Os benefícios e riscos da maratona e dos treinamentos intensivos para as competidoras da modalidade
- Detalhes
- Produção: Lucas Veloso
- Categoria: Periódico
- Acessos: 646
Treinos para maratonistas oferecem ganhos à saúde cardiovascular e mental, mas exigem cuidados com o corpo para evitar lesões
Treinar para uma maratona é um desafio que vai além da superação física. Para as mulheres maratonistas, a preparação envolve não só resistência mental e física, mas também alta performance e a superação de barreiras sociais. Com uma rotina de treinos exaustiva, as atletas precisam conciliar dedicação, saúde e, em alguns casos, preconceitos que persistem nesse ambiente.
A preparação de atletas maratonistas demanda planejamento minucioso, dividido em diferentes fases, que vão desde a construção de resistência física até o período de recuperação pré-prova. Normalmente, os treinos variam entre seis e sete dias por semana, incluindo longas corridas, trabalho de força muscular e dias reservados aos treinos de recuperação. Para muitas dessas atletas, conciliar essa carga horária com a vida pessoal e profissional é um dos maiores desafios.
Larissa Aparecida Vieira é diretora de escola municipal em Ponta Grossa e se considera atleta amadora. Ela conta que pratica corridas há sete anos, mas ainda assim enfrenta muitos desafios. “É uma rotina que exige muita organização e disciplina. Preciso sempre manter o foco no meu trabalho e nos meus treinos que, normalmente, acontecem à noite”. A atleta afirma que a corrida beneficia sua saúde mental, pois os treinos proporcionam tempo “para pensar, se distrair e esquecer um pouco da correria do dia a dia”. Ela já correu 13 meias maratonas (21km) e três maratonas (42km), em Florianópolis, Curitiba e uma em Ponta Grossa. Atualmente, Vieira tem feito treinos mais curtos em relação às provas, com distâncias de oito quilômetros.
A Maratona Internacional de Florianópolis conta com percursos de 5km, 21km e 42km
Treinar para uma maratona melhora significativamente o condicionamento físico e a resistência cardiovascular, além de fortalecer músculos e ossos. Irineu Loturco é fisiologista do Núcleo de Alto Rendimento Esportivo de São Paulo e conta que, no processo de uma prova, microlesões nos músculos das pernas acontecem por conta do atrito na aterrissagem e provocam a diminuição da rigidez muscular. Em razão disso, recomenda musculação simples e treino de flexibilidade, para ajudar na ampliação da passada e na corrida, reduzindo, assim, os gastos de calorias na atividade.
Um dos fatores mais relevantes para evitar problemas de saúde ao treinar para maratonas é contar com o suporte de profissionais da educação física e da saúde. Eles podem criar planos de treino ajustados à realidade de cada atleta, levando em consideração a sua condição física e objetivos. O educador físico Cláudio Lafemina explica que os treinos de fortalecimento muscular devem ser feitos ao longo de toda a preparação. “Eles melhoram a capacidade respiratória e a resistência do corpo aos impactos da corrida”. Lafemina pontua ainda que a musculação melhora a capacidade metabólica, promove a perda de gordura e o aumento de massa magra.
Os riscos não podem ser ignorados
Por mais que haja benefícios, um dos principais perigos da corrida está relacionado ao impacto excessivo nas articulações e nos efeitos que o esforço físico extremo pode ter sobre o corpo, como a insuficiência renal temporária. Um estudo da Universidade Yale, publicado no American Journal of Kidney Diseases, mostrou que 82% dos maratonistas apresentam sinais desse problema após uma prova, devido à desidratação e ao aumento da temperatura corporal.
A síndrome de overtraining também é uma realidade para muitos atletas. Este problema acontece quando o corpo é submetido a um esforço contínuo sem tempo suficiente para recuperação. O resultado pode ser queda no desempenho, cansaço extremo e maior possibilidade de lesões. Isso reforça a importância de um planejamento de treinos que equilibrem carga, descanso e hidratação.
Depois de correr sua segunda maratona em 2018, Victória Cardoso Melo sentiu que seu corpo não apresentava os resultados esperados por ela e seu treinador. “O meu desempenho foi ladeira abaixo. Eu não estava conseguindo aumentar minhas passadas e muito menos o fôlego que eu tinha antes”. Victória enfatiza a importância da ajuda psicológica, já que o cansaço mental também é uma realidade para atletas de corrida.
Vieira destaca o desgaste em função de uma alimentação e hidratação inadequada, pois muitos atletas amadores passam mal e perdem muito peso em função disso. “Um erro ou um descuido em um treino de duas horas que cause uma lesão pode fazer com que o atleta demore meses para se recuperar”, pontua.
Ficha Técnica
Produção: Lucas Veloso
Edição e publicação: Laura Urbano e Maria Vitória Carollo
Supervisão de produção: Carlos Alberto de Souza
Supervisão de publicação: Aline Rosso e Kevin Furtado
Incêndios florestais em Ponta Grossa triplicam em 2024
- Detalhes
- Produção: Ana Beatriz de Paiva e Annelise dos Santos
- Categoria: Periódico
- Acessos: 209
Corpo de Bombeiros de PG registrou 138 ocorrências em setembro
Ponta Grossa é a cidade paranaense com o maior número de incêndios florestais, de acordo com dados do 2º Batalhão do Corpo de Bombeiros (2° GB). O aumento do registro de queimadas, no período entre janeiro e setembro de 2024, foi de mais de 300% em comparação ao ano inteiro de 2023. Mesmo faltando três meses para o fim doo ano, o 2º GB já registrou 681 ocorrências em 2024, que já superam os 215 casos de 2023. Ao todo, o Paraná soma mais de 11 mil queimadas neste ano. As mudanças climáticas mundiais, longos períodos de estiagem, baixa umidade e a seca da vegetação e do ar são fatores que favorecem o surgimento de incêndios, muitos destes de natureza criminosa
Vários fatores causam incêndios florestais, inclusive a irresponsabilidade humana. Para que as queimadas ocorram, é necessário o acúmulo de biomassa, condição que favorece o ressecamento da vegetação e uma fonte de calor para iniciar o fogo, que pode ser de origem natural ou criada intencionalmente. De acordo com os dados da Polícia Federal (PF), em 2024 foram abertos 101 inquéritos que buscam investigar queimadas intencionais e responsabilizar os criminosos. A investigação envolve o uso de imagens de satélite e envio de peritos aos locais para identificar a origem do fogo. No estado do Paraná não há registros concretos sobre a origem dos focos de incêndio. Selene Leal é bióloga do Instituto Água e Terra e relata que há queimadas provocadas intencionalmente, mas que, na maioria dos casos, é difícil comprovar a origem do fogo.
A bióloga explica, ainda, que a mudança climática é realidade global e que mesmo ciente desse fato, o poder público e a sociedade são negligentes com as políticas públicas e com a proteção ambiental. Segundo Selene, o desmonte de estruturas das políticas públicas de meio ambiente e a precarização do trabalho de agentes fiscais, desde 2018, resultaram na redução da fiscalização, aplicação de multas e má preservação dos biomas. “Enquanto não começarmos a ter pautas ambientais no poder público, planos de governo que foquem em educação ambiental, apoio a energias renováveis e penalidades rígidas a grandes empresas que não se adequam a práticas sustentáveis, vamos tentar apagar o fogo com gasolina”, ressalta a bióloga.
Até setembro de 2024, foram registrados mais de 600 casos de incêndios florestais em Ponta Grossa | Foto: Annelise dos Santos
A moradora da Vila Vicentina, Letícia Nievola avistou um incêndio próximo à sua casa. O Cemitério Vicentino, nas proximidades da residência, foi tomado pelas chamas e os moradores da região sentiram a mudança na qualidade do ar. “Todos nós estamos sofrendo com problemas respiratórios, como rinite e alergias. Pessoalmente, tenho até notado sangramento nasal e dificuldade para respirar e dormir. A fumaça é visível a olho nu, o que só piora a sensação de desconforto”. Ela se preocupa com a falta de conscientização da população a respeito da preservação ambiental e critica as queimadas criminosas.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), no mundo, cerca de 7 a 9 milhões de mortes prematuras anuais podem ser atribuídas à inalação de ar de má qualidade. Os principais riscos à saúde envolvem o desenvolvimento de doenças cardiovasculares e respiratórias. A médica de família e comunidade do Sistema Único de Saúde (SUS) Mayara Floss, afirma que a inalação de grandes quantidades de fumaça seria o equivalente a toda a população se tornar fumante passiva.
Mayara afirma que as partículas que poluem o ar são até 20 vezes mais finas que um fio de cabelo, por isso são responsáveis por causar irritações e inflamações. Os principais sintomas da inalação de fumaça tóxica são irritação nas mucosas, tosse, ardência nos olhos e mal-estar. Mayara explica quais cuidados devem ser adotados pela população em períodos de secas e queimadas. “O ideal é não sair de casa sem necessidade, manter portas e janelas fechadas, evitar atividades ao ar livre, utilizar máscaras N95 durante as saídas, beber bastante água, usar colírios lubrificantes nos olhos e ficar atento a tosse e mal-estar para buscar ajuda profissional caso seja necessário”, destaca.
Mayara ainda conta que notou que mais pessoas buscaram atendimento médico por problemas respiratórios, cardiovasculares e questoẽs oculares em decorrência do crescimento no número de incêndios. Além disso, também houve um aumento no número de internações e mortes por poluição do ar. “Para cuidarmos da nossa saúde será necessário parar as queimadas, responsabilizar as pessoas culpadas e reflorestar nossos biomas. Caso contrário, a consequência é enfrentarmos mais secas e mais instabilidade”, enfatiza..
A população tem sentido as consequências da péssima qualidade de ar, especialmente os que já possuem algum problema respiratório crônico. Marina Troyner tem asma e afirma que em períodos de seca precisa dobrar a dosagem de sua medicação diária. “Além da dificuldade para respirar, os quadros de irritação na garganta têm desencadeado otite e secreção no ouvido. Esses estão sendo sintomas recorrentes nos últimos dias”.
O Ministério da Saúde orienta que, em caso de incêndio, os bombeiros devem ser acionados imediatamente, por meio do 193. Além disso, os grupos de risco, como crianças menores de 5 anos, gestantes e idosos devem ter atenção redobrada às recomendações médicas e ficar atento ao agravo de sintomas respiratórios.
Ficha Técnica
Produção: Ana Beatriz de Paiva e Annelise dos Santos
Edição: Laura Urbano, Maria Vitória Carollo e Mel Pires
Publicação: Mel Pires
Supervisão de produção: Carlos Alberto de Souza
Supervisão de publicação: Aline Rosso e Kevin Furtado
Real completa 30 anos em 2024 e enfrenta desvalorização
- Detalhes
- Produção: Ana Beatriz de Paiva
- Categoria: Periódico
- Acessos: 513
A moeda, criada na década de 1990, foi responsável por estabilizar a inflação e a economia brasileira
Em 2024, o Plano Real completou 30 anos. A medida foi implantada durante o governo de Itamar Franco com o objetivo de amenizar a inflação vigente na época. A nova moeda cumpriu com o seu objetivo e durante os primeiros anos de circulação, um real era equivalente a um dólar. De acordo com o Banco Central do Brasil, em 1994 a inflação alcançava índices altíssimos de 47,7% ao mês e 4.922% ao ano antes da implantação desse plano. Os produtos básicos naquele período sofriam oscilações de preços mais de uma vez ao dia.
No site do Banco Central é possível encontrar a calculadora do cidadão. Ela aponta que em 2024, para o brasileiro ter o mesmo poder de compra equivalente a um real em 1994, seria preciso desembolsar R$ 8,08. A agência classificadora de risco de crédito Austin Rating apontou recentemente as moedas mais desvalorizadas do mundo. No ranking, o real brasileiro ocupa a 5° posição, com uma desvalorização de -14,6%, atrás apenas das moedas da Nigéria (-42,6%), Egito (-35,8%), Sudão do Sul (-29,9%) e Gana (-21,9%).
Moedas desvalorizadas no mundo. | Crédito: Ana Beatriz de Paiva
José Renato Olszewski é economista e explica que na década de 1990, o real foi responsável por trazer estabilidade econômica para o Brasil. “Juntamente com o plano real, vieram outros adventos responsáveis por modernizar a economia”. Olszewski comenta como a desvalorização da nossa moeda pode impactar a vida dos brasileiros: “as famílias hoje, com a mesma renda, compram menos. Esse processo afeta diretamente o fluxo circular da economia e a queda atinge a indústria”.
O economista observa que dentre as principais explicações para a desvalorização de uma moeda está o endividamento do setor público. “O governo precisa fazer o pagamento de juros pelo déficit primário gerado, há uma transferência de recursos financeiros que poderiam ser investidos no crescimento da economia, mas foram para pagamento de juros”. Além disso, o comércio internacional se torna outro polo responsável pela desvalorização, visto que há grande procura pelo dólar, moeda em comum entre os países, para a realização de transações internacionais. “É importante entender que a moeda mais utilizada no mercado é o dólar, e o Brasil precisa da moeda internacional para fazer frente aos pagamentos de importações. Assim funciona a lei da oferta e da procura, quanto mais se procura uma moeda no exterior, maior é o preço que irá ser pago nela”, esclarece.
A desvalorização da moeda e o consequente crescimento no preço de produtos básicos afetam diretamente os comerciantes. Vladimir Axt é dono de um pequeno negócio em Ponta Grossa. Ele afirma que com o aumento dos preços, seus clientes pagam o mesmo valor para quantidades cada vez menores. Além da compra dos produtos gerar lucros menores para o seu negócio. “Quando o valor das mercadorias sobe, os dois lados perdem, tanto eu como vendedor, porque preciso diminuir o lucro para o valor do produto não ser tão alto para os clientes. E os clientes pagam o mesmo valor por quantidades menores de produtos”. Ele relata que procura equilibrar os preços das mercadorias para não prejudicar os compradores.
Diva dos Santos é dona de uma mercearia. Costuma fazer compras para seu negócio a cada 15 dias e percebe o aumento regular dos preços a cada transação. “Toda vez que faço compras, o valor aumenta. Então, como forma de manter meu negócio, preciso reajustar o valor dos meus produtos frequentemente”. A comerciante conta, ainda, que parou de vender alguns itens devido aos altos valores e a baixa procura em sua região. Como uma forma de alavancar o seu comércio, Diva destaca que em períodos próximos a datas festivas ou comemorações, investe em produtos específicos, que geralmente não são comercializados por ela durante outras épocas do ano.
Os preços no início do Plano Real
De acordo com o Banco Central, em 1994, o valor do salário mínimo era de 64,79 reais, o que equivaleria a R$523,52 corrigidos pela inflação dos dias atuais. Em 2024, o valor é de R$1.412.
Segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 1994, uma cesta básica poderia ser comprada por R$67,40, o que em valores atuais, corrigidos pela inflação, seria o equivalente a R$544,61. Atualmente, o valor de uma cesta básica é de R$809,77.
Já o preço do litro da gasolina na maior cidade do Brasil (São Paulo) era de R$0,55, o que equivaleria a R$4,44 nos dias de hoje. No entanto, atualmente o valor do litro da gasolina em São Paulo é de R$5,66 segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis.
Histórico da moeda brasileira
Durante o governo de Itamar Franco, o ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso foi responsável por elaborar o Plano Real, implantado no dia 1 de julho de 1994, com o objetivo de reorganizar a economia brasileira. Nos anos 1990, a inflação no Brasil atingia níveis altíssimos, e o cruzeiro, moeda vigente na época, valia cada vez menos do que o dólar e os preços de alimentos, gasolina e prestações subiam descontroladamente. Ao longo dos primeiros quatro anos da implementação do plano, o valor do real foi estável, sofrendo apenas em 1998, uma pequena inflação de 1,5%.
Na atual economia, a situação é diferente. Para se comprar um dólar, o brasileiro precisa desembolsar cerca de cinco reais e cinquenta centavos. Atualmente, de acordo com o IBGE, o governo federal utiliza o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) como “índice oficial da inflação no Brasil’’. Este serve de referência para as metas de inflação e para as alterações nas taxas de juros. O IBGE divulga o índice regularmente desde 1980. Segundo o IPCA, houve uma alta geral dos preços de 521% desde o primeiro dia em que o real passou a circular.
Ficha Tecnica:
Produção: Ana Beatriz de Paiva
Edição e publicação: Mel Pires e Luisa de Andrade
Supervisão de produção: Carlos de Souza
Supervisão de publicação: Aline Rosso e Kevin Furtado
Mães enfrentam dificuldades ao retornar ao trabalho após licença-maternidade
- Detalhes
- Produção: Mariana Real
- Categoria: Cidade e cidadania
- Acessos: 67
O benefício é previsto pela Constituição e assegura 120 dias de licença remunerada
Foto: Maria Vitória da Cunha Machado
Mães ponta-grossenses enfrentam desafios ao retomar o trabalho após a licença-maternidade. Prevista na Constituição Federal de 1988, a licença-maternidade oferece às mulheres 120 dias remunerados após o nascimento ou a adoção de um filho. O que deveria ser um direito se torna um obstáculo com a readaptação à rotina profissional e a preocupação com a possibilidade de perder o emprego.
Mãe de duas filhas, Letícia Iensue conta que teve experiências distintas com a licença-maternidade. A professora tirou licença em 2021, e continuou com o trabalho de forma remota por conta da amamentação. Iensue adiciona que ao retornar a escolateve sua função realocada para professora de reforço escolar. “Eu não cumpria a minha profissão que eu fui designada a fazer. Eles me rebaixaram ", afirma. A professora teve medo de perder o emprego ao perceber a realocação de função e a redução na carga horária. Ao fim do período de estabilidade de cinco meses concedido por lei após o nascimento, ela foi demitida. Na segunda vez, ela enfrentou dificuldades antes mesmo do afastamento, com comentários de colegas e superiores sobre o benefício. “Diziam que eu ficaria em casa, sem fazer nada”, recorda. Iensue tirou a segunda licença antes do previsto por enfrentar dificuldades no último trimestre de gestação. Ao retornar, teve receio de ser demitida como foi após o fim da primeira licença“Tinha receio em falhar no trabalho justamente porque tinha bebê em casa e tinha dias que eu não podia ir para ficar com a minha filha”, conta Iensue.
Tatiele Carvalho Less, trabalha como atendente de telemarketing e está em licença-maternidade. Ela trabalha em regime de home office e compartilha a apreensão com o retorno ao trabalho. “Eles não gostam muito quando a mulher engravida, quem dirá quando se afasta”, afirma. Tatiele adiciona que não teve problemas ou perturbação antes e durante a licença-maternidade, mas que ainda está apreensiva para voltar. “Foi bem fácil pedir, mas estou apreensiva quanto ao voltar”, conta. Ela explica que na empresa onde trabalha, o home office é permitido para quem atingir metas específicas, e casos de remanejamento para o presencial já ocorreram entre colegas. “Tenho receio por causa disso, de ser mandada pro presencial, pois tenho mais uma filha e o presencial não teria como trabalhar. Aí teria que sair”, diz, acrescentando que aguarda para ver como o retorno após a licença será tratado.
A advogada e consultora jurídica Ellen Cristina Alcântara destaca que a legislação trabalhista assegura que as trabalhadoras não podem ser demitidas no período de estabilidade, o que garante que elas tenham tempo para se reintegrar ao ambiente de trabalho sem medo de perder o emprego. “Sem justa causa, a empregada não pode ser demitida durante a estabilidade, que se estende por até cinco meses após o parto”, pontua. Alcântaradiz, ainda, que a legislação brasileira protege as trabalhadoras contra realocações de função que possam prejudicá-las, garantido pelo artigo 468 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
Ainda de acordo com a advogada, alteração no cargo ou demissão durante o período de estabilidade podem ser caracterizadas como prática discriminatória, cabendo à trabalhadora buscar a Justiça do Trabalho para reparação. “Se configurada descriminação, a empresa poderá ser condenada a reintegrar a empregada ou, caso não haja interesse dela, a pagar indenização correspondente ao salário e benefícios”, explica Alcântara.
Além das garantias de estabilidade, Alcântara destaca que a legislação brasileira protege as trabalhadoras contra práticas discriminatórias e assédio moral, que se tornam mais comuns no período pós-maternidade. “O assédio maternal pode incluir comentários depreciativos, exclusão de projetos ou limitações ao crescimento profissional da mãe”, afirma. Ela ressalta que tais práticas violam a dignidade e a integridade psíquica da trabalhadora. A advogada orienta que, em casos de assédio ou discriminação, as trabalhadoras devem “documentar todas as situações de discriminação, reportar os incidentes ao RH e, se necessário, acionar a Justiça do Trabalho para buscar reparação por danos morais e materiais.”
A licença-maternidade é garantida pela Constituição Federal de 1988, assim como pelo artigo 392 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), e assegura às trabalhadoras o direito a uma licença remunerada de, no mínimo, 120 dias. Já a licença-paternidade, regida pelo artigo 7° da Constituição, prevê cinco dias consecutivos de licença remunerada pelo nascimento ou adoção de filhos para trabalhadores formais, podendo ser ampliada para 15 dias para trabalhadores de empresas que aderirem ao Programa Empresa Cidadã, do governo federal, conforme previsto pela lei n° 8.212, de 1991. A Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) aprovou, em julho deste ano, o projeto de lei n° 3.773, de 2023, que aumenta a duração da licença-paternidade para até 75 dias. A proposta continua em análise no Senado.
Ficha Técnica
Produção: Mariana Real
Edição e Publicação: Iolanda Lima e Joyce Clara
Supervisão de produção: Muriel Emidio Amaral
Supervisão de publicação: Aline Rosso e Kevin Furtado
Clubes literários incentivam a leitura em Ponta Grossa
- Detalhes
- Produção: Maria Vitória Carollo
- Categoria: Cultura
- Acessos: 319
Diversidade de obras, espaço para diálogos culturais e manutenção do hábito são atrativos para o público
O Clube do Livro do SESC Estação Saudade foi criado em 2020 durante a pandemia | Foto: João Agner
Os clubes de leitura estão ganhando espaço na cidade e atraindo participantes de diversas faixas etárias, que veem nesses encontros uma oportunidade de refletir e compartilhar opiniões sobre temas literários e culturais. Em um contexto em que os conteúdos digitais são cada vez mais variados e atrativos, essas iniciativas surgem como uma tentativa de recuperar o hábito da leitura.
O Entre Livros e Cafés surgiu a partir da vontade de Laura Silveira, organizadora do clube, de retomar o hábito de ler cotidianamente, que foi afetado pelos compromissos da graduação. A princípio, ela passou a fazer anotações sobre os livros que lia, mas sentia que precisava compartilhar suas impressões com outras pessoas. Atualmente, o grupo conta com 15 integrantes, de idades entre 20 e 60 anos. “Acho muito legal essa interação com pessoas diferentes, de idades, profissões e vidas diversas”, comenta Silveira.
O grupo ainda é recente, mas despertou o interesse de pessoas que, assim como Silveira, tiveram o hábito de leitura interrompido por conta de suas rotinas. Jéssica Hegler conheceu o Entre Livros e Cafés por meio do Instagram e acredita que ele tem potencial para incentivar a retomada desse hábito. "Eu espero que ele possibilite novas percepções, e que eu possa dividir as perspectivas e ouvir o que os meus colegas acham dos livros”.
O Clube do Livro do SESC Estação Saudade é outra iniciativa e está em atividade no município há cinco anos, e integra um conjunto de atividades sistemáticas da rede de bibliotecas do SESC. Os encontros acontecem semanalmente e um dos seus principais diferenciais é a leitura em conjunto no decorrer das reuniões. Os membros se reúnem aos sábados, fazem uma rodada de leitura em voz alta e depois conversam sobre o que leram . O clube conta com 12 integrantes, de idades entre 19 e 80 anos, e reúne artistas, autores e leitores iniciantes e experientes, ou que estão buscando retomar a leitura. João Agner é coordenador do grupo e, para ele, os diálogos propiciados pelos clubes são essenciais para a literatura. “ Vir para um clube e perceber que a sua opinião é ouvida, que você pode partilhar e contar a sua conexão pessoal com a leitura, contribui com o desejo de continuar lendo.”
A leitura no Brasil
Dados da pesquisa “Panorama do Consumo de Livros” cerca de 84% da população brasileira acima de 18 anos não comprou nenhum livro nos últimos 12 meses. O estudo realizado pela Nielsen BookData, encomendado pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), aponta que 60% dessas pessoas que estão deixando de comprar livros consideram o hábito da leitura importante, mas se sentem desmotivadas para comprar livros. Os principais fatores citados são preço, ausência de loja e falta de tempo.
Ficha Técnica
Produção: Maria Vitória Carollo
Edição e publicação: Gabriel Aparecido
Supervisão de produção: Carlos Alberto de Souza
Supervisão de publicação: Aline Rosso e Kevin Furtado