Na universidade, 10% das vagas para estudantes de escola pública estão reservadas para pessoas autodeclaradas pretas

 

A criação de políticas públicas e ações afirmativas facilitou a entrada de pessoas negras no ensino superior. A Lei de Cotas, sancionada em 2012, reserva 50% das vagas de universidades e institutos federais para estudantes autodeclarados negros, indígenas e alunos da escola pública. 

Na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), o processo de implantação da Política de Cotas iniciou em 2005, com a criação de um Grupo de Trabalho para discutir a democratização do acesso à universidade pública. Atualmente, 50% das vagas do vestibular são reservadas para estudantes de escolas públicas e destas, 10% são para estudantes negros.

Apesar dos avanços, o acesso ao ensino superior não se deu de forma igualitária em todas as áreas. Estudantes negros ainda são sub-representados em cursos como medicina, direito e engenharias. Segundo dados da Assessoria de Comunicação da UEPG, em 2021, apenas 12 estudantes negros estão matriculados no Setor de Ciências Biológicas e da Saúde. No setor de Ciências Jurídicas, seis, e no Setor de Engenharias, Ciências Agrárias e de Tecnologia, cinco.

 

José Tramontin Lente quente

Foto: José Tramontim

 

Questões estruturais como a dificuldade na conclusão do ensino fundamental e médio, o preconceito e a discriminação institucionalizados são alguns dos motivos que afastam estudantes negros dos cursos de graduação.

 Joelsio de Jesus Pereira da Silva, que ingressou na UEPG em 2020, é um dos poucos estudantes negros no curso de Ciências Biológicas. Ele conta que quando prestou vestibular cogitou utilizar cotas para alunos de escola pública, mas voltou atrás. “Eu senti que precisava utilizar a cota para negros porque é um direito meu. Eu como negro tenho direito de ter uma cota e de usufruir dela. Ser negro no Brasil não é fácil, e ver que uma universidade proporciona essa oportunidade é muito legal”. Para Joelsio, a falta de divulgação dessas vagas é o principal responsável por seu não preenchimento.

Ione da Silva Jovino, Pró-Reitora de Assuntos Estudantis - PRAE da UEPG, explica que a importância das cotas não mudou desde o início dos anos 2000. “A importância está em aumentar o número de negros no ensino superior e ampliar seus números em cargos e posições que antes não eram alcançadas pela falta de formação.”

 

Ficha técnica:

Repórter: Mariana Gonçalves

Edição: Levi de Brito

Publicação: Levi de Brito

Supervisão: Candida de Oliveira, Jeferson Bertolini, Marcos Antonio Zibordi e Maurício Liesen

O Novo Ensino Médio (NEM) deve começar a valer de forma obrigatória para estudantes do primeiro ano do ensino médio em 2022. Essa proposta de ensino aumenta a carga horária escolar de 800 para 1.000 horas anuais. Segundo o Ministério da Educação (MEC), a grade curricular deve destinar 60% das aulas para contemplar a Base Nacional Comum Curricular e 40% para os itinerários formativos. 

Os itinerários formativos são um conjunto de disciplinas, projetos, oficinas e núcleos de estudo, focados em preparar o jovem para o mercado de trabalho. Esses itinerários são divididos em quatro áreas do conhecimento: Matemática e suas Tecnologias, Linguagens e suas Tecnologias, Ciências da Natureza e suas Tecnologias e Ciências Humanas e Sociais Aplicadas. O estudante deve escolher dois itinerários, acompanhados de formação técnica e profissional, para aprofundar os estudos. 

 

Arilson Schenberger Divulgação

Foto: Arilson Schenberger

De acordo com o MEC, nenhuma disciplina será excluída, e de forma complementar, os estudantes serão orientados a criar um projeto de vida para estimular responsabilidade e dialogar sobre os projetos pessoais. O Ministério reforça que o objetivo principal do NEM é possibilitar que os alunos saiam com o diploma do ensino médio e curso técnico ou profissionalizante. 

 

Preparação 

Em Ponta Grossa, as escolas se organizam  para iniciar o próximo ano letivo com o novo sistema. Segundo o Núcleo Regional de Educação (NRE), todas as escolas, públicas ou privadas, devem seguir este modelo. A coordenadora do NEM em Ponta Grossa, Luciana Cristina de Souza, destaca que para aumentar a carga horária será implantada a sexta aula nas escolas. Além disso, todas as escolas devem ofertar os itinerários na própria instituição. “Os itinerários são concomitantes e não haverá necessidade do estudante se deslocar de uma escola para outra, todos terão acesso a itinerários diferentes”, ressalta. 

Luciana salienta que apesar da nova dinâmica no ensino, as escolas possuem estrutura para aplicar os itinerários e nenhuma instituição pública passa por reformas em função do NEM. Segundo Luciana, os diretores e pedagogos de cada escola no Paraná já passaram por treinamento diretamente com a Secretária da Educação e do Esporte (Seed-PR) e devem auxiliar os professores na adaptação ao novo sistema. 

A mudança agrada alguns estudantes, como é o caso de Yasmin Caroline Schmidt, aluna do 9º ano no colégio estadual Dorah Gomes Daitschman em Ponta Grossa. Ela destaca que a escola já passou pelas principais mudanças para o próximo ano. Yasmin afirma que levará algum tempo para se adaptar ao aumento da carga horária, mas acredita que a mudança é positiva. “Pode ser que o NEM melhore significativamente o aprendizado, pois acredito que a escola vai dar mais atenção aos alunos”, reforça Yasmin.

 

Este texto faz parte da edição 220 do Foca Livre, jornal-laboratório produzido por alunos do segundo ano de jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). 

 

Ficha Técnica
Repórter: Kathleen Schenberger
Edição de Texto: Carlos Eduardo Mendes e Isadora Ricardo
Edição e Publicação: Yasmin Orlowski
Supervisão de Produção: Muriel Amaral, Cândida de Oliveira, Jeferson Bertolini
Supervisão de Publicação: Marcos Zibordi, Maurício Liesen

Comprovante de vacinação contra a Covid-19 é exigência para permanecer nas dependências da universidade

 

Resumo

  • Atividades presenciais de graduação e de extensão retornam dia 7 de fevereiro de 2022; 
  • SINDUEPG propõe melhorias nas áreas acadêmico-pedagógica, de biossegurança e de infraestrutura;
  • Resolução prevê que equipamentos de proteção individual ainda serão definidos para cada situação.

 

UEPG CENTRAL Vera Marina Viglus

Foto: Vera Marina Viglus

 

A Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) retoma as atividades presenciais dos cursos de graduação e atividades de extensão em 7 de fevereiro de 2022. A Resolução número 2021.14, aprovada pelo Conselho Universitário (COU) em novembro, prevê a exigência de comprovante de vacinação contra a Covid-19 para permanecer nas dependências da universidade.

Em nota, o Sindicato dos Docentes da UEPG (SINDUEPG) registra preocupação quanto às medidas de segurança. “É dever de uma instituição que produz ciência estabelecer com clareza quais são os procedimentos cientificamente fundamentados para o retorno seguro”. O sindicato também propõe melhorias nas áreas acadêmico-pedagógica, de biossegurança e de infraestrutura para aperfeiçoar a resolução.

 

Estudantes

Consulta da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE) mostra que 58,5% dos acadêmicos sentem-se seguros para o retorno presencial e 36,5% preferem retornar no próximo ano letivo, em maio de 2022. Um deles é Carlos Andrei Gross, acadêmico de Direito, que se preocupa com estudantes em fase de conclusão de curso, pois muitos retornarão à cidade para apenas dois meses de aula. “Só na minha sala, essa é a situação de 30% dos alunos”.

A estudante de Educação Física Ana Caroline Stanisloski é favorável ao retorno e considera que o ensino remoto dificulta o aprendizado. “Creio que está na hora de frequentar a universidade. Com a pandemia, saímos prejudicados pelo fato de não podermos aprender na prática”, lamenta.

A resolução prevê que equipamentos de proteção individual ainda serão definidos para cada situação, assim como medidas a serem tomadas em caso de infecção por Covid-19 ou aumento nas taxas de transmissão do vírus na instituição.

 

Este texto faz parte da edição 220 do Foca Livre, jornal-laboratório produzido por alunos do segundo ano de jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). 

 

Repórter: Carolina Olegário

Editoras do Foca Livre: Ana Moraes e Mariana Gonçalves 

Edição da publicação no site: Gabriel Clarindo Neto

 Supervisão: Muriel Amaral, Cândida de Oliveira, Jeferson Bertolini, Marcos Zibordi, Maurício Liesen

Especialistas criticam a medida, que favorece famílias privilegiadas economicamente

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Fonte: Freepik

 

A prática de educação domiciliar poderá ser adotada por famílias paranaenses a partir do projeto de lei sancionado pelo governador Ratinho Júnior (PSD). A lei, de autoria do deputado Marcio Pacheco, institui a possibilidade do homeschooling na educação básica, ensino infantil, fundamental e médio, para os menores de 18 anos de idade. 

De acordo com o projeto, os pais e responsáveis têm a liberdade de optar entre o ensino escolar ou domiciliar em qualquer momento, apenas comunicando a instituição na qual a criança está matriculada. Além disso, as famílias que optarem pelo ensino domiciliar precisam declarar a escolha através de um formulário específico para o Ministério da Educação e órgãos competentes.

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A lei, segundo Pacheco, determina que avaliações sejam realizadas através de provas aplicadas pelo sistema público de ensino, assim como a visita e fiscalização periódica do Conselho Tutelar para coibir abusos. “A lei aprovada e sancionada no Paraná traz essa segurança jurídica e evita que a prática configure crime de abandono intelectual”, explica. 

A psicopedagoga Dani Pedrazani entende que o homeschooling é possível desde que se tenha conhecimento e didática. “Não basta ser letrado, deve haver uma mediação entre a criança e o conhecimento, oportunizar vivência e prática”. 

Porém, a especialista em educação expressa preocupações com o método. “A socialização da criança na escola tem papel fundamental no desenvolvimento infantil e contribui para sua evolução e enriquecimento, interferindo diretamente tanto dentro, quanto fora da escola”. 

A educação domiciliar para poucos

A educação em casa está presente em mais de 60 países e no Brasil ainda não há lei nacional que legalize e regulamente a prática. Porém, Santa Catarina, Distrito Federal e Paraná a regulamentaram. Segundo a Associação Nacional de Ensino Domiciliar (ANED), a estimativa é que 19 mil estudantes entre 4 e 17 anos são adeptos ao homeschooling. No Paraná, seriam 3 mil famílias na modalidade. Em seu site, a ANED não disponibiliza a metodologia através da qual contabilizou os dados.

Contudo, apenas aquelas famílias com poder aquisitivo maior têm a possibilidade de aderir ao homeschooling. Pesquisa realizada pelo Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA) em 2018 mostra que estudantes de escolas municipais e estaduais não têm suporte nem dentro da instituição, nem fora. Apenas 24,8% dos alunos de instituições públicas têm mães com ensino superior completo. 

De acordo com o deputado autor da lei paranaense, o modelo não cabe para todas as famílias, “da mesma maneira que o ensino integral também não é consenso para todos”.

 

Ficha técnica

Reportagem: Emanuelle Salatini

Infográfico: Emanuelle Salatini

Supervisão de produção de texto: Marcos Zibordi

Supervisão da disciplina de NRI III: Marcelo Bronosky e Muriel Amaral

Argumento é que instituição não responde ao poder eclesiástico

 

Os Arautos do Evangelho, que mantêm unidades em diversos locais, como em Ponta Grossa, negam que irão fechar colégios após decreto do Vaticano relativo aos jovens que residem em suas instituições. Em meio a polêmicas e informações desencontradas, decisão da justiça de São Paulo reconheceu que a relação entre os colégios e os residentes é civil, e não eclesiástica.

Unidade de Ponta Grossa. Foto: Ponta Grossa do Alto.net


Junior Rafael Gonçalves, responsável pelos Arautos do Evangelho na região sul do Brasil, explica que a organização possui instituições distintas, entre elas a Associação Internacional de Fiéis de Direito Pontifício Arautos do Evangelho e Instituto Educacional Arautos do Evangelho (INEDAE), que administra os colégios. O Instituto é uma instituição de ensino autônoma e cívil, diferente da Associação Direito Pontifício, que estaria ligada ao Vaticano.
Gonçalves argumenta que por sua natureza jurídica, o INEDAE é submetido a autorização e avaliação de qualidade pelo poder público, não pelo Vaticano. Além disso, acrescenta que os jovens hospedados não são de responsabilidade dos Arautos. “Não temos a guarda nem tutela deles, os jovens que se hospedam são pelo consentimento e pedido dos pais”.

 

Histórico

 


Por meio de uma carta de 22 de junho de 2021, assinada pelo cardeal Braz de Aviz, prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica no Vaticano, e enviada ao cardeal Raymundo Damasceno Assis, nomeado pelo papa Francisco como interventor para os Arautos do Evangelho, ficou determinado o fechamento dos colégios ligados à ordem.
Na carta, o Vaticano afirma que a medida busca “prevenir qualquer situação que possa favorecer possíveis abusos de consciência” contra os menores e que a decisão foi tomada “à luz das informações recebidas pela Sé Apostólica”.
A Associação de Mães e Pais de Arautos Estudantes (AMPARE) publicou uma carta aberta ao cardeal João Braz de Aviz, na qual descreve o fechamento dos colégios como “uma falsa solução para um problema inexistente”, questionando ainda porque não foram ouvidos.
A AMPARE iniciou ação judicial e, em 15 de outubro, a sentença do juiz Peter Eckschmiedt, da Comarca de Caieiras, São Paulo, decretou que “a relação entre as partes é de natureza privada e contratual, não havendo como reconhecer no ordenamento jurídico eficácia da intervenção de outro Estado, no caso a Santa Sé, sobre a relação contratual entre as partes, que não é de natureza eclesiástica”.

 

Arautos do Evangelho


Os Arautos do Evangelho são uma Associação Internacional de Fiéis de Direito Pontifício, reconhecidos como “um dom de Deus, um carisma útil e necessário para o bem da Igreja e do mundo”.
A associação está presente em cerca de 78 países e é formada predominantemente por jovens. Apesar de não prestarem voto e serem considerados leigos, os membros praticam o celibato e dedicam-se ao apostolado, vivendo em residências específicas para homens e mulheres. A rotina varia entre o recolhimento, estudo e oração, com atividades de evangelização nas dioceses e paróquias, dando especial ênfase à formação da juventude.
Em Ponta Grossa, os Arautos iniciaram sua atuação em 1999, no bairro de Uvaranas. Os membros são envolvidos em atividades culturais, religiosas e pastorais, como aulas de música, teatro e esporte, que estão suspensas em razão da pandemia.

 

Ficha técnica

Reportagem: Daniela Valenga

Supervisão de produção de texto: Marcos Zibordi

Supervisão da disciplina de NRI III: Marcelo Bronosky e Muriel Amaral