Com o objetivo de descentralizar a cultura, o coral promove até este mês uma série de apresentações em bairros. A proposta é levar para toda a cidade a cultura musical do grupo. O motivo é de que, muitas vezes, o povo não tem condições de ir até o Centro da cidade à noite e durante a semana.
A iniciativa já vem sendo realizada há alguns anos e se intensificou em 2016. A maestrina, Carla Roggen kamp, acompanha o Coro desde a criação e conta que, ao estender as atividades para os bairros, o grupo percorre mais espaços. “Ir às igrejas, conhecer outros trabalhos, faz com que consigamos atingir mais pessoas”, relata.
As apresentações são programadas com meses de antecedência. São oitos concertos diferentes com repertórios próprios, englobando aproximadamente 40 apresentações por ano.
A maioria dos eventos realizados em bairros acontece por convite dos próprios moradores e não há nenhuma rejeição por parte da comunidade em receber o Coro. Há localidades, como Palmeirinha, Orfas e Santa Paula, que a própria assessoria de imprensa do coral estabelece o contato. Em outros, o convite parte da comunidade, como aconteceu com a Igreja Presbiteriana.
Além de igrejas, salões de festa e associações de bairros também são espaços propícios para as apresentações. Por serem fechados, eles mantêm a qualidade do som. Carla explica que as igrejas facilitam o trabalho do Coro, por pelos locais já terem todo o equipamento necessário às apresentações.
Nábila Fernanda é uma das integrantes da Igreja Presbiteriana Hebrom, localizada em Oficinas, onde já ocorreram duas apresentações. Ela enfatiza a importância da descentralização, não somente pela mistura de música e cultura, mas também por serem realizadas dentro das igrejas.
O Pastor Edson de Souza complementa que as apresentações levam alegria. O religioso enfatiza que ainda o fato de ele sempre gostar de receber o grupo em sua comunidade. “Voltamos um pouco à origem da música, de onde elas vieram, pois é espiritual”, afirma.
As apresentações têm duração média de uma hora. Durante as canções, a maestrina interage com o público, explicando o significado das músicas e apresentando as próximas que serão cantadas.
O grupo enquanto membro ativo e cultural da comunidade
Os participantes do Coro são a favor da proposta de levar mais música ao povo da cidade e se empolgam com o desafio. A integrante, Maria Augusta, conta do nervosismo quando o grupo faz apresentações em lugares novos.
“Cada local é um desafio. Quem sabe faz ao vivo e o ao vivo é inesperado”, diz. Augusta relembra da relevância do público, pois cada espaço é diferente e, por meio da reação das pessoas, é possível saber se foi bom ou ruim e, principalmente, o que se pode melhorar.
A seleção do mês de maio conta com músicas judaicas, que giram em torno de oito repertórios. O objetivo foi despertar o interesse nos presentes pela expressão, gestos e linguagem diferente. O repertório prendeu a atenção do começo ao fim.
O coro se coloca, normalmente, no palco em filas. A maestrina se posta de frente para eles e o piano ao lado. O grupo planeja começar, em junho, uma homenagem ao escritor William Shakespeare.
A assessora de imprensa do Coro, Luana Caroline, afirma que é um direito de todos ter acesso ao grupo e conhecer e poder desfrutar desse bem cultural. “O Coro é uma iniciativa da prefeitura, ou seja, ele pertence à cidade”, enfatiza.
Além de permitir maior divulgação, as apresentações nos bairrosdespertam o interesse para o público. O envolvimento pode levá-lo a se deslocar, quando podem, para acompanharem as apresentações no Cine Teatro Ópera. O publico envolvido nas apresentações varia, em media, de 150 a 200 pessoas, em grandes eventos.
“Eles transmitem uma mensagem sensacional sobre algumas músicas adaptadas”, avalia Natasha Emanueli, uma fã declarada do Coro Cidade, que está presente em todas as apresentações. Emanueli conta que indica para todos os amigos e que é um programa para se fazer com a família e até mesmo sozinho.
“A primeira apresentação que assisti foi na Igreja do Rosário, uma sensação única e encantadora”, relata. Em relação à difusão dos eventos musicais do Coro, Emanueli afirma ser uma forma de incentivo, pois algumas pessoas reclamam de ter que se deslocar.
Com o Coro indo até os bairros, fica mais fácil para o público de toda a cidade participar. “Não importa seu humor, se trabalha até tarde, se está cansado ou triste, as apresentações te iluminam”, complementa.
Do inicio ao fim: como o Coro trabalha
Os cantores são bolsistas selecionados anualmente por uma comissão. O valor da bolsa é R$ 863,00, sendo requisito para recebê-la estar estudando música de algum modo, seja por meio de cursos de formação em universidades ou por aulas particulares.
Com oito anos, o grupo conta com 24 integrantes de todas as faixas etárias. O coro costuma ensaiar de nove a dez horas dividas em dois ensaios semanais. Durante os encontros, há intervalos em que o pessoal interage cantando e interpretando outras músicas.
O grupo também costuma sentar em volta do piano, com as diversas letras nas mãos. Os participantes, então, cantam de acordo com as observações da maestrina, podendo opinar para melhorar a interpretação das canções.
O coro também é acompanhado pelo produtor, Ezequiel Ramos, que se encarrega de todo o cenário e figurino. Ramos explica que o coro vem interagindo para a busca de ideias para os próximos ensaios. A agenda do grupo é repleta de repertórios diversos, contando com as apresentações no Centro e em bairros.
Canção para transmitir mensagem reflexiva
No mês de maio, apresentações realizadas no Centro da cidade levaram, ao público, músicas brasileiras que falam de mulheres. “Parte significativa do repertório brasileiro coloca a mulher de modo machista, como corpo”, expõe Ramos. O produtor destaca que é importante “mostrar uma vitrine da sociedade num espetáculo humanista e pró-feminista”.
Ramos conta que o coro trabalha bastante a gesticulação, ou seja, como dizer e o que dizer. Para ele, existemmensagens nos gestos, além do fato de que eles acompanham as canções. A nova proposta, explica Ramos, é criticar essa postura machista, por meio da música, ironizando as letras e criticando o que dizem.
Um dos papéis do coro é passar uma mensagem, promover reflexões e despertar o interesse, seja onde for. O produtor argumenta que a ideia surgiu de uma de suas pesquisas musicais. Através dela, ele percebeu que até uma música famosa pelo Brasil, “Garota de Ipanema”, coloca mulher como objeto e sujeita ao desejo do homem.
“Colocam as mulheres em caixas nas quais elas não se encaixam, como se fossem frágeis e do lar”, explica. Ramos vai além e relembra que o cenário ajuda a passar a mensagem cantada.
O grupo já trabalhou também com outras temáticas. “Já falamos de questões indígenas, diferenças nas formas de amor e, agora, mulheres, para repensarem na sociedade, não para defender uma causa e, sim, para fazer pensar essa causa”, argumenta.
O Coro Cidade Ponta Grossa está realizando apresentações por todo o município e pretende continuar com a proposta de descentralização da cultura. Caroline, a assessora, explica que, nessa linha paralela de apresentações em bairros, há ainda o festival sobre a mulher e, logo depois, mais repertórios judaicos. “Faz parte do festival de música, pois mesmo com essa ideia de ir para outros locais nós não abandonamos o Ópera”, afirma.
As iniciativas do coro de apresentar repertórios em diferentes locais e sobre diversos assuntos foi bem aceita não somente pelos integrantes do grupo. O público vem elogiando muito ao final das apresentações nas igrejas, por exemplo.
A agenda do grupo segue lotada durante o mês de junho. As apresentações acontecem tanto no Centro de Ponta Grossa, quanto em diversos bairros da cidade, promovendo a descentralização para despertar o interesse da população pela música e para a crítica de questões importantes da sociedade.