Mas segundo integrantes da comunidade, na prática a discriminação não diminuiu

 

Foto: Marcella Panzarini/Lente Quente

 

De acordo com dados da última atualização do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, em 2021 o número de denúncias de violação à comunidade LGBTQIA+ diminuiu 26% no Paraná. Este registro foi realizado através do programa Disque 100 (Disque Direitos Humanos), que recebe e encaminha denúncias de discriminação, violência psicológica e violência física contra as minorias no Brasil.

Para o influenciador digital Murilo Tramontin, as pessoas denunciaram menos, mas a violência não diminuiu. Ele conta que a LGBTfobia aumentou com o uso da internet. ‘‘Eu trabalho com a internet, e percebo que com o uso dela o preconceito aumentou. Vira e mexe aparece alguém comentando ofensas nas minhas redes sociais. Então agora, não só acontece a discriminação nos locais públicos, mas também no ambiente digital’’, relata.

O autor do livro ‘Gênero, Sexualidade e Redes Sociais’, Rafael Morato, apresenta o debate sobre a descriminação e discursos de ódio nas redes sociais. ‘’De fato a temática continua muito atual. Já faz alguns anos que pesquiso nessa direção e não para de ser atual, talvez só mude a plataforma digital, mas a forma como ela se manifesta acaba sendo muito parecida’’, afirma. Para ele, o suposto anonimato presente na internet auxilia na distribuição dos discursos preconceituosos nas redes sociais.

A geógrafa e pesquisadora, Dryca Gelinski, diz que existem casos onde a pessoa se assume na internet como parte da comunidade LGBTQIA+ e precisa excluir as redes sociais, após receber diversas mensagens e questionamentos. ‘‘Tem pessoas que chegam para dizer que aquilo está errado e que precisa de tratamento psicológico’’, acrescenta.

No dia 13 de junho de 2019 foi aprovada pelo Supremo Tribunal Federal a criminalização da homofobia e da transfobia no país. Mas, segundo o organizador da Parada Cultural LGBT+ dos Campos Gerais, Erick Teixeira, mesmo com os avanços o preconceito ainda não acabou. ‘‘Acredito que os ataques contra a comunidade não vêm diminuindo, pois o Brasil continua sendo o país que mais mata transexuais, e no geral, pessoas LGBTQI+’,’ afirma.

A discriminação e violência física, verbal e pisicológica contra a comunidade LGBTQIA+ são crimes. Para denunciar, as vítimas podem fazer um boletim de ocorrência na delegacia mais próxima ou por meio do Disque 100, que funciona 24 horas por dia, inclusive em feriados e fins de semana, gratuitamente.

 

Ficha técnica
Repórter: Evelyn Paes
Editora de texto: Deborah Kuki
Publicação: Deborah Kuki
Supervisão: Muriel Emidio Amaral, Marcos Zibordi e Maurício Liesen

 

Ponta Grossa registrou 400 denúncias apenas em 2020

 

O número de denúncias de violência e maus-tratos contra a pessoa idosa cresceu 59% no Brasil durante a pandemia da Covid-19. Dados publicados pelo Disque 100, número que recebe denúncias de casos que violam os Direitos Humanos, revelam que, só no primeiro semestre deste ano, mais de 33 mil casos de desrespeito e agressão foram registrados contra o idoso no país. As reclamações mais frequentes são casos de violência física, verbal e emocional.

Segundo dados divulgados pela Secretaria da Segurança Pública do Paraná (Sesp-PR), no primeiro semestre de 2019 o estado contabilizou 618 denúncias de algum tipo de violência. Já em 2020, ano em que a pandemia eclodiu, o número de registros no mesmo período subiu para 966 casos de agressão ao idoso. E apenas de janeiro a junho deste ano houve 676 denúncias de maus-tratos.

Em Ponta Grossa, foram registradas quase 400 denúncias de violação de direitos ao idoso em 2020. Em casos mais graves como violência física e abandono, o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) é acionado e disponibiliza atendimento às vítimas em instituições conveniadas com o município. 

Informações publicadas pelo Departamento da Política para a Pessoa Idosa da Sesp, apontam que o isolamento social possibilitou maior contato entre membros de famílias que antes da pandemia, possuíam uma rotina de vida agitada e cheia de afazeres. Contudo, agora que as pessoas convivem mais tempo juntas e isoladas em casa com os idosos, a convivência poderia ser mais intensa, porém, não se pode garantir com segurança que essa relação saudável se faz presente em todas as casas paranaenses. 

Segundo Fernanda de Almeida Silva, assistente social do Asilo São Vicente de Paulo, que atende vítimas de maus-tratos, há um cuidado diferenciado no acolhimento das pessoas que passaram por algum episódio de violência e desrespeito. “A equipe do asilo é muito dedicada. Temos uma equipe multidisciplinar de fonoaudiólogos, psicólogas e outros profissionais que trabalham diariamente seguindo um planejamento, a fim de dar um carinho e resgatar a dignidade dos nossos idosos”, afirma. Para ela, aqueles que já estavam em uma situação de vulnerabilidade, encontrar uma moradia permanente como a do Asilo, é garantia de que será bem cuidado, acompanhado e não passará por mais situações de risco. 

De acordo com a pesquisa realizada pela enfermeira Fabiana Martins para a sua dissertação de mestrado, intitulada Padrões de violência contra idosos: análise pelo Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes, no Brasil, há um perfil das vítimas que sofrem de violência. Os dados mostram que a maioria das vítimas que sofreram violência doméstica é formada por pessoas de 60 a 69 anos de idade. No Paraná, de acordo com a pesquisa, no primeiro trimestre de 2021, as ocorrências especificamente de violência doméstica teve como faixa etária pessoas idosas com 60 anos ou mais.

 

INFOGRÁFICO VIOLÊNCIA IDOSOS

 Infográfico: Maria Eduarda Ribeiro

 

 

Serviço:

Para evitar e combater esse tipo de violência, é importante que amigos, vizinhos, parentes ou quaisquer pessoas estejam cientes da melhor forma de proceder diante desses episódios criminosos. Os núcleos do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) ofertam serviço de proteção à pessoa idosa e o número do Disque 100 recebe denúncias anônimas, reclamações e relatos de casos de qualquer tipo de maus-tratos. Ambos contatos recebem as denúncias que violam os Direitos Humanos do idoso e oferecem os encaminhamentos adequados para acompanhamento das vítimas.

  

 

Este texto é parte do conteúdo da edição recém-publicada do jornal-laboratório Foca Livre, produzido pelo 2º ano de Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Acesse a edição completa em https://periodico.sites.uepg.br/index.php/foca-livre

Ficha técnica

Repórter: Maria Eduarda Ribeiro

Editora de texto: Diego Chila / Ana Paula Almeida

Publicação: Ana Paula Almeida

Supervisão Foca Livre: Jeferson Bertolini, Muriel Emidio e Rafael Kondlatsch

Supervisão Site Periódico: Marcos Zibordi e Maurício Liesen

Reportagem conta a histórias de duas mulheres que vivem em Irati

 

Pessoas transexuais costumam enfrentar diversas formas de discriminação e preconceito. Em Irati, cidade do interior do Paraná, ao menos duas delas dizem ter encontrado desafios menos expressivos com o passar do tempo. É o que mostra esta reportagem.

Kauany Chaves, 40 anos, é nascida e criada em Irati. Desde muito nova já havia se reconhecido como transexual. Foi expulsa de casa pelo pai aos 14 anos. Enfrentou muito preconceito ao longo da vida. Hoje é casada, se tornou empresária e mãe de uma criança de três anos que adotou há cinco meses.

No ambiente familiar teve os primeiros contatos com a transfobia. Quando saiu de casa, sofreu violência sexual muitas vezes. Kauany não conseguiu ingressar no mercado de trabalho. Então começou a se prostituir. Foi proibida de entrar em determinados estabelecimentos e em alguns momentos teve que correr para não ser agredida. Com 17 anos, levou uma facada. Teve que passar por uma cirurgia e ficou hospitalizada. “Só ficaram as marcas no meu corpo e no meu coração”, diz.

Atualmente, Kauany é dona de uma casa noturna. Ela aponta que há 25 anos, em Irati, havia muita intolerância e perseguição, que as pessoas trans sofriam muito. “Eu só fui para a prostituição porque não davam serviço nem se fosse estudada. Mas hoje em dia tudo mudou e que bom que não é mais assim. Agora tem leis, que antes não tinha, que nos protegem de alguma forma”. 

Embora tenha passado por muita dificuldade, Kauany diz que é realizada.

 

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Foto: Arquivo pessoal

 

Transição

Maya Leite, 19 anos, nasceu na Bahia. Mudou-se para Irati em 2016. Segundo ela, onde nasceu não era um lugar muito receptivo com pessoas LGBTs e, por isso, não costumava se expor. A jovem sempre se considerou diferente. Por muito tempo, se identificou como homem gay. Mas aos poucos começou a entender sobre transexualidade e com isso veio o reconhecimento. “Eu não queria ter nascido num corpo de menino. Queria ser uma menina, só não sabia que isso significava ser trans. Tive medo e não contei para ninguém. Por muito tempo quis voltar a ser ‘normal’, mas não tem como a gente fugir do que a gente é”, diz.

Quando se entendeu como transexual, passou por um período difícil em que nunca estava satisfeita consigo mesma. Ela conta que não pensava em revelar quem era porque não queria passar por agressões e discriminação. “Sem contar que às vezes ser trans remete a uma pessoa marginalizada, que rouba, que assalta, que se prostitui. Infelizmente essa é a visão que a sociedade passa de nós. Não queria me aceitar porque para mim esse seria o meu futuro”, explica.

Neste ano, Maya resolveu fazer a transição. Já que não suportava mais esconder a si mesma. “Eu me olhei no espelho e pensei ‘você vai mesmo passar o resto da sua vida em um corpo que não é seu?’ Então eu decidi me libertar”. 

Maya contou que todos com quem convive a apoiaram. Ela diz  que, em Irati, nunca sofreu violência física, nem mesmo quando se identificava como homem gay. O que enfrenta são risadas e deboche. “Em questão de transfobia, não sofri [violência] de maneira escancarada, a ponto de alguém me falar algo. Porém, tem olhadas e risadinhas sempre. Mas eu penso que isso é uma coisa que vai acontecer, não interessa quantas cirurgias sejam feitas, ou hormônios sejam tomados”, ressalta.

Durante o período de pandemia, a jovem ingressou no curso de Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia na UTFPR. No espaço da faculdade, ainda que virtualmente, também não sofreu discriminação. Maya aponta que todos sabem que ela é trans, e mesmo mantendo o nome de registro, por conta da burocracia na mudança para o nome social, todos a respeitam. As salas dos cursos de engenharias costumam ser ocupadas majoritariamente por homens, mas segundo a estudante “por incrível que pareça, o curso tem mais mulheres do que homens”.

Além de estudante, Maya também é produtora de conteúdo para redes sociais. Nesse espaço de trabalho também não sofre preconceitos. Ela relata que ninguém nunca fez comentários transfóbicos em seus posts, mas quando se posiciona em alguma publicação que discute algo sobre transexualidade, aí sim recebe preconceito.

Alguns amigos e a família de Maya têm dificuldades de chamá-la pelo nome social e ainda usam os pronomes ele/dele. A estudante considera que fazem isso sem má intenção. “Não é tão rápido para se acostumarem, mas eles estão tentando e está sendo muito legal. Eu sempre encorajo a me chamarem de Maya, com os pronomes ela/dela”.

 

Ficha Técnica
Reportagem: Ana Moraes
Edição e Revisão: Yasmin Orlowski
Publicação: Yasmin Orlowski
Supervisão: Jeferson Bertolini, Marcos Zibordi, Maurício Liesen

Vítimas recebem atendimento psicológico, assistência social e serviços de saúde

 

Ponta Grossa tem uma casa para acolher mulheres vítimas de violência, a Casa de Acolhimento para Mulheres, no bairro Contorno. O local recebeu o nome de Corina Portugal em homenagem à figura histórica de Ponta Grossa, que sofreu feminicídio. A Casa funciona como abrigo provisório para mulheres vítimas de violência doméstica e que necessitam de abrigo. Seus filhos também são acolhidos. Para ter acesso, a mulher deve apresentar um boletim de ocorrência ou uma medida protetiva.
A casa tem quatro quartos, podendo abrigar igual número de mulheres, com seus filhos. Dentro do imóvel existem regras: a abrigada não pode sair sem aviso e não pode ter celular. Essa última regra tem como objetivo acabar com casos de arrependimento da denúncia ou informar ao agressor onde ela está. O celular só pode ser usado em caso de liberação e supervisão da equipe.
De acordo com a Prefeitura, a mulher fica na casa até a garantia mínima de sua segurança, como a prisão do agressor, a possibilidade de se hospedar com algum familiar, entre outros.
No momento existem mulheres acolhidas na casa. Elas recebem cuidados, assistência social, atendimento psicológico e, se necessário, serviços de saúde. Elas ajudam a manter o imóvel e cozinham seu próprio alimento.

 

Atendimentos

A Casa, mantida pela Prefeitura desde 2010, nunca recebeu solicitação de mulher transsexual, mas elas podem ser atendidas.
Segundo o Núcleo Maria da Penha (Numape), da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), até julho de 2021, foram realizados 436 atendimentos a mulheres, desde a prestação de orientações, até os acompanhamentos jurídicos nas audiências e atendimentos psicológicos, que estão sendo realizados online - via plantão telefônico ou através das redes sociais.
Maria Cristina Rauch Baranoski, coordenadora do Numape, acredita que a “Casa Corina é um importante e essencial órgão da rede de proteção às mulheres em situação de violência, pois se caracteriza como um serviço de proteção especial e de alta complexidade. Além da realização do acolhimento provisório, presta atendimento qualificado, sigiloso e articulado com os outros serviços da rede.”

 

Como denunciar

Imagem: Portal Elos

Ficha Técnica

Reportagem: Maria Eduarda Eurich

Edição e Revisão: Lucas Müller

Publicação: Lucas Müller

Supervisão: Jeferson Bertolini, Marcos Zibordi, Maurício Liesen

A Oficina do Projeto de Pesquisa Jornalismo e Racismo Contra Indígenas foi apresetando sexta feira (9) pelo estudante de jornalismo Teodoro dos Anjos e pela representante do povo Tremembé de Almofala e professora Eliana Souza com objetivo de conscientizar os alunos sobre o racismo que os indígenas sofrem dentro do jornalismo.

Ficha técnica:

Repórter e editor: Levi de Brito

Publicação: Yasmin Orlowski

Supervisão: Marizandra Rutilli, Marcos Zibord e Maurício Liesen