PSL tem maior bancada na Alep e elege deputado estadual com votação mais expressiva na história política do Paraná, indicando avanço da extrema-direita

 

Com o fim do processo eleitoral para os legislativos federal e estadual, a equipe do Portal Periódico fez um novo levantamento sobre a performance dos deputados eleitos, em 2018, considerando o alinhamento ideológico. Na Câmara de Deputados, candidatos de partidos de centro-direita e direita conquistaram 70% das vagas, o que representa 21 cadeiras. Os partidos de centro-esquerda e esquerda elegeram sete deputados, com 23%. Por fim, os partidos de centro têm dois eleitos, com 7%.
 

Para a Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), os partidos mantêm as mesmas porcentagens de 2014: centro-direita e direita com 35 cadeiras (65%); centro-esquerda e esquerda 16 eleitos (30%); e centro elegeu três deputados (6%).  

 


Já a Alep, continua com os mesmo índices de representatividade de 2014, mas a porcentagem da direita é maior se comparada ao desempenho das eleições de 2010.  No mesmo período, o centro e a esquerda tiveram uma queda no número de deputados eleitos.

 


Nas últimas eleições gerais, o Paraná elegeu mais deputados filiados a partidos de direita. Na Câmara dos Deputados, o Estado do Paraná tem 30 cadeiras. Para a Alep, são eleitos 54 deputados estaduais.

 


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Os dados apontam que, durante as últimas três eleições para a Câmara dos Deputados, das vagas paranaenses, os partidos de direita tiveram o seu melhor desempenho em 2018, o que custou um desempenho menor dos outros partidos.

 


Para explicar o que significa os dados, a mestre e doutoranda em Ciência Política pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Karolina Mattos Roeder, explica o espectro ideológico. “As classificações dos partidos na Ciência Política são realizadas em nível nacional, com o posicionamento dos parlamentares na Câmara dos Deputados ou por consulta a especialistas”, descreve.

 


O “centrão” reúne os partidos mais moderados em relação à igualdade social, política e econômica. A esquerda tende a defender maior intervenção estatal na proteção dos direitos sociais. Já a direita afirma o Estado mínimo e força do mercado.

 


Embora não seja possível afirmar uma isenção do centro, para Roeder, ele reúne os “partidos que não representam pautas claras, são focados em pessoas ao invés de ideologias”, pondera. O fato de os políticos não se posicionarem, claramente, como direita ou esquerda, “não quer dizer que são de centro”, completa Roeder.

 

Ascensão da extrema-direita


A polarização política, em nível nacional, aconteceu, nas últimas eleições, entre um partido de esquerda - o Partido dos Trabalhadores (PT) - e outro de direita - o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). Nas eleições de 2018, verifica-se que a disputa se dá entre o PT, com o candidato Fernando Haddad, com uma plataforma flexibilizada a partir de posicionamento centro-esquerda, e o Partido Social Liberal (PSL), com Jair Bolsonaro. Para Karolina, a mudança traz como novidade a ascensão da extrema-direita.

 


A projeção do PSL no cenário político brasileiro se verifica já que o partido fez a segunda maior bancada da Câmara dos Deputados, com 52 eleitos. Ficou atrás apenas da bancada do PT, que elegeu 56. O partido elegeu quatro senadores e 78 deputados estaduais. Três governadores disputam o cargo de governador, em segundo turno, nos estados de Roraima, Rondônia e Santa Catarina.

 


O Paraná elegeu três deputados federais e oito deputados estaduais pelo PSL. É o partido com maior número de deputados eleitos na Alep. O Delegado Francischini (PSL), ex-tucano, foi o deputado estadual mais votado (427.749 votos) da história do Paraná.

 


 “Uma coisa é certa: a direita se fortaleceu e não é uma direita envergonhada”, enfatiza. Para a doutoranda, isso significa que a extrema-direita não tem medo de afirmar pautas conservadoras. O avanço da extrema-direita, que tem em Bolsonaro seu maior ícone, é movido, sobretudo, pelo sentimento de antipetismo.

 


Segundo Roeder, a ascensão significa que o eleitor acaba optando por um candidato que apresenta ideias mais conservadoras, como mais encarceramento, menos direitos sociais e menos investimento estatal. “Pode ser contraditório, mas são claramente duas posições ideológicas diferentes”, avalia contraponto as plataformas e as performances de Jair Bolsonaro e Fernando Haddad.

 


Os escândalos de corrupção e a piora da condição de vida das pessoas, descreve Roeder, contribuíram para a ascensão de uma direita ultraconservadora. Para a doutoranda, observa-se a tendência de eleitores que apoiam a extrema-direita que ficaram contra políticos e partidos tradicionais e optam por um partido, como o PSL, que nunca foi representativo na política regional e nacional.

 


Embora Bolsonaro possa ser visto como um candidato antissistema, anti-establishment, que nunca tenha tido uma atuação atuação política expressiva, Karolina pondera, no entanto, que ele está na vida política há 30 anos. Sobre o perfil dos eleitores da extrema-direita, Roeder acredita que “uma parte deve ser, sim, conservadora, a favor da manutenção do status quo no que diz respeito a direitos e menos Estado interferindo para a diminuição das desigualdades”.

 


Já uma outra parte do eleitorado, que se identifica com o PSL, “parece não ser necessariamente a favor dessas pautas, mas votou na extrema-direita para uma suposta renovação da classe política”, contrapõe. “Suposta, porque nem todos os que se dizem outsiders são de fato”, reforça. Outsiders são os políticos que não têm uma tradição política. Muitas vezes, são vistos como uma via possível para a renovação por serem vistos como fora da política.

 

Até que ponto a política é previsível?


A cientista política conta que há uma certa previsibilidade, no contexto do processo eleitoral, captada pelas pesquisas. Tradicionalmente, esse instrumento de medição da opinião pública sempre ajudou o eleitor a decidir o voto. No entanto, houve uma crise de representação dos partidos grandes, quando se verifica que políticos tradicionais não conseguirem a reeleição e o PSDB não foi para o segundo turno do cargo de presidente.

 


Para Roeder, contribuiu o fato de que “Dilma sofreu impeachment sem crime e com forte apelo do PSDB que, por sua vez, teve inúmeros casos de corrupção durante e depois disso”. Apesar de os escândalos que envolveram o PSDB não terem tido “o mesmo rigor na prisão e apelo midiático que o PT, por exemplo, o antipetismo pegou”, avalia.

 


A cientista política acredita, no entanto, que “a população acabou não vendo o [candidato Geraldo] Alckmin como um possível presidente”. Para ela, isso se deu muito, provavelmente, por conta das denúncias envolvendo o político mineiro Aécio Neves (PSDB) no âmbito das investigações da Operação Lava Jato. Vale ressaltar, no entanto, que Aécio Neves conseguiu se eleger deputado federal em 2018.

 


Numa previsão sobre o futuro político do país, Roeder entende que para as questões sociais “podemos esperar o pior possível. Austeridade, repressão, políticas de Estado mínimo. O Brasil é um país extremamente desigual e as pessoas vão sentir o impacto rapidamente”.

 


Diante da performance inédita do PSL nestas eleições, Karolina mostra-se crítica. “Ou o PSL se fortalece, e se afirma como partido para 2022, ou nem chegará lá. E é o que parece estar desenhado hoje, já que o partido é amorfo e carece de alguma organização interna”, finaliza.