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- Produção: Tayná Feliciano
- Categoria: Esportes
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O Vá de Camisa nasceu em 2020; já atingiu 30 mil pessoas no país
Um projeto criado em Ponta Grossa procura ensinar mulheres a montar looks com camisetas de times de futebol. O Vá de Camisa foi criado pela advogada Kamila Padilha, 33 anos, no começo do ano passado. O objetivo é mostrar combinações possíveis dos uniformes das equipes com peças casuais, como saias e salto alto. A ação já alcançou 30 mil pessoas.
Kamila é torcedora do Operário e do Corinthians. Ela tem uma coleção de mais de 70 camisetas, incluindo times internacionais. Para ela, o universo do futebol ainda é muito masculino. “As primeiras camisetas com cortes femininos foram lançadas em 2005. Eu comprava as P masculinas, ou os maiores tamanhos infantis. É um público que foi esquecido por muito tempo, então temos que incentivar sempre.”
Para a advogada e criadora da página, a camisa de time não é incluída na moda e a intenção do projeto é introduzi-las neste cenário. “Elas sempre foram vistas como algo avesso, mas devem ser introduzidas porque tem todo um estudo, um desenho e uma história, mas ainda é algo muito polêmico, a maioria do pessoal da moda não aceita.”
Foto: Divulgação/Vá de Camisa
Seguidoras
A advogada, radialista e deputada estadual Mabel Canto (PSC) apoia o Vá de Camisa. “Acho válido nós mulheres, que também amamos o esporte, vistam a camisa, não só nos estádios, quando estamos torcendo pelo nosso time, mas sempre, porque é uma maneira de exaltar nosso clube e também mostrar que nós podemos torcer e estar em todos os lugares com a nossa camisa.”
Jéssica Garcia, 19 anos, é estudante e seguidora da página. A corinthiana acredita que projetos como o “Vá de Camisa” servem para normalizar algo que deveria ser natural. “Uma mulher andando de camiseta de time é algo que as pessoas estranham, como se fosse algo de outro mundo. A nossa sociedade, por ser muito machista, causa uma perspectiva de que a mulher esteja querendo chamar atenção, mas é só porque ela gosta e torce para o time.”
A estudante pontua ainda que as camisetas geralmente são muito caras para usar em poucas ocasiões. “É uma vestimenta como qualquer outra, é uma camiseta como qualquer outra e é muito mais cara. Eu as uso em quase todas as ocasiões. Uso no cursinho, para sair. Só não uso para ir à missa.”
Milena Almeida, 23 anos, é torcedora do Atlético Mineiro. Ela tem uma coleção que passa das 90 camisetas. Para ela, as camisetas de time são uma identificação. “Apesar de eu achar que a camiseta de time e o futebol estão muito ligados ao sexo masculino, eu uso porque ela expressa uma parte superimportante do que eu sou e da minha identidade. Garante uma conexão imediata com as pessoas que se identificam com o esporte ou com o seu time.”
Thanile Ratti, 24 anos, jornalista e empresária é Corinthiana. Ela acha bacana o projeto “Vá de Camisa”. Ela enxerga como uma forma de quebrar o paradigma de que camisetas de time são relacionadas aos homens e de que só se enquadram em momentos de jogo. “Ainda é uma forma até para me ajudar a perder essa percepção comigo mesma, pois não me sinto confortável em usar as minhas camisetas em outros contextos, além de torcer.”
A jornalista acompanha o movimento dos clubes de fazer camisetas destinadas ao público feminino, a partir de ajustes como o próprio tamanho e modelos que agradam mais as mulheres. “É uma forma que os times estão conseguindo romper essa barreira de que só homens gostam de futebol. Cada vez mais estamos vendo mulheres praticando o esporte, assistindo e gostando de futebol tanto quanto os homens. É um tema que precisamos conversar, porque o Brasil é o país do futebol e cada vez mais vai ser o esporte também das mulheres.”
O olhar da moda
Felipe Zanin, 20 anos, formado em moda na UEM, afirma que a moda é o reflexo do comportamento das pessoas diante da sociedade e do tempo que está situado. “Quem faz a moda somos todos nós, a partir do momento que estamos inseridos em uma sociedade, isso já se reflete como moda, tanto no nosso vestuário, no nosso estilo de vida e no que a gente consome.”
Zanin acredita que a camiseta de futebol, usada dentro da moda para compor looks, é algo complicado, visto que ela segue um segmento de público muito específico, o que restringe apenas às pessoas que consomem o esporte. “Justamente por esse motivo, ela não é vista para ser usada como um vestuário do dia a dia, algo mais casual ou em ocasiões mais formais.”
Outro ponto que Zanin coloca é a maior visibilidade do futebol masculino, comparado ao feminino, o que faz com que ele tenha mais regalias, por afetar muito mais a sociedade e a economia, mas que isso está em processo de mudança. “Precisamos que o futebol feminino seja mais reconhecido, para que tenha um reflexo também dentro da moda. A partir do momento que eles forem vistos de maneira igual e o mesmo valor agregado, a camiseta de time também terá outro significado.”
Ficha técnica
Reportagem: Tayná Feliciano
Edição: Eduardo Machado
Publicação: Eduardo Machado
Supervisão de produção: Muriel Amaral, Cândida de Oliveira e Jeferson Bertolini
Supervisão de publicação: Marcos Zibordi e Maurício Liesen
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- Produção: Tayna Lyra
- Categoria: Esportes
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Setor prata passou de R$ 55 para R$ 100 reais; outros setores aumentaram R$ 10
Resumo
- Reportagem mostra reajuste excessivo no valor da categoria prata do Operário, com aumento de 80%;
- Torcedores não consideram justo o aumento por conta da crise financeira que a pandemia causou;
- Presidente do time diz estudar proposta para quem perdeu emprego na pandemia.
O avanço da vacinação em Ponta Grossa possibilitou a flexibilização de algumas medidas de restrição, como a volta da torcida aos estádios. Porém, pelo menos para parte dos torcedores do Operário, a volta ao Germano Krueger tem sido indigesta: eles estão tendo de encarar o aumento no valor dos sócios torcedores, que aconteceu no começo deste ano.
O reajuste seria aplicado apenas para os torcedores que não renovassem o contrato - mas, com a pandemia, a maioria dos sócios não renovou. Além de não usufruir dos benefícios que a filiação proporciona, isto também ocorreu por falta de condições financeiras.
As mudanças de valor aconteceram nas três categorias do estádio: prata, ouro e diamante. Contudo, o que mais causa dúvidas entre os torcedores é que o maior aumento foi para o sócio prata, que é a categoria que reúne mais pessoas. O aumento foi de mais de 80%, passando de R$55 para R$100; enquanto na área ouro e diamante (a mais luxuosa), o aumento não passou de R$10.
O torcedor Marcos Otávio, 47, manifesta injustiça, visto que os setores não oferecem a mesma qualidade. “O prata não tem nem cadeira, a gente se senta no cimentado e agora está quase o preço dos que oferecem assentos ou até cobertura. Isso é um absurdo, sabemos que é uma classe que tem menos condições financeiras. O correto seria acréscimo justo, visando as pessoas que frequentam cada área, ou então que fosse igual para todos os setores”.
Alguns torcedores lamentam não poder voltar à arquibancada. O operador de produção Eduardo Rodrigues, 39, conta que a pandemia o impediu de manter o título de sócio em dia. “Tive suspensão no contrato de trabalho, não tinha como pagar e atrasou. Agora para eu voltar, teria de entrar no valor reajustado, ou seja, infelizmente, sem chances para mim”. Edson Luis, 40, pagava duas carteirinhas: “Se uma só já fica difícil de pagar, imagine duas? Desde piá indo ao GK e agora não poderei mais ir”, lamenta.
Foto: Tayna Lyra
Desistências
Sabendo da grande quantidade de desistências, o administrador da página Imortal Operário, Igor Mansini, se preocupa com a diminuição da capacidade dentro do estádio e acredita que a decisão deve ser revista. “O Operário precisa do público. A força da torcida sempre foi um dos nossos diferenciais. É um time de todos. É a hora de ceder para voltar aos 10 mil torcedores no estádio”.
São comuns as histórias que passam de pais para filhos nas arquibancadas, mas, devido aos reajustes, a tradição pode perder a continuidade. É o caso de Cleiton Farias, 31, que começou a acompanhar o pai nos jogos. “Não renovei no período de isolamento e agora com R$100, eu e meu filho, não consigo pagar os dois, vai me faltar em outras coisas dentro de casa. Me dói não poder fazer isso por ele, como meu pai fez comigo”, diz.
Rogério Gravieski, 47, motorista rodoviário, questiona o porquê da diretoria ter exigido que os torcedores continuassem pagando, sendo que as atividades estavam paralisadas. “O que você não usou, não há lei que te faça pagar. Não lembro quando assinei contrato que estava escrito que seria vitalício, eu tenho o direito de deixar de pagar se não estou usufruindo”.
O Operário
O presidente do Operário Ferroviário, Álvaro Góes, 60, diz estar ciente das reclamações da torcida que dispõe da área prata do estádio. “O que posso fazer é estudar uma proposta para aqueles que foram mandados embora ou tiveram suspensão no contrato de trabalho e acabaram ficando sem pagar o valor do sócio na pandemia, desde que isso conste na carteira de trabalho”.
Álvaro sugere uma bonificação ou redução de valor para estes trabalhadores, mas questiona os demais torcedores. “O que eles precisam entender é que as contas do OFEC não param, elas continuam dia a dia. Eu gostaria que todos entendessem que as despesas do time não pararam durante a pandemia. São mais de 4 milhões de prejuízo com os desfalques dos torcedores. Quem paga isso?”.
Vendo o lado da diretoria, Diego Arruda, 32, técnico rodoviário, afirma que suas mensalidades estão em dia e que quanto mais pessoas fizerem um esforço, mais o Operário cresce. “Não quer ser sócio? Então paga ingresso a 150 reais, até porque o OFEC não é público, é particular. Nós temos que ajudar no que podemos, só seremos fortes se todos fizerem o seu máximo para ajudar”. Diego acredita que a culpa dos reajustes foi por falta de compromisso dos demais sócios. “O Operário tinha 9 mil sócios, muitos ficaram desempregados, mas a maioria não pagou só porque não tinha jogo. Se isso não tivesse acontecido, nossas contas estariam em dia e com certeza a diretoria iria aliviar os reajustes”, afirma.
Bruno Schnerzoski, 45, mecânico, opina que torcedor que não apoia financeiramente, não pode cobrar no dia do jogo. “Nós temos que fazer a nossa parte, porque daí não adianta chegar no dia do jogo, ficar ‘cornetando’ e cobrando, mas não ajudar com um centavo. Querem elenco, subir de divisão, G4, queremos e queremos, porém se não ajudam com nada, fica incoerente querer cobrar”, critica.
Ficha Técnica
Repórter: Tayna Lyra
Edição: Ana Paula Almeida e Larissa Onorio
Publicação: Larissa Onorio
Supervisão de Produção: Jeferson Bertolini
Supervisão de Publicação: Marcos Zibordi e Maurício Liesen
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- Produção: Gabriel Ryden
- Categoria: Esportes
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Unidades adotam cuidados especiais por causa do risco de contágio
Longe de treinamentos e jogos há meses, as escolinhas de futebol tentam encaminhar um lento retorno às atividades normais. No início da pandemia, a Escola Oficial Operário Ferroviário, em Ponta Grossa, determinou treinamentos online, com exercícios físicos individuais para cada atleta. Após diversas pausas por conta de decretos municipais e estaduais, os treinos retornaram ao presencial.
De acordo com o professor e treinador da Escola Operário, Alisson Patrick Silva dos Santos, o número de alunos caiu, o que já era esperado pela equipe de funcionários. “Com o tempo e as semanas passando, os alunos vão voltando, os pais liberando, e aos poucos o ritmo também volta ao normal como já nos programávamos”, afirma. Na parte financeira, a Escola do Operário sofreu baixa com a saída de alunos, entretanto, segundo o professor, a organização da empresa foi fundamental para a sobrevivência.
Para Alisson, o período longe dos campos pode interferir em um possível futuro profissional dos atletas, principalmente entre as categorias de base. “Quanto mais novo, a parte técnica é afetada. Quanto mais velho, a parte física e tática. Então, cabe a nós profissionais da área tentar diminuir esse buraco na formação do atleta”, completa.
O professor acredita que os treinamentos e o convívio social entre os alunos geram resultados visíveis no dia-a-dia, como por exemplo no desenvolvimento do respeito e do caráter. Ele ainda conta que no retorno presencial os funcionários identificaram dificuldades de sociabilização, principalmente entre os atletas mais novos. “Há um ano e meio os atletas participavam de viagens e jogos, o que beneficiava a parte social e também mental. Com a pausa, alunos entre 9 e 11 anos apresentam alguns bloqueios, então estamos tentando buscar a melhora nesta questão para que eles se sintam acolhidos”, explica.
A Escola Oficial Operário Ferroviário é administrada pela PG Soccer e pelos Diretores William Borges e Cristiano Gonzaga. A instituição conta com cerca de 200 alunos, entre meninos e meninas, além de quatro professores.
Outras cidades
Em São Paulo, cidade polo de escolas e clubes profissionais, a Escola de Futebol SPFC retornou às atividades nas quatro unidades em outubro do ano passado, depois de seis meses de treinos online, lives pelas redes sociais e exercícios em casa. Desde o retorno, contam apenas com 30% dos alunos ativos e 12 funcionários distribuídos nas unidades, sempre utilizando máscaras, respeitando o distanciamento e desinfetando todo o material durante os intervalos das aulas.
Segundo a psicóloga e diretora da Escola SPFC, Vivian Mathias Sparapani, esse período longe das atividades pode trazer problemas no desenvolvimento dos alunos, desde habilidades motoras e até na sociabilização, pois a Escola assume o papel de colaboração na formação de todos os aspectos sociais, não apenas esportivos. “Devemos ter muita atenção com cada criança em todos os sentidos. Hoje trabalhamos com alunos que possuem sintomas de depressão e também síndrome do pânico, em virtude desta parada causada pela pandemia. Elas têm medo de contrair o vírus”, relata a psicóloga.
Outra dificuldade enfrentada, além da questão técnica e mental dos atletas, foi a situação financeira. De acordo com Vivian, na Escola SPFC nenhum funcionário foi demitido, mas foi necessário o uso de programas governamentais de redução e suspensão de salários.
Jovens atletas
O atleta Pedro Henrique Paes, de 15 anos, atua desde 2014 como volante e também meia no Fut Escola de Craques em Itapeva, interior de São Paulo. Pedro relata que o número de pessoas durante os treinamentos está bem reduzido. Antes de cada atividade, a temperatura é medida, utilizam álcool gel e máscaras o tempo todo. Ele conta que mesmo realizando algumas atividades físicas durante a pausa do treinos, ainda sentiu dificuldades após o retorno. “O físico não estava totalmente ruim, mas muito fraco, perto do que era antes. Estava sem tempo de bola, errava domínios fáceis, entre outras coisas. Além disso, eu senti muito a mente e o raciocínio mais preguiçosos”, lamenta Pedro.
O volante Heitor Carvalho Ferreira da Silva, também de 15 anos, foi aprovado em uma peneira do time carioca Resende Futebol Clube no mês de dezembro. “Após meses de treinos online, eu senti dificuldades principalmente na parte física quando as atividades voltaram. Mas por enquanto, o complicado é ainda não poder ir ao Rio de Janeiro por causa da pandemia”, finaliza Heitor.
Ficha Técnica
Reportagem: Gabriel Ryden
Edição e Publicação: Larissa Onorio
Supervisão: Jeferson Bertolini, Marcos Zibordi, Maurício Liesen