias, a sociedade acabam incorporando essa cultura de que o corpo da mulher não funciona bem”, considera. 


Segundo Maria do Carmo Leal, pesquisadora titular da Fiocruz, os médicos mais antigos aprenderam com livros, algo estático, e hoje a situação é diferente. “A medicina mudou muito, hoje ela é toda baseada em protocolos e evidências científicas. Para se saber o que está acontecendo, é preciso estudar o tempo todo e isso é uma prática nova na medicina”, explica a pesquisadora. 


Outro fator que impacta na forma como os partos acontecem no município é a maternidade. A pesquisadora Ana Maria Bourguignon de Lima afirma que na cidade também não há uma maternidade com uma “ambiência propícia” pensando no modelo de humanização. “Os ambientes daqui, as arquiteturas, o modo como se organizam ainda são do modelo biomédico tradicional (inspira-se na visão mecanicista do ser humano, considera que saúde é mera ausência de doença e que, como numa máquina, se uma das peças dá um problema o foco baseia-se em centrar na sua reparação)”, avalia a estudiosa.    


Hospital Evangélico e a falta de estrutura             


O Hospital Evangélico realizava cerca de 300 partos por mês, segundo estimativa, até que suspendeu suas atividades em maio de 2016 para uma reforma. A demanda do Hospital foi repassada para o Hospital Universitário Regional. 


A justificativa da suspensão foi a reforma do prédio, construída na década de 1960. A instituição não tinha condições de atender todas as pacientes que recebia. Segundo a 3ª Regional de Saúde, o Hospital não possuía médicos suficientes para a grande demanda. 


O processo, iniciado em 2015, se deu por conta de uma Comissão Especial de Investigação (CEI) que buscava averiguar a situação das maternidades ativas na cidade de Ponta Grossa. 


Além da fiscalização constante dos hospitais, a CEI também recebeu diversas denúncias de violência obstétrica de gestantes ao longo do processo. As denúncias não estão presentes no relatório final, pois são dados protegidos por direito constitucional à intimidade. A CEI das Maternidades informou que solicitaria que o Ministério Público Federal abrisse uma investigação sobre o assunto.

 

violencia obstétrica ana 
Hospital Regional, o substituto  


O responsável por receber as gestantes que iriam ao Hospital Evangélico foi o Hospital Universitário (HU) Regional. No ano de 2017, o HU realizou em média 219 partos por mês. Um total de 2.636 nascimentos durante todo o ano. Até março de 2018, foram realizadas 642 operações.              Aproximadamente 32% dos partos realizados em 2017 foram cesáreas. Durante as entrevistas realizadas para esta reportagem, o Hospital recebeu elogios pela sua tentativa de humanização, mesmo estando longe do ideal. “Eu acho que uma das maiores tentativas, maior investimento dessa mudança do paradigma está sendo no Regional. Escuto várias histórias bem legais de assistência lá, mas ainda escuto histórias bem terríveis, bem tradicionais. É uma mudança, mas ainda tem muito o que melhorar”, comenta Trierweiler.

Unimed, a maternidade particular


No dia 19 de fevereiro a doula Francisca Francine Jardim foi impedida de entrar na maternidade da Unimed para assistir o parto da sua melhor amiga. Francisca acompanhou o processo desde antes da gravidez. Além de doula, ela era parte da família.


Um mês antes, Francisca foi ao hospital para conseguir informações sobre o que era necessário para acompanhar o parto. Tinha um mês livre, tirou férias esperando que o processo fosse parecido com o do Hospital Universitário e precisasse de uma ambientação. Disseram a ela que nada além do certificado de doula seria necessário.


A informação veio diretamente da maternidade, mas não era correta. No dia do parto, quando a grávida estava sendo internada, já em trabalho de parto, Francisca é informada de que não pode acompanhar. Era necessário alguma assinatura do diretor do hospital. “Mas eu tenho o meu certificado! Olha o meu cartão!” A moça empurra o cartão. Não olha. “Não me interessa, não farei nada para te ajudar”.

           
Quarenta minutos de apreensão. A mãe sozinha durante todo o tempo. O pai negociando para que a doulagem fosse permitida. A melhor amiga de Francisca lá dentro.

- “É lei!”, defendem.
- “Não entra”, retrucam.
- “É o meu dinheiro em jogo!”, mente o pai, que nem precisou pagar pelo serviço.
- “Não entra”, retrucam.

Francisca nervosa. As mãos tremem. “Você pode entrar como visitante”, os funcionários informam. Francisca trabalha como doula. O seu trabalho sendo questionado durante todo o tempo. “O que você vai fazer lá dentro?”. “Você sabe o que vai fazer?”. “Pra que entrar?”.
“O que que é doula?”.


Francisca teve seu primeiro contato com parto aos 8 anos. Ela ama esse universo. Quando questionada, é ferida também como mulher. Não é enfermeira e “não tem formação”. Mas para ser doula não precisa ser enfermeira. Mesmo assim é questionada.

           
Quando ela entra como visitante, é maltratada por todos além do porteiro, que não parece se importar, e de sua amiga, que se importa. Francisca entra no quarto e pede uma bola para exercícios. Chega uma bola murcha. “Vamos tomar um banho”. Chuveiro frio. Não tinha toalha.

           
Francisca pergunta e não tem respostas. Ela começa a massagem na mãe, que evolui dois dedos. A médica entra. “Tem certeza que é isso que você quer? Vai doer, vai doer. Talvez você não consiga. Têm mães que ficam 30 horas e não conseguem ganhar o bebê. Dói. É muito dolorido, você não queria sofrer, lembra?”

           
Dói. Dói. 6 de dilatação, contra os 4 com os que ela entrou. Francisca chora atrás da médica. Seu trabalho indo por água abaixo. Por fim, a mãe concorda com a cesárea, para a felicidade da médica. Francisca conta que é doula, nervosa, e a médica diz que não pode fazer nada. Que “não vai mexer um dedo”. Que “não tem nada a ver”. Ela aceita.

           
Francisca assiste sua amiga indo para uma cesárea com 6 cm de dilatação. Mais tarde, ela recebe a ligação da amiga se desculpando por não ter ouvido. “Eu não consigo ver minha filha porque tenho um corte na barriga”.


- “Vocês têm que cumprir a lei.”
- Doula/querida/linda/filha, aqui é um hospital privado!
- A lei não vale? O dinheiro está acima da lei aqui?”.


O caso ocorreu no dia 19 de fevereiro. Na página do Facebook do hospital, no dia 22 de março, foi compartilhado um post sobre doulas. “Você sabe o que é uma doula?”, esclarecia sua função e afirmava que “os partos dentro do HGU permitem doulas nos partos. Respeitamos a Lei 12.166, que prevê um cadastro prévio das doulas e também que elas apresentem uma certificação ocupacional. Converse com seu médico! A presença das doulas no parto é uma experiência única de afeto e vínculo entre a mamãe e o bebê”.


Contatamos a Unimed, que reafirma que o motivo do caso foi a falta de cadastro prévio da doula na instituição, processo necessário para todas as profissionais. Mesmo assim, Francisca não foi informada quando procurou ajuda no hospital.

No Brasil

           
No Brasil, o hospital que é referência na questão de partos humanizados é o Hospital Sofia Feldman, localizado em Belo Horizonte. Em 2017, cerca de 25% dos partos realizados foram cesáreas. Além disso, 85% dos partos foram assistidos por enfermeiras obstetras retirando a autoridade central do médico e propiciando o protagonismo das mães no momento do parto. Apenas em 2,1% dos casos foi realizada a episiotomia.

           
O Hospital Sofia Feldman é um hospital filantrópico que nasceu de uma iniciativa da comunidade. “A comunidade percebeu a necessidade de construir um hospital periférico num bairro de Belo Horizonte, numa das regiões mais pobres do município. Ele nasceu através dessa iniciativa, através de doações, de trabalho em mutirão, trabalho comunitário e até hoje a gente mantém uma presença muito forte na comunidade”, conta o diretor clínico do hospital João Batista Marinho de Castro Lima.


Durante o 1º Encontro Nascer nos Campos Gerais, o diretor apresentou a estrutura do hospital, capacitado para realizar 150 partos por mês, quartos com banheiras para parto na água, oferecimento de métodos não-farmacológicos para alívio da dor e incentivo ao parto normal.


Um dos pilares do Hospital Sofia Feldman, segundo o diretor do hospital, é a valorização da experiência humana. "O nascimento sempre empolgou e sempre mobilizou a humanidade, afinal de contas é um novo ser que vem para o mundo e com isso ele modifica não só quantitativamente esse planeta, mas de forma qualitativa também. A experiência humana é fundamental nesse momento. Todos nós que estamos assistindo, participando da assistência ao nascimento temos que ter em mente a importância dessa experiência, que a gente pode chamar de humanização”, defende doutor Lima.

A realidade


“Ponta Grossa tem uma estrutura de sociedade tradicional, conservadora e tem muito pouca abertura para falar em direito reprodutivo, que a mulher tem direito ao aborto, que a mulher tem direito a escolher o local do parto, que a mulher tem direito a acompanhante. Todos esses direitos existem, a questão maior é o preconceito que eu penso que se estrutura em função dessa autoridade médica que acha que o médico é o único profissional que é capaz, que é competente para realizar a assistência obstétrica e neonatal e não é”, lamenta a pesquisadora Ana Maria Bourguignon de Lima.


Pelo SUS, desde 1998, a enfermeira obstétrica pode atender o parto. E a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda essas profissionais desde 1996. Lima também reconhece que na cidade ainda há muita resistência à inserção das enfermeiras no atendimento ao parto. “Agora a gente está conseguindo falar com os profissionais sobre humanização do parto, falar que as mulheres têm direito, que agora as mulheres estão conseguindo levar seus companheiros, mas muito aos poucos, é muito gradual… Eu acho que é um processo que não tem reversão, espero. Mas ainda é um caminho que se inicia em Ponta Grossa”, relata.


A enfermeira Allana Pietrobelli Trierweiler luta em defesa da assistência obstétrica por enfermeiras especialistas. “Eu penso que até a classe médica tem que discutir sobre isso. Qual é a real necessidade de eu ter um médico, que custa muito mais caro para qualquer instituição, assistindo todos os partos, sejam eles complicados ou não? Não faz sentido. Então vamos deixar aquele parto fisiológico, natural, que não tem nenhuma complicação para a enfermeira assistir. E os médicos ficariam somente nos casos necessários, que aí sim eles têm que intervir”, explica a enfermeira.


A professora de história da UEPG Georgiane Garabely Heil Vázquez acredita que hoje ainda existe certa disputa entre médicos e parteiras. “É necessário lembrar que historicamente o espaço do parto e os cuidados com puérperas e bebês sempre foram exclusivos de parteiras, sejam as diplomadas ou as parteiras tradicionais, do conhecimento prático”, conta a professora.


Trierweiler também relata que as outras realidades no mundo afora modificaram suas assistências, aumentando o número de enfermeiras obstetras (profissionais formadas pelo curso de Enfermagem com especialização na área) e obstetrizes (graduadas em Obstetrícia) no atendimento ao parto e não foi aumentando o número de médicos. “Nos grandes centros [São Paulo, Rio de Janeiro, Florianópolis] isso acontece. E dá certo. Então nada mais justo que a gente seguir esses exemplos que já estão aí faz tempo e que funcionam. É só querer mudar, porque exemplo a gente tem pra seguir.” reitera.


“Hoje em dia eu sei que aqui em Ponta Grossa está tendo uma mudança de paradigma, mesmo lento, mas está tendo”, comenta a enfermeira. Exemplo disso é que hoje as mulheres podem protocolar um plano de parto onde elas colocam tudo que elas querem e o que elas não querem durante esse momento. Ele é avaliado pela equipe técnica do hospital que dá um retorno para a mãe se vai ou não acatar aos seus pedidos. “Em algumas situações o pedido não é respeitado e eles têm que embasar o porquê. Vai depender muito da equipe que vai avaliar esse plano de parto. Mas a gente sabe também que se eles não quiserem respeitar nada do que está escrito ali, eles vão acabar embasando de forma absurda e não vão realizar”, ilustra Trierweiler.


“Minha mãe viveu violência obstétrica, mas ela jamais mencionou isso, porque antes esse termo não existia. Ela não acha que viveu, porque foi criada numa cultura onde os médicos podiam fazer tudo na hora do parto e ela deveria aceitar. Então, acho que a politização do parto e da maternidade são necessários para que mais mulheres não sejam expostas à violência e às marcas de um parto traumático”, defende professora de história Georgiane Vázquez.